O dia em que Malcolm 10 enforcou Jesus
29/05/12 07:05
“Por erro de edição, na coluna de Álvaro Pereira Júnior, “Quando a música termina”, o nome da banda inglesa XX foi substituído por “século 20” no trecho ‘Na demência dos Cramps, (…)’”.
Esse texto foi publicado domingo na seção “Erramos”, da Folha.
Sou fã do “Erramos” e de todas as seções semelhantes em outros jornais.
Além de achar divertido ler sobre os erros, acho que admitir o engano é uma obrigação do bom jornalismo.
Erros desse tipo não são incomuns. Na Folha, que não permite o uso de algarismos romanos, já aconteceu de um redator confundir o nome do líder negro norte-americano Malcolm X e escrever “Malcolm 10”.
Em outra ocasião, o curso de inglês “Cel Lep” virou “Coronel Lep”.
O grande maestro Eleazar de Carvalho já teve seu sobrenome publicado sem o “v”.
Que jornalista nunca cometeu gafes?
Uma vez, fiz um texto sobre o grupo Ira. Por alguma razão escondida em meu subconsciente, escrevi que o baterista da banda, meu xará André Jung, se chamava CARL Jung.
Por sorte, um redator esperto percebeu o erro.
Menos sorte teve o saudoso Daniel Piza, autor de um artigo que rendeu a seguinte errata:
“Diferentemente do que foi publicado no texto ‘Artistas ‘periféricos’ passam despercebidos’ (…) Jesus não foi enforcado, mas crucificado (…)”
Pressa, prazo apertado, falta de atenção, cansaço… Muita coisa pode fazer um jornalista culto e inteligente como Piza cometer um erro desses.
O negócio é assumir o erro e tentar não repeti-lo.
Lembrei outra gafe que cometi: em 1994, na Copa do Mundo nos Estados Unidos, fiz a crônica de um jogo da Alemanha contra a Bélgica.
Naquele jogo, o veterano Rudi Voller marcou dois gols para a Alemanha, mas foi vaiado pela torcida. Eu escrevi que a torcida, inexplicavelmente, estava pegando no pé do jogador.
Depois, conversando com um jornalista alemão, percebi a gafe: o público não estava vaiando, mas gritando “Ruuuuuuudi! Ruuuuudi!” Parecia uma grande vaia.
Outro caso bizarro: no fim dos anos 80, o jornal em que eu trabalhava fez um perfil de Warren Beatty. O artigo informava que o astro do cinema estava namorando a cantora Madonna.
O redator da primeira página deve ter passado os olhos no texto rapidamente e, sem pensar muito, tascou a chamada: “WARREN BEATTY NAMORA MARADONA”.
Como minha memória já não é das melhores, escrevi a um ex-colega do jornal para confirmar que a chamada de capa tinha realmente sido publicada.
Resposta dele: “Não lembro. Aquele Dreher todo que eu tomava no boteco em frente não me permite lembrar essas coisas”.
P.S.: Inspirado pelo tema, pedi a amigos jornalistas que lembrassem outras gafes cometidas por nós. São tantas – e tão boas – que farei outro post amanhã com as melhores.
Lembro de um jogo duma copa (94 ou 98) em que o José Roberto Writh era comentarista. Era do tipo Estônia x Nicarágua, bem ruinzinho. No final, perguntaram ao Writh o que ele achou do trabalho do juiz e ele disse que o jogo foi uma teta. No dia seguinte, comentando Marrocos x Irã o Writh emendou tipo “ontem eu disse que o jogo foi uma teta e a turma não gostou, então hoje vou dizer que foi um jogo fácil para a arbitragem”.
WRONG, o nome dele não é “Writh” mas sim WRIGHT. Desculpe, não pude perder a piadinha…
O Bom Dia Brasil divulgava as principais manchetes e Alexandre garcia lê assustado que “Camelos invadem o centro de Manaus”, haviam esquecido o acento circunflexo de “camelôs”. E o centro de Manaus virou um mercado persa com camelos e camelôs.
Agora bateu saudades do Piza,a quem eu lia desde os meus 20 anos.Jornalista raro.
Caro André,
Uma vez, fazendo um perfil de Tobey Maguire para o jornal onde trabalhava, elogiei sua atuação em Beleza Americana. A matéria saiu, beleza. Tempos depois um colega me contou que um leitor tinha notado o erro. Só então fui me dar conta de que Tobey Maguire não estava no elenco do filme. A grande atuação era de Wes Bentley. Não soube, obviamente, onde meter a cara.
Teve uma caso semelhante ao do Völler na Copa da Africa do Sul. O jogador da AFS era o zagueiro Booth e a torcida gritava Boooooooth. O Galvão Bueno achava que vaia…
classica!
http://www.youtube.com/watch?v=TSpjRfqmZDg
o Maurício Krubusly ..( e eu já começo errando o sobrenome do cara) cometeu uma gafe durante a transmissão do hollywood rock no início dos anos 90….Era dia de metal farofa e o Skid Row tocou na sequência do Extreme. O vocalista Sebastian Bach e não poupou palavrões na hora de rasgar elogios a banda de abertura, tipo… Extreme.. these motherfuckers kick your ass, right? Foi o suficiente pro jornalista anunciar uma crise. ” E o clima continua pesadíssimo entre as bandas… Assim como já havia feito em São Paulo, Sebastian Bach volta a ofender os membros da banda Extreme, rsrsrsrs
Muito bom quando você faz esses posts que atiçam o pessoal a contar/compartilhar suas histórias; tem ótimas aqui. Se você não tiver limite de caracteres, pode entupir de “causos” amanhã….hehehe.
Eu li esse texto do Álvaro….muito, muito bacana, apesar de meio deprimente.
Um clássico simbolista foi contado pelo João do Rio no Correio Paulistano em 1905. O Barreto escreveu uma crônica contando sobre uma das breves experiências do poeta João da Cruz e Sousa num jornal da então capital federal. O poeta estava no plantão e o editor avisou antes de sair. Cruz, seja objetivo, nada de poesia. Pois não é que pegou fogo numa fábrica e o poeta lascou na manchete: Vaporoso incêndio, ao invés de Pavoroso incêndio. Foi demitido, naturalmente.
O Moacir Japiassu (por onde ele anda?) tinha, há uns 15 anos, um programa na rádio CBN dedicado a falar sobre erros saídos na imprensa. E ele também publicou um divertido livro- que eu tenho – chamado “Jornal da Imprença” (assim, com “ç” mesmo, por óbvio) em que ele se dedica às gafes publicadas em jornal. Também há uma radialista carioca, de cujo nome não lembro agora, que faz espetáculos de teatro divulgando gafes em programas e transmissões de rádio. Ele já esteve algumas vezes no Jô Soares. Vale a pena ver.
Carlos, o Japiassu mantém uma coluna no Comunique-se exatamente com esse nome, “Jornal da Imprença”.
Olá, Elaine. Obrigado pela informação! Este “Comunique-se” é um site, um programa de rádio, TV? Sou de São Paulo, talvez não seja alguma coisa daqui. De qualquer forma, bom saber que o “Moaça” continua na ativa!
O Comunique-se é um site voltado pro pessoal da área de Comunicação: http://www.comunique-se.com.br. O “Jornal da Imprença” é uma das editorias do portal…
E ai Barça o que vc achou do SNL brasileiro?
Não vi ainda, preciso ver.
Como não sou jornalista, sou só um leitor e fã, nem imagino por que a Folha não permite algarismos romanos. Fiquei curioso. Qual é a explicação?
Está no Manual de Redação para evitar usar algarismos romanos. Não lembro se explicam a razão.
Fui pesquisar e descobri que é pra facilitar a leitura:
“Seguindo tendência de simplificação, a Folha não usa algarismo romano, exceto em transcrição de texto legal e nomes próprios como XV de Piracicaba (time de futebol). Nomes de soberanos e papas são grafados com algarismos arábicos (ordinais até 10º e cardinais daí em diante): João Paulo 2º; Carlos 5º; Leão 10º; Luís 14; João 23.”
Assim o leitor não tem que interromper o processo mental pra traduzir João XXIII, por exemplo. Faz sentido, mas, pessoalmente, acho desnecessário, parece que isso meio que subestima os leitores.
O que eu achei mais engraçado foi a citação ao time da minha cidade, coitado…
André, lembrei que foi assim que surgiu o bairro chamadao REALENGO, no Rio de Janeiro. Na época do Império, havia uma placa indicando que lá ficava o Engenho Real, ou Real Engenho. mas a palavra engenho foi abreviada (Engo), para caber na placa, ficando : REAL ENGO.
Demais a história, não sabia.
“Após perder anel no banheiro, Neymar se apresenta à seleção” http://www1.folha.uol.com.br/esporte/924366-apos-perder-anel-no-banheiro-neymar-se-apresenta-a-selecao.shtml
Sensacional!
Quem pegou o anel do rapaz?
Lembro quando o jornal A Gazeta mandou a frase “vá se f _ _ _ _” para seus leitores.
Link abaixo:
http://gafesdaimprensa.wordpress.com/2009/03/04/jornal-do-espirito-santo-manda-o-leitor-se-f/
Pô, já aconteceram algumas situações chatas e engraçadas comigo.
Trabalho no Ministério Público e, ao nos dirigirmos aos juízes nos processos, opinamos para que os pedidos das partes sejam acolhidos ou não.
Em determinada oportunidade, saiu assim: “Isto posto, opino pelo acolhimento do PEIDO” (faltou o primeiro “d” da palavra “pedido”)….
kkkkk
Um colega meu ligou para determinado setor onde trabalhava para sacanear um outro colega e, mal atenderam o telefone, soltou: “Aê, nessa vida boa, hein? Todo mundo coçando, ninguém trabalha mesmo nessa zona, né?”, no que responderam, “O senhor sabe com quem está falando? O senhor está falando com o Presidente da Empresa”, no que meu colega continuou, com o que sobrava de coragem: “E o senhor? O senhor sabe com quem está falando?”, e do outro lado o homem, já alterado: “NÂO! COM QUEM?!”, e meu colega: “Ainda bem…” e desligou.
essa é mais velha que cagar sentado
Lembrei de uma do Pedro Bial, que estava cobrindo alguma tragédia, entrou no ar e sem perceber mandou: ” Hoje estou numa puta ressaca do caralho…” A cara de espanto dele olhando para a câmera e depois disfarçando como se nada tivesse acontecido quase me fizeram molhar as calças de tanto rir…
tem a “colocar só a veia” que já deve ser clássica: http://gafesdaimprensa.wordpress.com/2009/03/05/colocar-so-a-veia-2-a-retratacao/
Clássica demais. Mas espera pra ver as que selecionei pra amanhã…
e saber que Jesus também não foi cruxificado e sim pregado numa estaca de tortura – staurós em grego.. Não adianta correr no wikipedia – tá tudo bagunçado lá….. o certo seria dizer Jesus foi morto e tal e etc
Jesus negão!
Muito legal o texto, André.
Um erro ocorrido no meio jornalístico tem muito mais repercussão porque atinge um número enorme de pessoas. Mas no Direito também há alguns casos hilários, ainda que normalmente fique restrito às partes e ao juiz, apesar de o processo ser público.
Por exemplo, tem corrido na internet um caso em que os advogados de um processo, equivocadamente, juntaram aos autos (no STJ) uma receita de bolo (veja em http://migre.me/9hgVW).
Em uma outra ocasião, não se sabe o motivo, o servidor de uma vara cível de São Paulo publicou no Diário Oficial uma resenha de novela no lugar do despacho do juiz.
Abraços
Barça, imagina se logo após o pequeno emo Pe Lanza pegar a Ellen Jabour saísse a manchete: “Padre Lanza pega a Ellen Jabour”. Seria um sacrilégio.
Cara, eu juro que achava que era “Padre Lanza” mesmo, na linha do Padre Marcelo Rossi e similares.
Off topic.
Ontem no TCM passou Sea of Love. A cena da Ellen Barkin praticamente estuprando o Al Pacino ainda me dá um negócio até hoje, mesmo 20 anos depois.
Que mulher é aquela, cara??? rsrsrs
Inigualável Ellen Barkin. Fui entrevistar a mulher uma vez e quase dei vexame, não consegui nem falar.
Cara, eu vi esse filme ontem também…..puta cena absurda…..puta mulher maravilhosa.
Eu era repórter da editoria geral do NP e durante um fechamento cabuloso em 2000 eu escrevi CET (Companhia de Engenharia de TRÁFICO). O Marcos Nogueira, na época editor, leu e não percebeu o erro. Saiu no primeiro clichê. Só no segundo clichê que Tráfico foi trocado pelo correto tráfego.
Pô, Ortega, mas todos precisam de engenharia, até o tráfico, não?
Esta gafe é crássica lá em Minas. O ex-goleiro do Atlético, Kafunga, era comentarista esportivo da, acho, TV Itacolomi. Todo domingo, por volta da oito da noite, havia uma resenha esportiva comentaNdo a rodada do Ruralzão (o campeonato mineiro). Então, era domingo, clássico Atlético x Cruzeiro tinha rolado cheio de polêmicas, deu oito horas, nada do Kafunga chegar. Lá pelas 08:30 da noite, chega o esbaforido Kafunga. Coloca microfone, se ajeita e o apresentador vira pro Kafunga e brinca: Perdeu a hora a Kafunga? O programa já começo há meia hora!
Kafunga, ao vivo, diante de toda a família mineira responde:
Cara, o trânsito na Avenida Amazonas estava simplesmente EMBUCETADO!!!
O Kafunga teve outra clássica. O Galo foi jogar lá em Uberlândia. O jogo foi horrível e ele soltou essa: “A gente viaja prá longe, nessas estradas perigosas. Chegando lá o quê que a gente vê? Uma senhora pelada!”
Jesus enforcado é incrível! Mas acho que a gafe do seu colega foi motivada por décadas de história oficial que insiste em representar Tiradentes – o verdadeiro enforcado – com a figura do Messias.
Fui lá no texto do Álvaro Pereira Júnior ver como ficou o erro de edição, e levei um susto com o conteúdo. O cara finalmente aceitou ficar adulto. E vai ser muito bom para uma parte de seus leitores. Eu sempre curti mais suas dicas de leitura: revistas, livros, sites etc. Ficava um pouco incomodado, sendo da mesma geração, em acompanhar aquela enxurrada de novidades musicais indies (“como ainda pode se interessar por isso, e, pior, levar a sério, analisar…”, eu pensava). Mas permanecia leitor, na minha, aguardando mais um link para mais uma matéria numa revista estrangeira. Agora vai ficar bom demais. Não quero perder nada. E para ele, até ouvir música será melhor; totalmente livre de obrigações novidadeiras, cair de boca (de ouvido) em velharias, se encantar com uma coisa nova legal, mesmo que não seja alternativa, sem obrigação de ser ou parecer nada. Apenas porque soa bem. Agora virão os textos que não ficarão datados.
Trabalhei em um jornal do interior de SP e, certa vez, fiz uma matéria sobre um sujeito preso por estuprar uma criança. Infelizmente, na pressa, copiei errado os dados do boletim de ocorrência. Coloquei o nome do POLICIAL que atendeu a ocorrência como sendo o do estuprador. Desespero! No dia seguinte fomos atrás do PM para pedir desculpas.Tentei remediar dizendo que a matéria não o caracterizava como “O policial militar fulano de tal”, mas, como “O pedreiro fulano de tal”. Barça, nosso azar estava tão grande que, por coincidência, o tal PM também fazia bico como pedreiro no bairro dele, sendo muito conhecido por seus dotes de construtor. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
Bom demais!
André, esses erros são mesmo engraçadíssimos e, quando vêm de jornalistas sérios, vira lenda. O duro é quando essas “gafes” são frequentes. Já reparou na quantidade de absurdos que o Terra coloca na sua página?
Em tempo: QUE SAUDADE de ler o blog do Daniel Piza! Era minha primeira leitura, todos os dias; quando ele morreu, o seu blog pulou pro topo nos meus favoritos.
Abraço!
Mas acontece o contrário, quando o entrevistado dá uma gafe: caso de um jogador que ao ser perguntado pelo repórter de campo por que pediu pra sair, responde “com riqueza de detalhes” que o problema é uma “caganeira” e que ficou a tarde toda no trono. O reporter e o narrador ficam totalmente desconsertados. Tem no Youtube: http://youtu.be/TSpjRfqmZDg
Hélio, isso não é nada comparado com o Gil, que na época jogava no Cruzeiro. melhor é a reação do repórter http://www.youtube.com/watch?v=c4xUZnpYOJg
hahah essa é clássica! “um jogador profissional numa rádio católica!!”! haha