Tributo a um torcedor rival
29/02/12 07:23
E o futebol da nossa infância, pouco a pouco, se vai.
Li ontem que Russão, antigo chefe de torcida do Botafogo, morreu, aos 62 anos (veja aqui).
Eu não sou Botafogo e não conhecia o Russão. Mas lembro muito bem dele.
Nos anos 80, quando comecei a acompanhar futebol, Russão era uma celebridade. Ia a programas esportivos na TV, dava entrevistas em rádio, era conhecido.
Eu morava na Ilha do Governador e não perdia um jogo no estádio da Portuguesa. Podia ser de qualquer time, até da segunda divisão (vi um Portuguesa x Bangu com 78 pagantes, nunca vou esquecer).
Cansei de ver Russão por lá, geralmente bem irritado – o Botafogo estava numa fase negra, sem ganhar um Carioca desde 1968 (a maré de azar acabou em 89, naquele gol de Maurício que eu vi no Maracanã, torcendo pelo Fogão).
Lembro um Portuguesa x Botafogo em que Dé, o Aranha, caiu junto ao alambrado, fingindo uma contusão. Um torcedor, encostado na grade, gritou: “Dá maconha que ele levanta!” Dé levantou na hora e foi tirar satisfação com o cara.
Bons tempos.
Todo time tinha seus torcedores-símbolos, seus Russões. Meu Flu tinha Seu Armando, que morreu ano passado e acompanhava o time há 77 anos.
Sinto uma falta danada disso.
Hoje, quando vemos notícias sobre torcedores, são sempre meliantes que brigaram em alguma rua escura ou atiraram em alguém.
Claro que havia brigas de torcida nos anos 80, mas não com a freqüência, ferocidade e profissionalismo de hoje.
Havia uma certa pureza em figuras como Russão. Não estou dizendo que ele era um santo, até porque não o conhecia, mas, para um adolescente nos anos 80, torcedores como ele impunham respeito e admiração.
Fiquei muito triste com a morte do Russão. Talvez porque ela me lembrou uma época em que futebol parecia mais divertido e inocente.
Certa vez fui ao estádio do café em Londrina, onde o Corinthians foi fazer uma pré temporada não me lembro ao certo o ano e organizaram um jogo amistoso contra o Londrina Esporte Clube. Sentei na arquibancada de cimento, quente como o mármore do inferno, num domingo à tarde, e à minha frente tinha um cara gordão, careca, com a camisa levantada mostrando a barriga enorme e o “cofrinho” atrás gritando sem parar: “Aqui não é o ATRÉTICO não!!…. “Aqui não é o ATRÉTICO não!! Acho que é desse tipo de torcedor que você se refere e realmente, foi uma diversão à parte e eles fazem falta sim…
Esses idiotas que torcem pra um time que não é do estado e pouco se lixam pros torcedores,vide esses idiotas que torcerem pro Corintihans no norte do estado do Paraná.mas,enfim,tem uma matéria na Placar sobre esses torcedores inusitados e especiaisk,tipo o cara da ju jovem.
Legal, Barcinski.
E, rapaz, estou com o receio de que, daqui a uns vinte ou trinta anos, estejamos lamentando o fim do futebol brasileiro com 15, 20 grandes times…
Vários times tradicionais já foram por esse caminho: Bangu, América/RJ, América/MG, Portuguesa, Guarani, Vila Nova/GO…
Temo que o meu Galo esteja a caminho…
Acho que estamos caminhando, lenta, mas positivamente, para a espanholização do futebol brasileiro.
E a época do futebol divertido e inocente terá ficado ainda mais distante.
Nessa linha, menção para o Ribeiro, torcedor símbolo do Corinthians nas décadas de 80 e 90 e famoso pela cabeleira black. Viajava até para Copas do Mundo. Hoje vende cartão telefônico no cruzamento da São João com Ipiranga.
Vc gosta de sacolé de carne, isso sim.
Andre, impressão minha ou você está sendo acometido por uma nostalgia daquelas “conflito de gerações”? Ontem foi o cinema de nossa época que era melhor, hoje é o futebol/torcida de nossa época que era melhor… Tirando o fato que eu concordo que eram, de fato, melhores, será que cada geração não tem o cinema e o futebol que merecem?
Cansei de ver Russão jogando aquele negócio chamado de Bola Pesada na praia de Icaraí.
Quanto ao Fluminense, ainda sobrou uma torcedora folclórica, aquela coroa que leva um galo na coleira pra ver os jogos. Já a vi várias vezes em Laranjeiras, Maracanã e Engenhão.
como as torcidas de Galo e Botafogo tem essa viadagem de “torcidas amigas” , cansei de ver esse cara no Mineirão, no meio da torcida do Galo, meio que reverenciado antes dos jogos, chegava “escoltado” pelos “chefes” da Galoucura e fazia-se uma roda de bate papo… esses caras eram meio pop-stars das arquibancadas , olha pra você ver, até aqui em BH. boas lembranças do mineirão…
por sinal , o nome de sua torcida era sensacional: “folgada do russão”
a partir do momento em que os jogadores começaram a amealhar fortunas, o futebol virou esse ninho de serpentes que é hoje. daí tudo mudou: os clubes, as torcidas… me lembro de uma reportagem do globo esporte nos anos 80, acompanhando um jogador do palmeiras em um dia de trabalho fora do clube. ele estava se iniciando como representante comercial e questionado do por quê, disse que era pra garantir uma renda além do futebol. jogador de time grande, veja vc. mas daí vieram os anos 90, o assédio dos clubes do exterior, a era dos supercraques milionários e tudo virou bosta…
Cara, engraçado. Eu torço para o Palmeiras, me lembro muito bem do Russão, assim como me lembro de outro torcedor folclórico de um adversário. O Ribeiro. Uma espécie de Tony Tornado desvalido com black power e sem os dentes da frente. Corinthiano clássico, era sempre figura carimbada nos 80 e 90… Sumiu também, ou fez implante sei lá… Outro dia viu um torcedor do Juventos da Moóca com uma camiseta com os dizeres: “Ódio eterno ao futebol moderno!”. Faz sentido! Saudosos os tepos dos futebol cards do chiclete ping pong…
não é o cotonete? esse cara vai (ou ia) a todas as copas do mundo desde não sei quando, só na base da “ajudinha” dos amigos.
Ele mesmo! Foi a 6 copas… Dei uma googada e parece que se desiludiu com o futebol e nunca mais foi a estadios desde o fim dos anos 90… Até o cotonete abandonou o esporte bretão.
Boring!
Lembro dele na TV contando que sua mulher um dia falou: “chega, Russão! O Botafogo ou eu”. Ele ficou com o Botafogo.
Aê Barça, lembrei de você: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1055000-chico-caetano-e-criolo-cantam-em-entrega-de-premio-no-rio.shtml
Não esquenta não André…. a próxima geração está preparada pra substituir essas figuras históricas no mesmo nível…. olha esse video da torcida do Flu.
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=SzlcoQp_fW0
André, o Russão, o Seu Armando, e outros folclóricos realmente torciam para o time, hoje em dia, a Gaviões, a Independente, a Young Flu, a Máfia Azul, entre outras, torcem para elas mesmas, tanto que vira e mexe, arrumam briga com torcedores do próprio time, só porque são de organizadas diferentes, tristes tempos esses, fico pensando quanto tempo vamos demorar para nos recuperarmos da era Ricardo Teixeira no futebol brasileiro????
É exatamente isso.
Prefiro acreditar que existam times rivais (o que já acho uma bobagem, mas enfim), não torcedores rivais. Eu sei, está implícito “tocedor de time rival”, mas lembrando da bestialidade nos estádios (e fora deles) é impossível não pensar nisso.
O Russão era figura folclórica a cada jogo parecia que ia enfartar. Me lembro que ele ficou completamente enlouquecido quando do fim do jejum de títulos do alvi-negro em 89. Santo não era pois me lembro dele ter entrado em alguns empurra-empurra e trocas de gentilezas nas arquibancadas do velho Maraca.
Mas como vc bem disse esse tipo de torcedor está morrendo, em troca de pity-torcedores, até o bom humor das torcidas está morrendo. Quem diria que em 1982 o Flamengo tinha sua torcida gay, sim já exitiu a Fla-Gay, talvez um dos maiores símbolos de liberdade do futebol naqueles tempos. Esse tipo de torcida teria chance de sobreviver hoje ??? Mesmo que pese a saída do armário de uma porção de “machocados” ???
Clóvis Bornay fundou a Fla-Gay. Não é piada, é verdade, podem procurar.
O Grêmio também teve torcida gay.
Tem torcedor do Grêmio que fica só no alambrado esperando pela avalanche…rsss
Incrível a capacidade de alguns acéfalos tem de querer dizer que “no RJ tem tudo, menos futebol”!?!?!?!..Será mesmo? Só por que tem campeão de turno??? Porra, então o RS, BA, PE e todos os demais estados estão errados!!! Pois todos os campeonatos tem turno….o de SP que é sensacional….19 rodadas que não valem porra nenhuma e que classificam 8 times de 20….e o time que foi o líder saí se perder um joguinho…isso sim é uma formula maravilhosa.
O futebo brasileiro tá uma merda faz tempo….tanto faz se é Rio, SP ou Minas…..tá tudo fudido.
No meu tempo de moleque….Bangu, América/RJ, Juventus/SP sempre tiveram times bons e eram os fieis da balança dos campeonatos estaduais…..hoje é dificil de ver um pequeno desafiar um grande.
Quanto a morte do Russo….uma pena….que siga em paz e continue torcendo pelo Fogão lá de cima.
PS: Barça, parabéns pelo seu Flu no domingo…..foi muuito superior ao meu Vasco…merecido!!
Eu sou do tempo que ia ao maraca e adorava ver a festa das torcidas, a rodada dupla que a gente torcia pro nosso time num jogo e secava o rival no outro, eu adorava as brincadeiras entre perdedores e vencedores na saída na descida da rampa, eu adorava o cachorro-quente da geneal e o mate Leão cheio de espuma tirado na hora, eu sou do tempo que mesmo menor de idade comprava a arquibancada na hora meia hora antes do jogo mesmo com público de 100 mil torcedores…Pra mim a ÚNICA coisa que restou dessa época e que só existe no Rio de Janeiro é ver o estádio divido entre 2 torcidas (apesar do meu mengão sempre ser a maioria) se isso acabar realmente será o fim de uma era…
Russão trabalhou como “secretário” do grande Carlos Imperial, inclusive no tempo em que este foi diretor de futebol do Botafogo. Uma vez, nos anos 80, meu tio botafoguense me levou para assistir a um Botafogo e São Paulo no Morumbi. O Fogo estava naquele período brabo sem títulos e o São Paulo tinha um dos melhores times do Brasil. Quase não tinha torcida do Botafogo no estádio e mesmo assim o alvinegro ganhou (2 a 1, se não me engano). Sentamos perto dos caras da Folgada e o Russão estava lá, era uma figura enorme, parecia um gigante na arquibancada, e comemorava os gols como se fossem ps últimos, xingando os são paulinos de todos os palavrões possíveis e imagináveis. Nunca vou esquecer.
É impressão minha ou aquele bando de bobos que ficavam com comentários idiotas no JabaLOAD vieram para cá?
André, aqui em São Paulo você ainda consegue lembrar desses tempos indo a um jogo do Juventus na Rua Javari. Pena que o time se encontra na 3ª divisão do Paulista, mas ainda vale a pena ir.
Abraço!
Tem também o João do América, que levou os pais pra ver o Ameriquinha em ação. Sensacional!
http://www.youtube.com/watch?v=Hg5bMq6BgJcEm cache
O link saiu errado. Foi mal!
barca, a idade chegou para ti! nao vejo problema nenhum em ser nostalgico e pelo jeito voce ser tornou um, nao negue as evidencias.
E dessa forma o futebol vai perdendo toda a graça. Já não existem mais estádio se times no interior, tudo é cheio de frescura, jogador é mega celeridade e torcedores organizados na verdade fazem parte de quadrilhas organizadas. É mais ou menos o que foi discutido nos posts anteriores: tenho quase certeza que meu filho não vai curtir tanto futebol como eu porque hoje em dia a coisa é muito mais sem graça que antigamente…
aqui tem a conceição da Ponte. ta com seus 112 anos, muito mal de saude. Mas ouvir uma entrevista dela com o Milton Neves na radio era garantia de gargalhadas. A tiazinha ficava muito puta ao ouvir o nome do Guarani
É verdade mesmo !
A Conceição era hilária… O Milton Neves a sacaneava colocando o hino do Guarani para ela ouvir !
Aí ela fugia, como o Diabo foge da Cruz…
Era sensacional de tão engraçado que era !
Começa assim, virando a casaca… depois vira outra coisa…
João Guilherme lembrou bem da Dulce Rosalina. Outras figuras folclóricas dos anos 80 no Rio também já foram, como Pai Santana e Ximbica. Certamente uma época muito mais romântica. Dá saudade mesmo. Tardes de domingo ligado no radinho com o Gérson, Celso Garcia, Áureo Ameno (na Rádio Globo) e João Saldanha (na Rádio JB).
Barça, totalmente off-topic… mas vc viu essa? http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2012/02/homem-e-preso-no-recife-portando-rg-com-foto-do-ator-jack-nicholson.html
Vi sim, ri muito.
O cara merece uma atenuante, só pelo bom-humor… rsrsrsrs
Não eram só os torcedores, os jogadores também eram figuras mais humanas, sou de Santos, até hoje vejo Pepe, Coutinho, Edu, Chulapa numa boa (faziam isso quando eram jogadores), hoje os jogadores são famosos cheios de assessores de imprensa, até as entrevistas com frases engraçadas acabaram por causa disso, sinto saudades de frases como:’Tenho o maior orgulho de jogar na terra onde Jesus nasceu.’
(O mesmo Luizão chegando a Belém do Pará para disputar uma partida contra o Paysandu, pelo Brasileirão de 72)
‘Chegarei de surpresa dia 15, às duas da tarde, vôo 719 da VARIG.’
(Mengálvio, ex-meia do Santos, em telegrama à família quando em excursão à Europa.
Uma vez vi uma entrevista do Pepe (Canhão da Vila) e ele dizia que vinha de São Paulo após um jogo contra o Palmeiras e descia do ônibus no centro de Santos e pegava o circular pois morava em São Vicente, o cara é até hoje um dos maiores ídolos da história do futebol e andava de ônibus circular, hoje jogador para não perder a hora vai ao treino de helicóptero!
Além disso, ir ao estadio era coisa de família, em SP no estadio do Juventus era o tradicional Canolli, em Santos no Ulrico Mursa (Portuguesa Santista) era a famosa “Maria dos Tremoços”, que era mais importante para os torcedores que o próprio time, lembro de ir ver o clássico Jabaquara e Portuguesa ao lado do meu avô que comia tremoços e tomava cerveja Antártica em copos de papel.
Russão era do tempo em que o torcedor se preocupava mais em torcer pelo seu clube de coração do que em promover baderna nos estádios. Foi-se um dos símbolos de uma “era romântica” nas arquibancadas, que já acabou há algum tempo e que, no Rio, teve dignos representantes como Seu Armando, Dulce Rosalina e Jaime e Laura da Charanga.