Ouvir Mister Catra dá saudade do Dicró
27/04/12 07:22
Ontem foi um dia triste para o samba.
Morreu Dicró, ou Carlos Roberto de Oliveira, autoproclamado “prefeito do Piscinão de Ramos” e um dos letristas mais engraçados que o Brasil já conheceu.
Dicró era uma figuraça. Encarnava o malandro suburbano carioca, sempre com uma piada na ponta da língua. Gostava de esculhambar políticos, sogras e maridos traídos, e sabia rir da própria desgraça.
Prova disso foi “Os Três Malandros in Concert”, disco que gravou em 1995 com Bezerra da Silva e Moreira da Silva.
Era uma sátira aos “Três Tenores” – Luciano Pavarotti, Placido Domingo e José Carreras – que lembrava o tom debochado com que as chanchadas de Oscarito e Grande Otelo parodiavam as superproduções hollywoodianas dos anos 50.
“Eles são ricos e bonitos, mas nós também temos nosso charme”, pareciam dizer Dicró, Moreira e Bezerra.
Hoje, as letras de Dicró soam até ingênuas. Uma das melhores é “Vou Botar Minha Nega no Seguro”: “Se um vagabundo levar você, nega / O seguro paga / Se o Ricardão aparecer, nega / O seguro paga / É, mas se você desaparecer, nega / O seguro paga porque / O seguro é seguro, você vacilando eu não fico duro”.
Pouco depois de ler sobre a morte de Dicró, recebi um link enviado por um amigo. “Cole Porter ressuscitou”, era o título da mensagem.
O link trazia a nova composição de Valesca Popozuda e Mister Catra, um “pagode romântico”, com violão e coral, chamado “Mama” (se você tiver pelo menos 18 anos, clique aqui para ouvir a obra-prima).
Deu uma saudade danada da ingenuidade do Dicró.
Sob o risco de soar injusto, pergunto: não dá para fazer um paralelo entre Dicró e Mister Catra?
Não estou comparando a qualidade artística dos dois, até porque Dicró, perto do Mister Catra, parece o Cartola.
Meu ponto é: as novas gerações podem muito bem achar Mister Catra um artista “divertido” e “malandro”, assim como Dicró foi para as gerações anteriores.
A questão é: o que vem depois de Mister Catra?
Acho engraçado você ser um admirador da história do punk rock com medo da letra do Mr. Catra. Nós já vimos (ou lemos) de tudo, man. A música é horrível, é um pagode desses de programa de auditório, mas a letra é hardcore, é sexo agressivo, e começa com a Valesca fazendo crítica cultural contra aqueles que a odeiam. Eu gostei.
Medo? Quem tem medo? Pelo contrário, acho até infantil, parece brincadeira de colegial.
Na boa, Valesca Popozuda fazendo “crítica cultural”? Acho ótimo vc curtir o som, cada um gosta do que o emociona, mas daí a enxergar grandes arroubos artísticos e críticos nisso é exagero.
Emoção não, mas talvez, inconscientemente, eu sinta algum tesão por aquela bunda toda torta e terrível da Valesca Popozuda e veja algum tipo de aspecto positivo nela. Mas na real não curti a música, eu falei que era uma droga. Acontece que ela zoa o pagode e canta uma letra que atenta contra a moral e os bons costumes. Minhas primas católicas e pagodeiras vão cantar essa porra? Duvido. Resumindo, eles fodem. Isso é punk, apesar de ela falar “fóenk”.
Achei muito ruim a letra dessa música do Catra. Se parece com as parodias que eu fazia com a molecada na quinta série. impossível alguem com idade mental acima de 12 anos gostar disso.
Alguém aí falou em reação? Sou completamente favorável à tese da reação, reação não-violenta, o que significa educação e cultura em doses cavalares. Ah! É claro, isso só rola no médio e longo prazo, logo…tomates e ovos podres talvez sejam mesmo necessários…
Cada geração tem o “Dicró” que merece…
Pura poesia, digna de ser escutada (so no RJ) em alto volume. Nao sei se choro ou se dou risada. O pior eh que tem gente que gosta.
Devemos imitar o fime dos Simpsons e colocar e isolar o Rio de Janeiro do resto do Brasil…vai ter coisa ruim assim lá na PQP
eu penso que existe público para isso aí!
galera do Rio é metidona a culta, mas o que eles gostam mesmo é disso aí…
os nativos desse estado depreciam as pessoas de outros estados, como se fossem melhores, uma raça superior…
Aqui em Brasília tá cheio deles… é o apêndice do Rio e do funk carioca – escremento musical
Se isolar o RJ, onde os gringos vão passear??? em São Paulo? Em Brasília??? se enxerga, parceiro… o teu despeito tá maior que o Brasil… a Cidade maravilhosa, não tem nada com os habitantes ruins que nela estão… e só pra finalizar, o MR. Catra faz shows no Brasil inteiro e no exterior, e prova que não são os cariocas o culpado do sucesso dele.
Por que quem concorda com a “interrupção terapêutica da vida” é contrário à pena de morte?
Por que quem é contrário à vivissecção é favorável ao doloroso martírio em praça pública dos usuários de drogas?
amsl
Depois do Mr. Catra, veio o CQC e toda essa maldita onda de humor pseudointeligente, universotario e bunda mole. Por pior e mais escroto que o Catra seja. ele tira onda e nao tem a pretensao da trupe do coxinha mor Marcelo Tas.
Apoiado.
Falou tudo. Acho que o Mr. Catra (e eu NÃO GOSTO da pessoa dele), veio para foder com essa letra. Ele tira até um barato do próprio pagode. Se fosse uma insinuação, seria algo como faziam os Mamonas, mas ali tem um discurso sexista agressivo, e uma tiração de onda do próprio pagode, que na verdade quer dizer tudo o que ele disse, mas de um modo “romântico”.
Ótimo, é uma interpretação. Não concordo, mas é uma interpetação.
Salve, Mr. Barcinski!
Dicró era um grande personagem. Guardo com carinho o disco dos três malandros. De fato, ele permite uma bela reflexão de como nossa noção de humor mudou ao longo dos últimos anos.
Admiro meu tio de 75 anos, super antenado, leitor voraz de revistas e livros, apreciador de tiradas genuínas de humor, que simplesmente não consegue entender onde está a graça em CQC, videocacetadas e afins. Ou seja: ele não consegue enxergar humor na banal situação de alguém se ferrando.
Mudando de pau para cavaco, você já ouviu a banda acreana CALDO DE PIABA? Acho que você vai gostar. Um power-trio que propõe uma bela salada musical instrumental, unindo ritmos do norte, rock, ska, jazz, samba-rock e psicodelia. Soa pretensioso? Dê uma sacada no myspace dos caras, depois corra atrás dos EPs deles (volumes 1, 2 e 3). De quebra, o grupo ainda tem uma história interessante, tendo saído por aí a bordo de uma kombi tocando em praças e coretos no interior do Acre. Também já tocaram em festivais independentes Brasil afora.
Não sou amigo nem empresário dos caras, hein! hahaha
Grande abraço!
Barcinski, depois do Catra vem o Buffalo Bill, aquele, de ‘O Silêncio dos Inocentes’…inclusive sendo entrevistado pelo Danilo Gentili e com direito à show dentro da casa dos BBB…
DURMA-SE COM UM BARULHO DESSES!
Realmente é uma grande perda, o Dicró vai fazer muita falta. Assim como o Mussum, o Bezerra e o Moreira da Silva.
Sobre o tal do Catra, o que dizer? Depois do Circuladô, do Parabolicamarâ e da “obra” do Arnaldo Antunes, o que esperar?
Um país que tem a diva Marisa Monte (misto de Maria Callas e Greta Garbo do Leblon).
O Catra é o de menos.
Saudadis imensis do Dicró e do Mussum!
Quer dizer que os culpados por tudo são os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, além do Décio Pignatari? O que tem a ver poesia concreta com a pornografia escancarada do Mr Catra?
A juventude e o povo em geral estão ficando cada vez mais BITOLADOS e IGNORANTES.
Andei lendo que a quantidade de pessoas assistindo nos cinemas filmes DUBLADOS aumentou.
O pessoal tem preguiça para aprender qualquer coisa mais complexa.
Agora dá até para entrar na faculdade e no serviço público SÓ por ser afrodescendente!!!
Muito feliz sua lembrança, amigo. Dicró era um artista na verdadeira acepção da palavra. Toda entrevista que ele dava era garantia de diversão. Jô Soares sabia disso e o convidava com frequência. A última foi em julho do ano passado. Risadas garatidas:
http://www.youtube.com/watch?v=CxEqDXhjy-s
Mais uma jaboticaba: o pornô para cegos… Ninguém mais segura a nossa indústria cultural!
”A questão é: o que vem depois de Mister Catra?”
Espero que venha um holocausto nuclear pra poder depurar essa humanidade podre e corrupta..
A ignorância pode ser libertadora. Nunca ouvi falar de Mr. Catra. Sei nem do que se trata. Isso eh muito bom.
Mas agora você já ouviu falar e sabe do que se trata….
Sei que existe, mas fico na duvida se eh funk ou um pagode moderno. Mas nao precisa responder.
Essa discussão é bastante complexa, a questão da liberdade e da censura. Devemos combater a censura mas não podemos viver eternamente deslumbrados com a liberdade individual, porque mesmo ela precisa de limites em relação ao social e à noção de patrimônio público, como no exemplo do carro que passa com o som alto. Ora, eu estou com meus pais, com meus filhos, ou mesmo sozinho, e sou obrigado a abandonar um local para que outra pessoa possa curtir seu carrão com um som no talo? Vamos ter que viver fugindo para que os outros possam ter sua “liberdade” preservada, sob pena de carcaterizar censura ao outro? E ele, não está me censurando e retirando minha liberdade com sua presença?
Pera lá, Celso, são duas coisas diferentes. Um cara que anda com som alto no carro está invadindo o espaço dos outros, desrespeitando o direito que outros têm de NÃO ouvir aquilo. Eu sou a favor, sim, da proibição de som alto em carros, acho um absurdo. Já a música do Mister Catra, por pior que seja, só ouve quem quer.
desculpe interferir no assunto. geralmente concordo com as suas ideias, mas não é bem assim: escuta quem quer. não é só proibir carros com som alto. se você tem um filho, e vai andar com ele de metrô, por exemplo, é provável que tope com um sujeito ouvindo funk com os falantes do seu celular. já aconteceu comigo. e logo você escuta as perguntas do seu filho: porque o cara tá chamando a mulher de cachorra? e outras desse tipo ou ainda piores. obviamente sou contra a censura. acho que o a sociedade deve sim ter o direito de se expressar como quiser, mas que os valores atuais dessa sociedade são uma aberração, isso são! ainda bem que a gente acaba aprendendo a lidar com as perguntas de nossos filhos, não é?
complementando… e não é só nos metrôs não! já fui em eventos em escola (escola considerada de boa reputação e tal), festas juninas, dia dos pais e etc., e fui obrigado a ouvir sertanejo universitário e até mesmo funk. tudo bem: menos agressivo o funk que executaram, mas ainda assim, um lixo. mas nem me preocupo com a minha sanidade mental nesse caso, e sim a qualidade daquilo que o meu filho escuta.
Basicamente: o seu direito vai até onde começa o direito do outro. Se o cara quer ouvir o funk mais horroroso de fone, sem atrapalhar ninguém, ótimo. Já ouvir num boombox, “dividindo” com o resto da humanidade, é errado.
sim exato! há até campanha em redes sociais: dê um fone de ouvidos a um funkeiro. rsrsrsrs
mas como regular essas coisas? não há como! o gênio que tentar censurar simplesmente fracassará.
creio que a única maneira é realmente educação de qualidade e acesso à cultura. quase uma utopia, como disseram aqui mesmo alguns posts antes.
Já vi cidades que proibem som automotivo alto e proibem som na calçada, etc. É simples. Eu acho justo.
além de justo, é sensato. mas no Brasil nem a lei do silêncio funciona. quer dizer, funciona pervertida – fecham-se casas de show, pub’s etc., mais cedo, acabando com a vida cultural e noturna das cidades. mas os carros com som potente continuam circulando tranquilamente. leis como esta funcionam em países com população educada, razoavelmente culta, com algum senso de cidadania.
Concordo, mas o problema é que com relação a música o consumo não se dá apenas em termos privados, se fosse assim estaria tudo certo, cada um que consuma o que quiser e está tudo bem. Caso contrário ninguém odiaria axé music, por exemplo.
Qual o problema de se ouvir qualquer coisa privadamente?
Ué, nenhum, eu disse que se fosse APENAS privadamente, ou seja, sem encher o saco dos outros, estaria tudo bem.
É simples, se o cara está desrespeitando a lei, ATIRE do alto do seu edifício um ovo podre, um tomate, uma melancia no capô do carro!!!
O bandidão NÃO vai mais desfilar na sua rua!
É hora de reagir!!!
O pior é que logo vou encontrar na rua um playboy com sua hilux tocando no volume máximo essa pérola pra todo mundo ouvir… crianças inclusive. E aí vem: “papai, o que é mamar o gr…?” É f…da…
A coisa mais surreal que eu já vi na TV aberta foi o Mr. Catra cantando em hebraico (ele dizia que era, não sei) no programa da Regina Casé.
Olha…….nem terminei de ouvir essa porcaria….mais o pior de tudo…e que esse tipo de tranqueira tem publico…pra tocar….em resumo e disso que o povo gosta….nos estamos perdendo tempo discutindo auto-censura, censura….quando tinhamos que estar discutindo é que num pais sem cultura nenhuma..qualquer porcaria vira expressao cultural…entao esse lixos tem espaço pra burro.
André
O Dicró pertence à era Vila Mimosa/ Lúcio Flávio/Amir Perbambuquinho/ Mariel Moryscötte de Mattos – respectivamente puteiro/bandido perigoso/jogador encrenqueiro/policial matador (pra garotada se situar).
Mr Catra é da geração Termas do Centro/Fernandinho Beira Mar/Goleiro Bruno/BOPE.
Na época era pornochanchada que só mostrava peitinhos, hoje a coisa é punk/hardcore.
Cada era tem seu poeta do submundo que merece.
Quanto a quem virá depois de Mr Catra? Nâo vamos sofrer por antecipação, né?
Ops…esqueci de incluir o Goleiro Bruno (adivinha de qual time?) em contrapartida ao lendário Almir Pernambuquinho.
O que vem depois de mister catra? Nada!! Isso é prova que o mundo vai mesmo acabar em 2012. Em alguns meses o mister catra vai reunir sua trupe e tentar fazer uma música ainda mais baixa que essa pérola. Nesse momento o universo vai colapsar em si, pois nada consegue ser mais baixo que essa coisa que acabamos de ver. Será o fim dos tempos em virtude do esgotamento da capacidade humana de produzir porcaria.