“Kes” é a obra-prima de Ken Loach
31/08/12 07:05
OK, o horário é ruim, mas sempre dá para gravar: hoje, às 15h55, o Telecine Cult exibe “Kes” (1969) de Ken Loach (com reprise dia 2/9, às 2h25 da manhã).
Acho um dos melhores filmes já feitos sobre juventudes devastadas. Para mim, está no mesmo nível de “Os Incompreendidos”, de Truffaut, “Os Esquecidos”, de Buñuel, ou “Pather Panchali”, de Satyajit Ray.
“Kes” se passa no norte da Inglaterra. Billy Casper (David Bradley) tem 15 anos e nenhuma esperança: o pai abandonou a família, a mãe o considera um estorvo e o irmão trabalha nas insalubres minas de carvão da região.
Até que Billy encontra um filhote de falcão, que batiza de“Kes”, e começa a domesticá-lo.
Não vou contar mais. Assista ao filme. É inesquecível.
“Kes” não foi um grande sucesso na época, mas virou “cult” com o passar dos anos. Mark E. Smith, líder do grupo de pós-punk The Fall, disse que “Kes” era seu filme favorito. E Smith sabe uma coisa ou outra sobre proletários ingleses que passam os dias enchendo a cara em pubs…
“Kes” foi o segundo longa de ficção de Ken Loach, diretor que se destacava por combativos documentários para TV.
Loach foi um dos maiores expoentes do movimento chamado “Realismo da Pia de Cozinha” (“Kitchen Sink Realism”), que aconteceu na Inglaterra nos anos 50 e 60.
O movimento se estendeu pelo teatro, cinema, TV e literatura, e buscava contar histórias reais sobre a classe trabalhadora, numa Inglaterra pobre, cinza e dividida por terríveis lutas de classes.
Ken Loach fez do realismo a marca de seu cinema. Dirigiu filmes sobre a Guerra Civil Espanhola (“Terra e Liberdade”, 1995), a guerra de independência da Irlanda (“Ventos da Liberdade” , 2006) e a vida de imigrantes ilegais na Inglaterra (“It’s a Free World”, 2007).
Mas prefiro os pequenos dramas que Loach dirigiu sobre a classe proletária inglesa: “Riff Raff” (1991), com Robert Carlyle, de “Trainspotting”, é uma obra-prima, assim como “Raining Stones” (1993), história singela sobre um homem que pena para comprar um vestido de Primeira Comunhão para a filha.
Vale a pena conhecer a obra de Ken Loach. E “Kes” é o melhor ponto de partida.
Fora do tópico, mas pelo menos da terra do Ken Loach. “Roxy Music: the band that broke the sound barrier
On the 40th anniversary of Roxy Music’s debut, we reassess their journey, marked out in a new box set, from aural insanity to elegant perfectionism”
http://www.guardian.co.uk/music/2012/sep/02/roxy-music-40-years
Demais.
O melhor deles, para mim, ainda é o “For Your Pleasure”, perfeito. E para vocês, qual o melhor do Roxy?
Difícil. Acho os dois primeiros e o Avalon.
Fiquei curioso após ver o trailer e assisti agora cedinho ao filme.
Incrível como eu acho que ando contaminado com um certo padrão dos filmes atuais. Tinha certeza que o Billy iria cometer um “genocídio” ao final do filme.
Mas o filme acabou, a história acabou….e isso é o que importa, afinal.
Gostei muito do filme. Só não falo em “obra-prima” porque não tenho qualificação pra isso.
E só a parte do jogo de futebol vale rever o filme. Hilário.
Hoje, ia ter um psicólogo no fim do filme, ajudando Billy a se reencontrar. Ou então, como vc disse, o menino ia matar todo mundo.
Olha, esse filme me arrasou, antes dele somente Pelle o Conquistador. Fiquei alguns anos abalado, mais um para digerir. Abcs
André, entre os filmes sobre infância devastada, acredito que “Pixote” do Babenco é também uma das melhores coisas já feitas na história do cinema mundial. Colocaria na sua lista…
Sério? Da história do cinema mundial? De verdade? Acho um bom filme, mas não concordo com tanto entusiasmo.
Loach é da raça dos bons cineastas de esquerda, e faz parte da longa tradição realista do cinema britânico. Dele, gostei também de “Carla’s Song”, que trata da situação da Nicarágua, quando os “contras”,mercenários financiados pelos Estados Unidos, tentaram detonar a Revolução Sandinista. Aliás, o Clash também foi solidário com o povo nicaraguense, à época da derrubada do ditador Somoza, com seu célebre álbum triplo: “Sandinista”.
Ventos da Liberdade é muito bom! Te um outro de um imigrante paraguaio que tb é muito bom! A atriz é sensacional! Tem uma cena com uma criança que acredito que a levou fazer anos de terapia. Não era possível ela estar encenando tal a sua reação e a sua idade! Fiquei com pena dela!
Filmaço!!!! Sensacional! O final é inesquecível.
É mesmo. Legal que vc gostou.
que filme McCabe & Mrs. Miller – obrigado pela indicação.
ken loach é daquela categoria do wener herzog: não é mala, é conteiner.
Herzog e Loach, malas? Tá bom.
Belo filme.
Muito bom. De certa forma lembrou A Guerra dos Botões, mas numa linha mais realista, menos romântica. E que sotaque! Valeu a dica.
É bem mais pesado que Guerra dos Botões, não acha?
Barça, lembrando daquele seu post sobre placas curiosas, não é possível, os caras que fazem as chamadas devem fazer de sacanagem, só pode, veja que duplo sentido sublime!: http://esporte.uol.com.br/futebol/campeonatos/brasileiro/serie-a/ultimas-noticias/2012/08/31/lucas-volta-a-abrir-as-portas-para-ganso-e-promete-foco-ate-o-ultimo-minuto.htm
Bom demais! Ganso vai aproveitar essa porta aberta, com certeza…
Ken Loach é obrigatório. Não pude assistir, mas por sorte encontrei neste blog: http://sonatapremiere.blogspot.com.br/2012/06/kes.html
Ainda não assisti, mas já baixei outros filmes, de outros diretores e a qualidade tá muito boa.
Indico o espaço. Abç a todos.
The Fall..ótima lembrança..nossa banda tocou “Victoria” durante um bom tempo.
Ken Loach é ótimo mesmo, tem um outro filme dele muito legal: Pão e Rosas, onde ele dá um mergulho na questão dos imigrantes ilegais nos Estados Unidos. Como detalhe, no filme trabalha o Adrien Brody que anos depois se consagraria no papel do Pianista de Polansky. Valeu André, sua coluna é imperdível!!!
Gostei muito do documentário dele sobre o 11 de setembro, que entrou naquele projeto com vários diretores.
É muito bom sim, bem lembrado.
Fui a uma loja virtual para checar se há em DVD, vi a capa e pensei: “eu conheço essa capa”. Dei uma passada na estante e lá estava ele, ainda com o plástico. Devo ter comprado por recomendação de alguém ou de algum caderno cultural. Verei hoje.
André, na linha de um (não tão) antigo post seu sobre energia eólica, dá uma olhada neste link:
http://www.cracked.com/article_19998_the-6-most-insane-ways-going-green-can-backfire.html
Gosto de filmes com essa temática. Um que vi recentemente e me emocionei muito é “O Labirinto do Fauno”, do Guillermo Del Toro. Devastador é pouco para descrevê-lo. Outro igualmente doloroso é aquele “Bemvinda a Casa de Bonecas”, de Todd Solonz. Quem já passou por uma infância difícil como aquela, não consegue segurar as lágrimas. Verei este “Kes” tambem.
O livro que deu origem ao filme – “A Kestrel for a Knave”, do Barry Hines – é igualmente bom. Mas é de cortar os pulsos, bem como “Kes”. Quem estiver interessado, vale a pena dar uma fuçada nas livrarias (mas se prepare para ser arrasado espiritualmente).
Não li o livro, deve ser ótimo também…
Boa dica André. Valeu.
Mudando um pouco de assunto (nem tanto), você conhece o fórum http://www.makingoff.org? É fantástico! Tem um acervo enorme de filmes, pra cinéfilo babar.
Abraços.
Claro que conheço, é a salvação…
Até hoje não conseguir me cadastrar nesse site. Me convida Andrè.
Não posso, tb fui convidado.
ladybird, ladybird esta em minha lista de melhores de todos os tempos. quando eu e minha esposa o vemos e choradeira na certa. e um dos filmes mais duros que existe, sem duvida…
Nossa, estava pensando justamente neste filme. Uma pancada mesmo!!
Vi esse filme no Telecine há muitos anos atrás e depois de novo na telona. Sensacional é pouco. Obra-prima de fato! Olha só Barça: a partir de hoje até dia 9/9 serão exibidos algumas pérolas o Roger Corman na sala de vídeo da Biblioteca Pública Viriato Corrêa na Vila Mariana. Mansão do Terror, O Massacre de Chicago, Muralhas do pavor, Anjos Selvagens, Os Cinco de Chicago. E é de graça. E na galeria olido tá rolando uma mostra do Sidney Lumet com vários clássicos (Rede de Intrigas, Um Dia de Cão, A Colina dos Homens Perdidos, O Homem do Prego e outros). Apesar de ser em DVD vale a pena, pois o cara foi um mestre. Um abraço
Ótimas dicas, valeu.
Andre, o que é que você achou daquele ”A Procura de Eric”?
Achei meio forçado, aquele lance com o Cantona, não é dos filmes que mais gosto do Loach.
Acho que é do Ken Loach um filme chamado Meu nome é Joe. Há nele uma cena que lembro até hoje: um grupo de ingleses proletas ou desempregados jogando com a camisa da seleção brasileira campeã da copa de 70. Acho que é o juiz que fala que aquilo era uma heresia. Uma cena super simples, mas que descreve o poder do futebol: fazer com quem o pratica se sinta, enquanto joga, tão bom quanto o seu ídolo.
E outro que gostei foi Procurando Eric, em que o Eric Cantona é uma espécie de mentor espiritual de um carteiro com a vida de cabeça pra baixo.
É dele sim, e é muito bom o filme mesmo.
Tem alguma coisa muito cativante nesses filmes sobre crianças que vivem infâncias difíceis. “Kes” é magnífico mesmo. Acho que é melhor ou tão bom quanto outros grandes filmes com protagonistas mirins que tentam escapar de famílias e ambientes turbulentos (“Os Incompreendidos”, “O Menino dos Cabelos Verdes”, “Nó na Garganta”, etc).
Vou ver o Kes, parece muito bom. E, por falar em Trainspotting, o que você acha do filme, Barça? Não é meu filme favorito, mas é o filme que mais assisti – a primeira cópia que tive era dublada. Carlyle simplesmente genial.
Acho Trainspotting muito representativo de uma época. Gostei muito quando foi lançado, mas revi recentemente e, pelo menos pra mim, perdeu muito.
Um dos melhores filmes sobre a relação entre uma criança e um “pet”. A cena do futebol também é inesquecível.
Ótima dica. Pena que o horário não é um dos melhores.
Aliás, por falar em filmes bons e seus horários, parabéns a TV Cultura que vem exibindo filmes clássicos em um ótimo horário (por volta das 22:00). Ontem passou “Fahrenheit 451”.
Ótimo.
“Are you shaking Montag, hummm?”
Clássico!
Será que as vestimentas dos “vilões” do filme não serviram como inspiração para os do A-ha, do clipe “Take on me?”.
Vi alguns filmes do Ken Loach, mas nunca esse…concordo com você sobre os outros sobre juventude, mas colocaria também rumble fish do Coppola, apesar dos personagnens parecerem mais velhos, no livro eles tem por volta de 14 anos, para mim foi um dos grandes sobre essa temática.
Terra e Liberdade é um bom filme de Ken Loach sobre a Guerra Civil Espanhola, outro bom filme sobre esse tema é o catalão”Pão Negro” de Agustí Villaronga.
Vi os dois, gosto mais do filme do Loach.