O SESC e a concorrência desleal
23/08/12 07:05
Sou fã do SESC.
Já perdi a conta de quantos shows, exposições e debates vi em alguma unidade do SESC. Já fiz diversos cursos no Sesc.
A programação é sempre de qualidade e os preços, super acessíveis.
O SESC é inatacável. Se ele não existisse, a vida cultural de São Paulo seria uma lástima.
Mas existe um lado oculto por trás da existência do SESC, que precisa ser discutido. Um lado que traz conseqüências ruins.
Para resumir: o SESC é tão bom e tão barato, que dificulta – e, em alguns casos, elimina –a possibilidade de uma cena cultural existir independentemente dele.
Vou falar especificamente do caso da cena musical de São Paulo, que conheço de perto.
Durante um bom tempo, fui co-proprietário de uma casa noturna em São Paulo.
Nosso sonho sempre foi fazer shows lá. Assim que inauguramos, fomos atrás de bandas para tocar no espaço.
A primeira coisa que ouvimos dos artistas foi: “Não toco por percentual de bilheteria. No SESC pagam cachê fixo.” Os cachês pedidos, claro, eram fora da realidade.
Por diversas vezes, fechamos shows com alguma banda, só para ver a mesma banda se apresentando no SESC , com ingressos até cinco vezes mais baratos do que o menor valor que poderíamos cobrar.
Quem iria ver uma banda na nossa casa por 30 ou 40 reais, se poderia ver a mesma banda no SESC por sete?
E como isso é possível?
Simples: o SESC não sobrevive de bilheteria. O SESC é uma entidade privada sem fins lucrativos, que sobrevive de um imposto compulsório, que toda empresa precisa pagar. Este imposto é de 1,5% sobre a folha de pagamento das empresas.
Ou seja: se você tem uma casa de shows, um pequeno teatro, um local para debates ou uma galeria de arte, você paga para o SESC arruinar o seu negócio. Faz sentido?
O SESC oferece condições tão boas para as bandas – paga um bom cachê, independentemente de quantas pessoas forem ao show – que muitos artistas se tornam “SESC-dependentes”. Só tocam lá.
Essa situação não se restringe à música. Fico imaginando a situação de alguém que tenha uma pequena academia de ginástica ou de natação, e que de repente vê o SESC inaugurar uma unidade próxima, com piscinas e equipamentos de primeira, cobrando uma mixaria.
Se isso não é concorrência desleal, não sei o que é.
Essa situação, claro, não é culpa do SESC. Ele só está cumprindo seu papel. E muito bem.
O governo é que deveria pensar em maneiras de apoiar quem trabalha com cultura e esporte, para que iniciativas privadas possam funcionar em condições justas.
Hoje, quem abre uma pequena casa de shows, por exemplo, não tem nenhum incentivo fiscal. Paga impostos escorchantes e ainda ajuda a financiar o SESC. É o pior dos mundos.
E vou reiterar, para que não me acusem de ser “contra” o SESC: eu acho o SESC uma iniciativa fantástica. Mas se o governo não tomar providências, corremos o risco de ter no SESC a única opção para quem gosta de artes. E isso é perigoso pacas.
Se os Sescs sumissem da noite para o dia, e houvesse isenção total de impostos, a “ceninha indie” iria achar algum outro bode expiatório para culpar o seu próprio fracasso.
Quem diabos está falando de “ceninha indie”? Eu citei teatros e casas de shows, não só casas da “ceninha indie”. Leia o texto antes de comentar, por favor.
ei, barça! é fora do assunto em questão, mas o que acha do clube do filme, na cultura?
Pra quem não tem tv a cabo (meu caso) é um bom jeito de ver um filme decente num horário decente.
Acho ótimo. Vejo muitos filmes no canal Futura tb (o Futura é aberto?).
É sim.
Eu tenho parabólica convencional e é aberto sim, Barça.
Bom, só metendo a colher mais um pouquinho…fui ao evento Optimus Alive em Lisboa e paguei 100 euros por três noites, comparando com Brasil é um absurdo de mais barato…ok, sei das despesas de extras com o deslocamento continental…mas essa diferença de preço é determinada pelos impostos, ou alguém ta metendo a faca mesmo?? sei que são questões distintas pois estou falando de mega eventos…mas acho que seria um bom comparativo??
Impostos, burocracia, custo de frete, custo de passagem, meia-entrada para estudantes e cachês inflacionadas por festivais corporativos, são o que encarecem os ingressos de shows no Brasil.
Se eu não me engano tem o custo da Ordem dos Músicos que também parece que é abusivo.
Num país carente de administração, numa cidade carente e destroçada todo comentário que toca no que aparentemente é excelência parece mortal, ao ponto de não querermos enxergar erros, equívocos como as novas instalações de tal entidade que cada vez mais se parecem com um shopping center (as unidades antigas não são assim ); que este ingressos acessíveis não chegam a mão do contribuinte direto, o comerciário – “o povo” destas unidades, a maioria destes ingressos são elitizados de várias maneiras.
Portanto ótimo matéria, não fere ninguém, faz pensar.
Esse é um problema complicado.
Por um lado, como cidadão, simplesmente não dá para abrir da existência do Sesc.. sua importância para a cultura da cidade é insubstituível (acho que estamos de acordo quanto a isso).
Agora pensando nas casas de show:
(1) Mesmo que a carga tributária fosse mais leve (digamos, que ficasse em um valor justo), será que teria REALMENTE como competir com o Sesc? A desvantagem ainda seria grande, pois o sesc é simplesmente 100% mantido por verbas externas.
(2) E considerando que o governo fosse além de impostos justos, e desse aquela ajuda de PAIZÃO mesmo: nesse caso estaríamos caindo no mesmo caso da lei Rouanet, o dinheiro público está sendo utilizado para sustentar empresas que em nada beneficiam o público. Ok, democratizar o acesso a cultura é parte das obrigações do governo, mas será que subsidiar shows em casas noturnas é o mesmo que facilitar o acesso a cultura? E como diferenciar um evento cultural de uma “Balada” já que ambos podem usar a justificativa de trabalhar com música? Em pouco tempo o governo estaria financiando as casas noturnas mais badaladas da cidade.
Enfim… acho que o negócio é o próprio mercado se adaptar. Concordo com alguns comentários anteriores, cada um pode ficar no seu espaço. As atividades do SESC e das casas privadas com o tempo tornam-se complementares e não concorrentes.
Apoiado. Acrescentaria o fim da contribuição sindical compulsória, da meia-entrada, do financiamento dos comitês olímpico e paraolímpico e, principalmente, de qualquer atividade relacionada à “MPB”.
Eu, como socio-administrador de uma dessas casas pequenas a que se refere o texto, so tenho a concordar e parabenizar o Barcinski pelo texto.
http://www.facebook.com/esp.cult.walden/posts/319490528146426
Vendo o nível da capacidade interpretativa de boa parte dos que comentaram aqui, é inevitável concluir que “Uma Confraria de Tolos” foi o melhor título a se escolher para o blog. (Aliás, comprei o livro e preciso lê-lo, mas é tanta coisa na fila que não sei quando começo).
Abs
Põe esse na frente, que vale a pena.
Barça. Te desafio a fazer uma resenha positiva (crítica elogiosa) de alguma coisa que realmente funcione e não lese ninguém aqui no Brasil.
As vezes acho que somos reclamões demais!
Não tem. O que funciona, ou é feito com dinheiro público ou com impostos compulsórios.
Assim como as casas de show, que fecham ou estão fadadas a morrer, como as ONG’s. Estes dias estava vendo uma entrevista com a Lucinha Araújo. Ela disse que mal recebe contribuições para a Sociedade Viva Cazuza. O que acontece – e foi muito bem parodiado no South Park – é que hoje consideramos a AIDS como doença “secundária” e não damos o valor as instituições que auxiliam pessoas com a doença.
André, vc defecou pelos dedos agora. Então a culpa da “cena” (panelinha indie) paulistana não conseguir se manter é do Sesc? Eu acho que a culpada é a falta de competência, casas bem admnistradas, como o Cine Jóia por exemplo. conseguem se manter.
“Defecou pelos dedos”? Porque você não procura o SESC para publicar seus poemas?
hahahahaha Essa resposta foi hilária!!! Ótima!!
Marcelo, foi o pior comentário que eu li.
Pode ter certeza que não é fácil para o Jóia se manter.
Para exemplificar o post, Titãs tocou o disco ‘Cabeça de Dinossauro’ no Credicard com ingressos que chegavam até R$150 e no Sesc por R$30. Vc acha que o cachê da banda foi inferior por tocar no SESC? Óbvio que não e é essa concorrência que ele cita.
o mesmo cinejoia que tá cobrando 240 reais pelo show da feist?
Touché!
Marcelo, vc é burro pra caralho!
Achei a coluna incrível, mas está atacando a ‘coisa’ errada. Sei que (o SESC) foi apenas um exemplo, mas achei a coluna em um tom tão ‘mi mi mi’ de invejinha, espero que eu esteja errado.
O SESC é excelente e ponto, como dito, e no Brasil tudo é dinheiro, existem até mesmo aquele que usam as leis de incentivo e os ingressos são super caros.
Geraldo, por favor, leia o texto. Eu digo várias vezes que o SESC é excelente e que não tem culpa nenhuma.
André, pq em vez de incentivo público(vindo de cima), não se cria uma grande cooperativa músical, entre músicos e empresários da área??…ficaria mais fácil pleitear melhores impostos…de forma individual, tudo fica mais difícil…não sei, se estou falando bobagem…mas tanto casas de show, pequenos teatros e afins…poderiam forçar melhores condições para uma concorrência saúdavel.
Já foi tentado, Luiz, acredite. Há décadas que empresários, de todos os setores, pedem impostos mais justos e menos burocracia. Mas a máquina estatal vive dessa burocracia. Basicamente, interessa ao governo manter a coisa do jeito que está.
Porque não dá voto.
E se criassem mais iniciativas como o Fora do Eixo? Através de redes de coletivos focados no intercâmbio solidário? Através do intercâmbio solidário, ano passado movimentou 88 milhões, sendo 13 milhões em dinheiro real.
Pra quem não conhece:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fora_do_Eixo
E dinheiro da Petrobras, público, é bom não esquecer.
para de chorar e promova a cena do teu país.
Tô tentando, mas com leitores como vc, que não entendem que a proposta do texto é justamente incentivar a cena, fica difícil.
As pessoas não entendem do texto e ficam falando bobagem. Ou seja, faltaram nas aulas de ‘interpretação de texto’. É o Brasil.
Mas o SESC tem show tipo toda semana?
Claro, todo dia. E são muitas unidades do SESC.
Barça, sobre Lei de Incentivo: de alguma forma pagamos pelos filmes que usam essa grana, ou estou errado? Ontem vi o CD da Tulipa Ruiz que estampava a mesma coisa. É valido que esses produtos (não estou colocando aqui se são bons ou não) custassem menos para o público, já que estamos pagando por eles duas vezes? Pf, corrija-me se estiver viajando…
Concordo 100% com vc. Discos e filmes financiados com leis de incentivo deveriam ter preços muito mais baratos. Não é o que acontece. Na prática, nós pagamos duas vezes por isso (na verdade, eu só pago uma vez, já que nunca gastaria com um CD da Tulipa Ruiz).
fui ver o preço só por curiosidade mórbida: R$27,00! Achei que estava tipos uns 10 paus…. tops! enfim…
Barça, mas como resolver esse problema do SESC? Se eles conseguem fechar contratos com artistas e conseguem ter o preço do ingresso mais barato que todo mundo, fica impossível competir com eles. Eu não acho que diminuir impostos de casas de shows iria gerar competição.
Ué, e gerar competição não é bom?
Com certeza competição é ótimo. O que tentei dizer é que mesmo diminuindo impostos das casas de shows, será impossível pras mesmas competirem com o SESC. Impossível um Credicard Hall cobrar R$ 10.00 num ingresso, mesmo com isenção fiscal.
Claro, ninguém pode acreditar nisso. Mas é possível criar condições para que as casas de shows possam oferecer ingressos mais baratos.
Barcinski, excelente post.
Imagina a dureza para aqueles que trabalham no sesc e possuem um trabalho artístico paralelo, não podendo trabalhar no sesc?
Um antigo slogan da entidade, que parece meio exagerado, porém a cada governante que passa se torna mais atual: “O Sesc é o Brasil que deu certo”.
André, bom dia.
Você tem toda razão. Assisti somente neste mês peças a 1 real, a 2 reais. Onde mais isso seria possível?
Agora, existe um mistério no SESC. Antes da programação ser disponibilizada ao público, já há shows com lotação esgotada.
Exemplo, me interessei por um show do Pato Fu. Eu estava na bilheria um mês antes da data prevista. Não havia mais ingressos. Dois dias lotados.
Domingo passado fui ver uma peça no SESC Pompeia. Havia um banner na entrada com toda a programação do mês. Na informação do show do João Bosco já contava “Ingressos Esgotados”.
Onofri, no site do SESC tem um descritivo nítido quanto às vendas dos ingressos. Leia, bom se informar sobre o assunto, para não ficar parecendo que você está de “mi mi mi”. À esquerda da página do sesc link ‘ingresso sesc’.
Caro funcionário do SESC, não encontrei tal link.
Onofri, a dica para conseguir ingressos em shows mais disputados do Sesc é a seguinte: consulte a programação de cada unidade pelo site (os shows confirmados já tem data disponível 40/50 dias antes).
Os ingressos de um determinado mês ficam disponíveis a partir do primeiro dia útil do referido mês (exceto quando o 1° dia cai numa segunda, dia em que as unidades não funcionam). Neste dia, há filas em bilheterias de todas as unidades (que vendem ingressos não só de shows locais, mas de qualquer unidade) para vendas de diversos shows. Às vezes, é cruel, porque a venda começa às 14 hs. e muitos “aposentados” já estão por lá antes do horário (já tive que ir pra fila em horário de almoço).
Se a demanda é grande por um determinado show, esta apresentação vai ter ingressos esgotados semanas antes (um show disputado agendado para o dia 25, p. ex. vai esgotar no primeiro dia de venda). Existem shows em que é possível comprar ingresso na hora, no mesmo dia, mas com certeza não são os de maior procura. No caso dos “shows esgotados”, às vezes é possível conseguir alguma coisa quando há desistência de pessoas (o SESC aceita a devolução do ingresso e devolve o valor quando a pessoa faz a devolução até uma hora antes do espetáculo).
Como a programação impressa (livreto) só está disponível no início do mês, recomendo você consultar e se programar pelo site.
Curioso, Barcinski. Lendo o seu texto, me transportei para a cena cultural de Belo Horizonte, quando dizíamos há alguns anos que a antiga Telemig Celular, atual Vivo, fazia bem e mal para cena, fazendo editais para a música e realizando eventos com shows gratuitos e/ou com preços simbólicos. Ao mesmo tempo em que era bom ver todas aquelas atrações com preços simbólicos, os artistas se acostumavam com os altos cachês pagos pela Vivo e exigiam mais do que realmente podiam, quando em outros shows pela cidade. Ou seja, é a mesma lógica do seu artigo sobre o SESC, que eu assino embaixo.
Pois é, James, o problema é sempre o mesmo: a falta de uma política pública que faça sentido. Que sentido há em incentivar o Sesc e arrasar qualquer outra iniciativa privada? Não será possível a convivência?
Fora a SESC-dependência, que aqui virou Telemig-dependência. Alguns artistas pareciam exclusivos da operadora, tamanha era a dependência do dinheiro deles. Alguns nunca conseguiram se desvencilhar disto, prejudicando suas carreiras.
O que mais tem é artista que só toca no SESC. Mas isso é uma característica de qualquer cena dependente de dinheiro público. Fui a Recife uma vez, numa feira da “indústria cultural”, e verifiquei que quase todos os artistas só tocavam em eventos financiados pelo governo local. Numa noite, resolvi ir a uma casa ver um show. O ingresso custava 5 reais e estava às moscas. O dono do lugar me disse: “Hoje tem tanto show de graça por aí que ninguém mais quer pagar, nem que seja 5 reais.” Triste.
“Hoje tem tanto show de graça por aí que ninguém mais quer pagar, nem que seja 5 reais.”
Bem-vindo ao Admirável Mundo Novo da “Free Culture”…
São Paulo tem público pra tudo. Ingressos baratos no SESC esgotam em 1 ou 2 dias e nem todo mundo tem tempo de ir numa segunda-feira a tarde comprar ingresso, já que eles não vendem de outra forma a não ser na própria bilheteria. Ok, uma lei mais justa seria melhor…. mas acho que isso nunca vai acontecer aqui. Aqui se vc é empresário tem que sonegar, pagar propina, e etc… senao seu negocio não tem como dar algum lucro.
Péssimo exemplo o seu. Apenas três unidades do SESC em todo o Estado abre às segundas-feira. Quer criticar, critique com informações verdadeira e não ‘achismos.’
Claro que concordo com políticas públicas de incentivo a cultura, é impossível não querer uma melhoria neste sentido. Mas não vejo o Sesc como uma concorrência desleal, já que o intuito e estilo dos eventos por lá são completamente diferentes de uma casa noturna.
Por exemplo, sempre terminam antes de qualquer “balada”, ou seja, acabou o show, ninguém fica por lá p/ curtir o lugar, normalmente até no máximo umas 23:00 – 0:00, todo mundo vai embora.
Por não precisar de bilheteria, pode promover bandas não tão conhecidas do grande público, algo que uma casa de show muitas vezes, por ser dependente de qualquer entrada de dinheiro, simplesmente recusa fazer determinado evento.
O que eu vejo na administração de casas noturnas, em sua maioria, é o pensamento imediato de fazer dinheiro. Compram equipamentos ruins e cobram caro por um serviço nem sempre de qualidade.
Entre formar um público fiel e promover uma banda que atraia dinheiro, na maior parte do tempo, escolhem a segunda opção, fazendo com que não se crie um estilo e padrão próprios da casa. E nada contra bandas que atraiam dinheiro, ter uma casa de show é um negócio, portanto, se espera ganhar grana com isso.
Existem muito mais bandas boas do que lugares p/ tocar, incluindo a rede Sesc, o que falta é uma boa curadoria e um pensamento menos imediatista.
Sobre o preço extremamente barato de ingresso, todos sabemos que é praticamente simbólico no Sesc e não tenho como parâmetro base estes valores. Com certeza uma casa noturna necessita cobrar algo mais alto e não vejo problema nenhum nisso.
Mas achar que o Sesc pode criar algo negativo na cultura brasileira é criticar algo que funciona, tanto para público quanto para as bandas, em virtude da incompetência administrativa dos outros.
Aprofundando um pouco mais o assunto e dizer que algumas bandas se acomodam e criam suas carreiras com esta Sesc-dependência, aí eu concordo totalmente.
Bom, Dane, pergunte a muitos donos de casas de shows e você verá que a concorrência existe sim. Você insinuar que os empresários não conseguem concorrer com o Sesc por serem “administrativamente incompetentes” é um engano de sua parte.
Engano meu é generalizar, claro. Mas muitas vezes é o que acontece sim, André. Claro que você, com a experiência de ter uma casa noturna, sabe muito mais das dificuldades enfrentadas (apesar que impostos são um mal que qualquer empresário tem que encarar, infelizmente) , mas o que chamo de incompetência é uma falta de planejamento, a impressão que dá é que uma casa é aberta e depois vão pensar em estratégias de angariar público e fazer o negócio girar.
Acho que a concorrência existe por dividirem uma mesma função de promover bandas, mas aí é que uma boa curadoria faz a diferença. A choperia do Sesc Pompeia por exemplo, só funciona com o intuito de fazer o show e ponto, não abre p/ alguém ir lá tomar um chopp ou um drink, ou seja, quem possui casa noturna tem que saber promover aquilo que o Sesc não possui.
Se eu gostar do ambiente, do serviço e da curadorial da sua casa, eu iria pelo rolê, mesmo se não conhecesse a banda que fosse tocar no dia, por exemplo. Algo impossível de ser fazer no Sesc.
Claro que todo mundo tem de pagar impostos. Mas a carga tributária brasileira é absurda, a burocracia é intransponível, as leis trabalhistas são draconianas, tudo conspira contra.
Essas casas de shows, inclusive aquela que já foi sua um dia, cobram R$8,00 numa cerveja, R$5,00 numa água e mais não sei quantos de valets, fora o ingresso, e acham que a culpa é do SESC. Se o negócio fosse tão ruim assim as empresas da noite em SP estariam todas fechadas, mas o que vemos é o contrário, a cada dia abre uma nova casa em algum ponto da cidade.
Ninguém acha que a culpa é do SESC, falei isso 400 vezes no texto, mas vc não consegue entender o que leu.
André, li o seu texto e entendo sua visão (até mesmo porque vc deixou bem claro que não é “contra o Sesc”), mas nem preciso escrever muito, pois minha opinião é muito semelhante a que o Dane postou acima.
Não acredito que o Sesc seja um concorrente direto às casas de shows, principalmente em virtude da proposta, horário de funcionamento e estilos de música preponderantes. O Sesc não funciona como um “bar de balada” e nem é frequentado por este tipo de público. O público do Sesc, em geral, é formado por famílias, moradores próximos às unidades, estudantes, pessoas de baixa renda e gente que acompanha a agenda cultural da cidade. Muitos dos frequentadores de shows e baladas não frequentam e nem sabem o que é Sesc.
O Sesc oferece bibliotecas, espaços esportivos, refeições baratas, teatros e até mesmo shows (sem as gananciosas “taxas de conveniência” e “consumação mínima”), tudo por um preço que boa parte de seus frequentadores não tem condições de pagar no mercado “superinflacionado” que está por aí.
Este texto me fez lembrar uma entrevista/bate-papo que você fez com o Sr. Alexandre Youssef à época do fechamento do Comitê. Ok, alguns artistas que tocam no Studio SP e no Sesc (Tulipa Ruiz, Lobão etc.) podem até ser um exemplo de “concorrência desleal”, mas o Sesc raramente tem atrações internacionais como o Comitê teve em sua agenda enquanto existiu.
Enfim, não sou e nunca fui empresário (logo, não tenho autoridade no assunto), mas acredito que a cena musical e cultural vai muito além do Sesc. Se há problemas e dificuldades nesta cena, não dá pra eleger um bode expiatório, pois todos têm sua parcela de culpa: músicos, público, produtores, donos de casas noturnas etc.
Marcelo, numa boa, eu relatei a minha experiência. Deixamos de fazer shows nacionais por causa da concorrência do SESC. E não é verdade que o SESC “raramente tem atrações internacionais”. Eu cheguei a fazer um show de uma banda internacional na minha casa, para depois descobrir que a mesma banda, sem que nós tivéssemos sido avisados, estava fazendo um show de graça numa unidade do SESC no ABC. Claro que nosso show flopou.
“em virtude da incompetência administrativa dos outros” é sensacional. Mas vivemos no capitalismo selvagem, não é mesmo? E quando o artista consegue centenas e centenas de dinheiro pela ‘Lei Rouanet ‘ e na bilheteria joga um preço de ingresso para a cada dos três dígitos. Complicado.
Não existe competência administrativa capaz de concorrer com um ingresso de sete reais.
Vi muitas bandas boas (nacionais) no Kazebre por este preço…
Off:
O Buzzcocks está excursionando junto ao Devoto e os demais músicos que já passaram pela banda. Incluso o fantástico primeiro batera! parece que os shows são compostos de canções e formações das 3 encarnações da banda; ou seja, com direito ao Diggle no baixo!
Outra, estava vendo uns vídeos recentes do Magazine. A voz do Devoto continua a mesma! Fenomenal! E o guitarrista novo manda muito bem!
Tá aí duas bandas que poderiam tocar nos Sesc’s da vida…
Acho que você deveria entrevistar o dono do Hangar 110, que esta trabalhando direto com shows de bandas independentes desde 1998. O Hangar tem 14 anos de sucesso. Ele é a melhor pessoa para expor opinião sobre “concorrencia” com o SESC.
Giovani, conheço o Alemão há anos e admiro demais tanto ele quanto o Hangar. O sucesso de casas como o Hangar não invalida nada do que escrevi. Não venha pagar de arauto do underground pra cima de mim, por favor.
Eu realmente não acho uma iniciativa fantastica pagar impostos que serão usados para bancar cachê de artistas. É a mesma situação da meia-entrada para estudante. É tão absurdo que as palavras fogem. A mente dissolve!
Barça, que tal então uma “franquia do Sesc”, ou unidades somente para mostras de performances ao vivo (como show e peças) que funcionasse as noites? Conseguiríamos incentivos e a divulgação da arte, como citastes no contexto. Quem quiser lucrar com bebida e balada que abra um buteco ao lado…
Isso me soa o eterno dilema comunismo versus capitalismo. E as escolas, hospitais, transporte público? Quais são obrigações do governo de financiar, e a quais é permitido o pleno uso do mercado? Difícil. Talvez a melhor solução seja uma espécie de SUS da cultura: financiar shows através de subsídios nas casas cadastradas. Mas sei não passível de falcatruas é tanto um esquema desses quanto o vigente. E se depender de fiscalização e punição dos infratores, qualquer solução no Brasil já começou fracassando.
E outra, taxar sobre a folha de pagamento é de uma leviandade burra. Deveria taxar sobre o lucro. Ou, melhor ainda, sobre o “lucro per capita” – mais funcionários significa menos imposto.
Quem está falando em comunismo? Austin fica num país comunista, por acaso? Estou falando em criar políticas públicas e impostos que sejam realistas e eficientes, não o que temos hoje.
Falando nisso,sexta e sabado tem show da otima banda The Budos Band no SESC Pompéia.
Com ele, “o pioro dos mundos”, sem ele, “seria uma lástima”. Quais as saídas?
A saída é criar uma política cultural eficiente, coisa que o Brasil não tem. Aqui, ou se vive de dinheiro público, ou não se vive.
só para termos uma ideia, qual a carga tributária que incide hoje sobre uma casa noturna em sp? dos, digamos, R$ 50,00 que pagamos numa entrada, quanto é imposto?
Putz, João, estou fora do negócio há três anos e nem era a minha área, não sei te dizer com precisão. Mas posso garantir que é um ABSURDO. Mas não é “privilégio” de casas noturnas, qualquer empresa no Brasil gasta boa parte de seu faturamento com impostos e burocracias. As leis são draconianas e ferram as empresas, sempre.
meu pai teve uma empresa de transporte – p lhe dar uma idéia – e a taxa de impostos era 7%. do lucro? não, DO FRETE INTEIRO … e TODO funcionário no Brasil custa em média p empresa q o emprega 102% do q ganha. vá ganhar dinheiro c alguma coisa num lugar assim…
Não sabia disso, outro absurdo.
Acho impressionante como este tema é pouco debatido em épocas de eleições. Talvez um dos maiores problemas do país hoje seja o fato de que temos uma máquina estatal muito mais disposta a atrapalhar e dificultar as coisas do que o contrário.
Fala Barcinski, blz?
Quando você fala que o governo deveria pensar em formas de apoio a cultura, não acaba caindo na parada do “indie estatal”?Referente ao cachê que o SESc paga eu não sabia que isto influia no mercado em geral, porque as bandas tocam lá uma vez ou outra, aí neste dia é aquele que a banda sai da miséria e ganha um valor legal e tal que não rola sempre… Mas reforçando, não sabia que isto causava impacto em casa independentes.
De jeito nenhum. Uma coisa é sustentar artistas, outra é dar condições para que a indústria cultural se expanda e sobreviva, em igualdade de condições. Em Austin, no Texas, qualquer empresa que trabalhe com música, sejam casas noturnas, locais de ensaio, etc., têm descontos em impostos e outros benefícios. Isso tornou a cidade uma referência mundial em música e fortaleceu a indústria musical da cidade. Isso gera empregos, movimenta grana, etc.
Austin, a quantos mil kilometros de distância e quantos anos luz de desenvolvimento em relação a nossa realidade…
Aqui temos que nos contentar em ver que o líder em intenção de votos na principal cidade do país tem como desejo ver uma igreja em cada esquina.
Valeu pela resposta! abs.
Sou a favor de políticas de desconto tb e coisas mais eficazes que as leis de incentivo que temos hoje em dia. meu primeiro emprego, ainda na faculdade, foi em uma pequena produtora cultural. Andre, peguei trauma. Esse lance de lei Rouanet é tem muito esquema. A produtora em que estava vivia basicamente de cobrar de pequenos artistas para aprovar projetos em Brasília, já que ela tinha os contatos certos e conseguia quase sempre, e depois pegar uma percentagem absurda do valor conseguido em captação, muito acima do q qlqr orçamento normal destina a produção executiva de qlqr projeto artístico. Vi uns projetos medíocres serem aprovados, sem nenhuma relevância, mera publicidade gratuita para as empresas “boazinhas” que destinavam verba para eles (fortunas eram gastas fazendo panfletos de “divulgação” com o logo das empresas do tamanho do Maracanã), td por causa de lobby. Saí desse meio indignada e hj luto dentro do possível para que a coisa encontre outros caminhos. Acho importante gente como vc vir a público apontar as falhas desse sistema. A gente precisa muito de cultura independente do apoio estatal.
Oi Beatriz, vc tem razão, as leis de incentivo são usadas das piores maneiras. Isso é tema para 500 posts, sério mesmo. Já vi cada barbaridade…
Complicado esse tema. Sob o ponto de vista de um frequentador de shows, também acho o Sesc fantástico, mas não a ponto de dizer que a vida cultural de São Paulo seria uma lástima sem ele. Longe disso. Vi shows muito bons em diferentes unidades do Sesc (Asian Dub Foundation, Man or Astro-Man?, Young Gods, Manu Chao, etc). Mas todos os shows que vi por lá não dão 5% do que acontece na cidade em casas como Via Funchal, Inferno, Studio SP, Carioca Club, Hangar 110, etc. Sem falar em certo bom mocismo do Sesc que atrapalha alguns shows (Young Gods só pôde fazer set acústico por limite de decibéis, o festival “Fim do Mundo” foi desautorizado de véspera por questões de segurança, etc). Enfim, essa é minha opinião como parte do público. Se eu fosse proprietário de uma casa que sofre com a concorrência do Sesc, talvez visse o outro lado e pensasse diferente.