Corra que o Abel Ferrara está aqui!
25/04/12 07:00
Se eu estivesse em São Paulo, já estaria na fila para o debate com o cineasta Abel Ferrara no CCBB, que começa às 13h. Chance raríssima de conhecer um dos autores mais interessantes do cinema das últimas duas décadas.
O CCBB inicia hoje uma mostra completa dos filmes de Ferrara. A retrospectiva, que já passou por Rio e Brasília, vai até 6 de maio (veja a programação aqui).
Tirando um ou outro filme que Ferrara fez sob encomenda para estúdios, como “Olhos de Serpente”, todos os filmes que vi dele são memoráveis.
Mesmo quando erra – ou exagera, o que faz com freqüência – Ferrara sempre demonstra uma visão pessoal e única do cinema.
Se Woody Allen ficou famoso por mostrar o lado cool de Nova York e sua boemia intelectual, Ferrara focou num aspecto mais perverso e sombrio da cidade.
Ele cresceu no Bronx, e logo se enturmou com a cena de cinema marginal de Nova York. Fez filmes pornôs – e, ao que parece, atuou em alguns deles (por favor, alguém pergunte isso para ele, ok?) – e uma série de curtas alternativos, que também estão na mostra.
Trabalhou também em TV, dirigindo episódios da série “Miami Vice” para Michael Mann.
Mas foi nos anos 90 que Ferrara encontrou sua “voz”, com uma série de filmes notáveis.
Eu não perderia “O Rei de Nova York”, sua versão de “O Poderoso Chefão”, com Christopher Walken no papel de um gângster, e um elenco matador que inclui Laurence Fishburne, Wesley Snipes, Victor Argo e David Caruso.
Outra jóia é “Vício Frenético” (1992), com Harvey Keitel no papel de um policial barra pesada que vai ao inferno durante a investigação de um crime bárbaro envolvendo uma freira.
Se Scorsese e seu “Taxi Driver” pintaram um quadro cinza da paranóia nova-iorquina no pós-Vietnã, “Vício Frenético” explora os subterrâneos da cidade na era do crack. É a maior atuação de Keitel e uma das experiências mais intensas que alguém pode ter num cinema. Vê-lo em 35 mm é um programa imperdível.
Outros destaques são “The Addiction” (1995), um filme urbano de vampiros, fotografado num preto e branco Expressionista, e “Os Chefões” (1996), história de três irmãos mafiosos dos anos 30, com Christopher Walken, Vincent Gallo e Chris Penn.
Tenho muita curiosidade para ver dois documentários recentes de Ferrara, “Chelsea on the Rocks”, sobre o mitológico Chelsea Hotel, e “Napoli, Napoli, Napoli”, sua visão sobre a cidade italiana.
A mostra é uma grande pedida para quem gosta de filmes fora do padrão comercial. Abel Ferrara é o que há.
Graças ao seu blog tive a felicidade de passar quase todo meu fim de semana vendo as sessões lá no CCBB. Foi intenso e mágico; ver Vício Frenético me deixou sem palavras…O Abel é o cara!
Legal que vc curtiu, fico contente. Ver esse filme em 35mm é realmente uma chance rara.
“The Black Out”. Tudo nervoso. Inclusive o Dennis Hopper, num dos últimos papéis na ficção que correspondeu à sua trajetória lucidamente enlouquecida.
André, me diz uma coisa: como foi esse tal de ”laboratório” que o Keitel e o Ferrara participaram para fazer ”Vício Frenético”? Ouvi dizer que foi bem bizarro…
Olha, pelo que li em entrevistas, na época, eles passaram um bom tempo andando por Nova York e “confraternizando” com personagens reais que inspiraram os personagens do filme. Deve ter sido interessante…
André, se o Abel Ferrara fosse contemporâneo da turma da Nova Hollywood, nos anos 70,ele seria mais famoso, mais consagrado?????
Boa pergunta. Acho que sim, ele meio que fez um cinema parecido com o daquela turma, mas 15 anos depois.
Abel é um sensacionalista, seus filmes só querem causar polêmica, sem nunca refletir sobre as questões que coloca no filme. Nem deveria ser chamado de diretor. Deveria ser diretor do programa do Datena. Diretor que retratata nova York é Spike Lee e Martin Scorcese, que colocam questões e nos fazem refletir sobre ela. Esses dois sim são diretores e não esse drogado chamado Abel Ferrara.
Quanta besteira num parágrafo só. E se vc não gostar do trabalho de um cineasta pq ele se droga, sugiro não ver nenhum filme do Scorsese nos anos 70 e 80.
e não ouvir música de ninguém, nunca mais na sua vida.
ok, pode ouvir música gospel e straight edge, hahaha
Se as drogas (e a bebida) são o problema, não veja filmes do Scorsese, não ouça música americana e não leia Bukowski…Como a Maria escreveu, vai sobrar música gospel.
André, você gosta dos filmes do D. Cronenberg? Só conheço A Mosca. Vi o trailer do Cosmopolis… deve ser interessante.
Gosto demais, de quase tudo. Vou fazer um post sobre ele qqr hora.
Gosto muito de ‘Gêmeos, mórbida semelhança’ e ‘M. Butterfly’, ambos com um Jeremy Irons impecável.
“A History of Violence” do Cronenberg tem uma das performances mais impressionantes que ja’ vi: Willian Hurt na pele de um mafioso na Philadelphia.
a cena final do vício frenético é perfeita. não consigo pensar numa maneira melhor de terminar aquele filme
Tem razão. Vale a pena ver.
Chelsea On the Rocks ja está rodando no HBO signature e outros da família. O documentário é fantástico, muito bom mesmoe aborda tudo quea gente espera. A morte do Sid Vicious, as festa loucas, o punk novaiorquino e muito mais. Bem legal mesmo. Ja gravei e coloquei na pratileira. Recomendo a todos.
André, sei q Abel Ferrara não é o único com essa aura maldita, cujo cinema é tão subestimado.
Mas, sem essa coisa de tratá-lo como coitadinho, a (relativa?) falta de reconhecimento não coincidiria com a ascensão do cinema do Tarantino?
Comento isso pois os dois, além de contemporâneos, trabalharam com atores e temáticas semelhantes, embora com estilos e abordagens distintas.
Só para constar: Lembro q à época de “Pulp Fiction” aluguei “O Rei De Nova York” e meu colegas (assim como eu, pivetes) não cansavam de depreciá-lo como imitador do diretor de “Câes de Aluguel”.
Cara, não sei, os filmes do Tarantino têm uma pegada pop muito forte, trilhas sonoras “espertas”, atores muito conhecidos (Bruce Willis, Travolta), mil referências a outros filmes, um senso estético mais pop que o do Ferrara. Entendo porque um fez sucesso e o outro continuou maldito.
acho q não, Tarantino é posterior a Abel Ferrara, e certamente deve gostar do diretor de “Vicio frenetico”…
E ao assistir esse filme, fiquei curioso sobre a atriz principal do filme, Zoë lund.Pesquisando sobre ela, descobri que ela é autora, em parceria com o ferrara, do roteiro de “Vicio frenético”, além de também atuar no filme.Infelizmente, morreu de overdose de cocaína em 1999.
Domingo assisti nop último dia da mostra dele aqui no Rio o “Sedução e vingança” (Ms. 45, no original). Adorei.Divertidíssimo.
Christopher Walken, Laurence Fishburne, Wesley Snipes, Victor Argo e David Caruso, alguém pergunte como ele reuniu esse elenco.
Napoli… é fácil de encontrar em qualquer locadora decente. A forma como ele retrata a cidade é arrebatadora, aquilo é a Itália! Milão o excambau, lugar de coxinhas…
Barça, “Olhos de Serpente” não é aquele filme do de Palma com o Nicolas Cage?
Esquece… li agora uma resposta de antes explicando… Foi mal.
Por acaso foi ele quem dirigiu Ms 45 ?
Foi sim, mas não acho grande coisa.
Foi, mas não acho esse filme grande coisa.
Fora do tema do texto, mas acho que vale: foto de Lux Interior e Poison Ivy – hippies – em 1972.
http://www.dangerousminds.net/comments/the_cramps_lux_interior_and_poison_ivy_photographed_in_1972
Cara, que fantástico isso. Tava mesmo pensando em fazer um post sobre o Dangerous Minds, que blog viciante, não?
Vício é a palavra exata. Todo dia o blog tem textos, vídeos e fotos muito interessantes.
Isso me lembrou um email que recebi hoje, falando sobre o lançamento do documentário sobre o Ministry/Al Jourgensen, chamado FIX ( http://www.fixtheministrymovie.com/ ). Barça, taí outra banda que merece um post aqui…
Legal, mas como demorou esse filme, não? Acho que faz uns dois anos que está pra sair…
Pois é, a última coisa que eu soube foi que o Jourgensen tava processando os produtores do doc, por quebra de contrato e por não ter aprovado a edição final ( http://latimesblogs.latimes.com/music_blog/2011/04/ministry-frontman-al-jourgensen-sues-makers-of-behind-the-scenes-documentary-fix-.html ).
Se não estou confundindo, o TNT passou um filme do Abel Ferrara no penúltimo fim de semana com o nome de Vício Frenético e o policial Junky era o Nicholas Cage investigando o massacre de uma família de negros em NY.
Se vc puder me esclarecer…
Essa é a refilmagem, feita pelo Werner Herzog, e que eu acho um dos piores filmes que já vi.
Valeu.
Revi este fim de semana e é ruim mesmo.
E o filme se passa em New Orleans e não NY.
Muito obrigado e continuo aguardando posts musicais reveladores.
Abraço
Poisé, acabei no gato por lebre e assisti na TV a cabo o VF com o Nicholas Cage, que não me pareceu tão canastrão quanto o usual; também achei um espanto ser um filme do Herzog, não era para tanto. Mas não achei um fime ruim. E a Eva Mendes é um plus. De qq forma vi o filme picado(o filme, não eu), e agora entendi que é de 2011, e o do Abel é de 1992.
Vou tentar achar o original.
Chelsea on the rocks tem nos torrents, mas Napoli, napoli, napoli não. Alguem sabe onde encontrar?
Os chefões não é O funeral?
Barcinski: não vais cobrar a entrevista de NY?
Os Chefões é o título brasileiro de “O Funeral”.
Pois é, Napoli… também nunca vi. Moro no interior e não tem locadora decente, fico na dependência do Cine Torrent, mas também não consigo achar este filme. Se conseguir posta o link aqui que agradeço!
Não consigo lembrar de onde baixei, mas tenho napoli, napoli, napoli. Numa versão dual audio, com dublagem em português, inclusive.
Depois do último post seu sobre Abel Ferrara, até coloquei Vicio Frenético e Rei de NY pra baixar… Sobre o debate, uma pena que será 13:00… pra quem trabalha esses horários são de matar!
Também tem uma cópia de “Chelsea on The Rocks” na baía Pirata.
A sessão dupla que gostaria de assistir é no domingo a partir das 18:00h. Ou seja você sai do último filme quase 10 da noite e pode vivenciar o mundo do crack na vida real, pois andar pelo Centro no domingo essa hora deve ser um pesadelo. Ainda por cima o prédio do BB é muito bonito, mas haja coragem.
Fico imaginando como são os pornôs do Abel Ferrara. Fez o caminho inverso do Mojica. Alguém precisa apresentá-los um ao outro.
Dá pra dizer que Abel Ferrara e Sidney Lumet mostram o lado obscurso, gangster, feio, preto e branco (mais preto que branco) de New York.
O filme mencionado no Post se chama 9 lives of a Wet Pussy. Vi o começo e posso dizer que já começa hard. É fácil de achar e ao que parece Abel faz uma ponta, oportunidade única de conhecer característas de um diretor normalmente negadas por uma imprensa que não vai a fundo em suas enquentes.
“Napoli, Napoli, Napoli” vc encontra pra baixar sem mta dificuldade
Boa, vou procurar.
pô, na minha inocência eu achei que você tinha citado um filme do Brian de Palma como se fosse do Ferrara e acabei descobrindo que os 2 tem um filme contestado chamado “Olhos de Serpente”. Que coisa!!!
E são duas porcarias, impressionante.
O do Ferrara ainda tem a Madonna!!! Deve ser uma bomba mesmo! Vou procurar pra assistir!! 😉
Só passei aqui para agradecer, na sua outra postagem sobre o Abel me fez passar o fim-de-semana todo (re)assistindo os seus filmes.
Miami Vice? Eu via muito! A sabatina é só hoje? Gostaria de poder ir ver, as referências foram ótimas!
“Chelsea On The Rocks” pode ser assistido nos canais HBO-Max.
Sério? Valeu pela dica, vou procurar, nunca vi esse filme passando na TV.
E também pode ser baixado pela internet, se for o caso.