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André Barcinski

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Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

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Sousa Mendes, o nosso Schindler

Por Andre Barcinski
16/02/12 07:32

Quando recebi o e-mail com o título “Informações importantes sobre sua família”, achei que era mais um daqueles spams picaretas.

A mensagem vinha de uma fundação que tentava identificar parentes de vitimas de perseguição nazista que fugiram da Europa em 1940, ajudadas pelo diplomata português Aristides de Sousa Mendes.

A carta que recebi, assinada por uma pesquisadora da Fundação Sousa Mendes, trazia informações detalhadas:

“A família Barcinski foi ajudada por Sousa Mendes. Os nomes que aparecem na lista de vistos são Alicja, Jacek, Maria e Irena Barcinski, assim como Henryk Elsner, que, acreditamos, era parente de Irena (…)”

A história era verdadeira. Alicja era minha bisavó. Irena era irmã dela. Henryk era cunhado delas. Jacek e Maria, crianças na época, eram sobrinhos de Alicja e Irena.

Ao longo dos anos, ouvi parentes contando histórias sobre a fuga da família para o Brasil, vinda da Polônia. Mas não conhecia detalhes. E nunca tinha ouvido falar de Aristides de Sousa Mendes.

Em 1940, Sousa Mendes era cônsul português em Bordeaux, na França. Um ano antes, o governo de Salazar havia proibido os consulados portugueses de emitir vistos para “estrangeiros de origem indefinida, sem pátria, ou judeus expulsos de seus países de origem”.

Contrariando as ordens de Salazar, Sousa Mendes emitiu milhares de vistos para que os perseguidos – judeus ou não – pudessem escapar da Europa.

Ele ordenou o fim dos trâmites burocráticos no consulado e acabou com taxas consulares, para acelerar o processo de emissão de vistos. Sabia que tinha pouco tempo antes que fosse descoberto.

Estima-se que cerca de 30 mil pessoas, incluindo 12 mil judeus, foram salvas do Holocausto por ele.

Um documento da época traz a resposta de Sousa Mendes a um burocrata do governo português, que reclamou da concessão de visto para um professor austríaco, Arnold Wizntzer:

“Ele me informou que, se não saísse da França naquele mesmo dia, seria mandado para um campo de concentração, deixando sua mulher e filhos abandonados. Considerei uma obrigação elementar de humanidade evitar que tamanha barbaridade acontecesse.”

O governo de Salazar ordenou que Sousa Mendes voltasse a Portugal e o processou por insubordinação. Salazar chegou a ameaçar quem o ajudasse. Impedido de trabalhar, Sousa Mendes morreu na pobreza, em 1954.

Foi só no fim dos anos 80, depois de décadas de luta da família Sousa Mendes, que o governo do Portugal se desculpou oficialmente.

Duas coisas me abalaram especialmente nessa história.

A primeira é só tê-la descoberto agora, depois de uma vida inteira sem saber ao certo como minha família fugiu de Lodz e foi parar no Brasil.

A segunda é pensar o quanto eu devo para Sousa Mendes. E imaginar que minha filha, que está brincando no quintal aqui ao lado, não existiria se não fosse por esse português boa praça.

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Comentários

  1. antonio lopes comentou em 22/06/12 at 12:05

    gran obra humanitaria de Arístides! abrazos desde Argentina.

  2. Guiu comentou em 28/02/12 at 10:20

    Mais um comentário sobre Sousa Mendes, feito por outro português:

    O extraordinário em Aristides é que é um herói comum, do género que todos podemos ser. Com uma história pessoal e profissional como tantas outras, naquele momento decisivo faz o contrário do que muitos outros fizeram – em lugar de se desculpar com a obediência a ordens superiores, Aristides desobedece-lhes em nome da sua consciência, pagando um preço elevadíssimo (além dele, os filhos foram proibidos de ingressar na universidade e tiveram de emigrar para os EUA). Tem uma árvore com o seu nome na Alameda dos Justos, em Jerusalém. A propósito dele, alguém escreveu: ‘a nuvem mais bonita em cada dia dever-se-ia chamar Aristides de Sousa Mendes’.

  3. Julio Scharfstein comentou em 23/02/12 at 16:47

    Andre, o comentário da Marie é oportuno.

    Dois anos atrás, conheci a emocionante história de Souza Mendes ao finalizar uma dolorosa visita ao Yad Vashem, Museu do Holocausto, Jerusalem. No final do corredor, havia uma pequena sala, branca, repleta de arquivos- dedicada aos homens/mulheres (desconhecidos) que correram riscos, em alguns casos sacrificando suas vidas e carreiras, para proteger famílias judias perseguidos pelo regime nazista. Aristides Souza Mendes ocupa um lugar especial nesta sala-jamais foi esquecido (eu só não sabia que existe uma arvore plantada com o seu abençoado nome- no Yad Vashem).

    Sobre livros, sobre conversões, histórias complicadas, talvez parecidas com a da tua própria familia, sugiro a leitura da “Mezuza nos Pés da Madona” , de Trudy Alexy (Imago, 1993). No Natal, achei um exemplar encardido deste livro na Feira de Livros da Praça Nsa Sra da Paz, Ipanema….

    Marie comentou em 22/02/12 às 0:42 Responder
    Foi reconhecido pelo Yad Vashem em 1966 e teve uma árvore plantada em sua homenagem.
    http://www1.yadvashem.org/yv/en/righteous/stories/mendes.asp

    • Andre Barcinski comentou em 23/02/12 at 16:52

      Oi Julio, Obrigado pela dica do livro, vou procurar, parece muito interessante. Abraço.

  4. Helton comentou em 22/02/12 at 21:15

    Barça, não sei como meus avós vieram da Hungria para o Brasil…quem sabe foi por este homem…vou pesquisar…

  5. Harry Oesterreicher comentou em 21/02/12 at 22:54

    Hello,

    I am sorry I can only communicate in English! My family was also rescued by Aristides de Sousa Mendes, and I serve on the board of directors of the Sousa Mendes Foundation — the group which contacted you.

    In a similar way, I was contacted two years ago by “le Comité national français en hommage à Aristides de Sousa Mendes” and was invited on a voyage through France. The story of this journey (in English) and how it made me feel is here:

    http://www.sousamendesvoyage.com

    Thank you, André, for sharing this blog post.

    Yours,
    Harry Oesterreicher
    Seattle, WA USA

    • Andre Barcinski comentou em 08/03/12 at 9:12

      Thanks for sharing this, Mr. Oesterreicher, what an emotional story!

  6. Olivia Mattis comentou em 21/02/12 at 22:19

    Hi André. As someone else whose family was rescued by Aristides de Sousa Mendes and realizes the importance and enormity of this story, I say to you… welcome to the family! 🙂

    • Andre Barcinski comentou em 08/03/12 at 9:12

      Thank you, Olivia, for the kind words.

  7. Marie comentou em 21/02/12 at 21:38

    André,
    Sou a pessoa que lhe mandou aquele primeiro e-mail.
    Agradecemos imensamente a divulgação da historia do Aristides de Sousa Mendes, pois vai ajudar imensamente para encontrar outras familias no Brasil.
    A sua familia é a quarta que conseguimos localizar no Brasil, e com certeza existem muitas mais.

    Se você não se importa, gostaria de adicionar um link para a Sousa Mendes Foundation no caso de alguém ter outras informações sobre famílias resgatadas e onde também poderá acompanhar o progresso do nosso projeto.

    https://www.facebook.com/sousamendesfoundation

    Muito obrigada mesmo,

    Marie

    • Andre Barcinski comentou em 08/03/12 at 9:12

      Claro, Marie, fique à vontade. Muito obrigado.

  8. jones comentou em 21/02/12 at 17:43

    Pena ele haver morrido na miséria sem reconhecimento e nem depois de morto a memória ser preservada. Já um certo Luis Inácio, autor da façanha de se aposentar perdendo o dedo mínimo, ganhará um museu em sampa cujo terreno somente está orçado em 30 milhões. Vai ver porque Portugal é país de pobre e Brasil país de rico.

  9. Marcelus G. Z. comentou em 21/02/12 at 4:24

    Ah… acabei de jogar agora “+barcinski +lodz” no Google e os links estão apontando para um tal “Parque Barcinski” nessa cidade polonesa, que pelo jeito parece se tratar dum empreendimento imobiliário sendo construído numa antiga zona de fábricas…

  10. Marcelus G. Z. comentou em 21/02/12 at 4:16

    E pensar que Salazar, essa flor de pessoa, foi um dos co-fundadores da OTAN em 1949, cujos estatutos em teoria preconizavam “a defesa do mundo livre”…

  11. eduardo comentou em 20/02/12 at 15:08

    Esse cara foi um humanista maravilhoso e responsável por evitar mlihares de mortes pelos nazistas. Se bem que alguns idiotas gostam de ficar dizendo por ai que o Holocausto nunca aconteceu…..

  12. Hudnner comentou em 19/02/12 at 10:05

    André, você também é de origem judia?

    • Andre Barcinski comentou em 20/02/12 at 10:22

      Minha avó dizia que a família era católica, mas nunca descobrimos se houve alguma conversão pra fugir da Europa.

      • Guiu comentou em 24/02/12 at 19:01

        Estou em Portugal e compartilhei esse post no Facebook. Eis a resposta de um dos meus amigos portugueses:

        Luís: sem dúvida, um dos maiores portugueses da história!
        ainda há uns anos foi finalista naquele programa dos Maiores Portugueses de sempre, que infelizmente foi ganho por Salazar.

        Sobre a questão judia, fiz amizade com um polonês aqui cujo avô sobreviveu a um campo de concentração…ele me disse que as pessoas se equivocam ao pensar que apenas os judeus foram perseguidos por Hitler e lançados aos campos de concentração. Hitler perseguiu poloneses sem exceção, porque foram os primeiros a resistir ao início da expansão nazista pelo continente europeu. Portanto, não precisava que seus familiares fossem judeus, o simples fato de serem poloneses já era suficiente para torná-los suscetíveis à perseguição alemã.

  13. Danielle comentou em 18/02/12 at 20:33

    Quanta emoção. Começo agora a busca por um bom livro sobre sua história.

  14. João Tavares comentou em 17/02/12 at 21:06

    Sousa Mendes é natural de Cabanas de Viriato, Viseu, Portugal, onde ainda existe o que resta do seu extraordinário palacete, conhecido por Casa do Passal. Nesta casa pretende-se que venha a existir um museu do holocausto. No entanto, para grande vergonha de todos os homens de boa vontade, é um edifício cada vez mais arruinado que ainda teima em perpetuar a grandeza humana do que foi seu proprietário. Não deixe de procurar imagens na net …

  15. Gustavo Padilha comentou em 17/02/12 at 20:46

    realmente é impressionante um exemplo desses. A segunda guerra mundial foi o palco que deu oportunidade para vários monstros de praticarem atrocidades mas também de boas pessoas se sobressaírem em relação a sua generosidade e espírito de justiça inigualável!

    venha discutir sobre os seres humanos que marcaram a história pelas coisas boas que fizeram em: http://padoks.blogspot.com/

  16. Tatiana Allegro comentou em 17/02/12 at 20:19

    André, incrível mesmo essa história. Muito bacana descobrir essas notícias perdidas da família. Como editora já até começo a pensar em livro pra essa história rs Beijo!

    • Andre Barcinski comentou em 17/02/12 at 20:25

      Ótima idéia, Tatiana. Só checa, pq parece que já saiu uma biografia dele no Brasil… Beijo

  17. Don Ramon Valdez comentou em 17/02/12 at 19:48

    André, temos também um Schindler brasileiro. Ele era Luís Martins de Souza Dantas, que por conta própria, emitiu vistos a judeus na França contra ordens de Getúlio Vargas. Ele foi reconhcido como Justo entre as Nações. Há também Aracy de Carvalho, esposa de Guimarães Rosa, e ambos, quando na Alemanha, fizeram o mesmo e deram guarida aos perseguidos. Heróis, exemplos para nós, que não podem ser esquecidos.

    • Andre Barcinski comentou em 17/02/12 at 19:56

      Legal essa história do Dantas, Não conhecia…

  18. Marlons Silva comentou em 17/02/12 at 16:33

    Um obscuro fragmento histórico que merece ganhar mais notoriedade, devido à heróica e grandiosa ação desse nobre homem português. Parabéns pelo post. Texto muito revelador e emocionante.

  19. Banana Joe comentou em 17/02/12 at 15:59

    Já conhecia a história desse portuga.
    Grande homem.
    É chamado de Oscar Schindler português, mas parece que salvou muito mais gente que o Schindler original.

  20. karen kipnis comentou em 17/02/12 at 15:06

    Emocionante, André: saiba que gosto muito de seus textos: são motivados pela vida!KK

  21. Casoares comentou em 17/02/12 at 14:25

    Excelente Post, Barça. Nunca tinha ouvido falar sobre este nobre Senhor Aristides de Sousa Mendes.

  22. Anderson Nascimento comentou em 17/02/12 at 11:34

    Excelente post, Barcinski.

    História muito bacana, fiquei feliz de saber sobre esse portuga gente boa.

    Também vou procurar o filme indicado pelo colega abaixo.
    Abs

  23. Henri comentou em 17/02/12 at 9:27

    André,

    O embaixador Sousa Mendes, no pós-guerra, foi perseguido pela ditadura portuguesa de então, teve seus bens praticamente expropriados, perdeu o cargo e morreu na mais absoluta miséria!!!
    Merecia ter sua memória lembrada com árvore na avenida dos Justos entre as Nações do museu do holocausto do Yad Vashem em Jerusalém, né não!?!??!

    • Marie comentou em 22/02/12 at 0:42

      Foi reconhecido pelo Yad Vashem em 1966 e teve uma árvore plantada em sua homenagem.

      http://www1.yadvashem.org/yv/en/righteous/stories/mendes.asp

  24. djvolp comentou em 17/02/12 at 9:11

    Jura que nunca tinha ouvido falar dele?

    Esse cara foi um herói, mesmo quando mandaram ele parar de dar vistos ele continuou e quando acabaram os formulários ele escrevia em papel branco…

    Pagou um preço alto, pois pelo que sei da história dele morreu pobre.

    E vejam só, talvez se não fosse esse cara o mundo teria um crítico gordo e careca a menos.

  25. Cristiano Vieira comentou em 17/02/12 at 8:18

    Caro André, no pé da página de agradecimentos de Barulho – Uma viagem pelo underground do Rock Americano – você escreve: “Agradecimentos especialíssimos: Aos Barcinski, Canetti, Haar e Machado (sem vocês, eu não estaria aqui!): e aos companheiros de viagem, Alexandre ‘Rolinha’ Rossi e Angelo ‘Juluka’ Rossi…” Creio que agora, incrivelmente falando, a frase entre parenteses toma outra proporção, nué mesmo meu prezado…e quanto a minha pessoa, não fosse pelo português boa praça não teria hoje meu programa de Rock dos anos 90 chamado Vitrola Underground…Um Salve aos Barcinski e a Sousa Mendes!

  26. Yuri comentou em 17/02/12 at 4:53

    História sensacional. E olha, provavelmente o Sousa Mendes tb tem um pezinho distante na “nação”. Mendes é um tradicional sobrenome cristão-novo/judeu português.

  27. Renato comentou em 17/02/12 at 2:01

    Bem legal a história. E melhor ainda que você a divulgue, este é o tipo de pessoa que não pode ser esquecida.

  28. Marivone comentou em 16/02/12 at 22:11

    Tou arrepiada… Incrível. E ainda tem gente que tem coragem de defender a inexistência de campos de concentração… Dói na alma.

  29. Marshall comentou em 16/02/12 at 22:04

    Puxa, linda história! Já conhecia a atuação do cônsul durante a II Guerra. Salvo engano, a TV Cultura fez uma reportagem sobre ele há alguns anos. Admirável um homem cercado de ditadores e violência ter a coragem de enfrentar tudo e fazer a coisa certa. Ah, descobri há pouco um filme português de 2010 sobre ele: “O Cônsul de Bordéus” (direção de João Correia e Francisco Manso). O trailer http://www.youtube.com/watch?v=B2AR-MhsLos. Vou tentar conseguir o filme. Parabéns pelo texto, muito comovente a ligação da sua família com Sousa Mendes. Abraço.

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