O disco que inventou os anos 80
31/05/12 07:05
Todo mundo tem uma fase em que redescobre um disco que não ouvia há muito tempo.
Há uns dois meses, tirei da estante o vinil de “Avalon” (1982), último disco de estúdio do Roxy Music. E a bolacha ainda está na vitrola, em alta rotação.
Muitos insistem em incluir “Avalon” na onda new romantic que tomava conta da Europa no início dos anos 80 e que incluía nomes como Duran Duran, Spandau Ballet, ABC, Ultravox e Visage.
Mas acho errado incluir o Roxy Music nesse leva, já que a inspiração maior dos new romantics sempre foi o próprio Roxy Music.
Tem mais: “Avalon” inspirou outros estilos, como o gótico, o ambient e o synthpop. É um daqueles discos que marcam gerações.
Lembro muito bem de fãs do Sisters of Mercy carregando o vinil de “Avalon” debaixo do braço. E quem não lembra da cruz banhando Bryan Ferry de luz no clipe de “More Than This”?
Ao mesmo tempo, já ouvi artistas ligados ao ambient, como The Orb, contando como foram inspirados pelas texturas etéreas e tranquilas do disco (curiosamente, mas nunca ouvi David Byrne dizer que imitava o estilo vocal de Bryan Ferry, mas deixa pra lá…)
O Roxy Music sempre esteve um passo à frente da concorrência. Era eletrônico demais para ser “glam”, chique demais para ser punk e velho demais para ser “new” romantic. Sempre pairou acima de estilos e tendências.
“Avalon” tem um clima gélido de elegância europeia, uma fleuma que faltava a muitas bandas da geração new romantic, jovens demais para parecer blasé de forma convincente.
E os clipes? Bryan Ferry parece dizer: “Ah, isso é a MTV?” Então tome clipes (“Avalon”, “More Than This”) que ajudariam a criar a estética chique-futurista-onírica que dominaria 90% dos clipes de bandas dançantes dos anos 80.
Deixo vocês com duas homenagens bonitas a “Avalon”:
A primeira, um artigo sensacional da revista “Mix”, sobre a gravação do disco (leia aqui).
E a segunda… Bom, veja aqui…
Estarei sem acesso à Internet até o meio da tarde. Por isso, alguns comentários podem demorar a ser publicados, ok?
Barça, que legal, vc está ajudando a montar uma cena dos anos 80/90 que eu lulgava perdida, quando eu praticamente desisti de tentar ouvir rock e passei a me dedicar ao jazz (o que foi uma boa coisa, mas é otra história).
Suas dicas recentes do Wilco, que eu desconhecia totalmente, e outras, foram muito boas. E agora esse Avalon, cuja banda eu só conhecia de nome (e não gostava…do nome).
Vc faria outras recomendações do Roxy?
Os 3 primeiros discos, com certeza.
Eu recomendo o quarto também: “Country Life”. Além da música ótima, a capa é um achado irônico e ousado.
Agora sei de onde vem o Eco dos homens-coelhinhos.
Andre otimo texto!
Quanto a um single/disco que inventou os anos 80 foram na verdade dois:
Kraftwerk – “Trans Europe Express” e
Donna Summer – “I Feel Love”.
Duas canções clássicas e cujas influências são sentidas até hoje. mas acho que foram mais influentes nos anos 70.
Barcinski, você não acha que o Closer, do Joy Division também teve uma influência grande na música dos anos 80 e início dos 90?
Sem dúvida.
Jovane, na boa cara…Kraftwerk já estava na cena desde os anos 60, e Donna Summer do início dos anos 70…inclusive com “I feell Love”…vc ouviu nesta época…mas, a Disco Music é dos anos 70.
Barça: to viajando aqui… fui re-ouvir tudo do Roxy e não consegui entender o link entre a voz do Byrne e do Ferry. O Ferry usa(va) vibrato além da conta, principalmente no começo do Roxy (coisa de quem está aprendendo a cantar. Depois virou estilo). O Byrne canta as vogais bem mais abertas, quase escancaradas… poderia rolar uns exemplos, please?
abraço!
O Byrne copia até o sotaque do Bryan Ferry! Ouça os primeiros discos do Roxy Music e vc verá…
Pois é… ouvi Roxy, For Your Pleasure e Stranded e não consegui ver paralelo.. enfim, vou ouvir de novo e apurar meus ouvidos 🙂 Sotaque?? Really?!?
Demais, presta atenção. O Byrne tenta parecer ser inglês, é até engraçado.
Wait, o Byrne é escocês e, depois, viveu no Canadá! Será que não seria uma memória da infância se manifestando? O sotaque pode vir daí…. Percebe que sou fã do Byrne?
Tb sou fã de Talking Heads. Mas já entrevistei o Byrne, e sei que ele não tem o sotaque com que canta.
I rest my case then!
Obrigado, Barça! Tenho 16 anos e, chutando todos os produtos midiáticos medíocres, iniciei uma pesquisa musical mais profunda. Ontem à noite baixei esse disco. Estou gostando bastante dele. Graças a você, conheci diversas obras primas. Inclusive, perdi a empolgação com o Muse descobrindo o punk rock, como você já previa naquele artigo em que deixava claro seu ódio à banda. Abração!
Caracas, que bela capa. Vou ativar o torrent jah.
o roxy music e demais! ate concordo com algumas pessoas que acham o bryan ferry pessoalmente meio manolo otelo, mas do som, que e o que importa, nao tem como falar mal.
As bandas new romantics imitavam o Roxy Music no glamour, na aparência e tal, mas musicalmente eram uma caricatura deles. Agora, se tem uma banda que partiu da influência do Roxy Music e chegou a um som próprio e muito interessante, foi o Simple Minds em sua primeira fase, até o New Gold Dream. É inacreditável que tenham virado um sub U2 logo depois. Até hoje fico impressionado com o que o Simple Minds fez no começo dos anos 80.
Concordo 100%, quem ouve os primeiros discos do SM não acredita no que veio depois. Recomendo demais.
Fortes emoções hoje no Primavera Sound Festival: no mesmo dia, verei Afghan Whigs, Mazzy Star, Wilco e Spiritualized… quem quiser acompanhar a transmissão do Wilco, a partir das 18h (horário de Brasília), segue o link:
http://www.youtube.com/user/PrimaveraSoundTV
Talvez passe o Spiritualized também, fiquem de olho (começa às 21h15, tb na hora brazuca)
Agora me responda Barça: pq vc não considera que London Calling é que inventou o som dos anos 80? Ahn?
London Calling foi a culminação dos 70, não o começo dos 80.
e que tal Boy, do U2?
Não, a idéia é um disco que antecipa coisas que viriam a acontecer. U2 é importante pacas, mas não é uma banda inovadora.
Culminação de um, é início de outro. São outras palavras para a mesma coisa.
CLARO que não. Um disco – London Calling – faz uma síntese do que passou. Outro – Avalon – aponta o que vem por aí. Isso não quer dizer que não sejam duas obras-primas.
Boy(esp. The Electric Co), e October, parecia que o U2 ia dar em boa coisa. Depois, foi aquele pântano.
Tudo bem Barcinski? Matéria animal, voce escreve bem sobre música. Po, se me permite, podia rolar um post sobre o Big Star!
Abs
OT. Barcinski, voce que e’ fa do Cassavetes se nao viu tem que ver um documentario que saiu no “Dangerous Minds” hoje. Material finissimo. O cara e’ verdadeiramente um visionario.
Preciso ver isso, valeu pela dica.
Barça, falando em anos 80 você está “devendo” um post sobre o tal Tributo Legião Urbana com o Cap. Nascimento nos vocais e com o Dado mandando um um cra “pedir pra sair” no show de ontem (30/05).
E ainda quero saber sua opinião sobre o último filme do Terrence Malick, “A Árvore da Vida”.
É para eu decidir se gostei ou não…. hahahahaha
André faz tempo que tenho entrei na luta de elevação do Avalon a melhor disco dos Roxy Music. A maior parte cai sempre para o For Your Pleasure que, sendo óptimo, sofre demasiado da virose “prog-rock” pra me encher o copo. Aqui o Avalon não só tem as grandes músicas (ponto chave) como é descomplexado o suficiente para colar todas as imagens idilicas de “eu vou fazer isto e aquilo com uma bebida gelada na mão”. E, muitas vezes, não há nada mais roqueiro do que isso (perdoa-me Iggy!).
Nem na Noruega dá certo: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1098473-show-gratuito-de-bieber-na-noruega-termina-com-49-feridos.shtml
Mas show do “biba” não dá certo em lugar algum do mundo…
Boa Andre! Bom gosto esta faltando hoje em dia! Ja virei seu fã!
Curto rock desde quando quase tudo começou….anos 70! E a evolução e tambem a degeneracao!
Roxy Music é diferente de tudo o queé cliche ou modismo….é unico! Quem não viu ainda, o DVD do come back em 200?, live at the Apolo, vai arrepiar. Brian Ferry é fantastico, até nas homenagens, como fez com Dylan…em Dylanesque…
Valeu! Abraco
Grande Banda dos anos 80!! Realmente um classico! Sem falar que Mick Jagger tirou a noive do Bryan Fery e se casou com ela (Jerry Hall)….
Bryan sempre foi um classudo!!!
André, desculpe o “OFF”, mas o que acha do a-ha? Não é rock, mas é contemporâneo dos citados.
Muito soft p/ ser rock, muito hard p/ ser dance. RPM foi o A-HA brasileiro
Putz, esse é um baita disco mesmo – acho que vou ter que ouvir hoje. Como muitos disseram aqui, música extremamente sofisticada e elegante.
Aliás “Roxy Music” parece mais um nome de estilo musical na qual só se encaixa a própria banda.
E essa capa e o nome do álbum é um dos mais bacanas que existe na música.
Curioso foi eu descobrir esta semana, no “Cartão Verde”, da TV Cultura, que o Alan Kardec é fã de Brian Ferry!!! Ele foi ao programa vestindo uma camiseta com o dito cujo na capa. Considerando que ele é um jogador de futebol, é algo realmente muito inusitado.
P.S.: Claro, falo do jogador do Santos, não do pai do espiritismo.
Eu vi isso também. Fiquei me perguntando se ele é realmente fã do cara ou comprou a camiseta em alguma loja de grife qualquer sem saber quem estava na estampa.
O dia que ele fizer tres gols num jogo, vamos ver se irá pedir uma música do BF.
Hahaha Agora fiquei curioso! O difícil é ele fazer três gols num jogo só.
Conhecia a banda mais nunca ouvi um álbum inteiro, então baixai esse aí pra ouvir, muito bom “mermo”!. Agora teve uma hora que eu tomei um susto pois pensei que era David Byrne cantando. Já dizia o velho guerreiro na vida nada se cria tudo se copia. Né que o Wagner Mouro poderia imitar o renato russo ontem no tom de voz, ia ser bem melhor né não… Pelo menos ele não ia acordar seu moleque por desafinação vocal. hehehehe.
Não peguei este periodo (sou de 86). Conheci Roxy quando vi o Bill Murray cantando More Than This na cena do Karaoke em Encontros e Desncontros …
Quando li o post da primeira vez, estava num computador onde o youtube é bloquedo, só agora consegui ver que a segunda surpresa era exatamente isso hehe.
Legal!
Não sou muito fã da fase em que o B. Ferry dominou completamente a banda, mas a fase com o Eno tem muita coisa legal. Há uns poucos meses estava rolando um documentário bem legal sobre eles no Multishow HD.
“O Roxy Music sempre esteve um passo à frente da concorrência. Era eletrônico demais para ser “glam”, chique demais para ser punk e velho demais para ser “new” romantic. Sempre pairou acima de estilos e tendências.” Cara, essa definição ficou PHODA !! Parabéns !!!
Mas é verdade, eles nunca se encaixaram em “movimento” algum.
Falando em desencavar vinis, voltei a ouvir, depois de muitos anos, o Closer, do Joy Division. Caraca, que disco fantástico!
Incrível, Barça! Sem babação nem nada, é um dos meus discos favoritos. Ok,ok…Pode-se argumentar q o Roxy possui discos melhores mas este possui, ao menos para mim,um valor afetivo inigualável. Sou de uma geração que foi ao Roxy por conta de coisas como (vejam só!) 9 1/2 Semanas de Amor e o trabalho do outro Bryan à frente do U2. Então pegar esse disco em meados dos 80 foi meio q (perdão pelo clichê) achar o … Graal!
mas… barza… e a scarlett, hein? tem mais bela? ha
O cara é fã do Roxane beleza….só não acho que seja essa baboseira toda…….
Engraçado vc postar isso pq nessa semana eu tô numa terapia intensa de Roxy Music e Gary Numan.
Impressionante a versatilidade e bizarrice da discografia do RM. Uma boa diversão é sair a caça pelos vídeos no You Tube. Tem muita, muita coisa deles.
Excelente texto André, concordo com você. Adoro Roxy Music. Tenho dvds e alguns cds e estou atrás da box set que foi lançada anos atrás. O dvd que conta a história deles é muito bom. Para mim Roxy Music é uma das maiores e mais influentes bandas de todos os tempos.
prefiro a fase mais “progressiva” da banda. no youtube dá pra encontrar uns clipes ainda com Brian Eno.
http://www.youtube.com/watch?v=3MJQxvX5WvA&feature=related