“Funcionário é inimigo pago”
06/03/12 07:13
A primeira vez que ouvi essa frase, achei que era um exagero.
Mas o autor tinha credenciais: era nosso advogado trabalhista, com quase duas décadas de experiência no ramo.
Por nove anos, fui sócio de uma empresa de eventos. Organizávamos shows e inauguramos duas casas noturnas.
Foi uma experiência fantástica: os negócios iam muito bem, e eu não podia querer sócios melhores. Todos eram muito amigos e muito profissionais.
Mas eu não agüentei. Não tinha mais estômago para lidar com funcionários.
Assim que saí da sociedade, fiz duas promessas, em nome de minha sanidade: a primeira era que eu nunca mais falaria a palavra “alvará”. A segunda é que nunca, jamais, em hipótese alguma, nem que a vaca tossisse, eu contrataria mais ninguém.
Veja bem: não estou defendendo patrões ou dizendo que todos os funcionários não prestam. Pelo contrário: a grande maioria de nossos funcionários eram pessoas maravilhosas e honestíssimas. Alguns se tornaram ótimos amigos.
Se eu tivesse de chutar, diria que 98% dos funcionários eram do bem. O problema é que os 2% restantes não só eram do mal, mas faziam disso uma profissão.
Alguns eram verdadeiros PhDs.
Tinha o barman especializado em atestados médicos falsos. Tinha o caixa que entrava, batia o cartão de ponto e depois sumia, voltando só na hora de bater o ponto da saída. Tinha o faxineiro que roubava ingressos usados na bilheteria e os revendia na fila.
Outros eram mais estabanados e amadores.
Como a senhora de 50 e tantos anos, flagrada pela câmera roubando o celular de sua companheira de trabalho. Ou o segurança que, depois de demitido pelo chefe da equipe, teve um surto psicótico, botou uma roupa de valet e levou o carro de um funcionário, retornando horas depois acompanhado de vários carros da polícia, que ele chamou com a desculpa de coibir um tiroteio na rua. Tudo inventado, claro.
Na enésima vez que tive de ir ao fórum trabalhista ouvir um funcionário mentir descaradamente na cara do juiz, decidi que aquilo não era para mim.
A gota d’água foi uma funcionária que disse à juíza que, em mais de três anos no emprego, nunca tinha tido um intervalo para a refeição. Até a juíza ficou constrangida: “Mas você nunca ficou com fome nesses três anos?”
Lidar com clientes era mole. Claro que me aborreci quando uma cliente nos processou depois de chegar atrasada à sua própria festa de aniversário e ser barrada porque o clube estava lotado. Ou quando um malandrão disse ter sido roubado na chapelaria, exigiu receber na hora o pagamento referente aos pertences e, três semanas depois, “lembrou” que lhe haviam subtraído também um óculos Prada e uma câmera de vídeo, no valor de 7 mil reais.
Ter problema com cliente é normal. Mas ter problema com quem você paga, com quem supostamente está trabalhando junto com você, é dose pra leão.
Agora, o caso mais escabroso, mais sherlockiano, foi o mistério das vodcas fantasmas.
Um dia, a marca de vodca vendida no clube resolveu mudar de garrafa. Tivemos de trocar todo o estoque por garrafas novas.
Certa manhã, o responsável pela limpeza perguntou se ainda estávamos vendendo a garrafa antiga. Eu disse que não. Ele disse que tinha visto duas garrafas antigas, vazias, no lixo. Era verdade. Pedi ao gerente do estoque que conferisse, mais uma vez, se todas as garrafas haviam sido trocadas.
No dia seguinte, mais duas garrafas antigas apareceram, vazias. Um mistério.
Reuni os gerentes para tentar decifrar o enigma. Um deles sugeriu fazer uma coisa que nunca havia passado pela minha cabeça: revistar os funcionários na entrada do trabalho.
Bingo.
Um barman, que trabalhava com a gente há quase dois anos, tinha duas garrafas de vodca escondidas na mochila. Descobrimos que ele já tinha clientes fiéis, que compravam garrafas diretamente com ele.
Era um plano genial em sua simplicidade: como as garrafas não faziam parte de nosso estoque, nenhuma contagem daria falta delas. E, como o dinheiro ia diretamente do bolso dos clientes para o bolso dele, não havia nenhuma diferença na contagem do faturamento, no fim da noite.
Se não fosse a perspicácia do rapaz da limpeza, o truque nunca seria descoberto.
Fiquei pensando: um cara que bola uma coisa dessas é um gênio. Se usasse a cabeça para coisas boas, com certeza seria um empreendedor de sucesso
Patrão e empregado trabalhando juntos?!!!
Só o patrão mesmo para pensar uma coisa coisa dessas, parece aquelas propagandas de vestir a camisa da empresa.
Patrão só é patrão porque vive da exploração dos seus empregados. O empregado não subtrai da empresa, expropria, é um deverde todo empregado…
Nunca li tamanha besteira.
Concordo com você. Essa coisa de usar o termo “colaborador” para se referir a um empregado parece coisa das modernas ciências de Gestão de Pessoas. Hipocrisia pura.
Já fui funcionária, passei a empreendedora (com 8 funcionários) e hoje sou funcionária novamente. A verdade é que dos dois lados cada um só pensa em como vai f…. o outro para levar vantagem.
Pois é. Sei o que é isso. Já tive um empreendimento, com um funcionário e uma funcionária. O funcionário trabalhava honestamente. Adivinhem se a funcionária não era pilantra?
Hoje em dia, sou funcionário público. Empresário, nunca mais.
O problema não são tanto os funcionários, mas alguns advogados que mandam eles pedirem tudo que é possível e impossível, para que se o empregador perder algum prazo eles ganham acima do que merecem. E o pior os juízes engolem. Se o empregado disser que era gerente o juíz engole. Quem quiser me desmintir, eu tenho dois casos assim.
E de uns tempos pra cá, passaram a chamar o funcionário de “colaborador”, para ser politicamente correto.
barman = nada , a coisa mais facil de recolocar
No primeiro emprego, como telefonista em banco, lembro que durante a seleção havia aquelas pessoas falando exatamente o que o pessoal do RH queria ouvir. Desembaraçados, pra cima, sorridentes, comprometidos e tal, tão verdadeiros quanto uma nota de 3 reais. Muitos que não eram assim, mas pareciam honestos, dançaram. Aí, quando foram contratados, não queriam trabalhar no horário tal, nos fins de semana, causavam intrigas. Mas eram os primeiros na fila do ticket-alimentação.
Funcionário é complicado, mas os “patrões” também aprontam das suas. Trabalhei numa empresa de pequeno porte em que nosso patrão NUNCA dava um feriado prolongado sequer. Um dia, nos reunimos e fomos conversar numa boa. Fizemos a proposta de uma escala, um feriado sim outro não etc. Sabem o que o cara disse? “Isso que vocês estão pedindo é passível de demissão”. Olha o absurdo!
“Isso que vocês estão pedindo é passível de demissão”
QUA QUA QUA ,perdão não to rindo de voce ,mas que patroes sem vergonhas hein?! pela mordedeus
André, entendo a sua indignação. O bom é que voce mesmo reconhece que 98% dos indivíduos são honestos. Eu também acredito na humanidade, caso contrario não valeria a pena viver. Meu marido também é empresário e já sofreu com o problema de ações trabalhistas injustas e desonestidade de alguns funcionários. Diante destes problemas, o que costumo dizer a ele é que isto faz parte do risco do empreendimento. Ou seja, todo empreendedor deve ter consciência de que, com certeza, infelizmente, terá de enfrentar problemas com funcionários , inadimplência, etc. Ser patrão é isso.
Olás,
Correndo em novembro uma meia-maratona em Brasilia com seus 21km pude ir admirando os prédios da cidade e qual é qual é o maior prédio público da cidade?
O Tribunal de Justiça do Trabalho, enorme lá no Paranoa
Harry
tenho um “causo” bom para contar. Trabalhei numa empresa de cosmeticos onde a galera desviava frasco plastico da linha de producao para roubar o Listerine que oferecido no banheiro. Obvio que nao faziamos Listerine, essa e’ uma marca do concorrente. Sensacional.
Um amigo tem um restaurante e me contou uma! não dá pra acreditar: Duas cozinheiras brigaram não sei lá proque, então um denunciou a outra e disse que ela levava pra casa todos os dias dentro da calcinha enrolados em plástico filme 5 bifes de filé, o meu amigo chamou a polícia e fez uma BO mas não sabe como a mulher “dispensou” os bifes que ela tinha roubado naquele dia e meteu um processo por injuria e difamação e ainda uma causa trabalhista por ser acusada de roubo, o cara quase pirou de raiva mas teve que pagar tudo, então o advogado dele orientou que quando pegar alguém roubando é melhor dispensar sem dizer porque, pode?
Eu acredito, já ouvi histórias semelhantes.
É um estilo tão arraigado que colocamos o guru desse pessoal na Presidência e o cultuamos fervorosamente até hoje!
Golaço, Helcio.
Concordo plenamente. O problema é cultural meu amigo, nesse país vale mais usar a famosa “esperteza” do que a “inteligência”, que em minha singela opinião são duas coisas distintas.
Sou funcionário, mas trabalho na área Gerencial, onde tenho contato com as mais diversas picaretagens de funcionários da empresa.
Teve até o cara que simulou sindrome do pânico…rsrs
Eu tenho a impressão que existe uma cultura no Brasil de que trabalhar é um sacrifício imenso… as pessoas vão pro trabalho com ódio… detestam suas próprias vidas e ficam colocando a culpa na empresa, no chefe…
Por outro lado existem muitos donos de empresa insanos… q gritam como loucos pros seus funcionários, xingam, ameaçam…
Mas mesmo assim acho a legislação trabalhista brasileira extremamente paternalista estimulando a falcatrua e a preguiça.
Tive uma construtora e assino embaixo, mesmo sendo minoria os funcionários sacanas, eles enchem o saco pelas malacagens que fazem, fazer o que?? O que fez o Barça mudou de ramo e provavelmente é muito mais feliz
Eu também trabalhei em construtora e acho que nesse ramo é pior: uns 10% são picaretas. Pois é um trabalho cansativo, mal-remunerado e que costuma ter um quadro de pessoal de baixa qualificação.
10%? só isso?
Recomendo ‘A Invenção do Cotidiano’, de Michel de Certeau. Esse é o modo como as classes mais baixas podem fraturar a ordem herdada, não se trata apenas de usar essa astúcia para pensar coisas do bem, eles podem ter mil ideias, mas não são os donos dos meios e não tem como entrar no jogo. Enquanto os patrões lidam com ‘estratégias’, correndo em seu próprio campo e sendo donos da bola, os funcionários precisam se contentar com as ‘táticas’. E, sim, são sagazes nisso.
Esse livro é ótimo, mas se não me engano o Certeau não faz analogia direta com as relações de trabalho, patrão-empregado. Salvo engano, esse foi um desenvolvimento / utilização da teoria por psicologos brasileiros. De qualquer forma esse tipo de atitude de resistência dos trabalhadores já era documentado desde os anos 40/50 em livros como The American Worker e depois por Daniel Mothé e suas análises do seu trabalho como operário na Renault.
Afinal, donos de empresas de pequeno e médio porte são grandes exploradores do sistema capitalista. Curioso que as mesmas pessoas que glorificam esses comportamentos ficam melindradas quando tomam pessoalmente algum tipo de prejuízo devido ao mesmo…
vc era um bom patrão?!
do msm jeito q é facil falar mal do lado d la, tb é facil falar mal do lado d cá!!!
vc ñ exaltou o faxineiro pelo ‘gato’!
sempre fui funcionario, mas minha esposa ja foi tipo, contratante d serviços, e ela cita furtos e picaretagens, do msm jeito q eu cito abuso da parte d chefes, retaliações, assédios…
“Falar mal do lado de lá”? Leia o texto, eu deixo bem claro que a esmagadora maioria dos funcionários são corretíssimos.
Esse Marcelo já aprontou em alguma empresa, só pode.