Jerry Lee Lewis: o último americano selvagem
03/05/12 07:01
Foi lançado no exterior “Whole Lotta Jerry Lee Lewis”, caixa de quatro CDs com 106 de suas melhores gravações entre 1957 e 1989. Não consigo pensar num presente melhor para o seu amor ou para você mesmo.
Por coincidência, esses dias andei relendo um livro sensacional sobre os primórdios do rock: “The Sound of the City – The Rise of Rock and Roll”, de Charlie Gillett.
Não sei se foi o bode causado pelo Lollapalooza e suas bandas horríveis, mas no último mês não consegui ouvir nada senão Fats Domino, Little Richard, Howlin’ Wolf, Bo Diddley, Eddie Cochran e, claro, Jerry Lee Lewis.
Adoro ler sobre os pioneiros do rock. A história deles é emocionante não só pela qualidade da música, mas pelas implicações sociais, raciais e geracionais da época. Nos anos 50, rock era a música do diabo.
Acho incrível como pode ter existido um sujeito como Little Richard – preto, gay e maluco, corrompendo a juventude com seus gritos histéricos e letras eróticas. Tinha que ser muito macho pra ser Little Richard em 1958.
Mas, de todos os heróis da gênese do rock, ninguém encarnou o fatalismo e niilismo do estilo como Jerry Lee Lewis.
Como escreve Nick Tosches em “Criaturas Flamejantes” (lançado no Brasil pela Conrad e que traz trechos do livro “Country – The Twisted Roots of Rock’n’Roll”):
“Podem falar dos depravados do rock and roll: Jerry Lee faz todos eles parecerem o Wayne Newton. Podem falar dos heróis do honky tonk: perto de Jerry Lee, eles são um bando de vomitadores em festas de repúblicas universitárias. ‘Quando nasci, meus pés saíram na frente e eu chacoalho desde então’, ele lhe dirá se estiver de bom humor. Seus servos e parentes dirão mais: Jerry Lee bebe mais, se droga mais, briga mais, xinga mas, atira mais e fode mais do que qualquer homem vivo. Ele é o último americano selvagem, homo agrestis americanus ultimus.”
Há alguns meses, entrevistei o jornalista Neil Strauss, autor de livros sobre Motley Crue e de entrevistas com rappers casca grossa como Tupac Shakur e Notorious BIG. Perguntei a Strauss quem era o artista mais amedrontador e estranho que já conhecera.
Resposta: “Sem dúvida, Jerry Lee Lewis. Foi o único entrevistado que me deu medo. Tive a impressão de que ele poderia me atacar a qualquer momento.”
Detalhe: Lewis tinha 65 anos quando Strauss o entrevistou.
Jerry Lee teve uma vida amaldiçoada: enterrou duas mulheres e dois filhos, tentou matar algumas pessoas (o número exato, só ele sabe), viveu tragédias shakespearianas, andou pelas trevas e sobreviveu pra contar a história. Se você se interessa pela mitologia do rock – e Jerry Lee é um mito – não deixe de ler “Criaturas Flamejantes”.
Mas nada disso valeria se não viesse acompanhado de boa música. E a música de Jerry Lee Lewis é um tesouro: dos primeiros compactos de rockabilly na Sun até sua fase country, passando pelo gospel, ninguém cantou e tocou piano com a intensidade de Jerry Lee. Vida longa a ele.
Foi o bode causado pelo Lollapalooza sim. Aconteceu a mesma coisa comigo durante o fatídico Rock In Rio.
talvez daqui 50 anos as pessoas possam ter uma visão diferente da que a gente tem hoje, eles podem achar que esse lixo de música que se faz hoje seja o supra sumo musical, mas verdade seja dita é uma porcaria o som que se faz hoje e que se ouve por aí.
É mesmo. Isso acontece. Se for assim, na Virada Cultural de 2045, haverá shows de Luan Santana e Gustavo Lima, que serão considerados cult e retrô. Claudia Leite e Ivete Sangalo disputarão audiência na TV com seus programas tipo Hebe. Medonho o futuro cultural.
Há um filme biográfico dele, que foi representado pelo Dennis Quaid. Bacana. Os artistas de antigamente eram tão mais interessantes. Dá pra comparar um Jello Biafra ou uma Debbie Harry com qualquer criatura que tenha tocado no Lollapalooza? Exceto Joan Jett, o resto é mediano ou abaixo disso.
Eu me pergunto se o Jerry Lee Lewis teve o azar de não morrer jovem e ser obrigado a envelhecer. Apesar de representar o rock’n’roll como ninguém, seu reconhecimento é menor do que um completamente sem talento que nem o Sid Vicious. Mudando para o Marc Bolan, Nick Kent disse que teve sorte de morrer jovem e antes que as pessoas o vissem gordo e lesado pelas drogas.
Cara, basicamente o J.L.L. se ferrou no rock’n’roll por ele ter casado com a prima de 13 anos. O Elvis estava servindo o exército americano e o “trono” estava vago. A bola da vez era o J.L.L., mas aconteceu dele se envolver com a garota e isto foi um tremendo escândalo para época. Claro, se ele tivesse morrido jovem como o James Dean, o Jim Morrison, o Jimi Hendrix, talvez o reconhecimento ao talento fosse maior. C’est la vie…
Mais uma dica, na verdade uma lição, sempre tive o Jerry Lee Lewis como um herói, desde os meus 9/10 anos, sim eu estava certo!
Vida longa ao bom rock and roll, independente da idade, pois música boa não envelhece.
Bela postagem, deu vontade de comprar o novo Box dele e ler o livro. Jerry é realmente fodão!
Só pra constar, achei aqui em Taubaté, na Americanas, o DVD de “Os Chefões”, por R$ 9,99. Adquiri, é claro.
Valeu!
OK, André. Você venceu! Mais um livro para comprar. Qdo vier a São Paulo e visitar a Livraria Cultura do Conjunto Nacional verá uma baixinha atrás do balcão dos pacotes. Sou eu pagando as dívidas com o Pedro Herzs. Mil abraços roqueiros, Paula.
Boa, Paula, mas procura tb na Estante Virtual, que sai bem mais barato.
“Nos anos 50, rock era coisa do diabo…”, então no século XXI, o rock foi pra Universal, tomou um “banho” de descarrego, e virou esse bode que é hoje…
E André, foi bom vc lembrar dos primórdios do rock pra lembrar que o rock tb é black music, só se miscigenou depois do surgimento do Elvis, the Pelvis….
Além de tudo o cara era primo do pastor picareta (pleonasmo) Jimmy Swaggart.
O velhinho bebaço no Jô Soares
http://www.youtube.com/watch?v=q-8duZeuxWw
Gosto do JLL… mas nessa de americano selvagem curto mais o Hasil Adkins que tem uma história de vida tão louca quanto a do JLL… se não for pior !!!
Um cara que eu vi no telão do show do Morrissey e gostei muito, não conhecia, Vince Taylor http://www.youtube.com/watch?v=GneoizCBddY
(Ôh) The last of the famous… international playboys!
Li o trecho da entrevista dele com o Strauss no “Everybody Loves You When You’re Dead” e até agora tô em dúvida se ele estava louco, surdo ou se fingindo dos dois. De qualquer maneira, deve ter sido uma entrevista treta – e olha que foi por telefone. Aproveitando: tem essa sua entrevista com o Strauss na web?
Fiz pro blog, foi há uns 45 dias, acho.
Gosto muito do Johnny Winter tocando (e cantando) Whole Lotta Shakin’ Goin’ On. JLL é dos tempos heroicos do R&R, nos ’70 a coisa já tinha virado bussinness e varrido da história o que era marginal. Agora, Gallagher da vida, só se for os irmãos do oasis. O cara nem pretendia ser rebelde, apenas tomar todas. E tocava mais do que EC e outras musas. Aos interessados em raridades, sugiro um lp (tenho apenas a gravação) de Pipe, Spoon, Pot & Jug, uma coletânea em vinil de ‘reefer songs’ vintage, Cab Calloway é um dos poucos nomes conhecidos. Tem pérolas como ‘knockin’ myself out’ e outras músicas com o tema, impensável para a época um disco desses lançado nos EUA.
Cresci ouvindo rockabilly e não consigo ficar muito tempo sem voltar a ouvir. Concordo inteiramente com o post: além da qualidade da música, os primórdios do rock são incríveis porque provocaram profundas mudanças culturais e sociais. Teve um show do JLL num estádio canadense, no final dos anos 60, em que não dá pra saber quem estava mais chapado, se os hippies no gramado ou o músico no palco… mas o piano do cara continuava infernal!
acabei de comprar o the sound of the city na amazon, kindle edition por 5,99.
pretendo ler um dia , ainda tenho o do Iommi, o do Led, o dos Stones, Do Floyd tudo tb eseprando p serem lidos…
mas fica a dica p quem quiser comprar, sempro compro livros usados ou kindle na amazon.
Rogerio, como é a entrega de livros usados no Brasil?
Eu compro direto pela Amazon, chega bonitinho. Tem levado uns 30 a 40 dias, por correio normal. Nunca fui taxado.
Livros são imunes dos impostos.
Na teoria sim, mas já tive pacotes com livros taxados, e o cara do correio me disse que eles só taxam acima de 50 dólares.
Constituição Federal de 1988
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(…)
VI – instituir impostos sobre:
(…)
d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.
Incluem-se aí os ebooks e ebook readers (exceto tablets).
Eu sei, Tião. Infelizmente, muitas coisas que estão na lei não são cumpridas – a Receita argumenta que “não sabia” tratar-se de livros. Da última vez que isso aconteceu, o rapaz do Correio disse que eu podia entrar com um pedido para receber o dinheiro de volta. Só a burocracia e o tempo gastos nisso custariam mais que o imposto.
livros são isentos de taxas. ao que eu saiba
Tenho uma empresa nos EUA que vende a diversos países, inclusive para o Brasil. Se a remessa contiver APENAS livros, é isenta de impostos, pode ter 10 mil reais de livro que passa direto, 100% das vezes.
A questão é que se junto vier UM filme – que em um país que leva cultura minimamente a sério deveria ser isento também – eles podem parar, por ignorancia e/ou má fé. No caso do André com certeza aconteceu isso.
Mas livros usados na Amazon não só chegam direto, como são uma barganha, comprei varios já por 99 cents que eram surpreendentemente novos e inteiros; com o frete sai um pouco mais caro – acho que foi uns 7 U$ – mas mesmo assim compensa muito.
O frete pro Brasil de um livro tem saído mais caro, coisa de 12 dólares.
comprei um blu-ray na Amazon (trilogia Poderoso Chefão) pela Amazon, paguei por volta de 45 dólares. Nunca chegou. Correios conseguiram o que queriam: nunca mais compro na Amazon.
Cesar, lamento pelo ocorrido; com relação a mim, realmente não tenho queixas, os caras sempre foram profissa demais. Um cd não chegou, me deram crédito e enviaram outro, pediram mil desculpas por email, foram super atenciosos. De uns 30 cds em várias compras (e vários vendedores também), um único não chegou. Normalmente respondem em até 48 horas a qualquer reclamação. Você correu atrás dos seus blu-ray ou deixou pra lá?
Barça, você comentou abaixo que em 1922 já citavam as palavras “rock” e “roll” em uma canção – mesmo não sendo rock -certo? Mas o “nomear” algo não envolve primeiro o “nascer” deste algo? Assim como o Steppenwolf cantou em 1969 “Heavy Metal [thunder]” e depois associaram o termo, assim como os “punks” (vagabundos, trombadinhas), depois foram associados visualmente as bandas do estilo? Creio que os pioneiros sejam mesmo quem começou a fazer o som mesmo… o “resto” é pura nomenclatura.