Livro explica por que não lemos mais livros
15/03/12 07:22
Terminei de ler “A Geração Superficial – O que a Internet Está Fazendo com Nossos Cérebros” (Ed. Agir), de Nicholas Carr.
Carr é um jornalista e autor (“The Guardian”, “The New York Times”, “Wall Street Journal”), especializado em cultura e tecnologia.
“A Geração Superficial”, finalista do prêmio Pulitzer na categoria “não-ficção”, fala sobre como a Internet está “moldando” nossos cérebros e criando uma geração de leitores com pouca capacidade de concentração e compreensão de texto.
Carr não é um homem das cavernas. Muito pelo contrário: é um autor “conectado”: tem site, tem blog, escreve sobre novas tecnologias. Seu livro não demoniza a Internet, apenas relata um processo claro e irreversível.
A tese de “A Geração Superficial” é simples: nosso cérebro se adapta às condições das tecnologias que usamos. E a Internet, por incentivar uma overdose de informações superficiais e cheias de “distrações” – links, hipertextos, janelas, etc. – está nos transformando.
Carr cita pesquisas que mostram a dificuldade de concentração demonstrada por usuários de computadores. Ler livros, diz ele, é uma tarefa cada vez mais difícil para um número cada vez maior de pessoas.
Acho que isso não é novidade para ninguém. Qualquer um de nós pode citar exemplos práticos: quantas vezes você não ficou sem acesso à Internet por algumas horas, só para perceber, depois, que esse tempo “desconectado” não lhe fez nenhuma falta?
O mérito do livro de Carr é explicar esse fenômeno por meio de estudos e pesquisas. É fascinante.
Assim, me pego numa posição paradoxal: indico um livro sobre como ninguém mais consegue ler um livro. Sinal dos tempos?
Quer outro “sinal dos tempos”? Carr é membro do conselho editorial da “Enciclopédia Britânica”. No mesmo dia que terminei de ler o livro, veio a notícia de que a “Britânica” vai acabar com sua versão impressa, depois de 244 anos.
li este texto até a metade e me peguei olhando para outras janelas do computador pra ver o que mais tinha pra eu ler, mas me mantive firme até o final. difícil ler um texto de uma só vez, sem atropelar pra ver outras coisas.
Discordo da tese do livro. As pessoas já não gostavam de ler antes da internet. E, com o surgimento dessa, isso ficou ainda mais acentuado. Mas não é culpa da internet. É culpa das pessoas. Em sua maioria, elas não gostam de ler por natureza.
Mas a “tese” do livro não é de que a maioria da população gostava de ler e não gosta mais, mas a de que as pessoas que lêem estão, cada vez mais, migrando para os computadores, e que isso tem um impacto na maneira como a leitura é compreendida.
Talvez o títuto do texto induziu o Cesar a pensar dessa maneira. Ótimo texto, como sempre.
Sim, mas o fato é que as pessoas nunca foram apaixonadas pela leitura. Sempre leram “para o gasto”. O que a internet faz, com seus estímulos visuais elevados a última potência, é acentuar algo que sempre existiu: a procura das pessoas por informação rápida e superficial. Na própria internet, se você escreve um texto com mais de dois parágrafos, poucos lêem. E esse é o ponto: a internet só acentua um hábito que sempre foi comum entre as pessoas. A superficialidade com que elas encaram a leitura. Não querem nada muito pesado, extenso e complexo. Somente algo curto e de fácil compreensão.
A Folha poderia dar uma mãozinha e deixar seu blog mais “clean”. Toda vez que entro aqui tenho a impressão que estou usando o Internet Explorer, tal a quantidade de links e de publicidade na página…
É uma incógnita. Sou um homem com um pé no século 20 e outro no 21. Tenho 52 anos e sempre fui um leitor voraz, o que levou-me a trabalhar com redação publicitária. Já tenho percebido há algum tempo uma certa irritabilidade e falta de paciência para ler livros(redundância destes tempos de internet). O seu post de hoje acionou o alerta vermelho do meu cérebro, pois sinto que estou ficando preguiçoso para escrever. O texto redondo, as palavras exatas e a clareza do raciocínio já não me são tão importantes. O que me importa é a quantidade de informação. Ledo engano. Obrigado pelo post. Vou correr para minha biblioteca e impor-me no mínimo 1 hora de leitura diária de livros. De preferência deitado e em absoluto silêncio para recuperar meu principal instrumento de trabalho. O vocubulário.
Olha aí a urgência. Não revisei. Leia-se na última frase. – O vocabulário. –
Discordo um pouco dos comentários e da posição do Carr em geral (adianto que não li o livro, mas sei dele e do próprio Carr há bastante tempo). Na minha opinião, não é nosso cérebro que está se tornando medíocre por estar sendo moldado pela internet. Acho que é bem o contrário: a internet foi moldada, ao longo dos últimos anos, pela mediocridade e incapacidade de leitura do grosso da população. Escreve-se na internet de maneira superficial e com muitas opções de distração porque é dessa forma que a maioria das pessoas querem ler. Não acredito no inverso. Sou de uma geração anterior à internet, e os comentários que se fazia sobre a capacidade de ler, escrever, interpretar, sempre foram os mesmos.
Com a redução do hábito de leitura vem também a perda da língua escrita. Os erros gramaticais grosseiros estão cada vez mais comuns inclusive nas teses de doutorado e artigos científicos.
Sou o último guerrilheiro pelo livro?
Espiem: http://www.clubeletras.net
Ops…é Silvio Meira, sorry!
Tem um artigo do Sergio Meira na FSP hoje sobre o mercado literário e achei bem “catastrofista” em relação ao papel…ao mesmo tempo tenho visto inúmeras iniciativas de publicações mais baratas e acessíveis como da LP&M, Saraiva, etc..publicando em formatos de bolso grandes clássicos a 15, 20 reais. É o que tenho comprado hj…Até Ellroy tá sendo publicado assim. Não sei, vou sentir falta de livrarias se tudo isso realmente acontecer. Nunca senti vontade de comprar um livro de dentro de um taxi, e acho que isso em mim não vai mudar.
Quanto ao impacto da web na forma de ler, reviso artigos, dissertações e teses por ser pesquisador, e a coisa tá MUITO FEIA!
E mais, graças à internet conheci Russell, Spinoza e uma par de gente boa, li vários livros em PDF. Além das colunas do Hélio Shwartsman, do seu Blog e do saudoso Daniel Piza, todo esse pessoal é responsável por eu ter comprado uma par de livro. O foda é que a Folha coloca como destaque o que um bunduda qualquer disse no Big Brother. Vale a pena ler um livro ruim, só pra falar que leu? Acho que não.
Não sou tão fatalista assim, mas tenho uma filha de catorze anos e faze-la ler é complicado, são tantos apps, blog, posts e por aí vai. Acho que o desafio não retomar a leitura tradicional e sim criar novos mecanismos.
São publicados milhares de livro porcaria, o jeito e repensar, o livro tem se mostrado eficaz por milênios, mas enfrenta o seu outono. Mas enquanto tiverem boas histórias, não importa se elas são expostas em papeis ou em telas de milhões de pixels.
Quando trabalhava em redação de jornal aconteceu uma situação curiosa (mais de uma vez): qdo acabava energia ou caía a conexão da internet, os jornalistas ficavam parados sem fazer nada… como se não pudessem trabalhar sem internet, como se fosse proibido ir para a rua atrás das notícias.
Poxa, apertei o enter antes de terminar minha opinião anterior…. Sobre deixar de ler livros, acho que isso vai ocorrer ainda mais com os tablets da vida! Mas acredito que tem o outro lado… a molecada lerá mais com esses recursos tecnológicos. Abraço!
Marcel, concordo contigo, mas quanto aos tablets há um porém. Leio livros e revistas no iPad, mas não com a mesma atenção que lia os livros de papel. Há sempre uma notificação ou um novo e-mail chegando que tira seus olhos do livro. Um um toque no “livro”, você tem acesso a muitas outras coisas.
Por isso penso em comprar um leitor dedicado, como o Kindle. Acho que me concentraria melhor na leitura.
Fernando, pode até ser, mas acho que é questão de hábito. Talvez daqui a algum tempo você consiga se acostumar a ler no tablet. Eu particularmente não sinto diferenças entre o livro no papel e eletronico, mas ai é de cada um. Até mais!
Com certeza as pessoas perderam um pouco da capacidade de interpretação de textos, até pela quantidade de informações…fica praticamente impossível assimilar tanta informação com tão pouco tempo. Não sei se o livro trata isso, mas pra mim a chave dessa falta de capacidade das pessoas em interpretar textos é tempo…. elas começam a ler desesperadamente, sem concentração nenhuma….apenas pra ir para a próxima notícia.
Muita calma nessa hora. Não há como negar que – no mínimo, de uns 20 anos para cá – a mediocridade e a idiotice permeiam nossas sociedade e cultura de forma avassaladora, vide o que as pessoas andam lendo, assistindo, ouvindo e teclando……
Li o livro do Nicholas Carr e as resenhas sobre e penso assim (ressalto que tenho uma boa biblioteca em casa, não deixo de comprar meus livros e comprei também um tablet onde leio e-books direto): é possível manter a compreensão de um livro/texto mesmo tendo sido educado nestes tempos “cibernéticos”. Basta tornar isto um costume, largar a letargia que a educação via internet traz embutida e, principalmente, o texto ser bom. Se esta última condição for preenchida qualquer suporte é interessante para adquirir conhecimento. Em tempo: já que andam prestando atenção na aba ao lado, podem perceber que da lista dos blogs da Folha, dois falam sobre livros: “A Biblioteca de Raquel” e o “Livros Etc” da Josélia Aguiar. Boa vista à eles.
Sim, claro que é possível. Mas talvez seja mais fácil para uma geração que não cresceu nessa época. O mais preocupante no livro é perceber como nosso cérebro é, fisicamente, “moldado” para reagir aos estímulos do computador. Foi isso que me impressionou mais.
Concordo com esta observação do André sobre a questão de a leitura digital ser mais fácil para uma geração que não cresceu conectada. Pode parecer o contrário, mas é isso. O que acontece é que muitas pessoas desta geração não querem deixar os livros de papel. Mas se concentram melhor nos textos das telas do que aqueles que foram “educados” somente na tela do computador. O que dispersa o cérebro são justamente ‘a aba ao lado” citada pelo Paulo Eduardo e as chamadas de mensagens, o material minimizado, os aplicativos etc. O kindle é bom de ler porque traz apenas um texto num formato bonito e agradável. Na minha opinião (amadora) é a melhor plataforma de leitura digital (por enquanto, né; não sabemos o que vai aparecer daqui a pouco).
Dias destes tive que fazer uma pesquisa profissional e um dos assuntos era a quantidade de informação produzida pela internet (média anual). Os números são absurdos. Algo que foge a nossa compreensão. A quantidade de conteúdo (em sua grande maioria, inúteis) gerada cresce em escala exponencial e a tendência é que cada vez mais e mais seja replicado. Por que internet tem como uma das características básicas o compartilhamento. Dificilmente se encontra conteúdo analítico de qualidade. É tudo muito superficial (como vc mesmo citou no texto). Neste mês a Cisco trouxe uma pesquisa sobre o assunto. Tem alguns outros estudos também. Vale a pena conferir e ver o quanto o futuro pode ser nada animador.
Viva a censura!
Olha, Felipe, não é censura. É que este blog não se presta exclusivamente a seus comentários, que, muitas vezes, nada têm a ver com os tópicos. Existe um limite aceitável.
Minha tréplica (e final). Temos vários “colaboradores” aqui – que comentam assiduamente e mais de uma vez por dia. Uns com mais qualidade, outros com menos – creio que este seja o principal motivo de veto ou não. Mas, comentei exatamente sobre a mumificação e o Keith e fui vetado. Novamente, verificarei conteúdo e número de postagens pois, apesar de tudo, gopsto muito de ler os textos e expor as idéias relacionadas. Grato pelo espaço.
Felipe, numa boa, tem vezes que vc é incrivelmente insistente, e isso aborrece. A quantidade de comentários seus que não adicionam nada ao debate é imensa. Suas opiniões seriam bem mais interessantes e teriam mais impacto se vc as limitasse ao estritamente necessário.
A constatação é que com muito mais informação disponível, as pessoas estão ficando mais burras e preguiçosas.
o livro sugere alguma solução para ser lido por aqueles que não lêem?
Estamos caindo no abismo da leitura dinâmica – vide alguns comentários sobre o Jet Ski feito aqui no blog.
Será que a internet está criando uma massa de analfabeto funcional ?
Está, sem dúvida.
Mas eu acho que está massa sempre existiu no Brasil. Vi recentemente uma reportagem que mostrava que o brasileiro, mesmo que ainda abaixo de outros paises, estava lendo mais. Vejam por exemplo como cresce o nº de livrarias. Mesmo assim concordo que os efeitos da overdose de informação são preocupantes.
Bom, se a Internet e o “molde” que ela faz do cérebro, faz com que se corra o risco de se criar uma massa de analfabetos funcionais pelo mundo, olha aí o Brasil Potência na vanguarda novamente, André!!!!!
Como leitor voraz, é impossível para mim ficar insensível a essa percepção de que a leitura (de livros, pelo menos) está perdendo força e importância. Mesmo observando e vivenciando a evolução da tecnologia como algo neutro e como parte do contexto em que nos situamos (e devemos abraçar, sempre de forma crítica), não consigo evitar a sensação de perda, neste caso. No entanto, não sinto o mesmo em relação às enciclopédias. Taí um tipo de obra que se beneficia enormemente do formato digital, dos hipertextos etc. Rato de enciclopédia (em livros) como eu fui na infância e na adolescência, eu pagaria feliz por uma assinatura de enciclopédia on-line – mas mesmo há 25 anos eu já tinha consciência do trambolho que era ter uma edição de enciclopédia em casa e do problema da desatualização constante. Como enciclopédia é obra de consulta, estilo de leitura para qual a internet melhor funciona, só vejo ganhos neste caso.
Barcinski, ouvi umas histórias sobre o Nelson Gonçalves e achei inacreditáveis, o cara merece um post qualquer hora, não? Existe alguma biografia do Nelsão? O cara que cunhou a lapidar frase “Óculos escuros é coisa de viado” merece!
A melhor prova que Nicholas Carr está certo é o seu blog, Barça. Pega um daqueles posts seus que foi pra home do UOL, tipo o do jet ski, do Paul McCartney, e releia os comentários.
O livro é fabuloso. E eu li no Kindle, meu dispositivo digital favorito, justamente pq não dá margem para distrações.
Concordo sua observação sobre o Kindle, Bia. Até aparecer coisa melhor, será meu instrumento de leitura (pois parece que logo todos os textos serão digitais).
André, outro possível sintoma desse processo é a maior dispersão de alunos em sala de aula. Ficar sentado por algumas horas hoje se tornou mais maçante. Ouvi um depoimento desses de um jornalista que também é professor universitário e que estava se queixando disso há alguns dias. Segundo ele, a cada semestre isso vai aumentando. Por mais que dê piruetas na sala de aula, parece que os telefones e tablets chamam mais a atenção e suas cadeiras possuem pulgas.
Sobre a Barsa e’ uma pena mesmo, pois sou da geracao que fazia pesquisa em suas paginas com letrinhas pequenas. Mas como concorrer com o Wikepedia, e’ rapido, cheio de links, constantemente atualizado e, principalmente, de graca.
E a credibilidade das informações, como fica? A Wikipedia é legal, mas não uso como base de tudo. Sempre complemento minhas pesquisas com conteúdo autoral. Basta pegar a lista de autores consagrados que já foram colaboradores da E. Britânica.
Engraçado que aqui ao lado tem uma indicação do livro “This Is a Call: A Vida e a Música de Dave Grohl”. Pergunto… alguém tem interesse de ler uma biografia de uma pessoa viva e que está no auge da vida (produção)? A Editora oferecerá versões caso ocorra um fato marcante na vida do cidadão depois da impressão do livro? Será gratuíta e posso anexá-la ao livro? Para mim não deviam existir biografias… e sem “abiografias” – grafias de pessoas que um dia estiveram vivas.
Você sugere que a gente mate o Keith Richards antes de ler a autobiografia dele, é isso?
Ué, o Keith Richards tá vivo? Pensei que ele estivesse mumificado! 🙂
Brincadeiras à parte, o que o Felipe quis dizer é que o Dave Grohl está em plena produtividade, ainda é jovem. Não tem tanto a contar quanto o Keith Richards. Nada impede que ele tenha um livro contando suas experiências até agora, mas é complicado dizer que seria uma biografia nos moldes tradicionais. Aliás, até o Justin Bieber tem biografia, né…
E o que seria uma “biografia nos moldes tradicionais?” Acredito que o que conta realmente não é a idade do biografado, mas sim, o que ele produziu. Independente de estar vivo ou morto.
No caso das pessoas vivas as editorias deveriam lançar os volumes I, II, III, etc., cada um abrangendo um período da vida do biografado. Aí faria mais sentido. Depois da morte, lança-se o “volume definitivo” ou u TPB, se preferirem.
Gosto muito da quantidade de informações que a internet disponibiliza, acho fantastico. Mas sou “velho” e cresci num mundo sem internet, por isso fui criado pesquisando em bibliotecas, catálogos e lendo muitos livros. Continuo lendo muito, e tenho sérios problemas para ler E-books, no kindle até vai lá mas em tablets com fundo luminoso não consigo ler nem duas páginas. Acho que o kindle é um quebra galho para por exemplo quando vc viaja não levar um livro de 500/600 páginas na mala. Mas ao exemplo de música gosto de ter o objeto nas mão, é algo de ter o palpável e não o virtual. O mais curioso é que muitos amigos depois de consumirem muito mp-3 nos últimos anos estão voltando a comprar CDs e o mais xiita vinis. Acho que o risco é para as gerações mais novas, por isso já trabalho minha filha com livros e revistinhas desde que ela tinha um ano de idade. E vem funcionando pois agora com quase 3 ele gosta de pegar seus livrinhos da estante do quarto e criar histórias para nós com o que ela vê de imagens. Coloquei ela també um uma atividade extra curricular que é Contando Histórias, onde ela tem contato com livros no colégio
Acho bizarro quem consegue ler livro no metrô ou ônibus aqui em São Paulo. Mais bizarro ainda é ler um livro através do celular, já que a leitura é algo que exige concentração (pelo menos da minha parte). Ando lendo um livro que exige uma puta concentração (Ulisses) e não imagino- o lendo em um metrô lotado. E o que vale para texto, vale para música também, pois muitas pessoas não aguentam mais ouvir um CD inteiro.
A questão é… tempo ! Ninguém mais está disposto a reservar “um tempo” para fazer qualquer coisa. Só se fazem coisas instantâneas e, de preferência, simultâneas. A comparação livro-internet, vinil-mp3, beira à perfeição. Se quero “tirar um tempo” para ler: livro. Se quero “tirar um tempo” para ouvir música: vinil ! Por que ? Por que não tem controle remoto: eu ajusto o volume, os graves, os agudos, sento no sofá e dali só levanto depois de meia hora, para virar o lado do disco. Mas para isso, é preciso tempo…
Concordo com o que os dois amigos falaram, e acho que é por aí mesmo. Uma pequena discoteca de Mp-3 num smart phone pode ser ótimo para ouvir num fone num metrô ou esperando ser atendido numa fila ou consultório médico. Mas em casa numa boa aparelhagem pode ser um desastre e causar fadiga rapidamente, e para mim é o que acontece música muito comprimida ou mal gravada causa fadiga, por isso na minha opinião tem gente que não consegue ouvir muito tempo. Face a leitura o mesmo um livro eletrônico pode ser ótimo para ler no hotel para puxar o sono depois de uma reunião de negócios, mas nada substitui um bom livro, segurá-lo, ler uma boa impressão num bom papel ou até mesmo ler aquele livro esgotadíssimo que compramos em um sebo, e não só lê-lo como também guardá-lo na estante. São prazeres, e acho que aí entramos em outra seara, a que hoje as pessoas querem prazeres rápidos como um filme de ação.
Demonstrando isso, foi o que ocorreu com alguns dos meus alunos – de ensino fundamental 1 – numa visita ao Centro Cultural São Paulo.
Eles olharam as pessoas lendo e consultando vários livros quando um perguntou: – O que eles estão fazendo com tantos livros?
a professora respondeu dizendo que estavam pesquisando e o aluno respondeu, espantado:
– Em livros???
Como bibliotecário sou ciente das novas mídias, porém o que me causa muito espanto é a aversão que temos hoje em dia aos livros. Livro não é (ou não deveria ser) como LP, “tecnologia ultrapassada” – que aliás sou fã e sei da utilidade e qualidade dos mesmos. É uma das coisas mais gostosas do mundo, sentir o cheiro de um livro novo ou bem velho (saudade do cheiro de minha cópia do Barulho), manusear as páginas e se deliciar com as fotos impressas, enfim… todas as sençãções táteis, olfativas e visuais… cujas não conseguimos ter com dados, internet. É quase um paralelo entre ver um filme pornô ou atuar em um. OBS: E que chique é portar um livro! Sempre é bom ter um ar intelectual.
Eu costumava pensar assim dos livros, esse fetiche sensorial. Sempre li bastante mas sempre curti mais as bibliotecas, o que pode significar ácaro e mofo…
Acho que dá pra conciliar o analógico com o digital sim, eu tenho um Kindle e adoro. Leio cerca de 60 livros por ano hoje, muito mais do que lia antes. Costumo ler 2 ou 3 obras ao mesmo tempo, e como trabalho de forma itinerante e viajando muito, o Kindle tá sempre num cantinho da bolsa. Ou seja, em qualquer janela de tempo, tenho a oportunidade de ler. Já com tablet não digo o mesmo, a tela cansa, há interrupções, o dispositivo é pesado, chamativo, e a bateria dura bem menos.
Eu tb leio muito no Ipad, fora que é bem mais rápido e barato comprar um livro pelo Kindle do que pagar a taxa de envio internacional.
Então, mas o meu Kindle é aquele monocromático, com tecnologia e-ink, que simula papel e tinta. Não cansa a vista, extamente por não ser tela LCD, como o iPad e demais tablets. E compro os livros da Amazon direto nele, basta dar um clique.
Vou pesquisar este Kindle… estão me dando boas referências.
Não é como LP? Todas as justificativas usadas: cheiro, manuseio, fotos…são exatamente as mesmas que os amantes do vinil tanto gostam. Não deveria ser, mas é tecnologia ultrapassada. O que faltava era um formato bacana, que veio com os tablets. Agora é só esperar.
No livro, o Carr cita pesquisas que mostram como a compreensão de textos é dificultada quando vc lê num computador. As pesquisas compararam pessoas que leram o mesmo texto em um livro e numa tela de computador, e os resultados são surpreendentes.
Não dá para esperar mesmo que a concentração do leitor de E-books seja a mesma daquele que lê no papel. Com o aparelho conectado são muitas as distrações: o amigo no Msn, o e-mail que se está esperando, a notícia no jornal on-line.
Sim, é esse o ponto básico do livro.
Acho que o problema maior não é onde se faz a leitura – tablet, livro ou Kindle -, mas a internet e o tipo de leitura que lhe é própria. O que me parece imprórpio é que o tipo de leitura utilizado no cotidiano da internet está sendo expandido para outros tipos de leitura.
Acho que para um bom leitor, não há maiores problemas; pelo contrário, traz as vantagens listadas pela Bia.
O problema me parece com as pessoas que estão se formando com as possibilidades da internet, bem como com as pessoas que nunca foram de muita leitura mesmo.
Nestes casos, a internet estimula a informação imediata, em grande quantidade, além de abris links para dezenas de coisas simultaneamente. Fica difícil a concentração e reflexão sobre o que se está lendo.
Tenho um filho de 13 anos, antenado com o mundo virtual, como não poderia deixar de ser, mas, quando o assunto é leitura de livros, ao menos nessa fase de formação, fizemos o acordo de que isso se daria com os bons livros de papel. Justamente para que ele se concentre no que está lendo.
Olha, sugiro que vc leia o livro do Carr. Ele diz que “onde” vc faz a leitura importa, sim.
Minha primeira frase foi infeliz – é claro que importa. Tanto que me pareceu importante comprar “livros de papel” para o meu filho.
O que eu quis dizer é que, se a pessoa já é uma boa leitora, os males da internet são menores, pois já conhece as vantagens de uma leitura mais cuidadosa e reflexiva.
Me parece que os efeitos piores são sobre quem está iniciando e sobre os “maus leitores’.
E aí faço a pergunta: ele analisa os efeitos da internet sobre os “bons leitores”?
Até hoje não me prejudicou; pelo contrário, me facilitou um monte de coisas.
Acho que o profissional que tem se deparado com os maiores desafios é o professor. Como estimular a concentração numa única leitura nos alunos acostumados a velocidade e a fragmentação da internet?
pior: além de se ler pouco, não se entende o que é lido.
Mudando de assunto, Barça
Você chegou a escutar “Blues Funeral”, último disco do Mark Lanegan? O que achou?
Achei muito foda.
Abraços
Tõ escutando direto, desde que saiu. Um dos discos do ano.