Outro filmão que os cinemas ignoraram
23/05/12 07:12
O lançamento de filmes estrangeiros no Brasil é esquizofrênico. Ótimos filmes não chegam ao país, enquanto abacaxis aportam por aqui aos montes.
Ainda não vimos, por exemplo, “Rampart”, o excelente policial de Oren Moverman com Woody Harrelson (leia meu texto sobre esse filme aqui).
Dia desses, li que “O Abrigo” (“Take Shelter”), de Jeff Nichols, será lançado em junho, direto em DVD.
O filme conta a história de Curtis (Michael Shannon), funcionário de uma empresa de perfuração de solo. Curtis é casado com Samantha (Jessica Chastain), com quem tem uma filha pequena e deficiente auditiva.
Curtis começa a sofrer pesadelos terríveis: vê uma chuva viscosa que deixa a cidade toda enlameada; vê revoadas de pássaros desesperados, fugindo de algum perigo misterioso.
Ele põe na cabeça que precisa construir um abrigo subterrâneo para salvar a família de uma tragédia iminente.
O filme acompanha a deterioração psicológica de Curtis e os efeitos de sua crescente paranóia na vida da família.
Pode ser visto como uma metáfora poderosa dos Estados Unidos pós-11 de setembro, um país que ainda não descobriu contra o quê, exatamente, está lutando.
A atuação de Michael Shannon é espetacular. Lembra dele? Fez o papel de Kim Fowley em “Runaways” e foi o bandido que vai cobrar a dívida de Ethan Hawke no sensacional “Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto”, de Sidney Lumet. Trabalhou também na série “Boardwalk Empire”.
Se você ainda não viu “O Abrigo” no Cine Torrent, aguarde até junho, quando sai em DVD. E fique imaginando como o filme seria na tela grande…
P.S.: Estarei fora boa parte do dia, por isso alguns comentários podem demorar um pouco a ser publicados, ok?
Vou conferir, sem dúvida. Continue nos brindando sempre com suas grandes dicas por aqui (de discos e livros também). E boa sorte pro seu Flu.
Barcinski,
Para ver um filme desses na maioria das cidades brasileiras, como é o caso da minha, só baixando na internet…
Obrigado pela dica. Bom mesmo esse filme. O primeiro filme do diretor, Shotgun Stories é muito bom tambem. E ele ta com um novo em Cannes chamado MUD, se procurar na internet tem até umas cenas ja rolando.
abraço
Valeu, vou conferir.
Michael Shannon está maravilhoso em “Revolutionary Road”. Deve estar ótimo como esse paranoico!
Cara, a coisa é tão surreal, que “Rum Diary” não entrou em cartaz aqui em BH.
Venho acompanhando o trabalho do Shannon desde que vi sua ótima atuação no filme “Meu Filho Olha o Que Fizeste!” do Herzog. Ator excelente.
Ele sempre está atuando no cinema independente e sendo ignorado pelas superproduções pois não tem os holofotes dos galãs e figurões de Hollywood. Espero que tenha uma chance para projetá-lo pelo menos para uma indicação ao Oscar.
Interessante, pus na minha lista. Mas, pesquisando na wikipedia, vê-se que a fita está praticamente divulgada em país nenhum. E que nos EUA ganhou lançamento limitado em NY e LA apenas. Ok, são as cidades que interessam, mas para o tamanho da América isso ficou muito a desejar. E talvez por isso poderíamos substituir a frase “O lançamento de filmes estrangeiros no Brasil é esquizofrênico” simplesmente por “O lançamento de filmes hoje é esquizofrênico”, não?
Certamente o filme está disponível em DVD, ou no Netflix, ou em inúmeros canais nos EUA e Europa. Claro que não foi um megalançamento, mas ele é encontrável.
Jr., você está se referindo somente a este filme, mas no quadro geral, o Brasil ainda assim bastante esquizofrênico no lançamento de filmes nos cinemas. São vários e vários títulos anunciados para as telas grandes que depois vão direto pro DVD. O circuito de filmes “de arte” aqui encolheu bastante nos últimos anos, saiu matéria recente sobre isso no Valor. Mesmo nas capitais com mais salas de cinema como São Paulo e Rio, a proporção de lançamentos de filmes não hollywoodianos tem sido menor que em outras cidades grandes de outros países, como NY, Madri ou Paris.
Barça, o Michael Shannon não faz um personagem parecido no “Possuídos”, do William Friedkin?
Juro que não lembro de ter visto esse filme do Friedkin…
Esse filme é baseado numa peça, e o Shannon foi chamado pra interpretar o msm papel q ele já fazia na peça. Veja, Barça, vale a pena, é um tratado sobre sugestionamento.
Praticamente só ele e a Ashley Judd em cena. Não gosto dela, mas ela tá bem no filme. Acredito ser a melhor performance dela, disparada.
verei com certeza, depois dessa descrição.
Assisti e achei uma mega bomba.
isso mesmo, Alex. o cara é bom em papéis de doido…
e a Ashley Judd é enjoada, mas a gostosura dela compensa…
Depois que eu li isso: http://cinemacao.com/2012/04/30/meirelles-desiste-de-filme-por-causa-de-xingu/ estive pensando de quem é a culpa por nós termos filmes tão ruins ultimamente nos cinemas…
Para variar o Meirelles está sempre fazendo uma leitura errada. Ele nunca pensou que foi o público que desistiu dele e não o contrário? Os argentinos com uma economia baleada fazem filmes que dão público aqui e lá. Meirelles nunca pensou o por que disto?
Feliz em ter inspirado um pouco este post, com um comentário há alguns dias… hehe
Um grande filme realmente.
Abraço e q haja um “Cala-te Boca” logo mais….
Um outro filme fantástico com Michael Shannon e dirigido por Werner Herzog é “My Son, My Son, What Have Ye Done” que, acho eu, nem em DVD foi lançado por aqui. E ainda lembro o filme em que Shannon me chamou a atenção: Possúidos (Bug) do Willian Friedkin.
Particularmente achei que esse filme não é aquela coisa toda, e eu sou fã doente do Herzog, mas este filme é bem fraquinho… vale pelas atuações do Shannon e do Dafoe.
Off Topic: não estou fazendo propaganda do evento, queria apenas dividir a informação que pode interessar a alguns aqui. Estava vendo a programação do Cultura Inglesa Festival e no Sábado as 16h vai ter um bate papo com o Julien Temple, diretor do The Great Rock and Roll Swindle e o The Filth and the Fury. Para quem curte ou se interessa pelo Punk inglês é uma oportunidade imperdível.
Demais, nem sabia disso. Imperdível mesmo.
se eu nao me engano o julien temple cancelou sua participacao…
Infelizmente ele cancelou a visita.
http://cinema.uol.com.br/ultnot/2012/05/22/diretor-julien-temple-cancela-participacao-em-festival-paulistano.jhtm
Para quem gosta de cinema, seria ótimo.
André,
post off topic: há alguns meses atrás, em um post, vc havia contado sobre problemas com funcionários e etc. (o post falava sobre “o caso da vodka fantasma”), e que o perfil mais comum do funcionário brasileiro é aquele do sujeito que, se puder, arranja desculpa e nem sai de casa pra trabalhar. Pois é: hoje, em plena greve de metrô e trem, estou lá no ônibus e escuto essa: “Vou chegar, bater o ponto, almoçar e sair fora”.
Dá pra ser feliz desse jeito?
Não mesmo.
“Um erro deles justifica um erro meu também”. Essa frase virou um lema que nós brasileiros seguimos muito bem.
Alguém outro dia aqui recomendou num dos comentários e baixei no Cine Torrent.
Grande filme. A atuação de Shannon assusta, de verdade. O filme caminha entre o thriller psicológico e o terror.
Duas cenas absurdas de boas: a do almoço na comunidade e quando eles estão dentro do abrigo. Shannon no limite!
“Pode ser visto como uma metáfora poderosa dos Estados Unidos pós-11 de setembro, um país que ainda não descobriu contra o quê, exatamente, está lutando.”
SE MATA!
Vc poderia elaborar, por favor?
Não faz isso que ele elabora tua morte!
Só fiquei curioso, pq foi um comentário incisivo, mas não ficou claro por quê.
O amigo Lorde Jim deve ser um terrorista que ficou viúvo após a morte de Osama Bin Laden.
10 anos após o atentado dá pra dizer que o 11/09 rendeu poucos filmes que lidam diretamente com o tema. comparado à guerra do vietnã, por exemplo, o resultado é pífio. há 10 anos atrás eu achava que haveria uma avalanche de filmes assim, já que americano adora exorcizar suas dores e traumas em celulóide. me enganei…
cara! metáforas sobre os EUA estão passando no CCBB SP na mostra sobre o Douglas Sirk, vc pode falar disso? Ou a Folha não deixa???
O Inacio escreveu sobre a mostra do Sirk e o Inacio, caso vc não saiba, é da Folha. Informe-se antes de escrever besteira. Nada mais patético que revoltadinho anônimo e pedante.
A descrição do filme me fez lembrar de “O iluminado”, do Kubric.
Esse filme segue a linha de “A Promessa”, com Jack Nicholson ou estou viajando? Uma vez você indicou este filme e valeu a pena assistir.
Abraços
Não, “A Promessa” é um filme policial, esse é um drama psicológico. Mas os dois têm personagens atormentados…
Outro que não para de ser adiado é o “This must be the place”, do Paolo Sorrentino e com o Sean Penn. Era março, foi pra abril, maio, junho e agora fim de agosto.
Talvez os piratas descubram esse filão.
É ruim hein!
Sou fã do Michael Shannon desde seu papel em “Revolutionary Road”. Vejo e revejo o filme e nunca me canso de sua atuação como um professor de matemática que acabou de sair de um hospício após um esgotamento nervoso. Seu agente Van Alden em “Boardwalk Empire” só aumentou a minha admiração por esse ator.
Muita coisa não dá pra entender mesmo sobre as “faltas” em nossos cinemas… sabemos que os filmes menores tem restrição de copias. mas é difícil entender/aceitar alguns critérios. por exemplo, em Maringá temos 18 salas de cinemas onde entram quase todas as estreias. mas ainda não chegou “O corvo”, com John Cusak, que acredito ser mto mais interessante que algumas bombas em cartaz.
Barcinski, alguma idéia que justifique tal esquizofrenia dos lançamentos aqui no Brasil? Abraço.
Não tenho a menor idéia. Mas sempre foi assim, ótimos filmes não chegam e filmes péssimos chegam toda semana.
Quer um exemplo maior do que Guerra ao Terror, que foi lançado inicialmente apenas em vídeo e só descobriram a cagada quando ele foi indicado ao Oscar.
E com esse título ridículo que desvirtua totalmente o filme e o faz parecer um panfleto pró-EUA.
Aliás, um ótimo filme, quando aluguei pela primeira vez achei que era mais uma daquelas propagandas e que iria ser uma simples diversão, mas descobri um grande filme, tenso p/ cacete e que me prendeu quase sem fôlego do começo ao fim.
Simplesmente não chegam porque 90% das salas multiplex, resultado e causa parcial da extinção dos cinemas de rua, pertencem a grupos ligados as grandes produtoras dos EUA. Não chega porque não dá lucro. Poderia chegar nos Artplex da vida, mas estes também tem lentamente enveredado por um estilo de filme que não é nem blockbuster, nem cinema de arte, um meio-termo-estético como o Almodovar atual ou Woody Alen. Neste sentido, não chega por azar, ou pelo relativo desconhecimento de atores e direção. Os 10% das salas que pertencem a grupos brasileiros também querem lucrar, por isso não passam tais filmes. Aliás, um sinônimo para o Cinema da Retomada, da fase pós-2002, é mercado, filme-mercadoria. Os diretores não saem mais das fileiras dos partidos ou mesmo das escolas de cinema da Europa; saem do meio publicitário, praticamente todos aqueles que dirigem atualmente, inclusive o ótimo Beto Brant. Há outras exceções, mas a lógica dominante é essa. O cinema no shopping é uma mercadoria como outra qualquer, a telona transmutou-se em vitrine. Filmes bons, de fato, somente nas mostras e festivais. Abraço
Resumo perfeito, é isso mesmo. Outro dia estava pensando sobre isso: quando não havia VHS e ninguém pensava que um filme seria visto depois do lançamento, seja em vídeo ou TV, os diretores ousavam muito mais, porque uma vez que o espectador tivesse comprado seu ingresso, já era, a missão” do filme estava completa. Hoje não, tudo passa por testes, por análises de marketeiros e testes com público. O resultado é esse cinema insosso e desfibrado que temos hoje. Uma tristeza.
Poxa, o Michael Shannon no “Antes que o Diabo…” é muito bom. Ele aparece apenas por apenas alguns momentos mas é intimidador e seco como poucos personagens.
Mas a primeira vez que “notei” ele foi no Possuídos do William Friedkin, que acho um filme sensacional. E, pelo que vc colocou, tem uma rima temática com esse filme pela “deterioração psicológica” do personagem.
Na verdade, ele tem meio uma cara meio esquizofrenica/psicopata. Gosto dele.
André, queria saber a sua opinião sobre 2 filmes: ”Irreversível”(do cineasta argentino Gaspar Noé) e ”Dia de Treinamento”(com Ethan Hawke e Denzel Washington)
Gosto muito dos dois, apesar de “Irreversível” ter umas cenas tão brutais a ponto de serem repulsivas.
Não tive coragem de ver “Irreversível”, só as sinopses já são de arrepiar. Mas “Sozinho contra todos”, o filme anterior de Noé, é excelente.
E “Into the Void” tb é muito bom.
Só consegui ver ”Irreversível” mesmo. ”Sozinho contra Todos” e ”Into The Void” não consegui achar nem nas locadoras que eu freguento e nem pra venda em DVD…
Pra vc ver como é esquizofrênico o calendário de lançamentos por aqui…
o shannon tb arrebentou em “revolutionary road” mesmo tendo apenas três ou quatro cenas. é o personagem que detona a crisis do casal kate winslet & leo di caprio…
Houve uma única exibição no Festival do Rio 2011, na qual estive presente. O filme é genial e, na minha opinião, um dos melhores lançados ano passado. Excelente recomendação!
The Misanthrope (full)
http://www.youtube.com/watch?v=PW2bUOdvuE8
E a parceria entre Shannon e Nichols já havia rendido um outro grande filme “Shotgun Stories”.
Esse não vi ainda. É bom?
Muito, e o Roger Ebert concorda: http://rogerebert.suntimes.com/apps/pbcs.dll/article?AID=/20080605/REVIEWS/806050305
Boa pedida André. Acho o Michael Shannon um puta ator. Apesar da participação pequena, foi de longe o melhor ator em Revolutionary Road (Foi apenas um Sonho) do Sam Mendes. Sei que vai parecer (e é) clichê, mas tenho certeza que ele vai roubar a cena como vilão no próximo filme do Superman.
Espero que ele não siga o caminho do Nicolas Cage pós blockbuster (com algumas maravilhosas exceções: Adaptação e Vício Frenétio que, aliás, tem uma quase ponta do Shannon.
Tbm concordo que a atuação de Shannon em Revolutionary Road é fantástica!
Realmente, um grande filme. Também recomendo. E confesso que dei sorte porque consegui ver no cinema, no Festival do Rio. Sair direto em DVD é um pecado.
E hoje Barça, todos ao Engenhão.