Neville D'Almeida solta os cachorros
16/07/12 07:05
Fui ao Rio entrevistar algumas pessoas para um projeto sobre os anos 1970.
Um dos entrevistados foi Neville D’Almeida, diretor de filmes como “A Dama do Lotação” (1977), “Os Sete Gatinhos” (1980) e “Rio Babilônia” (1982).
Neville estava de bom humor, mas foi só o assunto chegar ao cinema brasileiro atual, que isso mudou drasticamente.
O diretor, que está há mais de quatro anos tentando captar dinheiro para um filme inspirado em uma peça de Mario Bortolloto, soltou os bichos.
Confesso que nem precisei fazer muitas perguntas. Neville engatou uma quinta marcha e jogou um caminhão de lama no ventilador.
Tire as crianças da sala e confira as melhores partes:
“Eu vendi dez milhões de ingressos pro cinema brasileiro, fiz minha parte. Hoje só querem me punir, me desmerecer. Por causa dos meus filmes, dezenas de filmes brasileiros foram exibidos. Cansei de ver a Embrafilme dizendo: ‘Só te deixo passar ‘A Dama do Lotação’ se passar esses outros dez cus de touro que ninguém que ver’, era essa a política de distribuição na época. E aí, na esteira dos meus, passavam um monte de filmes de merda, alienados, falsificados, pseudocomunistas, pseudopolíticos, uns filmes falidos de um cinema político que, alguns anos depois, estavam totalmente superados…”
“A censura continua no Brasil, mas agora sob a forma dos patrocínios. Esses que controlam o cinema brasileiro, que eram os oprimidos, depois da Revolução passaram a ser opressores. Rolou – e rola até hoje – um patrulhamento contra o tipo de cinema que eu faço. É o preço da liberdade, e o preço do talento também. Só se vê por aí gente sem talento ou com pouco talento, ganhando premiozinhos. Tudo armação.”
“O Brasil tem mais de 150 festivais de cinema. É possível isso? É bom pro cinema brasileiro? Você quer ganhar dinheiro na cidade onde mora? É fácil: faz um festival de cinema! Convida o pessoal, pede um dinheirinho da prefeitura, um dinheirinho do Ministério da Cultura, pede pela Lei Rouanet. Esses festivais são dominados por famílias, são patriarcais, matriarcais, são feudais. Pergunto: se festival de cinema fosse mau negócio, haveria tantos por aí? Claro que não. Fazer festival com dinheiro dos outros é moleza: ‘Ai, vou a Nova York convidar um ator genial! Preciso ir a Paris convidar um ator amigo, o cara que me enrabou quando era garoto…’”
“Eu teria vergonha de fazer certos filmes que vejo por aí, de tão babacas. O cinema brasileiro hoje tem três vertentes: a primeira é aquela que quer copiar o cinema americano. A segunda – e maior – é aquela que só quer copiar novela da TV Globo. E a terceira é uma corrente voltada pro ego, mas um ego medíocre, de diretores que se metem a fazer o que não sabem (…) fazendo filmes sobre favela pra tentar expiar sua culpa.”
“Gosto do filme do José Padilha (“Tropa de Elite”), o sujeito fez um filme de grande comunicação com o público, durante seis meses não se falou em outra coisa no Brasil, achei genial.”
“Você quer fazer uma matéria bombástica, que vai ser capa de tudo quanto é jornal? É fácil: pega os últimos 20 anos do cinema brasileiro e faz uma lista de quem pegou mais, de quem ganhou mais editais. Você vai ver lá: L.C. Barreto – não sei quantos milhões – Paulo Thiago, Mariza Leão, não sei quem lá Meirelles, o Reichenbach… Faz a lista de quem mama nas tetas do governo, da esquerda… aí você vai entender as comissões das autarquias federais, da Petrobrás, Eletrobrás, e vai ver que é tudo carta marcada, tudo dominado por pequenos grupos. O Brasil é assim.”
“Virou monumento a cultura brasileira? Ou nós estamos sustentando esses caras? Os caras acham que o governo tem obrigação de sustentar eles, pra fazerem mais filmes fracassados, pra ajudarem mais os filhos, as filhas, os namorados das filhas, os caras que comem eles, os caras que comem as mulheres deles, as mães deles.”
“Existe hoje uma estrutura de mamar nas tetas do governo, e com isso o Brasil criou uma estrutura de produção irresponsável. Os preços dos filmes, que deveriam baixar, dobraram. Hoje em dia, quando se produz um filme, ele não precisa dar certo, sai tudo pago. No Brasil é assim: você pede 3 milhões pra fazer um filme. Aí o filme sai e é um fracasso total. Daí, em vez de enfiar a viola no saco, o sujeito faz outro filme, só que dessa vez pede 6 milhões. Aí o filme fracassa de novo, mas ganha lá um prêmio qualquer num festival – porque você sabe que festival aqui é feito pra isso, né, tem mais prêmio que filme – e o que o sujeito faz o quê? Resolve fazer outro filme, só que dessa vez pede 11 milhões.”
Quem acha que Neville está mentido, levante a mão. Hoje, um filme só sai se tiver a benção do Estado. E se não incomodar os “patrões”.
Tudo o que ele diz eh verdade, soh esqueceu de dizer que hoje ate as novelas estao mamando no dinheiro publico para gabar terroristas, vide SBT. A unica boa nova do post eh que o Neville nao consegue mais filmar. Depois de ver um dos filmes dele eu passei uns 8 anos sem ver filme brasileiro, ficava com nojo.
Ler entrevista destes p*rraloca antenado com história é risada fácil.
Entrevista mais dessa raça aí.
HAHAHA !!
Excelente! Sempre pensei o mesmo sobre esses festivais, mas nunca tinha lido uma crítica a eles, e tão contundente, genial, espero que capa da Ilustrada.
Fazer cinema nas décadas de 60/70 no Brasil era coisa pra Punk. D.Y.S. Sendo ruim ou bom, não interessa, mas era sim uma linguagem totalmente brasileira, da época, é claro. Hoje, todos os países sem assemelham nas produções. Esse cara é um dos loucos, e só os loucos são amados e odiados.
Neville de Almeida era TÃO PUNK, TÃO DO IT YOURSELF, que produziu seus maiores sucessos com aval da Embrafilme.
Todos passavam pela Embrafilme. Isso não descaracteriza a atitude do cara. Particularmente não de quase nada do que produziu, mas considere a estrutura e a cultura do cinema nessa época.
Quase todos. Mojica nunca recebeu verba da Embra.
Considero Neville D’Almeida o Ed Wood brasileiro. Seus filmes são ruins, mas tão ruins, que chegam a ser divertidos.
Apesar de tudo ele foi muito feliz nas críticas.
Grande Neville!!!!
” – porque você sabe que festival aqui é feito pra isso, né, tem mais prêmio que filme –”
.
Mesmo de mau humor ele não perde o bom humor. (putis que vontade de meter aqui aquele kkkkkk)
ao falar dos festivais, acredito que não está se referindo aos mais antigos. a não ser que esteja cuspindo no prato que comeu, e então deveria devolver os quatro kikitos de ouro que seus filmes amealharam em Gramado entre os anos 80 e 90.
Ah, não! Deixa ele ficar com o kikito! Quem vai querer essa merda de volta?
Nossa, e nem precisou dar bebida para o cara, como no Pasquim. Opinião é como bunda, todos tem e dá quem quer. Só achei esquisito detonar Fernando Meirelles, Carlos Reichenbach e poupar justo o José Padilha. Mas tá dado o recado.
Barcinski, um dia, se te interessar, podia fazer um post sobre obras que não viram a luz do dia.
Filmes, discos e até livros intermináveis, alguns demoram 40 anos pra chegarem ao público.
Sobre o post e sobre o que comentei, sabe por exemplo quando vai estrear o filme Meninos de Kichute que tinha até trailler?
http://www.youtube.com/watch?v=HZjoXrM-DBg
Agraciada , pois, a sociedade, cujo estado provedor permite os feitos culturais para todas as classes. A gente não quer só comida.
E vergonha na cara, hein? Se o estado nao pode distribuir para todas as crasses, podia pelo menos ter alguma. Ver filme do Barretao agora liberta os pobres, pqp.
O melhor comentário de todos é que a censura atual é executada pelos patrocinadores.
Nós sabemos que muitos desses patrocínios são “combinados”.
Os patrocinicos sao do proprio governo, eletrobras, petrobras, banco do brasil…
Dinheiro pra cultura tem que ser da iniciativa provada. O estado não tem que se ocupar com cinema, teatro e afins, porque dá nisso que o cara falou: favorecimento dos amigos. Falando de teatro, uns globais boçais catam a maior grana de Petrobrás e outras brás da vida, metem o preço do ingresso lá em cima, pra lá de 100 contos, e estão assim contribuindo para a massificação do teatro? massificação a 100 pilas?
Achei fantástico o desabafo! Quer uma solução para patrocínio de filmes? Faça publicidade dentro do filme. Venda até sua mãe dentro dele. Mas venda direito. Bem feito. Ninguém vê mais intervalo de filmes depois do controle remoto. Acho maravilhosa a publicidade da limonada de um banco. Divida a tela com publicidade quando estiver passando os créditos. Boa sorte!
John Lord morreu. Grande perda.
Grande mesmo. Grande músico de uma banda sensacional.
Crie-se então o festival “Anão Chumbinho” em homenagem ao verdadeiro cinema nacional.
É isso ai!
Em muitas coisas ele está certo, mas com comentários tão virulentos — em especial essa obsessão com o fiofó alheio — soa mais como ressentimento. No fim das contas, nem dá pra levar a sério.
André, atualizando a seção de obituários do blog: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1120847-jon-lord-tecladista-do-deep-purple-morre-aos-71.shtml
Os filmes desse cara são uma joça, embora, pra mim, sem nenhum complexo de vira-lata, o cinema nacional é um lixo de ponta a ponta da sua história. Mudam as características mas a qualidade, meu Deus… Por outro lado, ele tem razão em muita coisa do que falou, só não digo que foi em TUDO porque não tenho acesso às informações que ele tem, não sou do meio. Pena que ficará como um protesto vazio, já que nada será feito pra mudar a atual situação.
Parece mais chororo de um medíocre que não conseguiu mamar nas tetas por ser da patota errada.
Neville,
Opressão e opressores na forma de patrocínio? Você teria vergonha de fazer certos filmes que vejo por aí, de tão babacas??? Céus Neville, quanto despeito e inveja!! A julgar pelo SEU vergonhoso filme que jornal “O Globo” lançou on line posso ter uma perfeita visão da sua incapacidade de levantar dinheiro.
http://oglobo.globo.com/cultura/neville-dalmeida-estreia-filme-inedito-no-globo-mais-vespertino-para-tablet-do-globo-4822197
Talvez o Cinema nacional tenha cansado da sua linguagem?
Se existisse uma formula de sucesso, os 500 filmes produzidos em L.A. por ano seriam cada vez mais baratos e todos seriam absolutos sucessos de público, certo?
É triste se aposentar e mais triste ainda ter que fazer isso pela incapacidade de se atualizar e reinvetar. Bem vindo o NOVO CINEMA NACIONAL!!!!
Catzo! Vi essa aberração aí do link! Se conectássemos as (poucas) terminações nervosas de uma água-viva ou de um pepino-do-mar a motores que movimentassem uma câmera, creio que o resultado final seria melhor que essa “obra” nevilleana. Ave Maria, mas que coisa mais incrivelmente tosca! ATÉ EU sou melhor diretor que esse Neville!!
Olha, só sei de uma coisa: se foram os tais “fariseus do processo civilizatório” que impediram a mocinha de continuar subindo o vestido, o certo era pegá-los todos e descer o pau neles!
O que leva os atores e atrizes fazerem aqueles filmes como 7 gatinhos, Rio Babilônia, Matou a família e foi ao cinema?…Como esquecer daquela cena da Claúdia Raia com cavalo, a Denise Dummont na piscina (chupando e levando ao mesmo tempo). Cenas absurdas…
Um exemplo é o artigo que o Barretão escreveu defendendo José Dirceu na Folha de SP. Esses babacas mamando nas tetas do estado esquerdista criminoso.
Para quem acha os filmes do Neville lixo, é porque nao entendeu o bom cinema brasileiro dos anos 70, e refiro-me à Boca do Lixo. E vou além, os filmes dos Trapalhoes dessa época também eram ótimos.
voçe devia ser um punheteiro do %$#%#@$
No momento mais memorável de Os 7 gatinhos diz o grande Lima Duarte: “Quem foi que desenhou caralhi…. voadores na parede? Foi você? Foi você? Ou foi você? Se nao foram vocês, entao foi a gorda.”
Insuperável.
Hoje temos só esses filmes que parecem novelas da TV Globo.
Tem como liberar a íntegra, Barça?
Foram mais de duas horas, mas a maior parte sobre os anos 70. É para um projeto que estou fazendo, assim que eu puder, comento aqui, que tal?
Quem será o próximo a choramingar, Sady Baby?
Sasy Baby a favor do cinema pornozão de qualidade hehehe.
Sady Baby era uma figura pro Andre entrevistar. Lembro de um filme dele em que a mocinha diz algo do tipo “Nao me estupre, vc tem Aids” e no trailer ele selecionou uma cena de uma cara que faz TODAS as suas necessidades da janela de um onibus em movimento. O Neville foi um Sady fracassado.
Primeiro, devo dizer que acho TODOS os filmes desse cara uma m…
Dito isso, ele tem razao na maioria dos seus comentarios.
O brasil e’ o pais onde todos querem mamar na teta do governo e alguns conseguem.
E’ por isso que e’ tao dificil implantar uma politica de Estado por aqui, de uma forma ou de outra alguns irao desvirtuar essa politica para beneficio proprio.
Tenho a impressao que o brasil e’ um pais sem conserto… 🙁
Eu não tenho essa impressão. Tenho certeza absoluta!
O cara estava afiado na conversa e até concordo com algumas coisas que ele disse e outras não sei porque não faço parto do meio, mas uma coisa para mim não muda: apesar de ter dado umas risadas e desfrutado da putaria de seus filmes quando adolescente, para mim Neville D’Almeida entra fácil em uma lista dos piores diretores de todos os tempos.
Certíssimo! Os filmes do cara são lixo puro! Mas ele não está errado em seus comentários, não…
Tinha o festival Neville D’Almeida na Gazeta. Minha Infância agradece até hoje a essa emissora.
Sanfoneiro…
barza… por falar em cinema brasileiro… tu vistes on the raod? o que achou? abrazo….
Não vi ainda, só vou conseguir assistir no fim de semana.
o filme é apresentado como uma produção franco-brasielira-norte-americana. na copia nacional, pelo menos, o primeiro simbolo que aparece no comecinho é o selo da ancine
Eu sei, li isso também.
Eu vi o filme. É bem filmado (bela fotografia), com bons atores e tudo em tese certo. Mas é chato, coxinha, quadrado. Em suma: Walter Salles
A raposa e as uvas…
André, o grande problema é essa Lei Rouanet não só no cinema, mas na cultura brasilis em geral. Se a tal obra não estiver de acordo com os preceitos marqueteiros das estatais, dos bancos e das mega empresas em geral, a obra cultural corre o risco de nem existir, por isso que existe isenção fiscal para o Cirque du Soleil, Maria Bethânia, show da Ivete Sangalo, filmes com padrão Globo Filmes, etc.
exatamente. e assim, festivais e filmes independentes não tem nenhuma chance. vide o cancelamento da edição deste ano da Jornada Internacional de Cinema da Bahia. o terceiro festival mais antigo do Brasil. após atravessar os anos da ditadura como reduto da liberdade de expressão, agora é obrigado a se calar por absoluta falta de patrocínio. documentários e filmes de curta metragem, que são o foco do Festival, não interessam aos marqueteiros.