Tributo tardio a um Beastie Boy
08/05/12 07:05
Adam Yauch, mais conhecido por MCA, dos Beastie Boys, morreu sexta-feira passada, aos 47 anos, de câncer (e eu peço desculpas pela demora em publicar esse texto; o cara merecia mais pressa).
Musicalmente, o Beastie Boys foi um dos grupos mais influentes e importantes do pop nos últimos 30 anos.
Eles foram, para o hip hop, o que Elvis foi para o rock nos anos 50: alguém que chegou para os brancos e disse: “pode ouvir que isso é legal”.
Eles não foram pioneiros do hip hop. O que eles fizeram foi levar o gênero para o “mainstream” e apresentá-lo a um público cheio de preconceitos.
Lembro bem do choque que foi ver Kerry King, do Slayer, no clipe de “No Sleep Till Brooklyn”, em 1986: “Que p… ele tá fazendo num clipe de rap?”
Os Beastie Boys não estavam nem aí. Enxergaram, antes de todo mundo, o que ligava o Bad Brains ao Public Enemy, as conexões entre a guitarra de Kerry King e os “scratches” de Grandmaster Flash.
Assim que estouraram, com “Licensed to Ill”, obra-prima da velhacaria e uma genial fusão de metal e rap, a primeira coisa que fizeram foi levar seus ídolos em turnê. O line-up era Beastie Boys, Murphy’s Law e Public Enemy.
Ao juntar duas grandes influências – o rap do Public Enemy e o punk do Murphy’s Law – os Beasties pareciam dizer: “punk e rap são farinha do mesmo saco”.
E eram mesmo. Especialmente no caldeirão musical da Nova York do fim dos anos 70, onde o punk, o rap, o “no wave”, a música latina, a discoteca e tantos outros sons se misturavam nas calçadas. Os Beastie Boys só poderiam ter nascido ali.
Ao longo dos anos, o trio começou a explorar outros elementos em sua música, como o soul, o funk e até trilhas sonoras de cinema, criando uma sonoridade única e inconfundível.
Mas não foi só na música que os Beastie Boys deixaram sua marca. Seus videoclipes foram muito copiados em filmes e comerciais de TV.
Dos três Beasties, Yauch (a pronúncia correta é “Yawk”) era o mais preocupado com a criação de uma identidade estética para a banda.
Yauch sempre foi ligado em cinema. Usando o pseudônimo Nathaniel Hornblower, dirigiu vários videoclipes do grupo, como “Intergalactic”, “Shake Your Rump”, “Body Movin'”, “So What’cha Want”, “Shadrach”, “Three MC’s & One DJ” e “Pass the Mic”, entre outros.
Os clipes dos Beastie Boys sempre trouxeram surpresas. “Gratitude”, dirigido por David Perez, homenageava o cultuado filme-concerto “Pink Floyd: Live at Pompeii”, de 1972.
“Body Movin’”, dirigido por Yauch, trazia referências a “Danger: Diabolik”, filme de terror que o italiano Mario Bava dirigiu em 1968 (para quem quiser saber mais sobre as referências cinéfilas dos Beasties, sugiro ler esse artigo sensacional no blog do selo de DVDs Criterion).
E finalizo com duas dicas de DVDs: “Beastie Boys Video Anthology” (Criterion, 2000), com 18 videoclipes, entrevistas, storyboards, etc., e “Awesome! I Fuckin’ Shot That” (2006), que traz um concerto em Nova York, em 2004, em que os Beasties distribuíram 50 camcorders para fãs e usaram as imagens na edição final. Bonito demais.
Tarda, mas não falha.
Vivam os Garotos Bestiais.
Ave atque vale, beastie boy!