Desculpe, Jon Lord, não me leve a mal...
20/07/12 07:05
A morte de Jon Lord me inspirou a fazer algo que não fazia há muito tempo: ouvir meus velhos discos do Deep Purple.
Tirei da estante “In Rock”, “Machine Head” e meu favorito, “Made in Japan”, o duplo ao vivo lançado em 1972.
Comprei “Made in Japan” lá por 82 ou 83. Meu vinil está inteiraço. Passou os últimos 30 anos descansando numa estante, protegido por um plástico, de onde saiu raramente.
A capa está autografada por todos os integrantes da banda – menos por Ritchie Blackmore, aquele mala, que se recusou a assinar.
Ouço o disco há dois ou três dias sem parar. É um LP fantástico e traz lembranças de uma época em que a música parecia ser a coisa mais importante do mundo.
Manja a tal escassez, que nos fazia valorizar mais as coisas? Em 1982, comprar um disco, especialmente um disco de rock estrangeiro, era um acontecimento.
A gente ia à Modern Sound, em Copacabana, ver que discos haviam chegado. Era uma disputa.
Voltando a “Made in Japan”: fiquei pensando por que estava há tanto tempo sem ouvir o disco. O que faz as pessoas abandonar vinis que significaram tanto para elas, em alguma época da vida?
A “culpa” é nossa, não do Deep Purple, claro.
Gostos mudam, pessoas envelhecem, estilos e tendências saem de nossa esfera de interesse. Mas a música continua lá, igualzinha, congelada no tempo.
Uma olhada rápida na estante revela outros discos abandonados: GBH, Martinho da Vila, Exploited, Bee Gees, Earth, Wind & Fire, Big Audio Dynamite, Fagner…
Todos discos maravilhosos e intocados há um tempão.
Talvez seja melhor assim: deixá-los de lado por um bom tempo e redescobri-los anos depois, seja pela partida de algum músico ou por alguma efeméride (e quem tem filhos pode sempre usá-los de desculpa para tirar os vinis da estante: “Ouve isso aqui pra ver o que é bom…”).
Espero que Jon Lord não fique chateado por ter ficado esquecido aqui na estante. Não foi por mal. Mas, às vezes, precisamos perder alguém para lembrar por que gostávamos tanto dele.
P.S.: Estarei com acesso limitado à Internet hoje e impossibilitado de moderar os comentários de forma ideal. Se o seu comentário demorar a ser publicado, não se chateie, que em algum momento do dia ele aparece. Obrigado.
O que o Jon Lord, fazia com o órgão, era absurdamente incrível, o cara era um gênio.
Engraçado ver você falando bem do Deep Purple Barcinski, justo você que odeia virtuosismo, bons músicos, rock progressivo… Menos mal, pensei que as únicas bandas que você curtisse fosse os Ramones e aquele lixo dos Smiths.
Caramba… que comentário legal. Eu me vi nas suas palavras. Os anos oitenta foram assim mesmo. Tenho meu Made in Japan, Made in Europe e tantos outros. Cada qual tem sua história.
Qual o seu preferido do Big Audio Dynamite?
Tinha todos os vinis com a primeira formação.
É verdade, Barcinski. Pela lamentável notícia, me lembrei da importância da banda, em especial de ‘Perfect Strangers’ e o impacto da música/clipe na minha vida, quando tinha meus 14 anos.
Junto com o It’s Alive, do Ramones, o Made In Japan é o maior disco ao vivo de rock da história. Ouvi muito lá pelos meus 15 anos e deve fazer mais ou menos esse tempo que eu não o ouço. Lembro que eu viajava com a versão de Child In Time. Se um post sobre o disco já me traz memórias, imagino o que a música será capaz de fazer. Vou providenciar uma audição hj à noite.
Junto aos dois eu colocaria o Live at Leeds (1970), do The Who e Live Rust (1979) com Neil Young & Crazy Horse. Gosto muito do At Fillmore East (1971), do Allman Brothers Band, uma banda hoje meio desprezada, mas que sempre gostei e que nesse disco ainda tinha o maravilhoso guitarrista Duanne Allman que morreria, vítima de acidente de moto, em outubro daquele ano. Curioso é que as duas maiores bandas de southern rock -Allman Brothers e Lynyrd Skynyrd- tem fatos trágicos na sua história. A banda dos irmãos Allman também perdeu o baixista Berry Oakley em outro acidente de moto praticamente um ano após Duanne. Com o Lynyrd, aconteceu um desastre com um avião fretado quando morreram seu líder Ronnie Van Zant, sua irmã e vocal de apoio Cassie, além do guitarrista Steve Gaines.
Barça, vc era um privilegiado, cara! Tinha a Modern Sound pra descobrir as novidades… Imagine eu, que passei a adolescência em Presidente Prudente – interior de SP! Tinha que torcer pros amigos mais abastados comprarem os clássicos com os quais em tanto sonhava… Numa tarde, convenci um velho amigo a comprar o vinil do “Machine Head”, que imediatamente pedi emprestado e gravei numa fita k7 que guardo com devoção até hoje, por mais ridículo que isso possa parecer. Até os pedaços de durex emendando partes dela estão lá, não sei te explicar como. Mas nada que se compare ao êxtase de ouvir, pela primeira vez, canções irretocáveis como “Maybe I´m Leo” e “Lazy”, minhas preferidas do Deep Purple juntamente com “Child in Time”. Vi o Jon Lord no Olympia em SP em 1997. E confesso que sua performance arrebatadora me chamou mais atenção que todos os outros ali em cima do palco. Mais até que Ian Paice, outro Purple venerado e que nasceu no mesmo dia que eu… Taí um cara que merece um post também. Um abraço e obrigado por me fazer recordar momentos tão distantes, mas inesquecíveis!
Sensacional tu citares o Made in Japan, André. É um dos grandes vinis da minha adolescência, e que poucos ‘ao vivo’ podem superar aquela avalanche?
Só o que o meu foi cruelmente roubado. Dá pra perdoar o ladrão. Saudações.
Até hoje eu não sei se gosto do New Order. Saturou demais, não envelheceu bem. Para mim, claro. É uma constante com música eletrônica, fica datado muito rápido – a não ser atemporais como Kraftwerk. Mas não tem muita explicação racional, é mais memória afetiva mesmo. Alien Sex Fiend, House of Love, Primitives, X Mal Deutschland… Outro dia tocou Peter Murphy no rádio, tomei um susto, de onde eu conheço isso?
de vez em quando, o traduzir-se do fagner
E eu tento entender um pouco do que vocês sentiam (nasci nos anos 90 e não tive quem me apresentasse música de verdade), agora estou descobrindo a boa música no passado, que as de hoje são raras!!!
Maravilha de texto…chegando em casa tirarei o pó dos meus vinis e me deliciarei!
Ontem passei a tarde ouvindo também o Purple, especialmente o In Rock, que é literalmente uma pedrada (como é que o Ian Gillan conseguia emitir aqueles vocais insanos), e concluí que o Machine Head leva a fama por causa de Smoke on the Water, mas In Rock e Firebal são bem mais ricos, e o Made In Japan também, que setlist! Ainda tenho alguns vinis, mas quando penso na quantidade de gravações que armazeno hoje, não há a menor chance de tê-las em vinil, teria que ter um arquivo da BBC. Mas comprei, por puro saudosismo (e porque era prensado em DMM na Alemanha) o LP comemorativo de 40 anos de Transa, do Caetano, para poder ouvir dierito o baixo. De resto, o formato FLAC é muito bom e ontem baixei de novo alguns preferidos do Purple, soa bem melhor que mp3.
Pô, o cara se RECUSOU a dar o autógrafo?
Será que não foi pela entrada que você deu nele no jogo de futebol?
Abçs.
Não, o pedido de autógrafo foi antes do jogo. O barbarismo que rolou no gramado foi a consequência da antipatia do mala.
Aproveitando que o assunto é rock pesado, eu tenho uma teoria e gostaria de saber o que vocês acham. Para mim o rock pesado dos anos oitenta é o pior rock já feito na história. Alguém concorda?
Tá doido? Já ouviu falar em Metallica?
Já. Gosto apenas do disco preto (fora as baladas, arrghh) e da música “Master of Puppets” (apenas da música, não do disco). Mas é apenas uma opinião pessoal. Não se trata de uma banda isolada e sim de uma concepção nova do modo de se fazer rock pesado. Eu acho quase tudo que foi feito nos anos 80 muito ruim. Parte da culpa talvez tenha sido do Eddie Van Halen, que apesar de ótimo guitarrista, introduziu aquele jeito feio de solar e foi imitado por todos. Ou do vocal do Dio, que acabou influenciando bandas ruins como o Iron Maiden. Depois vieram aquelas coisas horrorosas, speed, trash etc… O peso no rock que vale ser ouvido nessa década ficou circunscrito a alguns movimentos como o hardcore americano ou a alguns grupos do pós punk mais pesados ou mesmo com veteranos (poucos) da década anterior que mantiveram o nível. Eu tenho um primo dez anos mais novo que eu, criado nesse tipo de rock pesado, que jura que isso é papo de intelectualóide influenciado pela revista Bizz. Eu respeito, mas discordo. Eu escuto quase todo tipo de música (e de rock), mas eu definitivamente não suporto a barulheira sem sentido das bandas dos 80. O Guns n Roses, já no final da década, veio resgatar o bom e velho rock pesado (só no “Appetite”, o resto é porcaria). Depois o grunge finalizou o resgate. Bom, é apenas uma teoria embasada apenas em opinião pessoal. Mas ela é corroborada por parte de amigos meus, mais veteranos, digamos assim. Eu acho que quem acompanhou o hard rock dos anos 70 teve dificuldade em aceitar o radicalismo feioso (e chato) dos grupos pesados da década posterior.
Os anos 80 são a dėcada perdida do rock.
Minha restrição é apenas quanto ao chamado rock pesado. Do restante gosto muito.
Gostei do easter-egg no fim do parágrafo sobre álbuns abandonados.
GBH,Deep Purple,Fangner,Martinho da Vila…
Pelo amor de Deus!! vai ser eclético assim nos quintos dos infernos…
Jon Lord não te merece…pode vender os discos…
Fagner? Ele já não teve um encontro com a Ana Maria Broca?
Não me lembro, mas é bem capaz. Mas os primeiros discos dele são muito bons, já ouviu?
É verdade – tem que dar valor ao que teve valor um dia. Vai chegar o dia tb em que os “Lucios Ribeiros da vida”, vão contar nas estandes deles as enormes quantidades de CDs de bandas índies pífias que eles consideraram a última salvação do rock e ver que a arrogancia na contemplação do novo deles, superou a humildade de assumir o velho que era bom…;o)
Não me livro das antigueras por nada!!!!!!!
Salve Sabbath, salve Purple, Ramones, Sex Pistols, Nirvana, Beatles, Velvet Underground, Mudhoney, Sonic Youth, Joy Division…….
Hum…Physical Graffiti e Staring At the Sea (aquela coletânea do Cure com o veinho na capa).
Infelizmente o do Led não é o original. Fiz a besteira suprema de trocar vários vinis (logo esse!) pela então “última palavra em qualidade de som”.
Mas q burrro!!!
É realmente bom ficar sem ouvir um disco algum tempo e depois redescobrí-lo , aguça a memória de momentos bons, engraçados. E descanse em paz Jon Lord, um dos melhores tecladistas da história da música.
André, às vezes me vejo fazendo o mesmo que você. Redescubro um velho vinil e penso o quanto era bom ouvir música numa época de escassez de mídias. Aquilo era um ritual!
Hoje de manhã no carro eu ouvindo All Right Now do Free com o grande Paul Rodgers nos vocais tive a mesma sensação.
Esse tipo de som tem que ser ouvido todos os dias da vida!!!!!!!
Sobre o Blackmore o negócio é de simples conclusão pois onde a maioria dos rockstars acha que é Deus ele não acha.
Tem certeza.
RIP Uncle Jon.
Conhece os albuns solo do Paul Kossoff e com a Band Street Crawler? Se não conhece, vai que é coisa fina!
Back Street Crawler é muito bom. E também os álbuns do Tom Verlaine, ex-Television, como Dreamtime, é uma guitarra bem diferente. Agora, a coletânea Molten Gold do Free é incrível, boa de ponta a ponta, Paul Rodgers no auge.
Infelizmente tive que me desfazer dos meus vinís, por absolutamente falta de espaço; coisa que os atuais cds também já estão ocasionando.
Em priscas eras comprar um disco era um acontecimento; coisa que nos tempos “torrentianos”, em que músicas são compartilhadas aos montes e “na faixa”, a coisa ficou meio que banalizada… tem muito lixo rolando na web….
Grande texto André….
Eu ouço Deep Purple quase todo dia desde 1991. Patroa reclama, mas fazer o quê? Bem-vindo de volta, mestre.
Dá pra entender a moça. Grande banda, mas TODO DIA?
Semana passada ouvi os primeiros discos do Raul Seixas coisa que não fazia desde que eu tinha 5,6 anos e escutava com meu pai (e olha que escuto Rock com frequência gigantesca).
Senti a mesma coisa quando ouvi “Sobrevivendo no Inferno” dos Racionais e me lembrei da adolescência quando tive um contato grande com o RAP.
Acredito que essa “distância” dos clássicos com o passar do tempo é por causa dos inúmeros álbuns que ouvimos com o passar do tempo. É
Continuando:
… São muitas bandas e estilos que aparecem com o passar do tempo. E também recebemos tantas influências diariamente que em um período ouvimos Pink Floyd e depois de uns anos achamos Ramones os melhores da história.
Mas uma coisa é fato: Quando marca uma parte da nossa vida e se trata de um trabalho com qualidade, sempre ficará na lembrança, como no meu caso o Raul Seixas e Racionais, que sempre indicarei caso perguntem sobre Rock Nacional e RAP para mim.
Caro André.
Cacete, que bom ler este seu post e perceber que tem gente como a gente, que tem vinil do Deep Purple, do Fagner, dos Bee Gees (caraca) e outros tantos, ‘que nem eu’, cara!
Você escreveu uma coisa bel legal: “Gostos mudam, pessoas envelhecem, estilos e tendências saem de nossa esfera de interesse. Mas a música continua lá, igualzinha, congelada no tempo.”
É isto, meu caro!
Eu também vou ‘desenterrar’ alguns LP’s!!!!!
Abração
É bem por aí, Barça! Ao mesmo tempo em que é um pouco imperdoável esquecer discos bons por tanto tempo, quando se redescobre esses álbuns (da época em que “a música parecia ser a coisa mais importante do mundo”), a sensação é muito boa, mesmo s eo motivo é a morte de algum músico.
Falando em “morte”, bons tempos aqueles em que se podia passar uma tarde inteira “garimpando” em uma loja como a Modern Sound. Não sou do Rio, mas a tive a “sorte” de visitar a Modern em 2007 e 2008.
E eu acredito que a escassez “daquela época” continua: se antigamente era por falta de informação e material, hoje é por falta de qualidade e opção mesmo.
abraços
coincidentemente (ou não) acabei de ouvir meu Deep Purple 30… uma coletanea deles em comemoração aos 30 anos da banda… realmente é lega preservar fisicamente a música assim nossos filhos podem ver o que realmente vale a pena…