Morre Chris Marker, um dos grandes criadores do cinema
31/07/12 07:05
Todo mundo lembra a primeira vez que viu “La Jetée”. É um daqueles filmes inesquecíveis.
“La Jetée” foi feito em 1962, tem 28 minutos, é em preto e branco e construído quase que exclusivamente por fotografias. Não tem diálogos, apenas uma narração monocórdia.
Trata de sobreviventes da Terceira Guerra Mundial que vivem nos subterrâneos de Paris e são submetidos a experimentos com viagens no tempo. É uma das grandes obras-primas do cinema e inspirou “12 Macacos”, de Terry Gilliam.
O diretor de “La Jetée” é o francês Chris Marker. Marker morreu domingo, em Paris, no dia em que completava 91 anos.
Chris Marker foi um personagem tão estranho e fascinante quanto seus filmes. Nunca falava sobre seu passado, não dava entrevistas e não se deixava fotografar. Em 60 anos, fez mais de 70 filmes e escreveu mais de dez livros.
Costuma-se associar o nome de Marker ao cinema documental, mas a verdade é que mesmo seus filmes “temáticos” – sejam sobre a revolução cubana, Yves Montand, os movimentos de esquerda em 1968 ou a vida de Simone Signoret – superam o simples relato factual e enveredam por grandes ensaios poéticos.
Marker usa o documentário como ponto de partida para suas divagações. Talvez considerá-lo um “ensaísta” ou um “multimídia”, como fez seu amigo e admirador Alain Resnais, seja mais coerente.
“La Jetée” é lindo, mas meu filme predileto de Marker é “A.K.” (1985), sobre as filmagens de “Ran, de Akira Kurosawa.
É um documentário, mas não tem entrevistas de Kurosawa ou depoimentos de ninguém sobre o cineasta. Marker se posiciona como um mero observador, filmando Kurosawa , seus assistentes e técnicos trabalhando por trás das câmeras.
“A.K.” é um dos filmes mais bonitos já feitos sobre a arte de filmar. É um tributo de um grande diretor, Chris Marker, a outro, Akira Kurosawa. Vale por muitas aulas de cinema.
Totalmente fora do assunto, Barcinski, mas você viu o novo clipe do Social Distortion, “Gimme the Sweet and Lowdown”? http://www.youtube.com/watch?v=yauKLcdpNrM. Lembrei de você porque começa com uma referência ao Joey Ramone.
Não conhecia o autor/cineasta mas pela descrição do La Jetée fiquei curiosíssimo e acabei de assistir. Fantástico mesmo! Acho que só fiquei espantado da mesma maneira quando vi “Um cão andaluz”. Valeu pela dica, vou atrás de outros deste francês maluco.
Tive a sorte de participar de uma boa mostra de filmes de Marker. Um cineasta originalíssimo e discreto. Além de ser o provável criador do cinema de ensaio, um gênero que desafia os gêneros tradicionais, também foi um cineasta militante. Nessa seara indico, por exemplo, “Grin Without a Cat”, cuja sequência magistral segue aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=zP1AoocnoXM
Aliás, todo filme de Marker tem gatos, bichos de que ele gostava muito.
Será que ele criou o cinema de ensaio? Pode ser, mas acho que Dziga Vertov e alguns surrealistas fizeram isso antes do Marker. O que não tira o brilhantismo dele.
http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/1843/ECAP-829FGH/1/disserta__o_para_ser_entregue_pra_biblioteca.pdf
A idéia de
fazer um ensaio, tendo como suporte o cinema, ou simplesmente um filme-ensaio, surgiu na Alemanha com Rans Richter. A idéia de Richter era de que:
Diferente do filme documentário, que apresenta fatos e informação, o filme ensaio, (…) produz pensamentos complexos que não são mais necessariamente fundados na realidade. O cineasta é, dessa forma, não mais amarrado a regras e parâmetros da prática do documentário tradicional e são dadas rédeas livres para usar a
imaginação com todo seu potencial artístico.
Richter situa o filme-ensaio entre o documentário e o filme experimental, definindo assim a “novidade” e a originalidade desse novo estilo de filme.
Marker segue o legado das idéias de Richter, visto que participou do grupo Groupe de Trent, em que Ritcher teve importância crucial e o termo essai cinémathographique era bastante discutido. Marker chegou a ser chamado na França de “1:33 Montaigne”. Neste
país, a idéia de ensaio é fortemente ligada ao nome de Montaigne. O pensador francês do século XVI entendia por ensaio a seleção de uma idéia para saber como o eu e a sociedade se relacionam com essa idéia – sendo a frase que-sais-je (o que eu sei?) o mote revelador de que toda investigação sobre a sociedade é também uma investigação sobre como o eu se
relaciona com essa sociedade. O filme-ensaio partiria de tal idéia.
Alter afirma que o filme-ensaio combina:
Autobiografia, biografia, história, comentário social, e formas de exegese crítica, filmes ensaio, também, adotam vários esquemas formais. Por conseguinte, é incomum encontrar tensões internas interiores em filmes-ensaio porque sua própria natureza como um filme é arrastada em direções diferentes por seus elementos constitutivos
Sim, mas vc não acha O Homem com a Câmera, de certa forma, um filme-ensaio?
acho que é um filme e um ensaio, mas não um filme-ensaio. Se você ler os textos do Vertov como o We, você vai ver que ele quer é fazer o cinema mais puro possível, enfim, quer é a essência do cinema e não fazer um filme-ensaio. Enfim, ele não queria uma mistura de gênero, mas achar o particular. Nesse sentido, as vezes acho que Berlin, sinfonia de uma cidade, deve ser mais próximo disso. Mas não é bem ensaio, ainda assim, é denotativo demais pra isso.
Viu isso?
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1129061-banda-killing-joke-diz-que-vocalista-esta-desaparecido.shtml
Já, é meu post de amanhã.
Can’t wait!
Tomara que não tenha acontecido nada de ruim com ele…grande banda!
pauta do Dangerous Mind …
Como assim? Ele morreu domingo, todo mundo deu ontem, eu inclusive tuitei de manhã sobre a morte dele e escrevi ontem mesmo pro Folha Online.
este filme parece fantástico ,vou procurar. A propósito, estou querendo ver um bom filme de máfia , yazuka, cosa nostra ,essas coisas , tipo “black rain” , algum mais “cult”. Já vi “o funeral” e os óbvios “godfather” , “casino” , “goodfellas”. Por acaso você, André ,me indicaria algum ? Ou alguém que leia este comentário…
desculpem o off-topic
O Pagamento Final (Brian De Palma), O Rei de Nova York (Abel Ferrara)… fiz um post sobre filmes de gângster, procura que vc acha…
Valeu,André ! O Pagamento final “carlito’s way” já vi também ,Sean Penn irreconhecível em ,na minha modestíssima opinião, sua melhor atuação. Este filme é espetacular. Vou caçar o Rei de NY ,muito obrigado. Se o pessoal quiser indicar mais, agradeço imensamente 🙂
achei seu post ! http://andrebarcinski.folha.blog.uol.com.br/arch2011-08-14_2011-08-20.html#2011_08-18_01_38_46-147808734-0
AK é lindo mesmo. Mas o meu preferido é Sans Soleil, filme que mudou minha vida. Tem completo no Youtube também.
Sans Soleil é bonito demais também.
Tenta , tenta , tenta , tenta,
Se concentra e tenta se concentra e tenta
Se concentra e tenta se concentra e tenta
Tenta , tenta , tenta , tenta,
Se concentra e tenta se concentra e tenta
Se concentra e tenta se concentra e tenta
Tenta , tenta , tenta, tenta
Você leu algum livro dele, Barça?
Não, só entrevistas e artigos.
La Jetée é belíssimo. Não assisti mais nada dele, mas certamente é uma das coisas mais criativas que já vi e é um filme bem fácil de assistir pelo Youtube. Lá tem muitos outros dele. Vale a pena conhecer para quem nunca viu nada.
Se eu morresse no dia do meu aniversário de nascimento… eu juro que reencarnava na hora!