Sem Millôr, o que nos resta?
28/03/12 12:35
Morreu Millôr Fernandes.
Jornais e sites vão publicar obituários bem completos e elogiosos ao homem. Não vou ficar aqui chovendo no molhado, dizendo como ele era brilhante, influente, etc.
Vejo a morte do Millôr como mais um passo do nosso processo de emburrecimento.
Só de saber que ele continuava ali, escondido na cobertura em Ipanema, mesmo que velhinho e frágil, dava uma sensação de conforto. Agora nem isso temos mais.
Quando Paulo Francis morreu, pelo menos tínhamos o Millôr como farol. E agora?
Cada vez mais esse país me deprime. Na época do Millôr também era deprimente, mas pelo menos havia ele e alguns outros para colocar as coisas em perspectiva.
Outro dia, participei de uma entrevista com Agildo Ribeiro. Sujeito culto, irônico, cheio de idéias e opiniões. E foi um comediante de sucesso na TV aberta.
Fiquei pensando como um sujeito talentoso daqueles deveria se sentir, vendo o nível do entretenimento popular que temos hoje.
Não sei de Millôr, mas imagino que ele devia se sentir assim também: isolado, falando para as paredes, até meio desorientado no meio de tanta burrice, de tanto analfabetismo funcional, de tanto radicalismo sectário, de tanta gente entorpecida por TV ruim e filosofia de redes sociais.
Ontem, o técnico da Seleção Brasileira, que não vê problema em fazer comercial de cerveja, foi pego na blitz da Lei Seca e se recusou a fazer o teste do bafômetro. O que diria Millôr sobre isso?
E que pena saber que ele não estará aqui para escrever sobre a Copa do Mundo e nosso ingresso no Primeiro Mundo.
O mirante de Ipanema está vazio. Estamos sozinhos. Agora é cada um por si.
Resta-nos o resto. Resta-nos rastejar. Há de aparecer um novo Mill humor. Resta-nos reciclar e teclar, teclar, teclar….
Falar o quê? Espero estar enganado,talvez eu não esteja olhando para o lado certo,mas não vejo ninguém na posição dele, um farol de inteligência e mais que isso ,decência e coragem.
Um polímata genial.Gênio no jornalismo, no humor, na pintura, na dramaturgia.Um renascentista contemporâneo.Na tv hoje o que vemos é um humor(lógico ,há excessões) de uma estupidez e indigência intelectual inacreditáveis.
Realmente, o nivel de pessoas cultas vem decaindo drasticamente. nas decadas passadas nao existia analfabetismo como hj, as pessoas liam mais e mais pessoas iam as escolas. programas de imenso valor educacional como chacrinha e bolinhas (e outros inhas) tinham amplo espaço nos meios de comunicaçao. isso sem falar no “noticias populares” aquilo sim era um grande “norte” pra toda populaçao brasileira. que merda sao os dias de hj, como estamos precarios…
Ps: nao sou capaz de descrever o sentimento que tenho vendo alguem que fez parte do NP julgar a cultura popular atual.
Vc, pelo visto, nunca leu o NP, pra fazer um comentário tão generalizador e preconceituoso como esse. Deve ser daqueles que acha que jornalismo popular não é jornalismo. E qual o problema com o Chacrinha? É popular? Tinha artistas que vc não gostava? De novo, seu preconceito o impede de distinguir entre o “popular” e o “ruim”.
Concordo plenamente com o João, hoje nós temos Luciano Huck e Rodrigo Faro, felizmente com a melhora das nossas escolas e por consequência uma maior exigência para o aluno, conseguimos ter alunos do 3º colegial que aprenderam a tabuada, apesar de terem uma certa dificuldade com a do 7 e 8. E pra finalizar temos o NP na TV, porém só não conseguiram uma coisa. Colocar a gostosa do NP na última página.
É André a coisa tá feia
O que nos resta? Titulo hipocrita, com intencao de varios acessos. Elvis Presley, Michael Jackson, Jonh Lehnon, Bethoven, Picasso, etc… simples mortais, como eu e voce… o que nos resta? Eu digo, sua familia, seu dia a dia, sua vida, e isso que resta. Nao adianta ficar fazendo frase… o que nos resta? Isso e um total desrespeito com varios bons autores, atores, cantores, pintores, etc… que estao vivos e vivendo como mortais como eu e voce, o que resta? Olhe a sua volta e veja o que resta, simplesmente sua vida. E isso que resta.
Também sugiro mudar o título:
“The cow went to the swamp.”
Calma amigo. Deixe de ser reacionário!
Você certamente não conheceu o Millôr. Nunca terá esta oportunidade.
Eu tive.
Tente superá-lo.
quando soube, tive essa mesma sensação de q estamos completamente perdidos, sem ter pra quem olhar
Ainda bem que há gente que nota o emburrecimento sistemático do povo. Sabe, outro dia estava assistindo Chaves e notei que aquele programa mexicano, feito de qualquer jeito há mais de trinta anos, é mais inteligente do que qualquer humorístico que passe em nossa TV aberta (exceção: Everybody Hates Chris).
Já que tocou no assunto, você acha que esse emburrecimento é local ou mundial? Ainda, acha que ele é por acaso ou intencional (já que um povo burro facilita a roubalheira de certos políticos)?
Olá André, sobre o processo de emburrecimento, basta olhar as cinco reportagens mais vistas no UOL todos os dias, e então perder a esperança nos humanos.
Fiquei muito tristo com a morte do Millôr pois me lembrei que o primeiro livro que li na minha vida foi de sua autoria, se chamava ” Confiçoês Infatis” era um livro em que ele citava diversas definições sobre os mais variados assuntos: amor, jacaré, leão, escola, professora, pais…tudo escrito sob a ótica infantil…com erros de português…é um livro delicioso e muito engraçado…
Me enganei Barça…procurei no estante virtual e revi…o nome do livro é: “Conpozissõis Imfãtis” de 1978…é um livro ótimo…pra quem tem filhos pequenos não existe forma melhor de fazê-los tomar gosto pela leitura…tenho certeza que vai adorar…
Concordo com a opinião do enburrecimento geral…tentei mostrar Monty Python…SNL…Borat…Seinfeld, Veríssimo, Millôr… pra algumas pessoas e elas simplesmente não entenderam nada…as pessoas não conseguem mais perceber ironias, sutilezas, cinismo, críticas, sátiras…Deus do céu será que somos tão privilegiados assim por conseguirmos apreciar um humor inteligente? chega a ser triste…
Fernando
É a triste realidade. Em comus de debates levantaram o assunto de filosofia e eu brinquei postanto aquela antológica partida de futebol do Monty Phyton entre alemães e gregos. Umas duas pessoas somente acharam graça.
Essa cena é realmente muito engraçada…mas é pra poucos…não é qualquer pessoa que a entenderia…se num publico debatendo filosofia não gostaram é porque a coisa tá feia mesmo…
Seu texto me lembrou do filme Idiocracy. É assustador, acho que realmente estamos seguindo o mesmo caminho. A explicação do emburrecimento do planeta no começo do filme eu sempre dava risada, mas com o passar do tempo está me preocupando…
A merda é a mesma só muda a mosca.
Raymundo
Legal ter citado o Agildo, sempre preferi o “Cabaré do Barata” aos Muppets.
Reforçando a constatação da tristeza da filosofia de redes sociais: http://quememillorfernandes.tumblr.com/
Sem falácias!
Finalmente alguém que disse um pouco de verdades à respeito da nossa sociedade moderna.
Se você continuar assim, tão reflexivo e tão franco, quem sabe não te sobra um espaço à sombra de Millôr.
Apenas um ponto de discondância: o Brasil ingressando no 1º Mundo? Só se for nas férias.
Isso se chama ciclo da Vida. Não faz sentido nenhum comentários clichês do tipo: ” não acredito que ele morreu”. “estou chocado”. Põ o cara tinha 87 anos, estava mal de saúde, teve recentemente um AVC, não é surpresa nenhuma que ele morreria. Está chocado que uma pessoa de 87 anos morreu.
Deus do céu! Chocado fico com tamanha ignorância. Será que tem que desenhar para explicar o contexto do post? Ninguém está chocado com a morte de um senhor de 87 anos…O choque é pela morte de um ícone cultural…Mas isso você com certeza está muito longe de entender…
Coincidiu a morte do Chico Anysio próxima a de Millôr, mas as coincidências param por aí. Não acho que possa se fazer comparações..Millôr era um gênio na sutileza e inteligência com que escrevia, verdadeiro catedrático do humor, coisa que Chico Anysio não era. Desculpem os fâs mais exaltados, mas duvido muito que alguém tenha rido alguma vez das personagens do Chico, o máximo foi um sorriso amarelo. Mas o incosciente coletivo não permitia discordar.
Opinião diferente agora é chamada de “inconsciente coletivo”.
Eu sempre ri do humor do Chico e não tem nada de amarelo, São artistas diferententes e ambos extremamente talentosos. do mesmíssimo nível.
Júlia querida! Picasso era genial e não nos fez rir! O idiota também nos provoca riso, o que não era o caso do machista e irreverente Millôr.
O Millôr esta muito mais para H.L. Mencken do que para Chico Anísio. Acho o “Livro dos Insultos” a cara do Millôr.
Não acho que o resto é silêncio -parafraseando Shakespeare traduzido por Millor- acho que agora é a hora de repensarmos a que ponto chegamos de não ter uma luz no fim do tunel!Até quando o analfabetismo funcional-citado pelo autor acima- irá dominar não só as redes sociais, tvs abertas e programas de reality show , mas também os jornais que deveria ser a pseudoluz de nossas leituras ?Faltam escritores de peso como ele , e isso, meu amigo, não teremos tão em breve!
Pois é Ná, concordo contigo…a sociedade atual nos assombra.
O mau gosto é obrigatório, a burrice é notória, a infantilização é tendência e a ignorância é virtude.
Perder Millôr num contexto destes é ainda mais deprimente e desesperador.
Cara, agora sobrou pouco do Rio.
Seu texto é perfeito, e meu sentimento em relação a esse país é o mesmo.
Tristeza de ser brasileiro.
Não acho que o resto é silêncio -parafraseando Shakespeare traduzido por Millor- acho que agora é a hora de repensarmos a que ponto chegamos de não ter uma luz no fim do tunel!Até quando o analfabetismo funcional-citado pelo autor acima- irá dominar não só as redes social, tvs abertas e programas de reality show , mas também os jornais que deveria ser a pseudoluz de nossas leituras ?Faltam escritores de peso como ele , e isso, meu amigo, não teremos tão em breve!
Que bom, descobri mais um para o pequeno time de ‘loucos’ com coragem de falar verdades. Sim, estamos mais burros, em tudo! Isolamento, é isto que sentimos cada dia mais.
Um brilhante jornalista falou que Chico Anísio morreu de angústia. Ele tem toda razão, a angústia está matando nossos sábios.
O que nos resta? É saber e absorver a “Literatura” e suas vertentes… Esse é o caminho, não?
Faço a minha parte sem fins lucrativos:
http://nelsonsouzza.blogspot.com
O Paulo Francis foi tarde
O Paulo Francis era um gênio! E gênios são incompreendidos.
Eli vai fazer muita fauta, mas acho que voce ezagerou. Felismente, não estamos menus intelijentes, não.
Pelu contrario o polvo anda mais curto.Linhás grassas a TV estamus sendu edurcados mucho mais
Hahaha, muito boa Craudio. Dei muita risada ao ler seu comentário
Todos nos sentimos meio órfãos com a morte destes grandes gênios. Agora só nos resta a saudade, de um tempo que não volta mesmo.
Agora só nos resta o Barcinski…
essa doeu
depois do Chico
o Millôr morreu
🙁
Millôr se foi…e o resto é silêncio.
André, o mais impressionante é que ele foi um autodidata, ficou órfão de pai e mãe muito cedo, começou a trabalhar aos 14 anos, e foi um multiartista, sendo bom em tudo que fez. Uma obra como a que ele deixou não morre, fica eterna!!!!!
André, apenas aproveitando uma parte do seu texto como gancho, essa do Mano Menezes: é paradoxal que exista uma lei, apelidada de seca, que visa punir quem bebe e dirige, assumindo portanto o risco de provocar acidentes (no mais daz vezes, com as mais graves das consequências), ao mesmo tempo em que a Constituição garante o direito de não produzir prova contra si mesmo, isentando as pessoas de fazerem exame de sangue ou teste do bafômetro. Buscavam-se outras formas, não invasivas e portanto independentes da vontade do motorista, para comprovar a embriaguez: testemunhas e exame clínico, aquele “de olho”. Hoje, o STJ decidiu, por 5 votos a 4, que somente o bafômetro e o exame de sangue se prestam a comprovar a embriaguez. Rapidamente, pra não chatear todo mundo com juridiquês: é apenas uma decisão, de um caso concreto, que chegou para análise. Mas abre precedente para que outros obtenham o mesmo julgamento. Então, nós temos, noves fora a fumaça técnica envolvida, uma briga de dois direitos fundamentais: direito à vida x direito de não produzir prova contra si mesmo. Ambos são fundamentais, ambos previstos constitucionalmente. No julgamento noticiado hoje, o STJ (que se auto-intitula “Tribunal da Cidadania”) decidiu que mais importante que por vidas em risco, é não produzir prova contra si mesmo. Lembrando que esse é o mesmo direito que garante a acusados de qualquer espécie de crime de permanecer em silêncio. De tudo que foi dito no julgamento, uma frase merece destaque: “Não argumentei pela comoção social. Não sou ativista social e não proponho nenhum desrespeito a direito fundamental. Ninguém tem direito fundamental a praticar crime e não ser punido”. Foi proferida pelo relator da decisão, que foi, lamentavelmente, voto vencido. Me desculpe desviar do assunto principal, mas é o tipo de coisa que não pode passar em branco. Hoje foi o dia em que o direito ao silêncio prevaleceu sobre o direito à vida. Ou, por outra: impunidade, ontem, hoje e sempre!
Esse emburrecimento é só aparente. Sempre existiu, mas agora é onipresente pela internet. Sai da frente do computador e vai pro bar e confirmarás que a média continua a mesma.
Não é não. É real. A maioria das piadas que se faziam em humorísticos da TV aberta não seriam nem compreendidas hoje.
isso pra não falar dessa babaquice do politicamente correto de hoje.
tem piadas do TV PIRATA que hoje dariam processos…
vejo escolinha algumas vezes por semana e não tenho essa impressão.
agora o politicamente correto é verdade
Acontece que as piadas de qualidade que tinham apenas o canal de TV aberto, agora estão nas TVs pagas. E esse fenômeno acontece em todos os segmentos da mídia. No UOL por exemplo, existem as notícias abertas a todos e aquelas que apenas os assinantes podem ler. Creio ser uma “ilusão de ótica” a ideia do processo de emburrecimento. Acho que como pessoas inteligentes mais do que reforçar o emburrecimento ao nosso redor, talvez seja o momento de parabenizar e reconhecer os inteligentes que nos cercam. Quem sabe assim mudamos não só nossa percepção das coisas, mas também nossa realidade atual e o futuro de nossos jovens