O Oscar e a infantilização do cinema
27/02/12 08:16
Nenhuma grande surpresa no Oscar. Eu apostava numa divisão dos principais prêmios da noite, mas as vitórias de “o Artista” nas categorias filme, diretor e ator, não podem ser consideradas zebras.
Se 2011 não ficará marcado como uma grande safra de filmes, pelo menos será lembrado como o ano em que o abismo entre o Oscar e o público americano tornou-se intransponível.
Nunca houve um descompasso tão grande entre o gosto da Academia e o gosto do público.
Quer prova?
Dos 40 filmes de maior bilheteria nos Estados Unidos em 2011, apenas um – “Histórias Cruzadas” – foi indicado ao prêmio de melhor filme. Um em 40.
Dos dez filmes de maior bilheteria em 2011, apenas um – “Thor” – não é uma continuação. E todos – repito, todos – são filmes que apelam ao público adolescente (veja a lista aqui).
Ou seja: o cinema adulto não faz mais sucesso.
Compare isso à década de 60, quando todos os vencedores do Oscar foram sucesso de bilheteria, de “The Apartment” (1960) a “Perdidos na Noite” (1969).
Dos campeões de bilheteria de cada ano entre 1960 e 1969, cinco foram indicados ao Oscar de melhor filme: “Lawrence da Arábia” (1962), “Cleópatra” (1963), “Mary Poppins” (1964), “A Noviça Rebelde” (1965) e “Funny Girl” (1968).
Os anos 70 não foram diferentes. Todos os vencedores de Oscar triunfaram na bilheteria: “Patton” (1970), “Operação França” (1971), “O Poderoso Chefão” (1972), “Golpe de Mestre” (1973), “O Poderoso Chefão – Parte 2” (1974), “O Estranho no Ninho” (1975), “Rocky” (1976), “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” (1977), “O Franco-Atirador” (1978) e “Kramver vs. Kramer” (1979). Com raríssimas exceções, só filmaços.
Agora, compare isso ao que ocorreu de 1980 para cá: nos últimos 32 anos, apenas três filmes que ganharam o Oscar também foram campeões de bilheteria de seus respectivos anos: “Rain Man” (1988), “Titanic” (1997) e “O Senhor dos Anéis” (2003).
O que aconteceu nesse tempo? Como surgiu esse abismo entre o gosto da Academia e o gosto do público?
Uma palavra: “Tubarão”.
Não é novidade que o filme de Spielberg mudou a história de Holllywood. Pela primeira vez, executivos perceberam que um filme poderia virar um “franchise”.
“Tubarão” foi um dos primeiros filmes a estrear em uma quantidade absurda de salas, e rendeu fortunas com sequências e produtos (para quem quiser se aprofundar no assunto, sugiro ler “Como a Geração Sexo, Drogas e Rock’n’Roll Mudou Hollywood”, grande livro de Peter Biskind sobre o cinema americano dos anos 70).
O que estamos vendo hoje é o auge da infantilização do cinema americano, iniciada com “Tubarão” e impulsionada por George Lucas e “Guerra nas Estrelas”.
Então a culpa é de Spielberg e Lucas?
Não. Eles simplesmente foram os garotos-propaganda de uma revolução comercial inevitável.
É só ver como a indústria da música, a partir dos anos 80, também descobriu o valor do público juvenil, para perceber que essa busca por um consumidor jovem, extremamente suscetível a propaganda e extremamente fiel, que não se importa de ver duas ou três sequências de seus filmes prediletos, faz todo sentido, se você é executivo e só está interessado em fazer dinheiro.
Enquanto isso, o público adulto migra para as séries de TV e dá mesada para os filhotes se divertirem com a enésima parte de “Harry Potter”. Na prática, os adultos estão pagando para destruir o seu próprio prazer de ir ao cinema.
Tempos estranhos os nossos…
A Academia é uma merda .. nunca deu um oscar sequer a gênios como Hitchcock , Welles e Zé do Caixão.. Artistas que revolucionaram a direção , a montagem e a indústria das unhas postiças..
Peter Pan impera na indústria cinematográfica .
“Na prática, os adultos estão pagando para destruir o seu próprio prazer de ir ao cinema.”
Interessante colocação…
Pois eu cada vez mais me irrito ao ir ao cinema. Aos 39 anos já me tornei um “velho rabugento”.
Já desisti de assitir a QUALQUER filme nos fins-de-semana, pq tenho a impressão que somente eu estou prestando atenção ao filme. É um festival de pessoas falando ao celular, sons insuportáveis de pessoas bebendo hectolitros de refrigerantes e se empanturrando de pipoca e ainda achando isso “chic”, um negócio de 1º mundo, tããão americano.
Isso sem falar nos comentaristas de filme. Até não teria tanto problema, se fosse APÓS a sessão e não DURANTE a sessão !!!
Fui assistir “O Artista” quinta-feira e além de uns adolecentes ficarem resmungando que o filme era “chato” e “não tinha diálogo” (PASMEM ! Entraram no cinema sem nem saber do q se tratava o filme ???), toda vez que o cachorrinho aparecia em cena algumas mulheres suspiravam e bradavam “que bonitinho… Ohhhh… Que meigo….”.
E não era uma ou duas mulheres não. Parecia, sei lá, um corpo de jurados de caninos dos anos 50.
Sem contar um casal que sentou BEM do meu lado, onde o cara deve ter sido arrastado pela moçoila ao cinema e passou o filme INTEIRO atualizado seu perfil no Facebook, tuitando ou sei lá mais o que num maldito smartphone ! E dê-le luz alta na minha cara….
Pior que cinema tava quase lotado e não tinha um lugar melhor.
O horror ! O horror !!!
isso para não falar da projeção displicente: com som ensurdecedor, imagem ultrapassando os limites da tela…
Exatamente! Tempos antes eu costumava ir ao cinema ao menos todas as semanas. Às vezes duas vezes na semana. Deixei de fazê-lo, pois além da qualidade duvidosa da maioria dos filmes exibidos, tornou-se irritante frequentar as salas. Vou ao cinema quando me esqueço das raivas que se passa. Se você está interessado em bons filmes, e não nos “entretenimentos” que levam a maioria a estar ali, acaba pagando para passar raiva.
Esses fenômenos paranormais acontecem com mais frequência nesta época de Oscar – exatamente porque esse tipo de “público” vai ao cinema mais para saber do que estão falando pela cidade do que para assistir um bom filme (lembremos que a Globo transmite o Oscar, e os BBB tem que estar por dentro do assunto).
Infelizmente, cinema só em salas especiais, para assistir filmes especiais (bons filmes, nada de blockbusters) e longe de shoppings – ah, e nas segundas-feiras…
Mas, quando eu for presidente, vou decretar o fim das pipocas e refrigerantes dentro da sala de projeção, confisco dos celulares na entrada e obrigação de silêncio e horário: quem chegar atrasado (até 5 minutos) senta na primeira fila, pra ter torcicolo. Mesmo com o cinema vazio.
“Na prática, os adultos estão pagando para destruir o seu próprio prazer de ir ao cinema.”
Frase interessante….
Eu, aos 39 anos, já me tornei um “velho rabugento”.
Já desisti de ir ao cinema aos fins-de-semana, pq em
“Na prática, os adultos estão pagando para destruir o seu próprio prazer de ir ao cinema.”
Pois eu cada vez mais me irrito ao ir ao cinema.
Já desisti de assitir a
“É só ver como a indústria da música, a partir dos anos 80, também descobriu o valor do público juvenil”
Barça não entendi! Pelo menos no que diz respeito à musica a industria sempre esteve atenta ao valor do publico juvenil. Diria que pelo menos a partir de Elvis e cia.
Não MESMO. Elvis e a 1a geração do rock foram os primeiros a apelar a um público mais jovem, mas a guinada realmente forte da indústria musical para esse público ocorreu depois do surgimento da MTV. Nos anos 50, a indústria começou a acordar para o potencial do mercado jovem. A geração do pós-guerra foi a primeira na história em que os filhos não precisaram trabalhar para ajudar os pais, e isso criou um mercado gigantesco de consumidores. Até então, quase não havia discos direcionados ao público jovem. Esse tema é fascinante e merece um post.
* assisti a cerimônia bem preparada: já tinha lido a prévia do Oscar que tu postou semana passada ; )
Essa inversão infeliz acontece e mesmo não tendo visto estes filmes na época, acho bem mais interessante os filmes de antigamente.
Quando levei “Alien – O 8º Passageiro” para ver com meus amigos eles reclamaram do filme ser “parado” e não ter uma fala durante 5 minutos no começo do filme. Isso sem falar de me perguntarem “Quando o Alien vai começar a matar?”
:))) passei situação semelhante, um amigo tentando com todo argumento impossível de que a série Crepúsculo (os livros), é muito melhor do que o Crime e Castigo, pois o personagem de Dostoievski demora muito tempo para matar a velhinha, enquanto os vampiros e lobisomens e o diabo a quatro logo dão as suas mordidas. :))) as pessoas não querem filmes “profundos”, que as tirem da zona de conforto; vivem rotinas aceleradas e desejam a ação de “arte rasa”, ao mesmo tempo em que aqueles que poderiam dialogar com os espectadores, preferem falar com uns poucos que lhes compreendam ou são incapazes de alcançar linguagem acessível, mas que não se perca no banal.
Desculpe publicar o comentário outra vez, mas ficou confuso… eu quis dizer que:
passei por situação semelhante, um amigo tentando com todo argumento impossível me convencer de que a série Crepúsculo (os livros), é muito melhor do que o Crime e Castigo, pois o personagem de Dostoievski demora muito tempo para matar a velhinha, enquanto os vampiros e lobisomens e o diabo a quatro logo dão as suas mordidas. as pessoas, de um modo em geral, não querem assistir a filmes “profundos”, que as tirem da zona de conforto; elas vivem rotinas aceleradas e desejam a ação de “arte rasa”, fácil, ao mesmo tempo em que aqueles que talvez conseguissem encontrar equilíbrio entre o “comercial” e o “artístico”, enfim, talvez conseguissem dialogar com os espectadores, também preferem não sair de sua própria zona de conforto e se contentam em falar com os poucos que lhes compreendem; ou simplesmente são incapazes de alcançar linguagem acessível, mas que não se perca no banal.
Mas filmes infantil sempre existiram e faziam sucessos. É só ver a lista de filmes da Disney dos anos 40, 50, 60 e 70. Não eram poucos. Não entendi o porque do Spielberg e George Lucas serem culpados, culpados em quê? Eu acho que eles tiveram visão, de como ganhar mais dinheiro com o cinema. Para voltarmos aos tempos áureos do cinema americano tipos anos 60 e 70, acho que os EUA precisam de uma guerra, mas daquelas guerras a nível do Vietnã, (Ok OK, eles sempre estão em guerra, mas nos dias de hoje os soldados meio que se divertem na guerra, tudo no botãozinho, internet, satélite) assim eles ficam com dores na conciência e voltam a fazer filmes de gente. Podem ver, grandes filmes dos anos 70 tem algum assunto vietnã, os principais personagens sempre são os veteranos da guerra, (Taxi Drive, Um dia de cão e outros exemplos…).
Quem disse que eles são “culpados” de alguma coisa? Eu disse justamente o contrário, que eles só aceleraram um fenômeno inevitável.
André, off topic, ouvindo Denmark Street do Kinks fiquei curioso pra saber mais sobre essa rua. Pro Ray ter composto é pq tem história e eu busquei no wikipedia alguma coisa ou outra sobre. Mas, fiquei bem curioso.
Conhece mitos e verdades sobre a rua? Conhece algum artigo, livro, outra música, filme, o raio que o parta, que fale dessa rua?
Abraços
Pura. Vou ficar te devendo, não sei nada.
Denmark St hoje em dia é o pico das lojas de instrumentos musicais em Londres. Na época que o Ray Davies escreveu essa música era o “Tin Pan Alley” londrino.
Em tempo: mais um menino morreu em virtude de um acidente de jet ski esse fds…
Muito bom o seu post André, bem sacado e pertinente ao que vem acontecendo por aí.
Sem querer desmontar a tese da infantilização, que procede, o filme que inaugurou o modelo de lançamento “em uma quantidade absurda de salas” foi The Godfather, lançado em 1972 pela Paramount.
O livro do Biskind coloca isso muito claro, como uma jogada de um exec da Paramount (não lembro o nome), que foi o cara que vislumbrou essa nova forma de distribuição. A sequel de The Godfather é de 1974. Só um ano depois da parte II, em 1975, Tubarão é lançado pela Universal.
Coppola te acertava uma garrafa de vinho na cabeça se tivesse lido esse post. ; ))
abs
@caradepapel
Viu Barça? Larga do pé do Spielberg seu xulé?
“Tubarão” foi o primeiro filme a gerar produtos relacionados, merchandise, etc. Outros filmes haviam sido lançados em muitas salas, como “Cleópatra”, claro, mas “Tubarão” foi o primeiro filme lançado como um “produto”. Na página 291 do livro do Biskind, ele escreve: “Tubarão mudou a indústria para sempre, na medida em que os estúdios descobriram o valor de lançamentos amplos (…) e publicidade maciça na televisão, duas coisas que aumentaram os custos de marketing e distribuição, diminuindo a importância de críticas em veículos impressos”. Ou seja: “Tubarão” foi o primeiro filme em que a estratégia de marketing e lançamento foram mais importantes que as críticas.
Hollywood começou a se infantilizar depois que o comando dos estúdios passou para as mãos dos executivos de marketing, que, como disse o Hector Babenco, pensam que “Buñuel é uma raça de cachorro”.
Buñuel ganhou o Oscar com o filme “O Discreto Charme da Burguesia”.
sim, nos anos 70, quando esses marqueteiros ainda não estavam no poder.
Mas não tinha aquela lenda urbana que dizia que filmes-pipoca como Tubarão e Indiana Jones serviriam para os estúdios fazerem caixa para financiar filmes mais adultos?!
Curto os dois tipos de filme, Star Wars fez parte da minha infância/adolescência, assim como filmes mais adultos / cult como Blade Runner. Acho que o problema é, usando um jargão da moda, a “zona de conforto” que é investir nos filmes para adolescentes, vide a onda dos super-heróis dos últimos 12 anos; diferente de filmes adultos que até custam menos, mas são menos garantidos nas bilheterias, ainda mais em uma época em que vc não precisa frequentar mais a sala de cinema para ter acesso a um filme.
Caro Barça, penso que infelizmente a infantilização não é só do cinema, mas de toda sociedade contemporânea. E como hoje tudo se resume a mercado, uma coisa puxa a outra. Entendo também, que este assunto poderia se tornar filosófico demais para debatermos em tão pouco tempo.
Detalhe: “We need to talk about Kevin” aparece na posição 232 da lista de maiores bilheterias dos EUA.
Nesse caso, houve uma concordãncia emtre público e Academia. Ambos ignoraram o filme. Erro de ambos.
*concordância.
*entre
Ótimas observações, André!
Viu que o Erland Josephson faleceu ontem? Outra triste, muito triste notícia.
Vi sim, até tuitei sobre ele ontem. Não deu tempo pro Oscar incluí-lo no tributo aos artistas mortos…
http://warpfilmstore.com/pages/Paradise-Lost.aspx?pageid=100
A parte 3 do documentário tava concorrendo ontem…
Barça…tem uma coisa que não tá fazendo sentido em toda essa polêmica sobre o Oscar…se os indicados nos últimos anos não são os grandes sucessos de bilheteria e mesmo sendo indicados ou recebendo prêmios são grandes fracassos comerciais e além disso segundo a crítica especializada (entre eles você) sempre são cometidas grandes injustiças com relação a grandes filmes esquecidos pela Academia…qual o propósito de tudo isso? premiar filmes que são fracassos de público? consagrar atores que não são bons o bastante? obter lucro em negócios? mas como? se os astros custam caro e não trazem o retorno esperado nas bilheterias não to conseguindo ver o sentido em tudo isso…
Os astros estão fazendo filmes pra criança. Johnny Depp em Piratas do Caribe, Robert Downey Jr. em Homem de Ferro, e por aí vai. O ponto é outro, a decadência do cinema para adultos.
Talvez quem faça “cinema para adultos” não entenda os adultos de hoje… Estou achando muito unilateral as críticas, como se a responsabilidade pela infantilização fosse apenas da indústria do cinema comercial e de um público tido como menos exigente (ou mesmo mais burro, como sugeriram vários comentaristas). Já está ficando senso comum falar mal de Hollywood. Gostaria de ouvir algo diferente… Por exemplo: por que diretores de filmes “artísticos” não conseguem mais atrair o público? Por que o problema está só no público e a indústria e não também em diretores intelectualizados, independentes e por aí vai?
Bom, Claudio, talvez seja senso comum falar mal de Hollywood porque Hollywood realmente mereça críticas, não?
Sem dúvida, mas talvez não seja a única a merecê-las, não é mesmo? O que me parece é que os apreciadores de filmes mais intelectualizados acabam ficando em um papel muito cômodo de apenas lamentar a suposta infantilidade do público e a ganância da indústria, sem procurar saber até que ponto a situação também é de sua responsabilidade. A questão que proponho é se estas pessoas estão captando as necessidades do homem de agora, e não as daquele das décadas passadas. Me parece simplório supor a burrice (não é o seu caso, mas o de alguns comentaristas) e a infantilização das pessoas pelo fato de não prestigiarem determinada linha de cinema. Talvez seja mais inteligente se perguntar o que está deixando de ser feito para atraí-las. Conheço bastante gente que não vai ao cinema “alternativo” e, nem por isso, é burra, infantil, descompromissada. Talvez esteja mais preocupada em descansar, ler um livro, ficar com os filhos (cada vez mais difícil hoje em dia) e por aí vai (conheço gente com excelente cultura geral que acha que o “mundo alternativo” caiu em uma mesmice “progressista”).
Mas quem está defendendo o “mundo alternativo”? Estou falando justamente que, até os anos 80, essa separação entre alternativo e mainstream não existia como hoje. Um filme como “Perdidos na Noite”, por exemplo, era exibido em circuito comercial e fazia sucesso de bilheteria. Não era um filme hermético ou para poucos. E acho que a infantilização se estende a todas as áreas; música (como citei), livros, TV, tudo. Sinal dos tempos.
Claudio tocou na ferida. O cinema de arte de hoje não interessa mais. É um cinema de crise, sem vida, amorfo. É como se para ser “arte” fosse preciso ser desagradável ao extremo, chocante e anti-público. Pra mim a crise maior é no cinema que unia arte e pop, o filme que divertia o povão e ao mesmo tempo podia ser visto profundamente pelos metidinhos. Não sinto falta de Cassavetes ou Kubrick, sinto falta de Peckimpah, Frankenheimer, Arthur Penn ou de Schlesinger. O popular adulto, com belas atuações, roteiro forte e um estilo individual. É pedir muito?
Eu sinto muita falta dos filmes de Cassavetes. Não acho que ele seja um contraponto aos que vc citou.
respondendo para o Tony: Kubrick?!
Kubrick ganhou o Oscar, teve vários filmes de grande bilheteria e foi respeitado tanto pela crítica “oficial” como pelo underground.
ainda complementando, “belas atuações, roteiro forte e um estilo individual”, para mim, essas são exatamente as características principais do cinema de Kubrick.
Kubrick nunca ganhou Oscar de direção, só um Oscar técnico, se não me engano, por “2001”.
André, se fosse nos dias de hoje, Operação França e Perdidos na Noite seriam fracassos absolutos nas bilheterias. E O Poderoso Chefão nunca chegaria aos cinemas. Teria virado seriado da HBO.
Uma vez li uma entrevista do Frank Zappa onde ele dizia que os executivos da década de 60 eram velhos caretas e conservadores, mas que topavam arriscar e financiar toda sorte de maluquices e experimentalismos.
Já nos anos 80 esses o perfil dos executivos da indústria musical mudou. Os jovens moderninhos e descolados chegaram ao poder e se mostraram mil vezes mais conservadores que os senhores de sessenta anos das décadas passadas.
Acho que a indústria do cinema foi pelo mesmo caminho. Hoje dificilmente qualquer coisa que tente ir por caminhos diferentes de fórmulas batidas consegue o aval das grandes empresas do ramo do entretenimento. Um filme mais adulto ou provocativo não recebe muitos investimentos de produção ou marketing.
Aqui no Brasil vejo coisas parecidas. A Bizz por exemplo colocava na capa bandas como The Cramps, Ministry e Pixies. Naquela épca jamais veríamos Chiclete Com Banana, Cid Guerreiro ou Sarajane na revista. Hoje a Rolling Stone faz capas do tipo “O fenômeno pop Ivete Sangalo” ou “NX Zero aponta os novos caminhos do rock”.
O texto é muito bom. E na minha opinião o maior problema dos filmes hoje são os roteiros. Como você bem citou dias atrás, a maioria das histórias contadas no cinema hoje entregam tudo mastigadinho e sempre tem aquele que é cópia da cópia. Você começa assistir e percebe que já viu aquilo em outro filme e de vez em quando até as mesmas falas. Mas o público também é em boa parte culpado. Essas continuações só existem porque o público vai e não tem senso crítico nenhum daquilo que assiste. Engole tudo e bate palma. Geração bunda mole.
PS: Vi Rampart no fim de semana e realmente é muito bom, uma pena Woody Harrelson não ser indicado. Não vi o Artista ainda, mas vi o filme do Clooney e o do Brad Pitt e Harrelson tá melhor que ambos.
tenho 50 anos. essas mesmas criticas feitas ao cinema e à musica atuais eram feitas ao cinema e à musica quando eu era criança. isso acontecia mesmo. cheguei a ouvir um dia que Caetano Veloso so tava a fim de sacanagem e que Gil era uma piada. quanto ao cinema,considerar tudo uma grande sacanagem era a ordem do dia. isso nao quer dizer que nao existe muita porcaria hoje em dia. existe. como exisitia quando eu tinha 10 anos. a vantagem hoje eh que o acesso às coisas boas eh muito mais fácil.
Pois é André, ja ha muito tempo que entendo que o cinema pelo qual me apaixonei, desmamado nas madrugadas da “coruja colorida” da globo, aonde reinavam Bette Davis, Cary Grant e outros titãs ja não existe mais, ha muito, muito tempo…Ontem assistindo a cerimonia do Oscar me dei conta que pela primeira vez na vida não havia assistido ou me interessado por nenhum dos concorrentes…e vc tem razão, a década de 80 (com sua revolução yuppie, argh!!) não matou apenas o cinema, mas a própria condição de lazer na vida (literatura e musica, como vc ja citou, estão atrelados nessa cauda de destruição e banalização)…mas fica a pergunta: o que aconteceu com os “adultos”? que modus vivendi é esse que esta em curso? meus pais atravessaram os anos 50 e 60 frequentando cinema e teatro, e o cinema infanto-juvenil sempre existiu (Andy Hardy, Flash Gordon e Shirley Temple, por exemplo). Walking dead?
Séries de TV são o lixo do lixo. Sem exceções!!!
Meu caro Barcinski, fiquei bastante curioso para ver esse filme que você elogiou, o Rampart. Como você fez pra assistir? Eu não o encontro com qualidade em lugar algum… Abraço e agradeço se puder ajudar!
Achei no Torrent, não tem data de estréia por aqui.
Duas coisas:
Primeiro: a lista de vencedores do Oscar na década de 70 é humilhante. Bate uma tristeza…
Segundo: justamente essa distância entre premiação e bilheteria forçou a Academia a aumentar a lista de indicados (o fenômeno “Cavaleiro das Trevas” foi o maior motivo). Mas o tiro meio q saiu pela culatra…
Abs e sds tricolores campeãs
Não precisa nem dos vencedores, pegue os derrotados da década de 70 e veja a diferença brutal. Só alguns derrotados: Five easy pieces, dog day afternoon, network, taxi driver, nashville e por aí vai. Comparar os 70 com hoje é covardia.
Descompasso público-academia: ainda pode-se levar a academia à sério? Afinal, a impressão que tenho é que, com o passar dos anos, eles têm ficado engessados em pontos de vista preguiçosos – além de o festival em si, como um todo, não passar de um evento repleto de auto-incensamento e puxa-saquismo.
Isso é muito perceptível na indicação dos mesmos tipos para categorias como “melhor diretor”, onde vemos bons diretores nem mesmo serem indicados, e diretores que já não estão tão bem serem indicados todos os anos (como o Woody Allen, por exemplo, que há anos vem fazendo praticamente o mesmo filme, e sempre é tratado como um gênio).
Há anos deixei de levar o Osca à serio!
Putz! Toda vez que eu escuto falar em “Tubarão” me lembro do texto de Inácio Araújo, aquele em que ele afirmava que a morte do Cinema começou com “Tubarão” e “Guerra nas Estrelas”. Esse tal de Araújo é um gênio!
Vi Hugo no fim de semana e achei o melhor filme desses que foram candidatos ao Oscar. Inclusive, tem uma homenagem ao cinema muito mais interessante do que O Artista.