O homem que ressuscitou Sherlock Holmes
07/08/12 07:05
Quando foi anunciado que os herdeiros de Arthur Conan Doyle (1859-1930) permitiriam pela primeira vez um “novo” livro de Sherlock Holmes, muita gente torceu o nariz. Não parecia uma boa idéia.
O escolhido para escrever o livro foi o inglês Anthony Horowitz, 57, famoso por sua série de livros juvenis com o personagem Alex Rider, um espião adolescente.
E não é que deu certo?
“A Casa de Seda”, o novo livro com Sherlock Holmes e que acaba de sair no Brasil, é uma ótima surpresa. Divertido e escrito com a ironia fina típica de Conan Doyle, o romance não fica nada a dever às melhores histórias de Holmes (veja minha matéria da Folha aqui).
“A Casa de Seda” traz Holmes e o Doutor Watson às voltas com um mistério envolvendo um colecionador de arte.
Fãs do detetive certamente vão gostar das muitas alusões que o novo livro faz a personagens e situações de outras histórias de Holmes.
Entrevistei Horowitz por e-mail. Aqui vai a íntegra.
Como foi seu primeiro contato com as obras de Conan Doyle?
Quando eu tinha 17 anos, ganhei a coleção completa dos romances e novelas curtas de Sherlock Holmes. Ainda tenho a edição. Lembro que me apaixonei pelo personagem e pelo mundo de Sherlock Holmes. Sempre quis ser um escritor, mas Holmes ajudou a me direcionar para a literatura de crime.
Quais foras suas primeiras impressões sobre os livros de Holmes? Você tinha um favorito?
Sempre gostei de maneira como as histórias se espalhavam por várias partes do mundo, da América e da Índia aos mais tranquilos subúrbios de Londres. Isso me inspirou, porque eu estava morando em um desses subúrbios na época. Meu romance predileto é “The Sign of Four” (“O Signo dos Quatro”). Entre as histórias curtas, minha predileta é “The Speckled Band” (“A Faixa Malhada”).
Como foi o contato dos herdeiros de Conan Doyle com você?
Eles me procuraram do nada, eu não imaginava que eles tinham a idéia de publicar um novo livro com o personagem. Só fiz uma exigência: que me deixassem em paz para criar a história, não queria discuti-la com ninguém. Queria fazer uma história nova e original, que não parecesse um mero pastiche ou homenagem.
Qual foi sua maior preocupação ao recebera tarefa de fazer um “novo” livro de Conan Doyle?
Para ser honesto, eu não tive grandes preocupações. Se eu me achasse incapaz de escrever o livro, não teria aceitado. Gosto demais do trabalho de Conan Doyle para correr o risco de estragá-lo. Acho que minha maior preocupação foi que o livro precisava ser original, ele tinha de viver e respirar no espírito de Conan Doyle.
É muito difícil emular o estilo de outro escritor?
Não achei difícil. Eu estava completamente inspirado pelo gênio de Conan Doyle, e o que ele forneceu é um presente para qualquer escritor: um mundo brilhantemente imaginado, personagens inesquecíveis e uma atmosfera incrível. A experiência toda foi muito boa.
Em uma entrevista recente, você disse que estava determinado a nunca receber uma carta de fã de Holmes dizendo: “Como você pôde escrever tal coisa?”. Você chegou a receber alguma carta assim?
Não. Felizmente, fãs de Holmes no Reino Unido e nos Estados Unidos têm adorado o livro. Algumas pessoas ficaram chateadas por eu ter mencionado (no prólogo) que Holmes estava morto. Em suas almas, o personagem nunca poderia ter morrido.
O livro faz várias alusões a outras histórias de Conan Doyle. Você faz muita pesquisa para escrever “A Casa de Seda”?
Bom, comecei por reler todas as histórias curtas e os quatro romances para lembrar porque eles eram tão bons. E sim, fiz anotações cuidadosas sobre eventos e personagens, para que pudesse utilizá-los em meu livro. Mas eu cresci lendo a literatura do século 19 e não precisei fazer muita pesquisa.
Você acha que o livro e as recentes adaptações de histórias de Sherlock Holmes para o cinema podem ajudar uma nova geração de leitores a descobrir o trabalho de Conan Doyle?
Sei que muitos leitores jovens que descobriram Holmes depois de ler “A Casa de Seda” começaram a ler os originais. Nada me dá mais prazer que isso.
Para terminar: existe algum outro escritor cujo legado você gostaria de continuar?
Bom, eu adoraria ter escrito algum romance de James Bond, mas ninguém me pediu até agora!
P.S.: Hoje estarei com acesso limitado à Internet. Caso o seu comentário demore a ser publicado, peço um pouco de paciência. Obrigado.
André, off-topic, mas vale a pena: você viu a nova lista de melhores filmes de todos os tempos da “Sight & Sound”? Aliás, melhor que a lista dos críticos foi ver a lista pessoal dos diretores. Woody Allen escolhendo dois ‘fellinis’, assim como Coppola (que cravou também dois ‘scorsese’). Vale um post, não? Olha lá: http://omelete.uol.com.br/cinema/melhores-filmes-da-historia-conheca-listas-de-tarantino-scorsese-coppola-e-mais/
Só vi que o Corpo Que Cai ficou em primeiro, achei um absurdo.
Michael Mann colocou Avatar entre os seus melhores… não me surpreende, embora também seja absurdo.
Mas, desculpe dois comentários seguidos, fiquei curioso. Embora não o considere o “melhor já produzido”, gosto d’o Corpo de Cai. O que você acha desse filme?
*que Cai… obviamente. É o cansaço do dia nas costas. 😉
É fantástico. Mas o melhor filme já feito?
Juro que pensei que o andré iria fazer um tópico especial em homenagem aos 70 anos de Caê.
totalmente off topic, mas parece que o Obama concorda com você a respeito do Batman:
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1133179-obama-diz-que-anne-hathaway-e-a-melhor-coisa-do-novo-batman.shtml
Tem meu voto!
André, só aproveitando o ensejo: que palhaçada esse negócio da Folha de restringir o número de acessos….pqp… em breve ficarei mais um tempo sem ler seu blog…e assim o ciclo se repete…..santa paciência, Batman!
Desde de pequena leio Holmes. Adoro os livros. Alguns anos atrás tinha uma camiseta com o perfil do detetive e passando por uma rua de favela um rapaz apontou, “Ei não quer me preder?” É um personagem forte e universal tanto que o autor foi ameaçado por leitores quando matou Sherlock. Assisto sempre as series e adorei essa nova Sherlock. Temos o Enigma da pirâmide, livros e series. Ele nos fez tomar gosto pela leitura há mais de 20 anos. Porém ao contrario da maioria adoramos o Sherlock com Robert Downey Jr.
Fiquei uns dias sem internet e só consegui ler hoje o post do Batman.
Puxa vida… gostei tanto… será que eu fiquei menos inteligente? Pra mim, Batman é igual às minhas bandas preferidas, nunca vão fazer nada que me decepcione.
Sabe aquele amigo de infância? Por mais m*rda que faça, sempre vai ser seu amigo. Gosto do Batman nestes termos.
Fiquei curioso. Conan Doyle foi o autor que me fez gostar de literatura, ainda pequeno. O vício permanece até hoje, mesmo eu já tendo lido e relido tudo. Ontem mesmo, antes de dormir, uma lida em “O cão dos Baskervilles”. O grande barato do personagem não são as suas deduções – que foram muito bem satirizadas por Jô Soares, em “O xangô de Baker Street” – mas as descrições da Inglaterra Vitoriana. Quanto a versão cinematográfica dirigida pelo ex-marido de Madonna, esqueçam. Seria melhor se fosse batizada de “Batman e Robin da era Vitoriana”
André, perdoe-me o off-topic, mas você soube do projeto de lei que quer obrigar cinemas e teatros a colocar detectores de metal em suas portas? Isso me lembrou um pouco daquela lei do bueiro no RJ, que você já havia comentado aqui. Gostaria de saber sua opinião. Bjs!
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/mobile/2012/08/05/projeto-de-lei-quer-colocar-detector-de-metal-em-salas-de-cinema-de-sao-paulo.htm
Não sabia, vou ler com calma. Obrigado.
Semana passada me caiu na mão uma edição de bolso do Arsene Lupin, a versão francesa e marginal do Sherlock Holmes. É uma leitura bem divertida também.
Interessante um autor retomar a obra de outro assim…li que a companheira do falecido Stieg Larsson disse que teria capacidade de dar continuidade à obra dele, mas não levei a sério. E quanto ao atores que representaram Sherlock Holmes nos filmes, qual o seu favorito? O meu é, disparado, o Benedict Cumberbatch. O pior é o Robert Downey Jr….
Interessante como ele se esquivou da pergunta sobe os filmes do guy Rithcie. Gosto bastante dos filmes antigos dele, mas esses dois são muito, muito ruins, ainda que bem filmados. Mas foi a pior recriação do universo de Doyle que já vi. Horowitz, para não falar mal, não fala no asusnto. Saída diplomática…
Quando entrei no blog e olhei a foto antes de ler achei que era um post sobre o Val Kilmer… rs… muito parecido esse escritor.
Off a parte mas:
http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/9115-caetano-veloso-70-anos#foto-174712
Quem poderia ganhar a medalha “caetano veloso” de honra ao mérito? E mais ainda… qual deveria ser o mérito?
Saudades do Garagem…
O garagem faz falta, 70 anos de Caê, acústico Arnaldo Antunes, Cláudia leite como júri de um programa de música junto com Brown entre outras coisas que poderiam ser hilarias no programa.
Volta Garagem!
Volta Garagem!
Os últimos filmes do Sherlock Holmes, com o Robert Downey Junior, ofenderam a memória de Conan Doyle…
Legal André! E pra quem é fã casual do Holmes, o livro vale a pena também? E por falar em novo livro com o Sherlock, e o “Xangô de Baker Street” não conta? Por fim, ainda no assunto livros, comecei a ler LA Confidential depois de várias comendações suas. Estou bem no início, mas já percebi o estilão do Ellroy. 1 abraço!
Vale sim, é bem divertido.
Eu li o livro, e gostei imensamente – ficou mesmo muito próximo de um típico livro de Sherlock Holmes.
Espero, sinceramente, que venham outros.
André, um OT: Nem uma palavrinha sobre o aniversariante do dia, o seu grande amigo setentão Caê????
Cara, tô fora de casa a trabalho, eu havia programado todos os post e esqueci desta data tão especial…
O livro é de fato interessante, mas fica evidente o esforço de Horowitz para encarnar Conan Doyle (infelizmente sem muito sucesso, apesar da trama ser excelente), mas a proposta da familia era mesmo um pouco absurda, um “levanta Lazaro” literario complicado. Meu pai tinha os livros em quadrinhos publicados nos anos 50, com o texto de Doyle, uma maravilha (por que não reeditam?), e foi esse o meu primeiro contato com Sherlock, até hoje releio sem parar os livros (os contos curtos de “A Volta de Sh…” e “Histórias de Sh…” parecem ser a grande matéria prima de Horowitz). Agora reinventar Sherlock parece dificil, mas a série “Sherlock” da BBC com Benedict Cumberbatch e o incrivel Watson de Martin Freeman chegou bem perto.
O Holmes nao é dominio publico a essa altura? Até o Jô Soares fez aquele “Xangô de Baker Street” eheh.
e esses filmes com o downey jr, barza? tu curtes?
Não mesmo. Sherlock Holmes virou o Hulh, bate em todo mundo, achei ridículo.
Também achei o fim da picada botarem banca de herói da Marvel em cima do Sherlock. Me recusei a assistir.