Como não entrevistar Abel Ferrara
20/04/12 07:15
Nova York, 1996. Saio do cinema desnorteado. Acabo de ver “O Funeral”, de Abel Ferrara. É sua terceira obra-prima em sete anos, depois de “O Rei de Nova York” (1990) e “Vício Frenético” (1992).
Nesse tempo, Ferrara dirigiu também o ótimo “The Addiction”,um filme de vampiros com Lily Taylor e Christopher Walken, e dois filmes de estúdio – todo mundo precisa de grana, certo? – o bom “Body Snatchers” e o péssimo “Dangerous Game”, este com Madonna.
“O Funeral” é um drama sobre uma família de gângsteres de Nova York nos anos 30. O elenco é coisa de louco: Christopher Walken (colaborador freqüente de Ferrara), Vincent Gallo, Chris Penn, Isabella Rosselini, Annabella Sciorra e Benicio Del Toro.
Se ainda não viu, sugiro correr à locadora mais próxima.
Fiquei tão impressionado com o filme que decidi entrevistar Ferrara. Na minha opinião, nenhum diretor americano tinha chegado perto do que ele havia feito na primeira metade dos anos 90.
Liguei para a distribuidora de “O Funeral” e falei com um assessor de imprensa.
“Tem certeza que quer falar com ele?”, respondeu o sujeito.
Eu já sabia da fama de alucinado de Ferrara. Já tinha lido sobre as filmagens à “Scarface” de “O Rei de Nova York”, e da “pesquisa de campo” que ele e Harvey Keitel haviam feito para o papel do policial mais barra pesada do mundo em “Vício Frenético”.
“Ok, só espero que ele esteja num bom dia”, disse o assessor.
A entrevista foi marcada para o bar de um hotel em Nova York, onde Ferrara estava hospedado.
Cheguei na hora marcada. Nada do homem. Esperei meia hora, fui à recepção e pedi para falar com o quarto. Ferrara atendeu. Parecia não lembrar da entrevista. “Me dá dez minutos, já desço”.
Meia hora, e nada. Liguei de novo.
“Você se importa de fazer a entrevista pelo telefone? Não estou me sentindo bem para descer agora”, disse o diretor.
“Não tem problema. Podemos fazer agora?” perguntei.
“Preciso fazer uma coisa, me liga em cinco minutos.”
Cinco minutos depois, liguei de novo para o quarto. Ele demorou, mas atendeu. Ouvi claramente o barulho de uma tragada num cachimbo.
“Shhhhhhhhhhh…… Quem é?”
“É o repórter, estou ligando para a entrevista…”
“Entrevista? Agora? What the fuck???”
“Sim, mas prometo que vai ser rápida. Podemos falar de ‘O Funeral’?”
“Shhhhhhhhhhhhhhh…. (longo suspiro…) Sim, ‘O Funeral’… é meu filme…. Shhhhhhhh…..”
“Sim, eu sei que é seu filme. Estou ligando por causa dele. É seu terceiro filme com Christopher Walken em seis anos, certo?”
“O quê? Do que você está falando? Espera um pouco… Shhhhhhhhhh…. (longuíssimo suspiro) Quem é?”
“É o repórter. Você prefere que eu ligue depois?”
“Olha, fala com meu assistente… Marca com ele, ok? Preciso fazer alguma coisa agora… Shhhhhhh… Ahhhh….”
A entrevista, claro, nunca aconteceu.
Nunca tive a chance de perguntar como ele conseguiu juntar Christopher Walken, Wesley Snipes, David Caruso, Laurence Fishburne, Victor Argo e Steve Buscemi para o elenco de “O Rei de Nova York”.
Ou de descobrir como ele arrancou a melhor interpretação da vida de Harvey Keitel em “Vício Frenético”.
E nunca consegui tirar a minha cisma de que Christopher Walken estava imitando Zé do Caixão em “The Addiction”.
Um bom tempo depois, lendo um perfil do ator Vincent Gallo, dei de cara com a seguinte declaração de Abel Ferrara:
“Vincent é o melhor ator com quem já trabalhei. Ele faz um diretor amador como eu parecer um profissional. Queria não ter fumado tanto crack durante as filmagens de ‘O Funeral’, quem sabe eu poderia ter saído do meu trailer imundo de vez em quando e ver algumas cenas sendo rodadas. Mas ouvi dizer que Vincent estava ótimo no filme. Depois que eu sair do ‘rehab’, espero conseguir assistir a meus filmes.”
P.S.: O CCBB-RJ está no meio de uma retrospectiva de Ferrara, que vai até o dia 22. E a mostra está também em Brasília, até o dia 29, e começa em São Paulo, semana que vem. Eu não perderia…
Eu sei muito bem o que vc passou, Barcinski.
Foi duro agendar, mas eu consegui entrevistar o Abel Ferrara.
http://youtu.be/Gt1ypFtzJEk
Fala andre.
entao, aqui em brasilia tá acontecendo a mostra, (nao conhecia e estou adorando alguns filmes!!) e fiquei sabendo que o proprio abel ferrara exigiu cocaína para aparecer no debate agendado. o cara continua na ativa!!! um abraço e parabens pelo blog!!
Não me surpreenderia…
Hmmmm… Abel Ferrara tem, no maximo, notas medianas no IMDB…
Legal, confia no IMDB então…
Esse IMDB é aquele que mostra no Top 250 de melhores “O Senhor dos Anéis: As Duas Torres” e “O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final” na frente de “Laranja Mecânica” e “O Grande Ditador”… Entendo…
Pois é.
Putz…tudo bem consultar o IMDb, mas não dá para levar as notas tãaaao a sério…
Pior filme lançado nos últimos meses, “A REDENÇÃO”, com o Gerard Butler. O filme é ruim, salva-se apenas o drama terrível das crianças no Sudão.
O Blu-ray está com péssima imagem e TRANSFORMADO aqui no Brasil para o formato de tela 1.85:1, ou seja, BRASILEIRO NÃO RESPEITA o TRABALHO DOS OUTROS!
Nossa! Que horror. Que drama. Gostei mais do Rei de NY.
André, sei que não tem nada ver, mas você gosta dos filme do diretor Leos Carax? Se sim, sabe algo sobre o lançamento de Holy Motors? O elenco tem
Eva Mendes, Kylie Minogue (!!!???), Michel Piccoli e Denis Lavant. Valeu!
Não vi todos os comentários, portanto não sei se alguém já indicou, mas o CCBB, Centro Cultural Banco do Brasil fará, de 25/04 à 06/05/12, retrospectiva COMPLETA do Diretor Abel Ferrara, chamada Abel Ferrara e a Religião da Intensidade.
André, desculpa fugir um pouco do tema, mas queria saber a sua opinião sobre o Metal Open Air, que foi um fracasso absurdo. Sei que você já organizou shows, por isso pode ter uma ideia melhor do que aconteceu. Amadorismo total?
Vou escrever na segunda sobre isso, mas espero o noticiário de amanhã tb, ok?
os metaleiros estavam acampados em estabulos em cima do estrume. hahahaha
Nada haver com este post (que por um acaso me fez rever os filmes do Abel neste fim-de-semana, rsrs), mas acho que você como apreciador de festivais, pelo visto terá um prato cheio para críticas na segunda-feira com o MOA, hein?
Tô esperando mais infos lá do Maranhão, parece que a coisa tá feia.
Feia é minha vó chupando manga! A coisa lá está horrível! rsrs.
Mas sabe o que é o pior? Já comecei a detectar comentários agredindo os nordestinos, isso vai acabar indo além do festival em si…
Olha, picareta e incompetente tem em todo lugar, infelizmente. Por aqui no Sudeste tá cheio tb…
Ops! Foi o que eu quis dizer! Não estava atacando os nordestinos não! Concordo 100% com você. É que a história ainda nem acabou e já vi pessoas culpando e esculachando os nordestinos ao invés dos verdadeiros culpados que são os “produtores”. Infelizmente muitos vão aproveitar para botar para fora o velho preconceito bairrista…
Tô ligado, não quis dizer que vc estava falando uma coisa daquelas…
Engraçado é que por “nordestino” se entende “da Bahia pra cima” (conforme o grau de ignorância, às vezes Minas entra no balaio também, outro dia eu escutei “Belo Horizonte, ali já é nordeste, né?”). O preconceito já começa por aí, por se designar genericamente como “nordestinos” gente oriunda de vários estados, entretanto não escutamos ninguém falar em “sudestinos”, “centro-oestinos”, “noroestinos” ou “sudoestinos”.
Andre,para informação,os filmes”O Funeral” saiu para as locadoras como”Os chefões”,e “The Addictions”como”Os Viciosos”.O ruim “Vicio Frenético”do Herzog,tem uma ajuda considérável do canastrão Nicolas Cage,o legal do filme é a deliciosa Eva Mendes,né?
Eva Mendes é deliciosa sempre, até nesse filme. Pena que o Nicolas Cage vem junto.
Ôpa, Barça, concordo contigo: Eva Mendes é uma delícia.
Tô baixando agora no torrent, tudo que tem o Christopher Walken é legal… é meio que um “selo de qualidade”… Abraço!
Ontem passou na TV o “Vício Frenético”, mas o do Herzog. Como alguém que nunca viu o original, e acha o de 2009 bem legal, não entendo bem o motivo de todo mundo pichar o Herzog. É tão inferior assim mesmo?
É sim, pode acreditar.
Nossa, muito tenho que ver o original então.
O filme do Herzog não é ruim, é legal, mas totalmente desnecessário.
Piora mesmo quando comparado ao do Abel Ferrara e você somente se dá conta que o filme é ruim ao assistir o do Abel Ferrara.
eu achei a versão do Herzog bem engraçada, os destaques canastras são do próprio Cage e do Val Kilmer
pra quem acha que anos 90 é só tarantino ! andré mudando de diretor mas ainda no cinema assisti de novo ontem casino do Martin Scorsese,e na minha opinião o filme não só não envelheceu como melhorou com o tempo. todo mundo ta bem nesse filme,até sharon stone, incrivel ! mas pra mim o filme é do Joe Pesci ,da medo daquele baixinho,e a cena final acho que poucos diretores teriam a coragem de realizar hoje em dia,muito violenta ! voce não acha esse filme subestimado,pra mim é um classico.
Concordo, acho um dos melhores do Scorsese. O James Woods tá demais tb…
Concordo, acho um dos melhores do Scorsese. O James Woods tá demais tb…
Não consegui achar no site do CCBB-SP os horários das sessões de cada filme… Gostaria de me programar para assistir vários.
Barça, off topic but… Vi recentemente Os Esquecidos do Buñuel em uma retrospectiva da obra dele em BH e mesmo já conhecendo bem seus filmes fiquei impressionado com essa verdadeira obra prima !! Quantas cenas desse filme podem estar entre as melhores e mais fortes do cinema ? sugestão: um presente para os leitores do blog , um top 10 desse gênio do cinema! pode ser ?
Acho que a cena em que o menino joga um ovo na câmera é uma das coisas mais lindas que já vi num filme.
André, uma curiosidade: por que você considera “Dangerous Game” péssimo? Ainda não vi, mas comprei há poucos dias numa baciada de DVDs por ser do Abel Ferrara. Os poucos sites que li como referência não o detonam assim. Não vale a pena?
Conselho? Assista e depois me diga o que achou…
não se pode esquecer também que, junto de arnold schwarzenegger, mel gibson fez uma campanha para que hollywood não desse mais empregos a homossexuais.
Barça. Você poderia dedicar um post à explicação da relação do Garagem com Gil e Caetano.
Parabéns novamente pelo Blog, leio todo dia.
Abraço