O Oscar ignorou "Rampart". Não cometa o mesmo erro...
23/02/12 07:19
Se você ainda acha que o Oscar é termômetro da qualidade dos filmes feitos nos Estados Unidos, assista a “Rampart”.
Saber que um filme desses não recebeu nenhuma indicação é mais que revoltante. É uma piada.
Lançado em circuito limitado, em novembro de 2011, só para concorrer ao Oscar, foi ignorado pela Academia.
Não sei quando “Rampart” chegará ao circuito comercial no Brasil, ou se chegará. Nem nos Estados Unidos o público deu bola.
Uma pena. “Rampart” é, para mim, o melhor filme americano de 2011.
Estamos em 1999. A delegacia de Rampart, em Los Angeles, está sob constantes ataques da mídia e da opinião pública, por causa de sucessivos escândalos de corrupção e brutalidade policial.
É o habitat ideal para Dave Brown (Woody Harrelson), um policial violento, temperamental, corrupto, racista, maquiavélico e genial, uma espécie de monstro de farda, que passa os dias pulando de golpe em golpe.
Brown é um nômade. Vive, alternadamente, com duas ex-mulheres, vizinhas e irmãs (Anne Heche e Cynthia Nixon, a Miranda de “Sex in the City”), com quem tem uma filha cada. Passa as noites caçando quarentonas em um bar.
Tudo muda quando Brown se envolve num acidente de trânsito e acaba espancando o outro motorista. Alguém filma tudo e Brown vira símbolo da podridão de Rampart. Ele suspeita ter sido vítima de uma armadilha dos próprios colegas.
“Rampart” é uma volta aos dramas urbanos que o cinema americano costumava produzir às pencas nos anos 70 e 80, quando diretores como Sidney Lumet, Michael Mann, William Friedkin e Scorsese tinham liberdade para fazer os filmes que quisessem.
O elenco é coisa de louco: Sigourney Weaver, Robin Wright, Steve Buscemi, Ned Beatty, Ice Cube, Ben Foster.
O diretor, Oren Moverman, fez o ótimo “O Mensageiro” (2009), outro filme bom e cinza demais para o Oscar, e co-escreveu “Não Estou Lá”, a divagação inventiva de Todd Haynes sobre Bob Dylan. Seu próximo filme deve ser “Mais Pesado que o Céu”, cinebiografia de Kurt Cobain.
E Woody Harrelson tem em “Rampart” seu melhor momento no cinema. Melhor até que “O Povo Contra Larry Flynt”.
“Rampart” não é um filme policial de espetáculo. Não há perseguições de carro, tiroteios coreografados ou um final apoteótico em algum ferro-velho . Não há bandidos e mocinhos e não há moral da história. Os personagens são o que são.
E o roteiro? Há muito tempo – muito mesmo – eu não via um filme que respeitasse tanto a inteligência do espectador.
O filme não te entrega tudo de bandeja. Ele sempre deixa alguma coisa oculta, te faz pensar em cada cena, forçando o espectador a construir, em sua imaginação, o passado e o perfil dos personagens. Algumas coisas ficam sem explicação. É uma verdadeira heresia, num cinema acostumado aos roteiros beabá preconizados por Syd Field e outros gurus da mesmice.
Vendo o filme, até comentei com minha mulher que o roteirista – eu não sabia quem havia escrito – deveria ser grande fã de James Ellroy e Joseph Wambaugh (quem acompanha o blog sabe que já escrevi muitas vezes aqui sobre Ellroy, um de meus autores prediletos).
Os diálogos são surpreendentes e muito, mas muito bem escritos. Não sou ator, mas posso imaginar o prazer que deve ser trabalhar com um texto tão bom.
Assim que o filme terminou – da maneira mais impactante e inesperada, sem o famoso “terceiro ato” obrigatório de Syd Field – o primeiro crédito que surgiu foi:
“Escrito por James Ellroy e Oren Moverman”.
Tá explicado.
Valeu pela dica. Bom filme. Concordo com o personagem do Woody Harrelson… A Robin Wright é a mulher mais linda que eu já vi… naquele bar… ou em praticamente qualquer outro!