Toca Raul! Veja "Raul"!
23/03/12 07:05
Hoje estréia “Raul – O Início, O Fim e o Meio”, documentário de Walter Carvalho sobre a vida de Raul Seixas.
Poucas vezes me emocionei tanto com um filme sobre música. Talvez porque ele resgate uma figura que, para mim, carrega uma fama injusta.
Raul é um daqueles artistas obscurecidos pela idolatria de seus próprios fãs. O célebre “Toca Raul!”, que acompanha toda rodinha de violão desde os anos 70, fez um mal danado à apreciação de sua música.
Tente esquecer os cabeludos tocando Raul em barzinhos e os sósias dando abraços coletivos e cantando sobre a sociedade alternativa. Isso é engraçado, mas não faz justiça ao sujeito.
Se você conseguir enxergar por trás do folclore, vai perceber que até as canções mais batidas de Raul – “Metamorfose Ambulante”, “Maluco Beleza”, “Tente outra Vez”, são obras-primas.
Sempre adorei Raul Seixas. Acho o cara um gênio. “Ouro de Tolo” está em qualquer lista das músicas mais bonitas gravadas no Brasil. Ninguém escreveu uma letra como aquela.
“S.O.S”, em que Raul se diz “macaco, em domingos glaciais” (e apesar do encarte do disco dizer “glaciais”, aposto que ele canta “domingos classe As”), é um dos momentos mais lindos e melancólicos do rock, em qualquer língua.
Raul fez a fusão da música brasileira e do rock’n’roll como ninguém. Foi a ponte entre Luiz Gonzaga e Elvis, com pedágios em Bob Dylan e Jackson do Pandeiro. Mas nunca soou folclórico ou falso.
Raul fez música autenticamente brasileira, incorporando a guitarra elétrica de uma forma original e sofisticada. E sempre com a preocupação de ser popular.
Não consigo pensar em um artista brasileiro que tenha feitos discos tão variados. Pegue um LP qualquer de Raul – “Gita” (1974), por exemplo: tem rock (“Super-Heróis”), balada caipira (“Medo da Chuva”), repente (“As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor”), folk pastoral (“Água Viva”), um jazz-bossa-lounge (“Moleque Maravilhoso”) e um bolero (“Sessão das dez”).
E isso é só o lado A.
Adoro a fase mística de Raul. A sequência de “Krig-ha Bandolo!” (1973), “Gita” (1974), “Novo Aeon” (1975) e “Há 10 Mil Anos Atrás” (1976) é insuperável. Mas ele fez grandes músicas em quase todos seus discos.
O filme de Walter Carvalho merece ser visto. É um grande registro histórico, com muita música boa e ótimas imagens de arquivo.
A entrevista com Paulo Coelho é antológica. O mago fala de sua colaboração com Raul, da ligação de ambos com Aleister Crowley e o ocultismo (“um período negro na minha vida”) e confessa ter apresentado Raul às drogas.
O papo com Marcelo Nova sobre os últimos dias da vida de Raul também é revelador. Marcelo conta que chegou a pagar a feira do amigo e ídolo. Aliás, Marcelo fez um texto muito bonito sobre Raul para o UOL, que você pode ler aqui.
Outra qualidade do filme é sua independência. Não é um documentário “chapa branca”, desses que escondem os defeitos e conflitos do personagem.
O filme mostra as relações traumáticas de Raul com suas mulheres e filhas e seus problemas com álcool e drogas. Sylvio Passos, amigo e presidente do fã-clube de Raul, conta que o maluco beleza andava com um galão de cinco litros de éter debaixo do braço, cheirando constantemente.
Espero que o documentário ajude uma nova geração a descobrir a música de Raul Seixas, sem aquela velha opinião formada sobre tudo.
Ele merece.
A cena da mosca “q veio pra azucrinar” o depoimento de Paulo Coelho é sensacional. Surreal aquilo ali.
Ótimo filme mesmo André, fui ver no sábado com o Fúlvio, no final o cinema aplaudindo e surge um “iluminado” e puxa o coro: “Raul, Raul, Raul…” Emocionante mesmo!!! Foi a primeira fita k-7 que comprei na vida qdo eu tinha 11 anos, e ouvi até gastar. O filme mostra as influências através das gerações, principalmente para quem acorda agora, tira a fralda e acha que sabe tudo! Abração
Vi o documentário, e sai de lá as lágrimas! lembrei quando tinha 15 anos e me deparei com a obra do mestre! realmente ninguem tem ,na sua obra, tantos discos , com ritmos variados e com várias obras primas. Sai do cinema sabado e cada dia pego um cd dele diferente e ponho no meu carro! Falta agora alguem escrever uma biografia descente sobre o raul, acho que voce andré seria uma pessoal antamente credenciada a isso!
É que o cara tinha muito carisma, mesmo quem é careta adora as músicas. Quando ele morreu, eu tinha 15 anos e me lembro que os colegas de escola também gostavam de Raul Seixas, para meu espanto. Até quem abominava rock. É algo que foge ao controle da pessoa, do que ela diz e significa. E tem outra, Raul era povo, por mais inteligente que fosse. Escrevia de forma direta, embora o conteúdo não seja nem um pouco banal. Enfim, acho que faria sucesso de qualquer forma.
Raul, a melhor voz, ´letras q são verdadeiras poesias e uma melodia de cortar a alma…Um Mestre !!!!!!
Por que falam que Aleister Crowley era um “ocultista” sendo que o cara adorava Satã? Não seria satanista? Que frescura…
Crowley adorava Satã? Onde? É um tema longo e não cabe aqui, mas chamar Crowley de satanista é um erro tremendo.
Belo post. E é legal que a gente possa estar pelo menos começando a discutir caras como o Raul, e até o próprio Paulo Coelho, em termos mais modernos e sem tanta referência às hippongagens tradicionalmente associadas com essas figuras. O Raul conseguiu popularizar uma mentalidade mais típica de culturas germânicas, pró-thelema (“vontade”, mais no sentido Nietzscheano da coisa do que no propriamente Crowleyano), num país assolado pela cultura de passividade latino-católica. Tem uma tese de doutorado esperando pra ser escrita nisso aí.
Genial…
Chorei ao lado da minha mulher no final do documentário. Foi meio piegas aquela cena com a secretária dele, mas emocionou.
Nosso filho de 18 anos, que se chama Raul, curtiu demais o documentário.
A cena do Raulzito banguela no aeroporto ao lado do Marcelo Nova foi tragicômica!
Só faltam lançar os clips dele remasterizados. Parece que há uma pendenga judicial que impede o lançamento do material.
É muito triste mesmo a cena dele sem os dentes, coitado, dá pra ter uma idéia de como foram brabos aqueles últimos anos. Eu acho que o Marcelo Nova ajudou pacas o Raul, ele teria morrido sem fazer aquela última turnê, totalmente esquecido.
Espero que tenham falado do papel de Raulzito na música dita brega, com ótimas canções para Jerry Adriani e Diana. Não foi à toa que o cara se tornou popular MESMO.
Claro que vou ver o filme. Walter Carvalho é ótimo cineasta, e o personagem é extraordinário.
Adoro raul e teu artigo e muito bom e graças a vc vou assistir ao filme!Mas achei muito respeitoso e bacana o fato de vc responder aos comentarios.Eu nao esperava porque isto nao e usual.Parabens!PS.Minha experiencia inesquecivel com raul foi ouvi-lo numa fita cassete a beira do mirante da chapada dos guimaraes!
conheço o médico q fez os procedimentos, qdo o corpo do Rauzito, qdo chgou morto…
Assisti ontem o filme do Raul, nota 10, recomendo demais.
Fiquei impressionado com o numero de mulheres com quem ele viveu, não sabia que tinha sido tantas.
A infancia e seus amigos, o amor por Elvis, o declínio e uma volta marcada pela bebida que o detonou, lindo filme.
assisti o filme de raulzito onten peguei as 20 horas unico horario disponivel la em sp, e não ta rolando em sbc aqui no abc não sei o que ta acontecendo mas o filme foi fantastico quem curte raul vale a pena conferir, so´que achei uma injustiça não colocaren jerry adriani para falar o cara que levantou a carreira de raul que conseguiu que ele fosse trabalhar na cbs depois que acabou os panteras que aconteceu porra o maluco merecia mas salve raulzito senpre
Verdade, faltou mesmo o Jerry.
André, ouça “Muita estrela pra pouca constelação”, do disco de 1987 do Raul. Ele já satirizava a cena musical e artística há muito tempo.
Olá, Andre! Valeu pela postagem. Também sou grande fã de Raul desde que me entendo por gente. E quando você comenta o possível erro na letra de SOS que aparece no encarte, me lembro que várias vezes também já vi a letra de Cachorro Urubu com erros por aí. Às vezes aparece impresso: “Baby o que houve na frança, Vai mudar nossa dança”, quando tenho certeza que ele canta “trança” em vez de “frança”. No final da música, também aparece muitas vezes no impresso: “Eu sou um índio Sioux, Eu sou cachorro urubu, Em guerra com Zéu”. E aqui me parece mais provável que Raul tivesse em mente “Em guerra com os E.U.”. Se você tiver aí o encarte original, por favor dê uma conferida e veja se é isso mesmo. Além disso, é uma pena que até hoje não exista um site oficial desse grande músico. Valeu!
Porra, André, já comentei por aqui antes…
Mas queria só fazer uma observação: 200 comentários a partir de um post que tem uma ideia legal!
Isso é pra poucos! Muito Poucos!
André, Parabéns pelo texto. Raul é mais que Gitã, ouro de tolo, medo da chuva. Raul é a verdade sobre a nostalgia, metrô linha 743, Sunsed, how could I Know, tu és o MDC da minha vida. São obras primas desconhecidas por grande parte do público.
Oi, André, maravilhoso o teu texto! Você tem razão: a batucada nas portas dos cinemas talvez até assustem aqueles que poderiam pelo menos curtir um documentário genial, com uma excelente fotografia e edição! Aquela do cara fazendo os passos do Elvis Presley mixado com o próprio Elvis já vale o filme! Obrigado pelo teu texto! Um abração!
É o próprio Toninho? Sua entrevista no filme é ótima também.
Gosto de Raul não a ponto de achá-lo mas como você mesmo disse de ter feito a fusão de música brasileira com rock como ninguém. Pena que até tem gente “antenada” que acha que isso foi obra daquela chatice do manguebeat nos anos 90.
Muito boa a crítica. Percebo um baita preconceito em relação ao Raul Seixas. A “Rádio Eldorado” por exemplo, parece execrar Raul enquanto faz de certos compositores um única verdade, como se fosse o “bom” gosto e os outros a sub música…. Outro dia, escutando um programa que falava de Rock nacional e os caras tiveram a cara de pau de não mencionar Raul Seixas….
Po André, ouça de novo SOS…ele canta “glaciais”, com certeza. Alias, SOS me relembra qdo me mudei pro Rio, e passava os fins de semana sozinho naquele calor infernal, sem a mínima vontade sair pra rua.
Olha, pra mim ele canta “classe As” (fui ouvir de novo, pela milésima vez, e continuo com a mesma opinião), que aliás, faz todo sentido, porque ele deve estar se referindo à sessão de filmes que rolava na TV, de algum filme (será “O Planeta dos Macacos”?) Que sentido faz um macaco em “domingos glaciais”? Era glacial com macaco?
André, ouça a versão em inglês de S.O.S. (Orange Juice), Raul canta:”Before, as a mokey i chittered through the last ice age”…
Não conheço, valeu pela info.
Andre macaco com domingos glaciais tem todo sentido quando a poesia existe. Na linguagem cósmica todas as figuras de linguagem podem existir.
Sim, isso é verdade.
Fala André, acho q tem a ver com atemporalidade. Qdo ouço “macaco em domingos glaciais” eu penso em um neandertal com pele de mamute, passando perrengue.
Eu acho q o Raul ocupa uma categoria que é só dele na MPB. Alias, ele é mto mais MPB que a “MPB” oficial. Li a biografia do PCoelho só por causa do Raul, e fiquei em duvida com relação a várias historias da vida dele. Pex, PC diz que “meu amigo Pedro” foi escrita pro seu pai, mas já ouvi um cover do Raul dizer q foi escrita pelo Raul pra um irmao. Quem tem razão eu n sei.
No filme, o irmão, Plinio, diz que foi pra ele.
Essa é idêntica a “Billy 1” (da trilha de Pat Garrett & Billy the Kid) do Bob Dylan. Mas Raulzito era figuraça, falo só a título de curiosidade mesmo pq todo músico tem um pouco de gatuno e na verdade ninguém é 100% original, a menos que vivesse num cofre sem contato com nada nem ninguém.
Pedro Bial no filme? Putz. Vi agora. Puxa vida…
Raul é um dos grandes talentos do mundo do rock, é tão bom quanto os melhores gringos e melhor porque entendemos fácil o que ele fala. Com o meu negócio é rock, não consigo nem encontrar artista de música comparável no Brasil, existem bons, mas o Raul é único, como um Charles Chaplin.
ai bixo curto teu trabalho desde a época da Bizz,continuas mandando muito bem !!
Com as besteiras que assolam a musica tupiniquim, dá uma saudade danada de Raul Seixas. Esse filme veio em boa hora. Raul é sinonimo de Rock. Rock Brazuka de Atitude! Sempre foi e sempre será mais influente do que qualquer banda gringa para mim. O inicio, o meio e o Fim.
Antes que me esqueca. Uma das coisas mais impressionantes que já vi em matéria de shows de rock foi uma daquelas apresentacoes de Raul com Marcelo Nova.
O homem mal subiu ao palco, levantou as maos e o público ficou completamente enlouquecido. Pude viver esse momento.
Vale mencionar outro gênio que morreu hoje e, cada um na sua área, tao importante quanto Raul: Chico Anisio.
Concordo com você André. A idolatria que foi gerada em torno de Raul deixa de lado aspectos que mencionou. Raul cantava bem, compunha e escrevia bem. É difícil encontrar um artista que seja capaz de escrever excelentes letras de músicas e ao mesmo tempo ser popular. Isso é raro. A grande maioria nao passa da chatice e de um ranco intelectualóide.
Raulzito é o cara! Gênio!
Belo texto Barça… Lembrei na hora daquele Garagem com o Edy Star! Sensacional!
Apesar do cara que apresenta o programa da globo estar nesse documentário, estou louco pra assistir e saber mais da vida do Raulzito!
André, vc me surpreendeu, não sabia que vc tb curtia o Raulzito, pensei que não fosse tua praia,e acho que Ouro de Tolo, Novo Aeon, Gita e SOS, só pra ficar nestas é melhor do que 99,999999% das músicas de Gil, Caetano, Ivete, e etc., além de ser atemporal, mas e sobre o outro nordestino famoso e agora falecido, o Chico Anysio, vc gostava dele ou não, e vc acha que ele tb vai pro caminho da “canonização”????
Olha, João, eu admiro mais o Chico Anysio do que acho graça em seus personagens. O cara era talentoso demais e ajudou MUITA GENTE, especialmente os comediantes mais antigos, que estariam no Retiro dos Artistas se não fosse por ele. Não existe um comediante brasileiro das antigas que não diga a mesma coisa dele.