Dois amigos separados pela guerra
21/06/12 07:05
Há uma semana, escrevi sobre a morte do boxeador cubano Teofilo Stevenson e sobre como a Guerra Fria impediu confrontos entre esportistas dos mundos capitalista e comunista.
Vários leitores lembraram um documentário que mostra como outra guerra – a da Bósnia – acabou com uma longa amizade entre dois jogadores de basquete.
O filme se chama “Once Brothers” e foi produzido em 2010 pela ESPN para celebrar o 30º aniversário da emissora. Se achá-lo em alguma reprise ou DVD por aí, não deixe de ver.
“Once Brothers” conta a história da grande seleção iugoslava de basquete surgida no fim dos anos 80. Liderada pelo gênio Drazen Petrovic, o time contava ainda com ótimos jogadores, como Vlade Divac, Tony Kukoc e Dino Radja.
A Iugoslávia foi vice-campeã olímpica em 1988 e depois ganhou os títulos mundial e europeu. Um timaço. Seus melhores jogadores foram para a NBA, a milionária liga de basquete profissional norte-americano.
Vlade Divac, um pivô meio desengonçado mas eficiente, dono de um temperamento alegre e brincalhão, foi para o grande Lakers de Los Angeles, onde jogou ao lado de Magic Johnson.
Já Drazen Petrovic, um armador de talento quase sobrenatural, foi para o Portland Trailblazers, onde sofreu com a concorrência de grandes jogadores da posição (Clyde Drexler, Terry Porter) e nunca conseguiu se firmar.
Nos Estados Unidos, Vlade e Drazen tornaram-se grandes amigos. Vlade ajudou muito Drazen quando este entrou em depressão por causa dos problemas com o time. Depois, Drazen foi trocado para o New Jersey Nets e começou a se firmar como um dos grandes craques na NBA.
Mas foi aí que a realidade atrapalhou: depois da queda do Muro de Berlim e da iminente dissolução da União Soviética, a Iugoslávia começou um processo de separação entre suas repúblicas. Até então, os jogadores se consideravam iugoslavos. Mas Vlade era sérvio, enquanto Petrovic era croata.
Um acontecimento piorou as coisas: em 1990, quando a Iugoslávia ganhou o campeonato mundial na Argentina, um torcedor invadiu a quadra carregando uma bandeira croata. Vlade se irritou e arrancou a bandeira da mão do torcedor. Vlade diz que o ato não foi uma reação aos croatas, mas um gesto de revolta com as brigas que dividiam o povo iugoslavo.
O ato foi visto como um insulto pelos croatas e um gesto heróico pelos sérvios. E Vlade, um ser apolítico e até ingênuo, se viu no meio de um conflito étnico que ajudou a piorar a situação na Iugoslávia.
Logo depois, quando a guerra entre Sérvia e Croácia começou, e o governo sérvio iniciou um processo sangrento de “limpeza étnica” na região, Petrovic rompeu com Vlade.
Em 1993, durante uma excursão da seleção croata na Europa, Drazen Petrovic morreu num acidente de carro. E Vlade nunca conseguiu fazer as pazes com o amigo.
“Once Brothers” traz imagens impressionantes: quase 20 anos depois do “incidente da bandeira”, Vlade anda por Zagreb, capital da Croácia, e é hostilizado por croatas. Prova de que as feridas ainda vão demorar muito para cicatrizar por lá.
André, eu lembro dessa época do meu Portland, foi realmente tempos gloriosos (que saudades), por isso o Drazen não se firmou por lá, se ainda estivesse vivo, seria titular com uma mão só dos Blazers!!!!
E a Iugoslávia era o famoso país de seis repúblicas, cinco etnias, quatro línguas, três religiões, dois alfabetos e um Partido!!!
E André, quem conseguiria uma convivência mais amigável: sérvios x croatas x bósnios, ou palestinos x israelenses?????
A algum tempo atrás comentei contigo sobre esse documentário, eu achei ele sensacional…Já assisti umas 3 vezes…passa direto na ESPN aqui no Brasil (inclusive na ESPN HD), faz parte da série de documentários “30 for 30” da ESPN.
Aconselho você a assistir também a um dos capítulos dessa série chamado “One night in Vegas”, que mostra a amizade do Tyson com o rapper 2Pac, e o dia de sua morte, numa luta em Vegas.
Cara, tem um outro documentário, que agora não lembro o nome, que mostra uma batalha campal num jogo de futebol, em 1989, quando jogavam Estrela Vermelha e Dínamo de Zagreb, a polícia invadiu o gramado e brigaram com os jogadores do Dínamo. Um deles era o Boban, que depois iria defender o Milan, e até hoje, por esse ato ele é visto como herói pelos croatas.
Po, fui um dos que comentou sobre esse filme no twitter! Bacana ver a coluna sobre isso!
Essa série 30 for 30 é sensacional. Também, foi idealizada pelo melhor sportswriter dessa geração, o Bill Simmons!
Ah, mas completando o comentário, o melhor dessa série é o doc The 2 Escobars, sobre o zagueiro colombiano morto após a copa de 94 e as ligações do cartel de Medellin com o futebol. Absolutamente fantástico.
Um documentário muito bom da ESPN é “The Fab Five” que conta a história do Chris Weber e seus companheiros, todos calouros da U. Michigan que apavoraram geral a NCAA no fim dos anos 80, começo dos anos 90. Mudaram o estilo de vestir dos jogadores, ouviam NWA e recomendava para as crianças da época jogavam provocando adversários e humilhando os mesmos, se envolveram em escandalos de subornos e tal… Filmaço
“…They were one of the most famous – and infamous – teams in college basketball history. Arriving on the campus of the University of Michigan in the fall of 1991, the five freshmen -Chris Webber, Jalen Rose, Juwan Howard, Jimmy King and Ray Jackson-not only electrified the game, but also brought new style to the masses with their baggy shorts, black socks and brash talk. Forget what you remember about the Fab 5-this film will show them in an entirely new light…”
E ontem finalmente um dos Fab Five conseguiu o anel de campeão da NBA…. o Juwan Howard faz parte do time do Miami Heat!
Pra entender todo esta trama dos balcas recomendo o livro gorasde do joe sacco pra quem gosta de quadrinhos e historia é muito louco.
eden
Já tinha lido sobre essa história mas não sabia desse filme. Vou procurar. Os documentários da ESPN são mesmo ótimos. Nos últimos tempos assisti três muito bons:
“Winning Time:Reggie Miller vs. The New York Knicks”,
“Unguarded” (sobre o jogador Chris Harren e seu envolvimento com drogas) e “Catching Hell” sobre um torcedor do Chicago Cubs que teoricamente atrapalhou um jogada do time.
Decidi: vou comprar as duas caixas com os 30 filmes. Saem 58 dólares as duas, muito barato.
Você lembra de cabeça o nome das caixas, André…?
Vai na Amazon e clica “ESPN 30/30”, vc acha. Cada caixa tem 15 filmes.
aqui no brasil uma caixa sai R$ 280,00
Com os 30 filmes? Sério? Quase o triplo do preço da Amazon!
puxa Barça no site da cultura livraria diz que é volume com 6 discos = R$ 280,00 … será?
Pode ser. Na Amazon os boxes importados custam menos de 60 dólares. Os dois somados.
Assisti esse sobre o torcedor dos Cubs. É uma verdadeira tragédia esportiva. Acho que até hj o time não ganhou nada e o cara ainda deve sentir o peso daquela bola.
Queria ver esse do Reggie Miller, que deve tratar daquele jogo em que ele responde as provocações do Spike Lee com cestas de 3 pontos e vira um jogo praticamente perdido. Foi uma das atuações esportivas mais empolgantes que eu já vi; e basquete nem está entre meus esportes favoritos.
Acho que eu também vou ter que encomendar essas caixas da ESPN.
um dos melhores contos de O Vinho da Juventude, do John Fante, passado logo no inicio da segunda guerra, conta a história de um bando de moleques pobres, colegas de futebol americano ‘de várzea’, todos filhos de imigrantes (polones, alemão, frances, japones, russo, italiano etc). até então todos se davam relativamente bem mas, quando o conflito chega até eles, através de um patriotismo enviesado dos pais, a tensão explode numa melancólica e ao mesmo tempo hilária porradaria generalizada em campo. sensível, ironico e muito bonito o desfecho. recomendo, André, se ainda não leu.
Não li não, mas o resumo é ótimo.
John Fante é sensacional. Além de “Vinho da Juventude”, tem também um ótimo livro dele com título parecido, que é “The brotherhood of the grape”, em que ele, já adulto, escritor famoso, tem que lidar com a separação dos pais, já idosos. Naquele estilo dele: lírico, emotivo, engraçado. E, eu não sabia, mas o filho do Fante, Dan Fante, também é escritor.
Alguns consideram como marco inicial da Guerra dos Bálcãs uma briga, verdadeira batalha, que ocorreu em um jogo entre Dínamo Zagreb e Estrela Vermelha de Belgrado. Boban, croata do Dínamo, atacou com uma voadora um membro da força policial, que aquela altura atuava como defensora dos interesses sérvios. Por isso, tornou-se herói nacional. Sobre o fato, comentou: “Aqui estava eu, uma cara público preparado para arriscar minha vida, carreira, e tudo que a fama poderia ter trazido, trouxe por causa de um ideal, uma coeza, uma coeza croata”. Essa história é contada em um dos capítulos do ótimo livro “Como o futebol explica o mundo.”
Legal, não conhecia essa história.
No link que o José Horta postou tem a foto do exato momento em que o Boban ataca o policial.
fora do assunto do post. Tem um lado bom nesse novo sistema da folha, agora dá pra ler também alguns textos das colunas que antes eram só para assinantes.
André, você já respondeu que não acompanha mais a NBA, mas se estiver com tempo, recomendo a final que rola hoje às dez da noite na ESPN. Os jogos estão sensacionais.
E pra quem interessar: a Croácia de Drazen Petrovic encarando o dream team na final olímpica de 92:
http://www.youtube.com/watch?v=n-giXORT-so&feature=related
Boa, vou assistir.
Correção: O Boban ao qual o pessoal está se referindo era um político chamado Mate Boban, que na época da guerra, fora presidente da Bósnia-Herzegovina.
Ou seja, o meio campista do Milan, não largou o futebol para lutar. Até porque quando da sua estréia no futebol do Milan, a guerra tinha acabado de explodir. Da mesma forma como tinha um outro jogador da mesma época chamado Milosevic, antônimo do antigo presidente da Iugoslávia. O jogador era Savo e o político Slobodan.
Bela dica. Vou procurar por esse filme e outros da ESPN. Particularmente, um canal esportivo que admiro bastante.
Os posts enveredaram para a Guerra e consequentemente para a História da Europa, outro assunto que me fascina!
o doc é incrível, aliás toda a série da Espn só tem coisa boa. Não sei se você viu, mas tem também o “Two Escobars”, que faz o paralelo tráfico/futebol colombiano no início dos anos 90. é espetacular
Não vi esse, mas estou pensando seriamente em comprar a caixa com os 30 filmes. Sai por 60 dólares na Amazon.
tentador, tentador, valeu pela dica, abraço
o filme dos escobar tambem e otimo vale a pena assistir
História muito comovente, não conhecia. O esporte, de um modo geral, acaba sendo pródigo em nos brindar com exemplos que ainda permitem acreditar no ser humano. A história do Dínamo de Kiev (não exatamente o time do Dínamo, que não existia oficialmente por conta da ocupação nazista, mas quase todos os seus jogadores e mais outros, que adotaram o nome de FC Start para poderem jogar sob o jugo nazista), que venceu, ao custo da própria vida de quase todos os seus jogadores, o time formado pelos militares alemães em plena Segunda Guerra, é de chorar! Um abraço!
É mesmo, bem lembrado.
Joe Sacco escreveu sobre a guerra na antiga Iugoslavia, dois livros(HQs) muito bons.
Área de Segurança: Gorazde
e
Uma História de Sarajevo.
Assisti Once Brothers ontem a noite, que coincidência! Passou no Fox Sports, em HD. Foi muito bom, recomendo!
Que pândego. Espera umas duas semanas que vai passar “Once Boca”, é melhor ainda.
Continua secando que até agora está dando certo.
Secando, eu? Já disse mil vezes que minha mulher é corintiana, não tenho nada contra. O Baia é que vem aqui encher a paciência de vez em quando.
I love ya
Tchararan, tchararan, tchararan, tchan tchan
Sensacional. A vida real proporciona roteiros espetaculares. Outra história tocante do basquete iuguslavo é da lenda Mirza Delibasic, do Bosna Sarajevo e Real Madrid. Sua história envolve genialidade em quadra, hemorragia cerebral aos 29 anos, aposentadoria forçada em Sarajevo durante o cerco da cidade, até a morte aos 47 anos de idade. Fez parte do time campeão olímpico em 1980, que foi o espelho de toda esta geração que partiu para a NBA.
Apenas acrescentando uma informação: antes do ouro em Moscou, derrame e alcoolismo, Delibasic jogou a final do mundial interclubes em que nosso Sírio foi campeão (geração Marcel, Oscar, Marquinhos etc.).
Esses filmes da ESPN são todos ótimos mesmo. Outro dia vi um sobre um médico que mudou de sexo e começou a jogar tenis feminino profissional, disputou inclusive o US Open, ainda nos anos 70. Deve ter sido algo muito polemico na época, mas eu não conhecia a história.
Renée Richards. Vi ele/ela jogar nos Estados Unidos, no fim dos anos 70.
É uma região com mais que simples feridas, é uma região com chagas gangrenadas. A I Guerra começou justamente aí com o ato de um extremista separatista e a Iuguslávia só foi criada por interesse soviético e só sobreviveu graças ao Maracehal Tito, um herói da segunda guerra, com sua morte e logo em seguida com a desintegração da União Soviética, todas as tensões históricas foram libertadas
Esse documentário é tocante… Sensacional eu diria!
Não só para quem acompanha basquete…
Essa série da ESPN Films tem programas muito legais… tem um sobre quando o Magic Johnson descobriu que tinha AIDS que também é imperdível
Já vi, é muito bom sim.
Nesta Olimpíada a Lituânia ganhou a medalha de bronze e os jogadores subiram ao pódio com uma camisa do Greatful Dead
Só de ler, estou emocionado. vou correr atrás agora.
Era um grande admirador do basquete de Divac. Talvez tenha sido um dos últimos pivôs dos grandes times da NBA que não fazia o tipo “SuperPivô” – tipo S.O´Neal, H. Olajuwon. Era um pivô titular que jogava à européia.
Você acompanha NBA?
Já acompanhei muito quando morei nos EUA nos anos 90, agora não mais.
Outro leitor escreveu sobre o filme Before the Rain. O que acha?
Putz, você acompanhou talvez uma das melhores épocas da NBa.
Uma coisa curiosa na carreira do Divac é que o LA Lakers abriu mão dele, com todo o basquete e carisma que tinha, pelo direito de escolha do Charlotte Hornets no draft de 1996. Acabaram escolhendo na 13ª posição um certo garoto de 17 anos chamado… Kobe Bryant!
Será que valeu a pena???
O Vlade conta isso no filme.
Infelizmente ainda não assisti esse documentário. Gosto muito de basquete e o Petrovic foi um jogador fora de série realmente, mas é claro que o basquete deve ser apenas o pano de fundo pra essa história instigante… vou dar um jeito de ver ainda hoje!
ainda na linha ex-URSS e basquete, vale a pena ver “The Other Dream team”, sobre o time de basquete da Lituânia, ajudado financeiramente pelos musicos do Grateful Dead, e que participaram das olimpíadas de Barcelona.
Não conheço, mas pela descrição o filme parece sensacional, valeu pela dica.
Que bela dica Eduardo. Olhei no IMDB e o filme tem nota 9.2. Abraço.
Nem parece que é fato real rsrsrs. Não sabia dessa história. Valeu pela dica.
André, a parte final de “Once Brothers” é de arrepiar. O Vlade procura a família do Petrovic e depois deposita flores no túmulo dele. Mas não foi só o basquete que sofreu com a guerra, o futebol também. A Iugoslávia tinha tudo para ser uma das melhores seleções dos anos 90. Em 1987 foi campeão mundial de juniores e revelou Davor Suker, Predrag Mijatovic, Robert Prosinecki e Zvonimir Boban. Depois alguns desses jogadores depois integraram o Estrela Vermelha que ganhou a Liga dos Campeões da Europa em 1991. Nesse time do Estrela Vermelha ainda tinha o Sinisa Mihajlovic e o Dejan Savicevic. Com a guerra, a seleção da Iugoslávia foi esfacelada e impedida de disputar a Eurocopa de 1992. Foi uma geração tão boa que a Croácia foi terceiro lugar no mundial da França (98). Agora imagina estes caras todos numa só seleção disputando uma Copa do Mundo?
Daria outro belo filme.
Boa lembrança, José. Inclusive, o Boban, se não me engano, largou o Milan para poder lutar na Guerra pela Croácia.
Rodrigo, lembro que houve comentários sobre o Boban ter deixado o Milan e ido lutar na guerra pela independência da Croácia. Tem esse artigo muito bom sobre o Boban, o ‘Leão Croata’ http://www.planetadofutebol.com/artigos/boban-o-adeus-de-zorro-o-leao-croata
Quem sabe sabe, né Rodrigão?
Poxa… que triste a história!
OFF:
Hoje quando acessei o site para postar o comentário, já apareceu meu nome e e-mails registrados. Logo estes registros são oriundos do IP (Internet Protocol), número de registro de sua máquina na rede, como um RG. Sendo assim, creio que a Folha está restringindo os acessos as notícias de acordo com o IP e por ele baseia-se para contagem dos 40 acessos. Há maneiras de burlar isso, mas não contarei aqui.
Folha, porquê não uma assinatura de cadernos?
Um abraço a todos.
Já assisti também, Barça. Belo filme que vai muito além do esporte.
Era super-fa do Drazen, tenho que assistir este documentario. So’ lembrando que a Croacia liderada pelo Drazen foi prata nas olimpiadas de 92. Perderam na final para o “dream team” americano com Michael Jordam, Magic Johnson e cia, mas deram uma canseira no comeco do jogo, a ponto do tecnico Chuck Dale pedir tempo e dar um esporro nas estreas da NBA.
Sobre o conflito na ex-Iuguslavia tambem tem um filme belissimo “Before the Rain” de 1994.
Vi na ESPN (que reprisou algumas vezes). Excelente indicação.