A morte que assombrou - e inspirou - Neil Young
30/03/12 07:01
Mil novecentos e setenta e dois foi um ano de altos e baixos para Neil Young.
Começou muito bem, com o lançamento de “Harvest”, até hoje seu disco de maior sucesso.
E terminou tragicamente,com a morte, por overdose, de seu amigo e parceiro Danny Whitten, do Crazy Horse, grupo de apoio de Neil.
Whitten havia sido a inspiração principal da música “The Needle and the Damage Done” (em tradução literal, “A Agulha e o Dano Causado”), um dos hits de “Harvest”.
Guitarrista talentoso e excelente compositor (fez a linda “I Don’t Want to Talk About it”, gravada por Rod Stewart), Whitten ficou viciado em heroína e acabou expulso do Crazy Horse em 1971.
Para ajudar o amigo, Neil o convidou para tocar em sua turnê de 72. Mas Whitten estava tão anestesiado pela heroína que não conseguiu. Chegou a dormir em pé durante os ensaios.
No dia 18 de novembro de 1972, Young despediu Whitten. Horas depois, Whitten morreu de uma overdose de bebida e Valium. Young nunca se recuperou do baque.
Poucos meses depois, outro choque: seu “roadie”, Bruce Berry, morreu de overdose de heroína.
Os dois álbuns de inéditas que Young gravou imediatamente após as mortes de Whitten e Berry – “Tonight’s the Night” e “On the Beach” – são os mais pesados e depressivos de sua carreira. Para muitos fãs, são também os melhores.
Os discos têm um climão pesado que remete a Altamont, Manson e Vietnã. Falam de drogas, de guerra e de amigos perdidos.
É inacreditável que Young tenha gravado um disco tão doce quanto “Harvest” e, na sequência, uma barbaridade angustiada como “Tonight’s the Night”. Sua voz parece que vai despedaçar a qualquer momento. É a voz de alguém no limite da sanidade.
Young disse que teve a idéia de gravar o disco depois de um surto, quando resolveu abandonar o megagrupo CSNY, com Stills, Crosby e Nash, “aqueles popstars ridículos e mimados”.
Young chamou o produtor David Briggs, juntou os remanescentes do Crazy Horse – Ralph Molina (baixo) e Billy Talbot (bateria) – e convocou o guitarrista prodígio Nils Lofgren e Ben Keith, que havia tocado steel guitar em “Harvest”.
O grupo passava o dia todo chapando e a noite gravando, em sessões que Young chamaria de “velórios para Danny e Bruce”.
O resultado foi “Tonight’s the Night”, um dos discos mais “dark” já feitos, e completamente antagônico às melodias bonitas e assobiáveis de “Harvest”.
Ninguém sabe a razão, mas Neil adiou o lançamento de “Tonight’s the Night” por dois anos. O disco só saiu em 1975.
E “On the Beach” (1974), espécie de continuação de “Tonight’s the Night”, foi renegado por Neil, que só permitiu seu lançamento em CD quase 30 anos depois.
“Tonight’s the Night” é um daqueles discos raros que parece encapsular um período, sem nunca soar datado.
Achei esse clipe lindo de Neil e o Crazy Horse tocando a faixa-título do disco, que abre com uma citação ao amigo morto: “Bruce Berry era um trabalhador / Que carregava aquele Econoline (furgão de excursão)”. Bonito demais.
Aquela velha C-90 com TFA, TTN e OTB – It sent a chill up and down my spine.
Pô, Barcinski! Esse texto é lindo!
Alow, André. Na verdade, Tonight’s The Night e On the Beach completam a Triologia da Sarjeta (Ditch Trilogy) iniciada por Times Fade Away, disco ao vivo gravado em condições pérfidas em 1973.
Particularmente, meu favorito desse período é o Zuma, talvez por ter sido o primeiro que conheci bem (indo atrás da versão original de Don’t cry no tears, que havia ouvido com o Teenage Fanclub).
Heroína, Nixon, crise do petróleo… Esses ingredientes renderam os piores momentos e alguns dos melhores álbuns de rock da década de 70.
André, “Harvest” é o meu favorito do Neil Young ao lado de “Rust Never Sleeps”. Ele sempre foi um artista contundente, um dos mais íntegros a pisar num palco.
Zuma > Harvest > On the Beach > Tonight´s the night
IMHO, oc.
PEACE!
LOVE!
JOY!
João Carlos
http://www.racksandtags.com/purplemanfrombrasil/artists/Neil-Young/
Até hoje me lembro de quando ouvi “Cowgirl In The Sand”, ardendo em febre.
Aquelas guitarrinhas são de arrepiar.
Neil Young é um dos guitarristas mais subestimados do rock e um de seus melodistas mais inspirados.
André, gostaria que vc me confirmasse uma coisa: li dias atrás no blog do André Forastieri sobre a entrada no “ar” da TV Folha. Ainda não conferi o site, mas você também é um dos apresentadores/ entrevistadores? Se sim, tem algum vídeo já posto lá? Abraço.
Ainda não.
Então quer dizer que partipicipações suas estão por vir. Irá nos avisar quando vc iniciar suas atividades por lá? C´mon, sem aquele papo de não misturar seu blog com suas outras atividade. Tudo é Folha.
Eu não sei, ninguém me convidou para nada. Claro que eu gostaria de participar, mas não tenho nenhuma informação ainda.
E ai Andre , cade o garagem?
On the beach,a música é a minha preferida entre todas.Gosto muito do disco Zuma tambem.
As guitarras de Neil Young no filme ‘Dead Man’ também é uma coisa linda.
Texto muito bom, e o que me deixa mais feliz é ver que ainda se escreve sobre música decente, e principalmente que ainda existem pessoas que lêem um texto sobre Neil Young! Ou seja, no meio de tanta asneira musical, ainda há esperança, e nem tudo está perdido!
O único e ÓTIMO CD que tenho do Neil Young é um gravado “ao vivo” com o Crazy Horse no galpão-estúdio de seu rancho. Solos e solos de guitarra !!!!
Vou atrás dos citados.
Conheço mais Neil Young por coletaneas, e confesso que não sabia desse caso da morte por overdose no mesmo dia da demissão, os cds já estão sendo baixados
E tem o Times Fade away, que é ao vivo da excursão seguinte a morte do Danny Whitten.
Uma maravilha de disco !!Por anos o Neil colocou um “totem” do Danny no palco quando ia tocar. Se não me emgano no show do R&Rio ele tava lá. Que por sinal foi um dos melhores shows que eu já vi !!!
Bem que eu gostaria de ver Neil Young cantando junto com os garotos mimados que ele citou. CSNY foi um dos melhores grupos vocais dos anos de ouro.
Realmente são belos albuns. Tinha até recentemente On the Beach em vinil que comprei na decada de 70. Ainda escuto muito Revolution Blues, On the Beach e Vampire Blues. Estão no meu celular. Parabéns pelo artigo. Escuto Young desde Buffalo.
fora do tópico, mas precisava compartilhar a informação: o Cine Olido está apresentando uma mostra chamada “Bill Murray no Cinema”, com 15 filmes do ator: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,cine-olido-dedica-mostra-a-bill-murray-o-ator-que-nao-teme-o-ridiculo,855147,0.htm
Pô, fantástico, hein?
“Harvest”, é um dos melhores disco, de todos os tempos.
Caramba, ouço o Garagem há anos e periodicamente vocês comentam sobre os trabalhos dele. Vou procurar esses álbuns que você citou porque quando o assunto é Neil Young, tenho que assumir que sou um grande “analfabeto”.
Bom fim de semana.
Ótimo texto, André. Serviu para eu tomar vergonha na cara e começar a tirar o meu “atraso musical” em relação ao Neil Young.
Outra coisa: mandei um email para você. Se puder entrar em contato, ficaria muito grato.
Abraços!
Tonight’s the night é menos sombrio que melancólico. E é um belo álbum. O “On the beach” ainda não ouvi, foi lançado só recentemente, não é?
On the Beach saiu em CD há uns 4 ou 5 anos. O vinil estava fora de catálogo desde os anos 80.
Puts, descobri o On the beach há pouco mais de um ano, e desde então, volta e meia o escuto. É sublime. O Tonigh’s the night preciso ouvir com atenção!