Ivan Lessa: “O que mais me interessa hoje é aquilo que passou”
10/06/12 15:54
Ivan Lessa saiu do Brasil em 1978. Quer dizer, saiu fisicamente, porque espiritualmente, ele já havia se mandado bem antes.
O Brasil de Ivan Lessa – ou melhor, o Rio de Janeiro de Ivan Lessa – existiu até os anos 60. O que surgiu depois foi tão tenebroso aos seus olhos que ele se mandou para Londres e não voltou – na verdade, voltou uma vez, bem rápido, a convite da revista “Piauí”, e não gostou da experiência.
Eu adoro saudosismo. Acho saudável. Diferentemente de muitos, não vejo retrocesso em olhar para o passado. Vejo sabedoria.
Adorava ler Ivan Lessa porque ele falava de um Rio que eu não conheci. Um Rio que meu avô, amigo dessa turma toda, amava.
E Lessa escrevia com uma ironia fina que parece totalmente fora de moda hoje. Estilisticamente, também era um saudosista. Não deve ter sido à toa que se mudou para a Inglaterra, onde a ironia é um modo de vida.
E as frases? Cada uma melhor que a outra:
“Para os sertanejos, Euclides da Cunha era, antes de tudo, um chato.”
“O brasileiro tem os dois pés no chão… e as duas mãos também.”
“O que mais me interessa hoje em dia é aquilo que passou.”
Seus textos têm um poder de síntese raro. Sem invencionices, sem rococós, sem exibicionismo.
Para quem não conhece Ivan Lessa, separei duas entrevistas ótimas, em que ele fala de seu trabalho e sua visão de mundo.
Se você curtir – e acho difícil alguém não se interessar pelo que ele diz – procure os três livros de Lessa e leia suas colunas no site da BBC Brasil.
A primeira entrevista está no blog de Dodó Macedo e foi publicada pelo Jornal do Brasil, em 2005. (leia aqui).
A segunda foi feita por Geneton Moraes Neto, em 1999 (aqui). Bom proveito.
Achei inspiração pura. A entrevista com o Geneton é muito boa. Me identifico completamente com a sensação que Lessa parece ter. Eu gosto do Brasil, mas não gosto DESSE Brasil. Me sinto mais confortável andando em Londres do que andando em Belo Horizonte. Já que me sinto estrangeira onde eu nasci, melhor ser estrangeira de fato.
Muito boa a entrevista com o Geneton, principalmente a parte em que IL comenta a ‘efusão’ do brasileiro. (isso porque ele foi poupado da visão de compatriotas em NY aos berros dentro do elevador com seus nextel)
Essa velha e surrada balela fascistóide de não-civilização nos trópicos ou em qualquer lugar com mais de vinte e cinco graus Celsius…
Ele certamente nunca ouviu falar dos povos do cálido Oriente Médio, precursores da medicina, da náutica e da matemática enquanto os europeus a quem ele sempre prestou vassalagem ainda estavam praticamente na idade da pedra lascada.
Valorização das coisas boas do passado e auto-crítica são extremamente positivas, mas Lessa era um indisfarçável colonizado, daqueles que tudo que vem de fora é sempre melhor. Sobretudo se tiver sotaque inglês, britânico ou estadunidense.
Leandro, numa boa, vc está enganado. Lessa nunca disse que não gostava do Brasil. Ele disse que não gostava DESSE Brasil, o que é bem diferente.
Os brasileiros sempre tiveram problema com os criticos em relacao ao pais. Eles geralmente fazem um bem enorme, deveriam ao menos conduzir a reflexao, mas nao, sao simplesmente ignorados. Este e’ o pais da propaganda enganosa. Pobre do pais onde qualquer sub-celebridade tem mais repercussao que um cara como o Lessa.
Eu achava os textos do Lessa muito chatos, pelo menos os últimos que li na Folha online. Eram engraçadinhos, porém sem graça nenhuma. E Barcinski, acho que invencionismo em literatura é uma riqueza e não necessariamente um exibicionismo. Quando o escritor, principalmente o poeta, cria palavras que não existem no dicionário, mas que têm total sentido e são compreensíveis, pelo menos no contexto do texto, acho formidável. Se não fosse por eles (os escritores) e principalmente pela criatividade do povo ainda estaríamos falando um português de duzentos anos atrás (o que não seria, objetivamente, nem um português melhor e nem um português pior do que o falado e escrito atualmente). O idioma não deve ser cristalizado, muito pelo contrário.
Prefiro textos simples e claros. Não gosto de rococó. Acho que escrever bem é falar o máximo com o menos número de palavras.
Sugestão para quem acha o Ivan Lessa um ressentido, anti-patriótico etc
Leiam Diário de um Cucaracha do Henfil (outro ex-Pasquim).
Na minha opinião uma obra prima de humor sobre como ser um expatriado. Obra involuntária, já que o livro é uma reunião de cartas enviadas a vários amigos no Brasil na época que ele viveu nos EUA.
Desculpe o comentário fora do tema (eu ia dizer off topic, mas depois de ler o Ivan Lessa achei melhor não), mas fiquei feliz da vida com o novo álbum do Dexys, ex Midnight Runners após 27 anos! Kevin Rowlands ainda canta bem e as canções tem soul (essa não deu pra traduzir). Super saudosismo.
Sinceramente, acho RJ (o de hoje,pelo menos) superestimado, senão a maior enganação brasileira.
Não há nada para se orgulhar. Nada funciona: educação péssima, transportes ruins e superlotados, saúde sucateada, segurança inexistente, desonestidade(e burrice) institucionalizadas. É bem compreensível a decepção do Lessa. A verdade é que a melhor coisa do Rio nem foi feita pelo homem.
e ainda por cima o povinho se acha
Pior é quem “se acha” acima do “povinho”.