“Gainsbourg”: tributo a um velho safado
28/08/12 07:05
O TC Cult exibe hoje, às 22h, “Gainsbourg”,de Joann Sfar, filme sobre o ícone francês Serge Gainsbourg (1928-1991).
Gosto do filme. Acho um caso raro de cinebiografia que não pretende esmiuçar a vida do biografado e não tem a pretensão de ser um tratado definitivo sobre sua obra, mas que consegue transmitir uma paixão genuína pelo personagem.
O filme de Sfar é mais um ensaio lúdico sobre a vida de um artista singular.
Quem foi Serge Gainsbourg? Um cantor? Ator? Cineasta? Provocador? Polemista profissional?
Foi tudo isso e mais: uma das personalidades marcantes da história do pop, um artista que fez de sua vida pessoal a continuação de sua obra.
Gainsbourg foi o “velho safado” que lançou músicas de forte apelo erótico no fim dos anos 1960 – “69, Année Erotique” (1968), “Je T’Aime, Moi Non Plus” (1969) – e tornou-se uma espécie de símbolo do conflito de gerações que marcou a época.
Era um oportunista nato, mestre em manipular a mídia e criar escândalos.
Feio e mal humorado, virou um “sex symbol” na contramão dos galãs de plástico da época. Brigitte Bardot, Jane Birkin, Juliette Gréco e incontáveis mulheres maravilhosas caíram de amores por ele.
Musicalmente, Gainsbourg fez de tudo: começou como cantor romântico na linha de Boris Vian, depois passou ao jazz, aos sons psicodélicos e ao rock. Fez reggae e flertou até com a música eletrônica.
Bandas como Galaxie 500, Air, Pulp, Luna, The Fall, Horrors, Goldfrapp, Portishead e até Morrissey se disseram influenciados pelo clima “décadence avec elegance” da música de Gainsbourg.
O filme, como disse, não é para quem quiser saber tudo sobre ele. Mas veja Gainsbourg cantando “Bonnie and Clyde” e, se isso não te fizer sair correndo para ouvir os discos do sujeito, tem alguma coisa bem errada com você…
Melody Nelson é um disco fora de série. Conheci quando foi citado pelo Du Peixe, da Nação Zumbi, entre os discos que eles estavam ouvindo na época das gravações de Futura. Há um projeto interessante, do General Elektriks, repassando esta obra prima. Se não me engano, houve algo em São Paulo também, um projeto de releitura da obra do Gainsbourg por músicos e produtores que vivem na cidade.
Opinião é algo bem subjetivo. Eu também gostei do filme. Achei bem legal o lance de seu alter-ego do “mal” ser aquele boneco. Foi o filme que me fez correr atrás de seus álbuns e realmente ele flertou com muitas vertentes musicais. O álbum “Histoire de Melodie Nelson” é muito phóda. Também li a biografia em português “Um Punhado de Gitanes” e recomendo. Enfim, Gainsbourg é um artista fascinante e merece toda a nossa atenção. O lance dele queimando 500 francos em rede nacional francesa também é impagável…
Os mais geniais músicos da França eram imigrantes, ou filho de imigrantes, no caso de Gainsbourg, que era judeu. Jacques Brel era belga e Léo Ferré era de Mônaco. Brel e Gainsbourg são poetas extraordinários. As letras de Gainsbourg são poemas, excelentes.
Para se ter idéia da versatilidade como artista, há no Youtube uma apresentação “fantástica” com a banda Punk/New Wave Francesa Bijou na virada dos 70 para os 80…Vale conferir!!!
Tem alguma coisa muito errada comigo.
Idem, acho Gainsbourg muito ruim, e o filme reforçou esta impressão. Musiquinha pra lá de brega.
Brega? O Gainsbourg? Brega? O Gainsbourg? Brega? O Gainsbourg?
“…veja Gainsbourg cantando “Bonnie and Clyde” e, se isso não te fizer sair correndo para ouvir os discos do sujeito, tem alguma coisa bem errada com você…”
Bom, quando eu escuto a Jane Birkin cantando “J’Taime…”, me dá vontade de sair correndo para fazer outra coisa…
Ele é ótimo, já o filme, fraco.
E o filme ainda tem a inacreditávelmente bela Laetitia Casta…
Em 2001 li uma poesia erótica de Carlos Drummond no garagem ao som de je t’aime, com o Paulão, o Sandro e minha família morrendo de rir. Você tinha ido viajar e era dia dos namorados. Nunca achei tão difícil segurar o riso…
Gosto muito dele, mas achei esse filme o lixo dos lixos, fiquei muito desapontado, muito pouco da música e cenas totalmente patéticas. Achei até estranho você gostar dessa tranqueira.
Foi por causa do filme que eu fui atrás dos discos de Gainsbourg. Comprei uma caixa com 14 discos de estúdio por 25 euros (sério) aqui na França. Dois rótulos podem afastar muitas pessoas da música do cara: os de “apenas compositor de músicas melosas” e o de polemista. Ledo engano. Aqui vai a dica dos melhores álbuns em ordem cronológica, não devem nada aos melhores discos de rock já lançados.
Bonnie and Clyde – 1968
Initials B.B. – 1968
Je t’aime… moi non plus – 1969
Histoire de Melody Nelson – 1971
L’Homme à tête de chou – 1976
Valeu pelas infos. Eu acabei de comprar uma caixa com 11 CDs do Leonard Cohen por 40 dólares.
Comprei essa caixa do Leonardo Cohen há 4 meses e até agora não chegou. Ultimamente tenho tido esse tipo de problema, alguns CDS (principalmente Box) não estão chegando. Em alguns casos consigo ressarcimento, em outros só comprando novamente mesmo.
Pedi pra entregarem nos EUA, no hotel de um amigo. Confiar no correio aqui é uma temeridade.
Pois é. E a coisa piorou nos últimos tempos. Acabei de comprar aquele Box do Can que você indicou. Vai ser uma agonia, espero dar sorte.
Pelo que um amigo me falou, a Alfândega e a Receita Federal são bem mais responsáveis por esse atraso do que os Correios (comprei 3 CDs no final de fevereiro que ainda não chegaram, sem contar outros que atrasaram pra caramba).
comigo tem dado certo. em julho fiz a pré compra do box blur 21 no amazon uk. dia 30 foi o lançamento e no dia seguinte recebi email avisando sobre o envio e a data de entrega para 19 de agosto. dia 15 chegou o aviso do correio para eu fazer a retirada. rolou imposto, mas o valor não foi absurdo e o pacote não estava amassado.
Isso me lembra que comprei o “I´m your man” em 1998 (ou por aí), e paguei a fábula de R$50 ou R$60!!!! Mais pela música “Everybody knows”, do filme Exótica do Atom Egoyan – que, aliás, para mim continua sendo um filme único em sua estranheza… Ah, os tempos pré-torrent-napster-megaupload, em que achar um disco era uma tarefa hercúlea e muito custosa…
‘Foi tudo isso e mais: uma das personalidades marcantes da história do pop, um artista que fez de sua vida pessoal a continuação de sua obra.”
Ou terá sido o contrário? Serge foi um artista que fez de sua obra a continuação de sua vida pessoal? Interrogações…
Me lembra o “Vintão” que costumava frequentar!
André e Elson:
A biografia “Um Punhado de Gitanes” é boa, mais pelo absurdo que foi a vida do biografado do que pela qualidade do material em si. Lê-se de uma tacada só. É um livro levinho, um tanto superficial, mas que vale a leitura, até mesmo pela falta de obra mais profunda em português. De tudo, é surpreendente o personagem que surge do livro, um sujeito talentosíssimo, marqueteiro nato, pai ausente embora amoroso, polemista profissional e obcecado em estar à frente dos holofotes. Em suma, acho que é o tipo de artista com pouquíssimas chances de surgir em um tempo como o nosso, em que, ao menor sinal de alguma cagada pública, teria uns duzentos assessores de imagem e relações públicas para recolocá-lo imediatamente nos trilhos.
Vou separar pra ler, valeu!
Barcinski, eu creio que é uma cinebiografia não convencional pois o diretor Joann Sfar é um cartunista e fez o filme em estilo de HQ (Quadrinhos que é uma coisa que você não curte). O filme também segue um pouco a idéia da música Comic Strip do próprio Lucien Ginzburg. Enfim, o filme é bom e o Gainsbourg muito legal, pena que não entendo muito francês.
Há algo de bem errado comigo.
Comigo tb… é um “rap” francês…
kkk, comigo, no caso, também, não tem nada de errado. Não acho Gainsbourg feioso. Ele, em função, provavelmente, até mesmo de sua intensidade, ficou derrubado, mas é muito estiloso, charmoso, e entendo perfeitamente pq essas divas babaram por esse safado. Como disse Pedro, ele foi uma personagem tão fascinante que acabou ofuscando o brilho de seu próprio trabalho. Tai um cara de natureza transgressora e provocadora, que tirou proveito do que era para ser.
Falando em cinebiografias, Sábado assisti à Heleno em um canal da TV a cabo. O que você achou do filme, Barça?
Eu gostei do filme. O cara é uma figura. Mas a música dele é meio difícil, por causa daqueles arranjos exagerados demais.
Boa matéria, e permita-me complementar com uma que escrevi para a Senhor F nos 10 anos da morte de Gaisnbourg:
http://www.senhorf.com.br/revista/revista.jsp?codTexto=4490
Gostei muito do artigo. Me acrecentou em informações bem interessantes. Somente notei que, salvo engano meu, o senhor cometeu um pequeno erro quanto à sua data de morte e nascimento. Gainsbourg morreu com quase 63 anos. Faltava 1 mês para completar essa idade. Nasceu em 02 de abril e não em 02 de março como disseste. Desculpe se me engano. Obrigado pelo link de seu artigo pois gostei bastante.
Abraço.
Que acha da biografia “Um Punhado de Gitanes”, André? Tenho aqui e até hoje não separei pra ler.
Não li, Elson, falha minha.
“consegue transmitir uma paixão genuína pelo personagem”
Sou prova disso: minha namorada não conhecia nada do coroa e ficou apaixonada por ele depois do filme.
Pra mim é o único francês que já fez música boa de verdade.
E o Léo Ferré, conhece? Um anarquista genial. Gosto muito do Jacques Brel também. Uma curiosidade sobre música francesa é o ex-tenista Yannick Noah, depois que pendurou as raquetes virou um astro pop!
Guimas, foi exatamente o que aconteceu comigo. Nunca havia ouvido falar em Gainsbourg. Quando o filme foi lançado, eu morava na França, e vários documentários e programas foram exibidos na TV sobre ele, em função da publicidade do filme. Me apaixonei irremediavelmente. Já ouvi e vi tudo feito por ele. De quebra, me apaixonei, também, por uma Ana Karina sob a lente do Gainsbourg (só conhecia sob a lente do Godard). Fantástico.
Barça, já viste a entrevista em que Gainsbourg, solicitado á fazer um breve comentário sobre a então promessa do pop yankee Whitney Houston, solta um decidido “I want to f*ck her”?
Quando se é Serge Gainsbourg, máscaras não convém.
Abraço!
Já vi sim, é demais. O tradutor fica tão constrangido que muda o que o Gainsbourg diz.
Gosto do artista e fui ver o filme com grande expectativa, mas achei o filme chato e no ritmo de videoclipe, extremamente repetitivo e com performances pouco inspiradas. Cansativo. Talvez a cinebiografia tradicional fosse melhor. Ainda mais para nós que não conhecemos muito o artista.
Ótimo filme. O ator que interpreta Gainsbourg impressiona pela semelhança física com o artista. Sua filha, Charlotte, na minha opinião, é uma das grandes atrizes da atualidade.Pena que não puxou a beleza da mãe, Jane Birkin. A faixa Lemon Incest de (1985) é antológica ao insinuar o incesto na relação entre os dois.
jonny, concordo contigo sobre a Charlotte: é uma excelente atriz, em qualquer estilo de filme. Mas sobre beleza, é subjetivo… eu, por exemplo, tenho a Charlotte como meu sonho de consumo. rs. Abraços.
É um daqueles personagens que de tão fascinantes periga ofuscar o próprio trabalho.
É bem isso mesmo.
Grande artista! Eu gosto muito do disco “Histoire de Melodie Nelson”. Torci o nariz quando ouvi pela primeira vez, mas fiquei pasmo na segunda audição!
Barcinski, não conheço os discos do Gainsboug por absoluta ignorância musical, mas um cara que dirige um filme como “Paixão Selvagem”(1976). Que diretor hollywoodiano de qualquer época colocaria a própria esposa no papel andrógino da garçonete que Jane Birkin interpretou nesse despudorado e amargurado roadmovie erótico? Gênio total!! Ave Gainsbourg!!!
Ando curioso com este filme. Gainsbourg seria, guardadas as devidas proporções, um carlos imperial da vida? (não dá para escrever com maiúsculas)
Nazi rock me fez sair correndo pra ouvir os discos dele, na verdade. O filme mesmo achei meio viajadão demais