Lado a lado com Ziggy Stardust
11/04/12 07:15
Várias revistas de música estão falando dos 40 anos de “Ziggy Stardust”, clássico álbum de David Bowie.
As matérias me lembraram uma história que rolou no Rio, em 1989.
Em julho daquele ano, aconteceu um show do Uriah Heep no Canecão. E o baixista do Heep era Trevor Bolder, que havia tocado no Spiders from Mars, banda que acompanhou Bowie em quatro discos que mudaram o rock: “Hunky Dory” (1971), “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” (1972), “Aladdin Sane” (1973) e “Pin Ups” (1973).
Pedi à assessoria da gravadora uma entrevista com Bolder. A moça perguntou se eu não queria falar com Mick Box, o líder do Uriah Heep. Eu disse que queria mesmo era falar com o baixista.
No bar do hotel, enquanto todos os jornalistas tentavam exclusivas com Mick Box, passei um tempão batendo papo com Trevor Bolder.
O cara foi super simpático. Falou das primeiras bandas que teve em Hull, no nordeste da Inglaterra, com o grande guitarrista Mick Ronson, com quem formaria o Spiders from Mars.
Contou como acabou tocando com Bowie: “David ligou pro Mick (Ronson), disse que ia se apresentar na BBC e precisava de uma banda. Fui junto com Mick. Acabei gravando quatro discos com Bowie.”
“Foi surreal”, disse Bolder. “Num dia eu estava tocando em pubs de Hull; no outro, estava vestido de herói ‘glam’ tocando pra 15 mil pessoas. Isso é rock’n’roll!”
Segundo Bolder, Bowie era um ególatra mal agradecido, que usava músicos e depois os esquecia quando não precisava mais deles.
Mas disse também que nunca tinha trabalhado com um compositor tão talentoso, e que sentia saudades do tempo de “Ziggy Stardust”. “Aquele disco foi muito, muito importante. Foi muito bom ter feito parte daquilo.”
Depois de uma meia hora de papo, a entrevista acabou. Agradeci e me despedi. Foi aí que ele se ligou: “Mas você não perguntou nada sobre o Heep!?”
Desconheço o som do Uriah Heep mas sei que eles tem um disco com a capa mais assustadora que eu já vi, acho que é o Abominog. Primeira vez que eu vi era uma criança de 5 ou 6 anos ficou marcado na minha memória, tive até pesadelos com aquela imagem do vermelhão babando..rs, ainda mais naquela época que era tudo vinil, chamava mais atenção.Agora hoje nem tanto, capas de Cd’s de grupo sertanejo ou axé me assustam mais.
David Bowie é mais um exemplo de cantor que todo mundo conhece mas poucos gostam.
Caraca! O cara tocou em “Lady Grinning Soul”? É uma das músicas mais lindas do universo!
André, vou dar uma de Barcinski e mandar um comentário nada a ver com o post. Vi que na semana que vem estréia a nova temporada do “Estranho mundo de Zé do Caixão” e que em um dos programas vai rolar uma entrevista com o Paulo Oliveira, do “Larica total”. Você já conhece o cara? Acho o programa dele SEN-SA-CIO-NAL! Sei que já deve ter sido gravado, mas bem que poderia rolar uma intervenção sua sobre seus posts de “Culinária Ogra”. Como é bom ver que ainda há vida na produção cultural brasileira. Parabéns pela sua parte nisso também!
Foi muito boa a entrevista do Paulo, o cara é uma figuraça, e o Larica é um dos programas mais legais da TV, vc tem razão. Ele é muito talentoso.
Sempre interessantes as suas histórias dos bastidores das entrevistas, ou do que aconteceu além das mesmas.
O Morrissey diz a mesma coisa do Bowie (sobre ele ser mal agradecido e tal), que se condivou pro show no Madison Square Garden, sugeriu que ele entrasse sem ser anunciado e, gradativamente, o Morrissey e a banda dele deixariam o palco.
Ziggy, Heroes, Station to Station, Low são os quatro grande discos de Bowie para mim, de quem sou fã há mais de trinta anos.
Pin ups me parece uma coletânea morna.
Gosto muito de David Bowie, e é triste para música que ele não tenha lançado mais nada. Agora o Uriah Heep eu não lembro de nada deles, acho que ouvi muito pouco.
André, o que você achava do Tin Machine, que na época foi massacrado por muitos jornalistas?
Gostei dos dois discos do Tin Machine, na época. E o show foi muito bom tb…
É incrível como os músicos contratados ficam magoados porque os artistas não os carregam para o resto de suas vidas. Eles não conseguem entender a necessidade do outro buscar novos rumos, sonoridades, desafios.
“Segundo Bolder, Bowie era um ególatra mal agradecido, que usava músicos e depois os esquecia quando não precisava mais deles”, isso e bem tipico do Bowie ele ajudou a levantar a carreira solo do Reed e do Iggy, mas tambem soube usar os dois, alem disso apesar do talento, essa fama do camaleão do rock as vezes me passa a ideia de oportunismo, minha humilde opinião e que a obra dele e muito derivativa
André, fugindo do assunto…o que acontece com os preços de ingressos em SP? Até quando as produtoras irão se esconder na falácia da meia-entrada? Pagar R$ 140 para ver o Mark Lanegan no Cine Jóia é muita grana..hj em dia em SP qq show deste tipo não sai por menos de R$ 100!
Para não dizer que por se tratar de um único show no país este é valor a ser cobrado, o mesmo show no Chile (um único tb) sairá por R$ 60 (16.000 pesos).
Tá cada vez mais patético…
Olha, esse assunto já foi muito discutido aqui. O maior problema de shows brasileiros é essa palhaçada da meia-entrada. É um trambique que não tem fim.
Pois é, e como não conheço a lei na sua íntegra não posso dizer se existe algum mecanismo que poderia desvincular um evento como este e tratá-lo como uma balada normal (a exemplo dos bares de rock com bandas ao vivo onde é cobrado uma entrada sem consumação).
Enfim, sem querer dar uma de troll aqui no blog e me prolongar, creio que exista uma certa dose de ganância e oportunismo em tratar arte e cultura como business e apenas isto…
A lei não faz o menor sentido, a confecção das carteiras é um acinte, a fiscalização não existe, enfim, é tudo errado.
FAço faculdade e me “beneficio” da lei, mas confesso q não entendo qual é o ponto. Para que serve a meia-entrada? Qual o teórico objetivo, se é que há?
Barça, na leitura deste post surgiu uma dúvida: como funcionava assessoria das bandas/gravadoras/músicos em comparação as assessorias atuais? Tinha muita diferença do que existe no mercado hoje?
Cara, não posso te dizer, até porque estou totalmente fora do esquema hoje, não sei como funciona. Antigamente, cada gravadora tinha sua assessora de imprensa, e os jornalistas tentavam conseguir sempre exclusivas, essas coisas.
Já assisti o Heep (ou o que sobrou dele) aqui em Bsb, numa apresentação no Minas Brasília Tenis Clube, um lugar decadente com uma acústica péssima, que eu considero o máximo da decadência para qq banda do mundo (Deep Purple já tocou lá, é uma espécie de Greta Garbo, quem diria, acabou no Irajá). Foi um showzinho até legal, a meia-dúzia de gatos pingados presente sabia de cor e salteado os hits da banda e eles foram bem fiéis ao roteiro saudosista. Para mim o baixista do Heep era o Gary Thain, pelo menos na fase de Demons and Wizards e Magician’s Birthday, com as capas fantásticas de Roger Dean.
Gary Thain pra mim foi o maior baixista de todos os tempos!! Inclusive, na sua banda antiga, chegou a tocar em um show com o Jimi Hendrix!
Ia perguntar justamente isso, se o cara não tinha ficado revoltado por só ter respondido perguntas sobre o Bowie, ehehe! Uma pena mesmo que o Bowie tenha sumido, largou mão inclusive de ser ator.
Ele não ficou revoltado, não disse isso. Só achou curioso. Ele foi super simpático.
Esse post fez eu me lembrar que até agora a Uncut do mês passado com ele na capa não chegou em casa. A sua (caso assine/compre pelo site da IPC) veio?
Já, faz um tempinho. Muito boa a edição, tem umas fotos raras do Bowie.
Na fase que Iggy Pop e Bowie andava juntos
no ano 1977, David Bowie fez nada menos que 4 álbuns brilhantes que têm resistido ao teste do tempo: Low, Heroes, The Idiot (Iggy Pop), Lust For Life (Iggy Pop). Uma máquina.
Barça, você chegou a ler a biografia do Bowie feito pelo Marc Spitz? É boa? Outro dia fiquei coçando a mão p/ comprar, mas acabei deixando de lado.
Li sim, não tem muita coisa nova, mas é bem feita.
Recomendo Strange Fascination, do David Buckley.
Eu lembro de você ter comentado esse fato no programa Garagem, lá pelo ano 2000. Depois que você falou que Uriah Heep era uma bosta, mandei um e-mail xingando vocês, hahaha!! Acho que foi a única vez que eu mandei um e-mail de fã revoltado desses. Uma pena q o Bowie esteja aposentado, StationToStation é o meu álbum favorito. Essa história de que ele tá doente eu não estou sabendo, alguém tem algum link de reportagem sobre esse fato?
Guilherme, tem essa de 2010:
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,david-bowie-esta-bem-o-dia-em-que-a-terra-vai-parar,632333,0.htm
Valeu, Sávio!
A BBC e outros sites ingleses confirmaram a aposentadoria e a doença de Bowie. É questão de dar uma procurada.
casado com uma linda mulher negra acha que o cara iria ficar doente?
Não entendi. Quem casa com mulher negra e linda não fica doente?
Encontramos a cura de todas as doenças…rsrsrsrs
é StationToStation foi o melhor….
ivate, você é de Ivaté-PR?
A entrevista inteira vai ser publicada onde?
Caro André,
Já ouvi Ziggy dezenas de vezes e o que posso dizer é que é um puta disco de rock.Todos os fãs do gênero deveria ouvi-lo pelo fato de ter marcado historia e pra quebrar um pouco com os discos dos medalhões mais conhecidos por aqui:Beatles,Stones,Who,Floyd.Zeppelin…
Também acho que Diamond Dogs é melhor do que Pin Ups.
Pin Ups é um disco de covers, não dá pra comparar.
Muito legal esta história, Barcinski… e é uma pena que o Bowie esteja sumido… talvez ele estivesse dando um pouco de gás ao “rock mainstream” no meio deste marasmo de emos e indie fofo…
Será mesmo que o Bowie é este sanguessuga de músicos? Ouvi dizer que ele ajudou Mick Ronson quando este estava ferrado…
Aliás, tem alguma história do Mick Ronson, Barça?
Legal o texto, gosto muito do Bowie. Hunky Dory é um melhores discos de todos os tempos. Discordo do relator apenas quando afirma que o Pin Ups (disco de covers) é um dos discos que mudaram o rock. Eu o substituiria por ” Diamond Dogs”, este sim rock n’ roll na veia e cheio de influências de George Orwell…mas sem os Spiders from Mars…
André,
Vc sabe dizer que banda acompanhou Bowie no The Man Who Sold The World? E nos discos anteriores?
O grupo principal tinha o Mick Ronson e o Mick Woodmansey, que depois formariam o Spiders from Mars com o Bolder. Quem tocou baixo e piano no disco foi o Tony Visconti.
Esse disco é absolutamente do caralho, um disco pesado e pouco conhecido. Só “Width of a circle” já vale o disco, é uma porrada esta música.
Bom dia,
Aproveitando o post, no multishow hd está passando uma apresentação deste album.
Grande história! Pior que você fez como o cara disse que o Bowie fazia… usou o coitado do baixista é jogou fora né? rs. Quando ele te disse que não perguntou nada, o que aconteceu? Um olhar 43 – aquele assim meio de lado, já saindo, indo embora – certo?
barca, acho o bowie o mais talentoso usurpador da historia, senao vejamos: no comeco tocava folk inspirado em bob dylan; depois se apaixonou por velvet e stooges; caiu de boca no glam e na purpurina na cola do t.rex; quando a discoteca bombava la estava ele gravando fame; chapado pela eletronica chupou sem do o som dos alemaes; no comeco dos anos 80 a moda era o new romantic e la estava ele copiando; quano o rock voltou a bombar o cara tratou de montar o tin machine e, finalmente, tentou seguir sem muito sucesso a cena eletronica nascente no comeco dos anos 2000…nao sei que filosofo que disse que genio e aquele que copia as ideias dos outros e as levam adiante como se fossem suas, sendo assim david bowie indubitavelmente e um dos maiores genios da musica, basta constatar o reconhecimento que a critica o da mesmo ele tendo apenas reciclado de forma muito competente ideias dos outros.
Bom, não é à toa que o cara é chamado de camaleão. Vc tem razão, ele tem uma capacidade incrível de pressentir o que vai bombar e dar a sua versão daquilo. É um gênio, e é uma pena que esteja sumido.
Ele sempre foi muito antenado, influenciando e sendo influenciado, basta ver o que o Iggy Pop escreveu sobre ele nessa edição recente da Rolling Stone sobre 100 artistas essenciais.
Iggy não, Lou Reed, Iggy escreveu sobre o Nirvana
O Ziggy Stardust abriu minha mente para vários sons, numa fase que eu achava que o Led Zeppelin era a coisa mais incrível que existia.
E você estava certo: o Led Zeppelin era a coisa mais incrível que existia.
Me expresse mal. Achava que Led Zeppelin era a única coisa incrível que existia.
Tava pensando isso hoje mesmo, enquanto escutava o primeiro do Led, tentando me livrar de centenas de audições e imaginar como teria sido o impacto de um album como aquele numa primeira ouvida, na época em que foi lançado. Deve ter sido devastador.
Eu estava brincando com o Juliano, porque sou um fã doente do Led Zeppelin. Mas entendi o que ele quis dizer sobre abrir os horizontes. É legal isso. E concordo com você, Celso. Hendrix, Cream e Kinks deram um peso maior ao rock. Mas o primeiro disco do Led arrebentou tudo. É pesado demais para a época. O “All Music Guide” diz tudo: “Led Zeppelin had a fully formed, distinctive sound from the outset, as their eponymous debut illustrates. Taking the heavy, distorted electric blues of Jimi Hendrix, Jeff Beck, and Cream to an extreme, Zeppelin created a majestic, powerful brand of guitar rock constructed around simple, memorable riffs and lumbering rhythms. But the key to the group’s attack was subtlety: it wasn’t just an onslaught of guitar noise, it was shaded and textured, filled with alternating dynamics and tempos. As Led Zeppelin proves, the group was capable of such multi-layered music from the start.” Na mosca. Bowie sempre é citado por sua postura, facetas, elegância etc. A música, que é boa, é um complemento. Fica aquela história do Camaleão. O Led Zeppelin é lembrado na história do rock, antes de tudo, pela qualidade de sua música e influência exercida sobre as bandas hard e heavy que se formaram a partir dos anos 80. O som ficou na história. Vejam aqui um exemplo desta influência: http://www.youtube.com/watch?v=GpJIFlDOi0o
Bowie: station to station… clássico entre outros….. Barça, precisamos, da tua parte, de um review do “guia da culinária ogra” ou “frescura gourmet” como fizeste há pouco tempo.. precisamos dar risada e pegar mais dicas de lugares simples e de boa comida…. no aguardo
O livro sai em setembro, entreguei os originais essa semana.
Maravilha… o assunto foi épico… E Hj.. o Flusão vai penar para ganhar… há que se ter respeito e muito pelo Boca… Gosto deste time, mas o de 2008 tinha um charme diferente… Enfim… “sou pó de arroz de coração”…
Só você mesmo André, um faro jornalistico fantástico, descobrir que o guitarrista do Heep tinha tocado com Bowie foi demais.
Acho que o Bolder está no Uriah Heep até hoje, não era tão segredo assim. É que muita gente nem se ligou que era o mesmo cara.
Continua até hoje sim.
André, e o Bowie, você tem notícias dele? É verdade que se aposentou?
Pelo que ouvi, sim. Parece que está doente.
Tenho um amigo que conhece o baterista Sterling Campbell que tocou com Bowie e estava (ou está) no B-52’s. O cara disse que Bowie não tem mais saco pra lidar com a indústria da música. Pelo que Campbell disse, Bowie cansou.
Ouvi dizer que o Bowie não se recuperou totalmente dos problemas no coração. A coisa foi séria e ele não pode fazer nenhum esforço ou se alterar emocionalmente, correndo risco de vida. Como tem uma filha pequena (11 anos) resolveu ficar em casa (NYC) e passar o tempo com a família.
Cara, vi dezenas de camisas do Bowie no Lollapalooza. É legal isso, pois a média de idade ali era de 22,3 anos e ele não lança nada faz um tempão e não temos uma rádio ou tv para mostrar o que já fez. Ainda assim…