O maior cineasta que Hollywood revelou nos últimos 20 anos
02/07/12 08:55
O canal HBO Plus exibe hoje, às 23h50, “Boogie Nights”, de Paul Thomas Anderson.
Já decidi: não vou assistir. O filme tem três horas de duração e não quero ficar acordado até 3 da manhã. Porque é um desses filmes que, se começar, eu não consigo parar de ver.
Para quem não viu, “Boogie Nights” conta a história de um adolescente burro e sem futuro, vivido por Mark Wahlberg, que encontra sucesso como ator pornô e vira o astro Dirk Diggler. O filme começa em 1977 e termina no meio dos anos 80.
Mas a história de Dirk é só uma desculpa para Anderson fazer uma parábola sobre a decadência do cinema.
Acho notável como Anderson usa a história do cinema pornô como metáfora para a própria história de Hollywood, mostrando como tudo piorou quando a liberdade criativa e a rebeldia dos anos 70 deram lugar a preocupações corporativas e a obsessão pelo lucro, nos anos 80.
Sou feliz proprietário do DVD deste filme e sempre tiro a belezinha da estante para rever alguma cena particularmente bem escrita, bem filmada e bem atuada.
Difícil escolher a melhor cena do filme.
Será a abertura, com um plano-sequência scorsesiano dentro de uma boate?
Ou a cena em que o produtor Philip Baker Hall vai à casa do diretor Burt Reynolds convencê-lo de que o futuro do cinema pornô é o videocassete, e é humilhado por um discurso sobre a ética do cineasta: “I am a filmmaker”, diz Reynolds… “Eu NUNCA vou filmar em vídeo!”
Que tal a catártica sequência em que Julianne Moore, a veterana atriz pornô, e Heather Graham, sua jovem discípula, passam dias trancadas num quarto, cheirando cocaína e tendo delírios sobre maternidade?
E o pesadelo que é a mansão do milionário cocainômano vivido por Alfred Molina? Inesquecível ver Molina de robe e cueca, tocando air guitar ao som de Rick Springfield enquanto seu filho – ajudante? Namorado? Escravo? – chinês solta bombinhas no chão da casa.
Paul Thomas Anderson tem 42 anos. Para mim, é o melhor diretor que Hollywood revelou nos últimos 15 ou 20 anos. Melhor até que Tarantino.
Ele fez cinco filmes. Dois, para mim, estão entre os melhores dos últimos 20 anos: “Boogie Nights” (1997) e “Sangue Negro” (2007).
Seu próximo, “The Master”, inspirado na Cientologia e com Philip Seymour Hoffman no papel do líder de uma religião chamada “A Causa”, estréia no fim do ano. Não posso esperar.
Muita gente gosta de “Magnólia” (1999), mas eu acho forçado demais, com diálogos e personagens caricatos. Além de me parecer uma cópia descarada de “Short Cuts”, de Robert Altman.
Anderson, aliás, é grande fã de Altman. E a recíproca era verdadeira: quando Altman, que tinha 80 anos na época, foi filmar “A Prairie Home Companion” (2006), a seguradora exigiu que ele escolhesse um “diretor substituto” para tomar seu lugar caso não conseguisse completar as filmagens.
E quem Altman escolheu? Paul Thomas Anderson, claro.
E nunca perguntei isso, mas considerando essa resenha sua de “Boogie Nights” que tem muito a ver com o que eu vejo também, essa analogia com a indústria como um todo, você não acha que a clara artificialidade do “instrumento” na emblemática cena final representa toda a parafernália que Hollywood precisa para levar as pessoas aos cinemas agora (3D, Quadri-Flex-Fuck-Surround, etc.) e uma mensagem otimista publicitária (se bem me recordo, o protagonista profere autoelogios na tal cena do espelho), além do símbolo, este sim manjadíssimo, do espelho?
Não tinha pensado por esse lado, mas é bem plausível sim, ótima sacada.
Cacildis, fui buscar uma resenha que achei bastante pertinente para te encaminhar e reparei que me enganei no título. O título correto é “Meek’s Cutoff”.
http://theotherjournal.com/filmwell/2011/05/21/scribbled-in-the-dark-meeks-cutoff/
http://www.washingtonpost.com/gog/movies/meeks-cutoff,1177150/critic-review.html
Por todos os textos que já li de vossa autoria, creio que vá gostar bastante.
Valeu pela dica, não conhecia, parece muito bom.
André, nesse plano-sequência ao qual você se refere, Scorsese bebeu diretamento na fonte de “A Última Gargalhada” do Murnau.
“Sangue Negro” está na minha lista de melhores de Hollywood da década de 2000 também.
Aliás, viu “Meek’s Creek” do ano passado? É uma subversão do gênero western/corrida do ouro, recomendo.
Não conheço esse Meek’s Creek, o que é?
Gostei bastante de Magnólia quando vi. Perdeu um pouco o impacto quando vi Short Cuts.
Agora, Sangue Negro é um baita filme.
Boogie Nights e mesmo muito bom.Ele repeti direto no sbt, ja assisti varias vezes.
Além de tudo, no Boogie Nights o PT escalou no auge da sua gostosura duas das mais belas atrizes de Hollywood dos ultimos 20 anos: Juliane Moore e Heather Grahan.
Até posso concordar que o PT tenha superado o Tarantino, o qual desde Kill Bill vem se perdendo nessa obsessão por trazer referencias da cultura pop, mas o meu diretor favorito dos últimos 20 anos é o Darren Aronofski.
Oi, André. Bem legal o post. Um cineasta que surgiu nos últimos 20 anos e cujos filmes são pra mim muito bons – Os Donos da Noite e Amantes, principalmente – é o James Gray. Gosta da obra dele? Abraços.
Gostei muito, mas muito mesmo, de Os Donos da Noite, mas até hoje não entendi a adoração por Amantes. Sei que muita gente gosta, mas não achei tudo isso.
Entre os melhores diretores dos últimos 20 anos acho que junto com o Paul Thomas Anderson colocaria também David Fincher, Christopher Nolan, Hal Hartley e Todd Solondz.
Gosto do Fincher e do Hal Hartley, não gosto de Nolan e Solondz. Mas os últimos dois do Fincher foram bem decepcionantes pra mim. O cara que fez Zodíaco e Seven fazer A Rede Social e Os Homens que Não Amavam as Mulheres? Achei que ele caiu muito.
Caramba, vi Seven dias desses e agora não tenho dúvidas que Zodiaco é mil vezes melhor! É o melhor filme dele disparado…!!!
Abaixo de Clube da Luta.
Um diretor dos últimos 20 anos que eu gostei muito dos primeiros filmes e depois decaiu foi o Neil Labute. Lembro que gostei muito de “Seus Amigos, Seus Vizinhos (Your Friends And Neighbors)”, “Nurse Betty”. “Possessão” e “Na Companhia de Homens” (esses dois últimos inclusive tenho em DVD.
Sangue Negro e Boogie Nights, dois super filmes. Vou tentar rever os dois filmes.
André, já assistiu “O Abrigo”? Eu acho que o diretor desse filme (Jeff Nichols) ao lado de Steve McQueen (“Shame”) ainda darão o que falar. E sim, Paul Thomas Anderson é gênio, pena que nunca pude assistir “Embriagado de Amor”, pois simplesmente não consigo ver nada que mostre a cara de (urgh!) Adam Sandler.
Já escrevi sobre O Abrigo aqui, fiquei muito impressionado. Gosto muito tb do Oren Moverman, que fez “O Mensageiro” e “Rampart”…
André, o legal do Paul Thomas Anderson é criar personagens marcantes. Não tem como esquecer da beleza da ‘Rollegirl’ interpretada por Heather Graham em “Boogie Nights” e nem do repugnante ‘Daniel Plainview’ vivido por Daniel Day-Lewis em “Sangue Negro”. Mas, apesar das controvérsias, prefiro “Magnólia”. Acho um grande filme e sempre o revejo. Dos cineastas surgidos nos últimos vinte anos em Hollywood gosto muito do Wes Anderson, mas o Paul Thomas Anderson é bem superior, o melhor de sua geração.
Com que nome esse filme saiu no Brasil?
Boogie Nights – Prazer sem Limites.
Valeu André! vou procurar…na Blockbuster on-line não tem….
Eu vivo dizendo isso para meus amigos.
E sempre disse também que o Oscar de 2008 foi uma das grandes injustiças da década – apesar de o filme dos Coen também ser muito bom.
Acho que Sangue Negro é um dos poucos filmes americanos desta década que serão lembrados futuramente. O filme já nasceu clássico e NINGUÉM na América hoje filma como o PTA.
Não é exatamente a minha cena preferida, mas é a que nunca esqueço. Burt Reynolds caminhando pela casa, a câmera atrás, rogando aos céus “the middle, the middle”.
Barcinski, o Paul Thomas Anderson realmente é um excelente criador. Quando “Boogie Nights” foi lançado nos cinemas em SP, lá pelos idos de 1998, tive a oportunidade de vê-lo na telona!!Além dos filmes que vc citou, tem também o “Embriagado de Amor”, único filme do mala sem alça Adam Sandler que eu consegui assistir até o fim. Graças também ao talento imenso da atriz Emily Watson. Vale conhecer!
Eu nunca assisti esse filme, mas sou fascinado por Sangue Negro, é um dos meus filmes prediletos. Está aí uma boa pedida.
O ator porno do filme foi baseado no John Holmes, e esse episodio na casa do traficante ficou conhecido como ” murders in Wonderland “, alias e muito cabuloso essa historia real.
André, quais seus favoritos do Altman? Merece um post, não? Abs!
Gosto bastante dele, mas sei lá “maior dos últimos 20 anos” achei um pouco exagerado, afinal ele fez dois grandes filmes desde que surgiu, Sangue Negro e Boogie Nights, os outros não achei tudo isso. Magnólia divide opiniões, gostei da primeira vez que vi, mas depois achei bem chato, Short Cuts é bem melhor. Penso que o Tarantino na soma dos trabalhos fez mais coisa boa e até o David Fincher foi mais regular nos últimos anos.
Bom, aceito sugestões de algum cineasta melhor.
Para mim Tarantino. Últimos 20 anos. Embora de estilos diferentes.
Os filmes do Tarantino, pra mim, vão piorando à medida que são revistos. Os do Anderson, ao contrário, só ficam melhores.
Christopher Nolan. Consegue fazer dinheiro e produzir bons filmes.!
Vou rever Boogie Nights, Sangue Negro e Magnólia, afinal faz tempo que não os vejo e posso mudar de ideia.
Gosto demais de Sangue Negro, pra mim o melhor do PT Anderson por um detalhe: a performance do Daniel Day-Lewis (o melhor ator de língua inglesa no momento, na minha humilde opinião).
Tarantino nunca fez uma porcaria, mas convenhamos… FILMAÇO em caixa alta teve apenas Pulp Fiction. Prefiro o Fincher com Seven, Clube da Luta e Zodíaco.
Barcinski, sei que você não curtiu muito “A Origem” por um comentário seu no twitter, e até entendo, pois foi um filme que dividiu opiniões entre os críticos. Mas Amnésia e “O Grande Truque” não merecem uma menção honrosa para o Christopher Nolan? Aliás, o filme sobre os mágicos de Londres é fantástico! Ou não acha isso tudo?
Abraços
Acho O Truque legal, mas não é isso tudo, né?
Pra mim os filmes do Tarantino não pioram à medida em que são revistos, não. Para você pioram em quê? Algum aspecto específico?
Eles começam a me parecer mais esquemáticos, como se vc fosse descobrindo, depois de revê-los, alguns “truques” que ele usa e que, à primeira vista, não atrapalham. Por exemplo: curti muito Bastardos Inglórios quando vi da primeira vez, especialmente a forma como ele estendeu aquela primeira história – a do alemão procurando a família judia – para aumentar o suspense da história. Quando revi, a cena me pareceu um pouco forçada, perdeu totalmente o impacto. Claro que o Tarantino é talentoso demais, mas não tenho vontade de rever seus filmes tanto quando os do PT Anderson.
Legal, é bem interessante a diversidade de olhares sobre determinada obra. No caso de ‘Bastardos’ acho birlhante como toda a tensão dessa dessa cena desagua lá na frente naquela sequência em que o Waltz come um strudel com a Melanie Laurent, é de uma tensão insuportável, parece que a gente tá na mesa ao lado. Mas concordo, a primeira sequência poderia ter sido mais enxuta, embora eu goste demais daqueles diálogos longos dele.
Não sei se é impressão minha, mas você vê a limitação ou genialidade de um diretor nos seus imitadores, é claro que a maioria dos imitadores é formada por gente sem talento, mas quando a fonte é realmente boa, sempre salva alguma coisa, no caso do Tarantino, muita coisa só funciona com ele, é muitas vezes é mais por boa vontade da crítica e de seus fãs do que qualquer outra coisa. Na boa, a cena que o Daniel Plane View descobre que seu irmão é um impostor e vai tomar um banho de mar é uma aula de cinema, você não aprende aquilo reciclando referências.
Baita filme. Impossível mesmo parar de assistir depois de começar.
E essa cena na casa do milionário não está tocando “Sister Christian” do Night Ranger?
No começo, depois é Springfield. O personagem do Molina diz até que é amigo dele.
Esse filme é bom demais, mesmo. Mas tem um outro filme que conta a mesma história, em um tom completamente diferente, que também é bom, com Val Kilmer no papel do Dirk Diggler.
esse filme é realmente muito bom. E é bem legal lembrar que o cara teve “a manha” de escolher o improvável protagonista à época , “Marky Mark” e o decadente Burt Reynalds .. mas sobre as melhores cenas, fico com a lendária Nina Hartley na piscina 🙂
Ahh, Nina…
Barça, pra mim a cena mais forte desse filme é quando William H. Macy pega sua mulher o traindo pela enésima vez na festa de ano novo, vai tranquilamente ao seu carro, pega sua arma e mata ela, pra depois se suicidar… sem nenhum corte. Absurdo!
É fantástica a cena, com a steadycam atrás do Macy, entrando, saindo e depois entrando de novo na casa, um absurdo.
Concordo com tudo. Eu já achava Paul Thomas Anderson o melhor diretor de cinema americano em atividade. Eu adoro Boogie Nights, mas outro filme dele que eu sempre vejo uns pedaços na TV (pra mim um dos filmes da década de 2000/10) é Punch-Drunk Love.
André, concordo c/ vc qdo diz que Anderson é melhor que Tarantino. Quase apanhei de um amigo qdo disse isso a ele uma vez. Acho que ele é um diretor pouco compreendido que recebe pouca atenção da crítica. Eu amei Sangue Negro e, no ano em que foi lançado, perdeu feio no Oscar (é claro, os conservadores não querem olhar para o próprio umbigo) para Onde os Fracos não Têm Vez porque toca na essência da natureza dos americanos. Ninguém gosta de se ver como o personagem de Daniel Day Lewis. Mil abraços, Paula.
Sangue negro vale um post. Quando for exibido na TV, faço.
Aguardo ansiosamente o seu post sobre Sangue Negro. Mais abraços, Paula.
Quando alguma emissora reprisar, eu faço.
Assino em baixo, Barça. O PTA é a melhor novidade de Hollywood nas últimas décadas e o cineasta mais foda que eles tem hoje em dia. Esse próximo filme dele é inspirado no Cristo dos Enrustidos e na Cientologia. Pelo que andei lendo ele chegou a exibir partes do filme para o Tom Cruise e outros artistas membros da seita para colher opinião. Só espero que isso não limite o potencial do filme.
Boogie Nights é demais mesmo. Também tenho em dvd e sempre revejo. E a minha cena favorita é a do Molina pirado. A primeira vez que vi não aguentei de dar risada com o chinesinho estourando as bombinhas. E o PTA deve ser mesmo o melhor dos últimos 20 anos.
E falando de Sangue Negro. 2007 p/ mim foi a última grande safra do cinema. Além deste belo filme do PTA, teve ainda Onde os fracos não tem vez, Antes que o Diabo Saiba que você está morto, Zodiaco, Senhores do Crime, American Gangster, Os donos da Noite, fora outros que não to lembrando.
Teve tb Na Natureza Selvagem, Desejo e Reparação, Sweeney Todd e A Garota Ideal.
O Robert Altman acabou morrendo logo após terminar o filme, certo?
Sim, foi o último filme dele.
Concordo plenamente. PTA é coisa fina mesmo. Sangue Negro é uma obra de arte. O único “porém” é que o cara, por escrever e dirigir, acaba não produzindo muito, de modo que to ansioso pelo próximo filme já faz algum tempo.
PT Anderson é realmente um diretor sensacional! Boogie Nights está entre meus filmes preferidos! Porém, na época do Magnólia eu também não gostei muito não e peguei um birra do Anderson que hoje me arrependo, porque deixei de acompanhar a carreira dele. Hoje estou muito ansioso pelo próximo filme dele! Além de tudo o Boogie Nights foi o primeiro filme grande de muito ator que estourou depois, tipo o Philip Seymour Hoffman, Willian H Macy e o John C Reilly.
Só vi Sangue Negro recentemente. Gostei tanto que decidi pegar todos os filmes do cara. Mas como minha locadora não presta, só tinha Embriagado de Amor, com Adam Sandler. Acabei nem assistindo, por ter cara de bomba… Me enganei?
Não gosto nada desse, acho que ele perdeu a mão.
E com o Popeye, perdeu o quê? risos
Pô, Felipe, no fim da carreira o Altman fez alguns de seus melhores filmes: O Jogador, Short Cuts, Gosford Park… Popeye foi antes desses todos.
Acho que todo mundo tem um momento de sua carreira do qual arrepende-se. estava lendo aqui sobre o Popeye que, após o filme o “telefone parou de tocar” para o diretor. Lembra de algum seu Barça? Outro… pedido de post… que tal fazer um resumo comentado de sua carreira Barça?
Nunca assisti Popeye, mas deve ser tão ruim que acho que aqui nunca foi reprisado na tv.
André, me explica aí, o PTA fez 5 filmes, sendo que dos 3 ultimos, 2 você não gostou. Ainda assim você o mantem como o melhor cineasta americano dos ultimos 20 anos? Desculpe se estou sendo chato, na verdade queria entender se só pelos 2 filmaços ele já merece esse título. 1 abraço!
Eu não ter gostado tanto quanto os outros dois não quer dizer que não tenha visto qualidade nos filmes. “Magnólia” e o filme com o Adam Sandler não são porcarias, muito pelo contrário. Só não acho que cheguem perto de Boogie Nights e Sangue Negro. Estes sim, são especiais. Na minha opinião, dois dos melhores filmes dos últimos 20 anos. O que qualificaria Anderson como um dos melhores diretores. mas é só minha opinião.