Como o nome diz, “360” não sai do lugar
20/08/12 07:05
“360”, o novo filme de Fernando Meirelles, é mais uma daquelas histórias com múltiplos personagens e tramas que se cruzam.
Filmes assim existem há décadas. O roteiro de “360”, do inglês Peter Morgan (“A Rainha”, “Frost/Nixon”), é inspirado por uma peça escrita em 1897 por Arthur Schnitzler e filmada em 1950 por Max Ophuls (“La Ronde”).
Robert Altman fez sua carreira com narrativas de múltiplos personagens, como “Nashville” e “Short Cuts”. Mais recentemente, o mexicano Alejandro Gonzáles Iñarritu fez três vezes o mesmo filme – “Amores Brutos”, “21 Gramas” e “Babel” – usando a tal fórmula.
O problema de “360” é que, das diversas histórias do filme, poucas funcionam.
A trama começa em Viena, onde um executivo em viagem de negócios (Jude Law) se prepara para trair a mulher com uma prostitua eslovaca. Enquanto isso, em Londres, a esposa, interpretada por Rachel Weisz, o está traindo com um fotógrafo brasileiro (Juliano Cazarré), que por sua vez é abandonado pela namorada (Maria Flor), quer pega um avião e encontra um homem (Anthony Hopkins) obcecado em encontrar a filha desaparecida.
Outros personagens se misturam à trama: no aeroporto de Denver (EUA), fechado por uma nevasca, a personagem de Maria Flor flerta com um sujeito (Ben Foster), que acaba de sair da cadeira por agressão sexual. Há ainda um gângster russo, cuja esposa o quer largar pelo patrão, um islâmico em crise de consciência.
Em debate realizado pela Folha semana passada, o próprio Fernando Meirelles reconheceu que seu filme sofre de excesso de personagens: “Se pudesse, eu mataria uns dois personagens”, disse.
Eu iria além: eliminaria pelo menos metade.
Há personagens ali que não dizem a que vieram. O fotógrafo de Juliano Cazarré, por exemplo, aparece em duas cenas e sai da trama sem que o espectador saiba nada sobre ele.
As traições do casal Jude Law e Rachel Weisz também não são exploradas, assim como a angústia da esposa do gângster russo, personagem que surge do nada e some da mesma forma.
Os diálogos parecem tirados de mensagens de biscoitos da sorte chineses: “Só se vive uma vez”, “Voltamos ao ponto de partida”, etc.
A primeira frase do filme é uma pérola: “Um sábio disse certa vez: ‘Ao chegar a uma bifurcação na estrada, escolha um dos lados’.” Isso é dito com a reverência de um profundo tratado filosófico, o que só torna a coisa toda ainda mais pomposa e ridícula.
O curioso é que uma frase idêntica foi proferida por Yogi Berra, um jogador e dirigente de beisebol, espécie de Vicente Matheus dos Estados Unidos.
Fui ver o filme no sábado com a namorada nova que estava de saia, confesso que prestei mais atenção nas pernas dela do que no filme
Só lembrando que o clichê da “bifurcação” já aparece no final de “O Náufrago” 🙂
Falou tudo André, achei a tua crítica bem mais sensata que o filme.
Nada contra o Meireles, mas o 360 é um tipo, tudoaomesmotempoagoraoununca e o pior, não diz absolutamente nada.
Lembra um monte de filmes publicitários e nenhum ao mesmo tempo…
Parabéns!
esqueceu o melhor do Altman – Gosford Park.
“O problema de “360” é que, das diversas histórias do filme, poucas funcionam.”
o problema é que Fernando Meirelles é um publicitário; já o Altman um gênio
Sério que vc acha Gosford Park melhor que Nashville? MASH? McCabe & Mrs. Millers? Short Cuts?
Melhor que Nashville e Mash, com certeza.
Shor Cuts, talvez empate.
mccabe & mrs. millers, não conheço, mas vou baixar agora. só essa informação valeu ter lido o post hoje.
Eu acho Gosford Park um dos piores filmes do Altman, junto com Prêt-a-Porter, Popeye, etc.
Gosford Park não é exatamente o que ele fez em Short Cuts e, de certo modo, em Nashville, mas com maior concisão?
Concordo – Popeye, prêt-a-porter a dr. t bem abaixo. Devem ser considerados filmes do Altman?
Claro, ou será que ele foi obrigado a fazê-los?
nunca fizeste um trabalho que não querias e em que não acreditavas?
Eu? Não.
parabens- deves ser um dos poucos
Eu gostei de Short Cut e o O Jogador. A primeira matéria que li sobre o filme 360 já falava sobre histórias que se intercruzam e tal, vi que o filme já estava “obsoleto”. Como bem disse o Barça, técnica manjada.
Esse é o típico filme “não vi e não gostei”.
Cineasta brasileiro sofre por ser presunçoso, principalmente quando se internacionaliza, vide W. Salles e Babenco. O último dele “Blindness” é uma das piores coisas que já vi, simplesmente ridículo. Ali o Meireles já dava sinais de que tinha perdido a mão…
A Estrada, do Walter Salles, você não fez um tópico. O que ocorreu?
Vi uma semana depois de estrear, perdi o timing. Não gostei nada do filme, achei careta, formal, esperava que fosse como o livro, mais ousado. Parecia uma cinebiografia do Kerouac.
Aqui é sempre bom seguir o contrario do critico cinéfilo. Se o André achou o filme uma porcaria, pode assistir que é ótimo.
O tempo e o dinheiro é seu, Cristiano. Mas assista e depois volte aqui nos dizer “que é ótimo”.
André – off topic – não rola uma crônica sobre o centenário do tricolor Nelson Rodrigues? Um abraço!
Como posso ter esquecido dessa data? Obrigado pela lembrança.
O Iñarritú se apegou demais a essa fórmula. Mas tenho que admitir que “Amores Brutos” é primoroso, um filmaço. São poucas histórias paralelas, elas se cruzam de forma interessante e os personagens se sustentam. Sem citar a trilha sonora, que é muito boa. “21 Gramas” é muito pretensioso e “Babel” é bastante auto-indulgente. Uma coisa são histórias se cruzarem num bairro (“Amores Brutos”), outra é ir dos EUA ao deserto africano e de lá ao Japão. Um pouco demais…
Acho que desse tipo de filme de histórias paralelas, esse é o que eu mais gosto. Os outros dois filmes que vieram depois pareciam cópias cada vez piores.
Fala, André
Desculpa o off topic, mas acabei de ver Face is Familiar na HBO, que não resisti. Muito legal o documentário, sobre os atores coadjuvantes, já viu?
Bem que você podia mandar uma lista com os seus coadjuvantes favoritos, hein? Pra mim Luis Guzmán, Michael Madsen e Joan Cusack estão entre os melhores…rola um post?
Pô, não vi, mas o tema é ótimo. Tá passando esses dias?
Acabou de terminar, mas vai rolar de novo quarta feira (22/08) na HBO 2.
Demais, vou assistir e fazer um post, parece demais. Sem quere abusar, mas vc sabe dizer se reprisa depois?
Olhei na programação (via SKY) e só quarta feira mesmo, as 17:40
Muito obrigado!
Os meus favoritos são Tim Roth, Steve Buscemi e Sam Rockwell.
Ninguém te perguntou.
Pelo amor de Deus,parem de babar ovo e tenham opinião própria,não tenham medo…Eu assisti Domésticas,Cidade de Deus e o pretencioso Jardineiro Fiel e só gostei do segundo.Acho que Fernando Meirelles tem que ralar muito ainda.Abraço
Domésticas é de doer mesmo, assim como o Ensaio sobre a Cegueira.
Tirando o Zé Pequeno Movie, do Meirelles só gosto do Jardineiro Fiel.
O ditador!
Esses filmes com vários personagens e histórias interligadas acaba nisso aí mesmo que vc escreveu no texto: muito diálogo, pouca evolução e a confusão de temas e personagens acaba dificultando que o espectador se prenda a uma ou algumas das histórias. É como um rodízio de pizza, você prova um pouquinho de cada coisa, mas nada do que você comeu te satisfaz individualmente.
Não vi o filme mas só para mantê-lo atualizado de outro assunto: http://www.sbt.com.br/omaiorbrasileiro/ com destaque para a chamada “Santos Dumont vence Tiradentes em eliminatória e está na semifinal”. Agora a disputa está entre Pelé e JK.
Sílvio Santos, o dadaísta da TV brasileira…
😀
Pois eu adorei o filme, meio cara de filme espanhol, filme pequeno, excelente direção de atores. Recomendo! Aliás, gosto de todos os filmes do Meirelles, desde Domésticas.
Eu gosto de filmes com cruzamentos de histórias, mas pelo jeito esse aparenta não ser legal… Assistirei pra ter uma melhor opinião. Mas nem a direção do Meireles foi boa? Li vários elogios sobre sua forma de trabalhar, desde atores/atrizes até outros diretores.
Lei de Lavoiseir pra tudo neste mundo, inclusive música e cinema….tudo cópias de algo que, em algum momento deu certo…
em “Além da Vida” Morgan já exercitou essas tramas cruzadas. já não achei nada demais. sequer teria a coragem de comparar com os filmes de Altman e Iñarritu.
Off Topic: Tony Scott merece homenagem no blog?
Não era um grande fã dos seus filmes, mas ele dirigiu o filme que despertou a minha paixão pelo cinema, “Amor a Queima Roupa” (1993).
Já fiz o texto, publico amanhã.
o filme dele que mais lembro, é também o primeiro dele que vi: “Fome de Viver.” David Bowie, Catherine Deneuve e Susan Sanrandon num filme só, pra mim já era o suficiente. esse nem precisava do roteiro. 😉
O mundo está acabando em 2012 para muita gente, além do Tony Scott, tb o Bret McKenzie, cantor do hino hippie “San Francisco”
Amor a queima roupa é um filme muito subestimado.
Não que seja uma obra-prima suprema, mas é um grande filme.
Eu tenho um colega que diz que o Meirelles é o Danny Boyle brasileiro. (Não sei se precisa de explicação, mas é pelo fato de ambos terem feito um filme icônico e várias bombas em seguida.)
Cada vez mais eu me convenço disso também. Mas há uma diferença entre os dois: o Boyle consegue conjugar ruindade com relativo sucesso de público, enquanto o Meirelles nem público mais consegue levar aos cinemas…
O engraçado é que ele sempre reclama do resultado final depois que os filmes são lançados: no “Cegueira” a culpa foi dos produtores, neste do Roteirista…Ele é obrigado a fazer filmes QUE ELE NÃO QUER FAZER em Hollywood? (Justo lá que os filmes pertencem aos produtores!) Tem alguém que sequestra ele para dirigir lá tal qual Kim Jong-Il fez com aquele coreano?
O que esse cara está esperando para fazer filmes “autorais” no Brasil? Aposto que com o prestígio que tem em pindorama, é só piscar o olho e ele consegue financiamento fácil para qualquer porcaria que quiser filmar…
Ele é o Felipe Massa dos diretores de cinema, a culpa é sempre alheia, nunca dele, e já foi bom do que faz, mas hoje em dia está numa má fase permanente….
O filme começa com uma frase dessas e não é comédia?
Que decepção.
Interessante também a matéria sobre o Meirelles na Rolling Stone Brasil deste mês, onde ele se diz preparado para uma eventual recepção negativa do filme.
Barça, o próprio Meirelles em entrevista aqui mesmo na Folha, já fez um ‘mea culpa’ dizendo que a bomba, ops, o filme é mais do Peter Morgan do que dele.
Então, você estaria na expectativa por algum filme a ser lançado nos próximos meses?
Barcinski fora que na minha opiniao a personagem de Maria Flor parece ser um grande clichê ambulante, para mim este foi o ponto mais baixo do filme.
Meio OFF topic: vi o Cavaleiros das Trevas este fim de semana. Que filme horrível. Os diálogos eram tão ridículos que me veio deu vontade de sair da sala de exibição logo nos primeiros minutos. Mas a minha persistência foi recompensada: ver o Batman naquela cena em que ele luta ao lado dos policiais de Gotham contra o Bane e seus capangas me fez rir alto no cinema. Essa seqüência resume bem o que é o filme: algo feito para ser sério mas que, na verdade, é só ridículo.
André, li hoje em outro site que, um belo dia, você participou de uma jogo de futebol em que o Ritchie Blackmore também jogou. E você deu um carrinho nele? É sério isso? Conta mais..
Desculpe fugir do assunto, mas eu acho que o Blackmore é um mala sem alça.
“Off topic 2”: Diretor de “Top Gun” jogou-se de uma ponte imaginando ser um “ás indomável”. Por que o Carlinhos Brown não imagina o mesmo e se joga do Elevador Lacerda ??? Bom dia…
Esse lance da frase sábia logo no início me lembrou de uma situação que já me aconteceu umas duas vezes: ao ver a primeira cena do filme, antes de qualquer coisa ser falada, me veio aquele sentimento de “me ferrei”.
Eu já sabia que iria perder uma hora e meia da minha vida assistindo a uma bobagem.
Off topic total, vc viu o nascimento do mais novo meme brasileiro? Ovideo do Bar Mitzvá do Nissin Ourfali ?
Só uma pergunta. Esse filme foi feito com o dinheiro do contribuinte através da lei Rouanet?
Se o filme fosse bom, você faria esta pergunta?
Eu faria. Não interessa se é bom ou ruim.
O Reginaldo Faria.
pelo jeito o “F de I” mudou de nick…
Barça e amigos do blog – em particular o dunha. Não sei se perceberam, mas “meu forte” não é filme. Ou seja, quando o assunto é filme, tento driblar fazendo um off-topic, ou comento um comentário ou como hoje – até então – … mantenho o ostracismo.
Mas a curiosidade me mata! Sabia que algum fã estaria aqui… clamando um de meus comentários! Estava certo!
dunha… não sou eu, não fui eu e não serei eu que farei a piada hoje. A piada sem graça, a piada “praça é nossa”.
Mas confesso que ri muito com o nosso amigo Lao.
Un abrazo!!!
E a Betty Faria também…