O homem que sonha com discos
07/09/12 07:05
Não dá para falar da história do rock no Brasil sem citar a Baratos Afins. Fundada em 1978 e localizada dentro da Galeria do Rock, em São Paulo, não é só uma das lojas de discos mais conhecidas e admiradas do país, mas um selo muito influente.
A Baratos lançou discos importantes de Arnaldo Baptista, Itamar Assunção, do rock alternativo paulistano (Fellini, Mercenárias) e relançou Mutantes e Tom Zé muito antes de David Byrne ou Kurt Cobain se interessarem.
O “chefão” da Baratos é um sujeito baixinho e engraçado chamado Luiz Calanca.
Sempre considerei Luiz uma espécie de embaixador do “alternativo” em São Paulo. É um sujeito que fez tudo sozinho: abriu lojas, lançou discos, promoveu shows, ressuscitou artistas esquecidos e lançou muitos desconhecidos.
E nunca – nunca mesmo – conheci alguém que gostasse tanto de música.
Dia desses, por conta de uma pesquisa para um livro, bati um papo longo com Luiz. Foi divertido demais.
Calanca gosta tanto de discos que até sonha com eles:
“Outro dia, sonhei que uma prateleira de vinis lá na loja despencou em cima de mim”, conta Luiz. “No sonho, eu era uma mortadela, e os discos que caíam em cima de mim me fatiavam.”
Freud explica.
Luiz contou que tinha acabado de comprar um lote de oito mil vinis de uma loja que havia fechado as portas – mais uma – na Galeria do Rock.
Quando foi separar os discos, percebeu que havia mais de 1700 cópias do mesmo LP, “Remota Batucada” (1985), de May East, ex-integrante da Gang 90 e as Absurdettes.
Luiz começou a dar os discos de presente para qualquer um que entrasse na loja. “Era a única maneira de me livrar, ninguém queria os discos.”
Distribuiu tantos que, pouco tempo depois, alguns colecionadores gringos começaram a procurar o disco. “Um sujeito ouviu o disco do outro, gostou, e começou a se interessar pela May East. E hoje rola até um hype desse LP na gringa.”
Comprei vários LPs na Baratos. O mais gozado do Calanca é que ele não esconde suas não predileções! Vai lá falar que quer compra um LP nop Manowar! Ele até te ajuda, mas vai tirar um bom barato da tua cara…. Que fique bem claro que usei a banda como exemplo, não que eu goste 🙂
O Calanca é gente fina mas é de lua.
André, parabéns pelo tema do vinil, embora a alguns metros da galeria do rock, na nova barão, há lojas como a do Carlos Big Papa, Tuca, entre outros que transmitem uma energia muito mais positiva do que se encontra na Baratos, enfim, só meu palpite para outros protagonistas do tema.
Boa!
concordo com vc marcos, até já falei disso aqui, O Carlos da Big Papa, o Tuca do Tuca Discos, o Kalota da The Records, o Paulo da Engenharia do Vinil, são caras que realmente tratam o consumidor como deve ser tratado, com respeito e cordialidade. Só dar um pulo em qualquer uma dessas lojas pra sentir a diferença.
todas as lojas da barãozinho tem um astral melhor. pessoalmente, gosto da Locomotiva. e acho que todas as lojas (de discos) da Galerias exalam um “clima” mais estressado.
Barça, o mais legal da Baratos & Afins é a frente da loja… cada dia são pendurados discos clássicos nos vidros, e é impossivel passar em frente da loja sem parar pra ver as capas clássicas!! Mas a Baratos & Afins de barato não tem nada… a maioria das coisas lá são mais caras, se você não tiver com preguiça de procurar, achará o mesmo disco muito mais barato em outras lojas, como Die Hard ou a Zeitgeist.
Queria comprar um lp do Ministry e foi lá que encontrei. Emprestei o disco e nunca mais devolveram. Ouço agora em cd, mas sempre lembro do meu vinil, uma pena…
Li o comentário de um leitor (Vinicius Santos – 07/09/12 at 14:58) que retrata EXATAMENTE minha percepção do “mito” Luis Calanca.
E quem frequenta a galeria atrás de discos e não atrás de badalação de midia baba-ovo, fala o mesmo.
Sou frequentador da Galeria do Rock desde 1982, conheço praticamente TODAS as lojas dali (e mais as que não ficavam ali e fazem parte do cenário discográfico de São Paulo como a Eric Discos, Wop Bop, London Calling, Woodstock e outras várias).
Já cheguei a pegar mais de dez CDs na Cactus Records para pagar fiado porque na hora de preencher a última folha do cheque, rasurei-o.
Então posso falar com conhecimento de causa. Ele é um chato que construiu uma mística em torno de si.
E mais: digo que é mau vendedor.
Eu tinha acabado de conhecer um grupo de rock progressivo português chamado Tantra. Entrei na loja dele, perguntei se tinha algum disco da banda e me mostrou um álbum duplo que ele dizia que fora trazido pelo filho do Roberto Leal diretamente de Portugal.
Estou falando de uma época que não havia Internet, o acesso a informações criteriosas e confiáveis era escasso. Só via raras publicações gringas que aqui chegavam esparsamente.
Paguei (carésimo) o disco, chego em casa, coloco o bolachão para rodar e… Nada de rock progressivo. Era um disco de dance music.
Começo a ler o encarte e vi: Produção: Giorgio Moroder (um conhecido produtor desse estilo musical).
Chego no sábado, dia seguinte para trocar o disco e o “mítico” (mas sem vergonha) Luiz Calanca se recusa a trocar. Começo a bater boca (não havia Código de Defesa do Consumidor – Lei 8078/1990) e aí ele me propõe – como que numa concessão do tipo “Veja como eu sou legal” ou “É pegar ou largar, trouxa”: que eu trocasse o disco duplo importado por um LP simples nacional.
Para não ficar no prejuízo total aceitei, mas digo a todos que me perguntam: Luis Calanca é um pilantra.
Ah, esse fãs…
Senhor André Barcinski, falta-lhe um pouco de intelecção de textos, mas vou auxiliá-lo:
O meu comentário foi escrito apenas como CONSUMIDOR.
Da mesma forma que o senhor o fez neste espaço cedido pela Folha de S. Paulo ao reclamar de seus percalços pessoais em suas frustradas relações de consumidor como, por exemplo, no post “TV a cabo: pague para entrar, reze para sair” de 08.MAR.2012 – 07H17MIN http://x.co/nbAu
O fato que eu descrevi ocorreu antes da vigência da Lei 8078/1990. Não questiono a sapiência do seu ídolo, até porque nossos gostos (graças ao bom DEUS) são completamente distintos.
Tampouco vou cometer a tola aleivosia que você recebeu jabá para tecer loas a respeito do seu ídolo Calanca.
Mas quem vende (caríssimo) um disco de dance-music LACRADO para um consumidor, e este pensa que está comprando um disco de rock progressivo LACRADO instado pela informação equivocada do vendedor e este se recusa a trocá-lo 24 horas depois, é sim, um mau vendedor e ele atende pelo nome de Luiz Calanca.
Ou o senhor tem outra definição em seu dicionário para tal ato?
Isso é como ir a um clube noturno qualquer, pedir uma vodka Stolichnaya e o barman prévia e inescrupulosamente tê-la substituído por uma Balalaika. Mas isso não acontece jamais, não é?
Ou será que só o seu post “Funcionário é inimigo pago” de 06.MAR.2012 – 07H13MIN é meramente ficcional? http://x.co/nb9t
Concluindo: se o senhor quiser entender (sem que eu precise desenhar), muito que bem.
Se o senhor quiser ficar com a simplicidade de atribuir-me o rótulo de fã, muito que bem também.
Não me incomodo. O que me incomoda é ser lesado por um impostor como o incensado Luiz Calanca.
Não faço parte dessa confraria de tolos da Baratos Afins. Nem se o John Kennedy Toole fizesse parte.
E daí, “consumidor”? Seu comentário não foi postado? Magoou?
Pra tu gostar de Rock Progressivo Português até que mereceu.
Muito legal vc ter citado o Calanca,nos anos 80 ele lançou a SP Metal que deu oportunidades a diversas bandas como o Korzus,Centurias etc.Queria saber a opiniao sobre o sindico da Galeria
A primeira loja de discos da Galeria do Rock não foi a Baratos Afins como eles gostam de dizer.A Wop Bop foi a primeira e com o surgimento de outras lojas eles(WB) foram pra uma galeria na Barão de Itapetininga.A Wop Bop de René Ferry e Antonio(?)foi a primeira loja de discos usados/importados/bootlegs na galeria e depois tambem virou selo lançando discos importantes dos 80 como Vziadoq Moe,Fellini,Henry,Violeta de Outono,etc..Faz parte da história tambem junto com a Baratos Afins do Sr Calanca e familia.
covardia de publicar é foda né.
Não sei se vc percebeu, mas os comentários são moderados, e eu não passo 24 horas por dia moderando.
Lembrei de outro papo com Calanca. Ele estava me mostrando os discos que tinha produzido, lançado pelo seu selo e tal. “E esse coco na contracapa?”, perguntei. “Os Beatles tinham a maçã, então eu inventei o coco”, respondeu.
OT: Barça, você gosta do cinema do David Cronenberg, não? Não rola um post sobre o novo filme do cineasta, Cosmópolis? Estou afim de ver, o duro é achar um cinema que o exiba no meio de uma programação saturada de Batmans, A Era do Gelo e os Mercenários.
eventualmente, sonho que entro em uma loja de vinis usados (às vezes em sp, salvador, outras aqui em porto alegre) e encontro uma porção de discos que não existem, discos de jesus and mary chain, arte no escuro, fugazi, etc. com capas e nomes (tipo “dismember – jmc”) que não existem, geralmente algum tipo de montagem com outros nomes, outras artes e outras fotos. a única coisa que constante nos sonhos são os preços: 3 reais, 4 reais, 5 reais…
Ola eduardo,
Quantos anos o senhor tem? Porque se fosse ao menos um adolescente no começo dos 90 quando a febre do CD bateu e o povo ficou desesperado p/ se livrar dos discos, voce iria pagar esses preços e até menos por esses vynis com os quais sonha! E foi assim que muitas lojas tipo a B &A conseguiram montar o seu acervo! Pagaram 1 real e hoje querem 60, 80 reais…quer aplicaçao melhor que essa???
tenho 34 e grande parte do meu acervo paguei por aí, 4, 5 reais.. paguei 10 no space oddity americano, aquele vinil bem pretão.
esse luiz é um babaca,nao tem nada de engraçado.fui uma vez na baratos comprar um vinil dos screaming trees e o cara nem me mostrar o vinil quis.prq eu luto jiu jitsu e nao tenho cara de nerd rock e ele deve ter achado q nao sou digno d comprar um disco la.rs… um babaca.
Você parece um babaca mesmo.
Todos relatos que eu vejo sobre como esse senhor é “simpático” e “engraçado” me causam enorme estranheza.
Todas – eu digo todas MESMO – vezes que inventei de entrar nessa loja e perguntar sobre a disponibilidade de um álbum fui tratado com uma mistura de indiferença e prepotência.
Parecia que a “lenda viva” Luiz Calanca estava fazendo o favor de responder á pergunta de um mero ninguém com um monossílabo.
Vinícius, infelizmente quase todos os colecionadores de qualquer coisa são assim. Pode reparar.
Um dos grandes méritos de Calanca também foi ter lançado a Coletânea Não São Paulo, onde dentre boas bandas indies de Sampa, havia a estréia de uma das melhores bandas que São Paulo já produziu e que até hoje não foi dado o devido valor, o 365, da célebre São Paulo, as clássicas Tietê, Manhã de Domingo, Cristo Anistiado e tantas outras letras-músicas excelentes!
Meu amigo Calanga e seu irmão meu chara, onde consegui muitas perolas de vinil, desde a época em que ele separava os vinis em caixa de cebola, maçã e sentavamos num banquinho para escolher os vinis, consegui algumas pérolas como nazareth, boc, Ian Gillan, Raul, mutantes, etc. então long live rock’n’ roll e aos irmãos Calanga, Luiz e Carlos.
Como bom interiorano sempre fiz encomendas aos amigos que vinham da capital. A emoção de abrir o pacote com os vinis do Arnaldo Baptista (circa 80`s) embalados pelo Calanca nunca mais encontrou paralelo nas mega stores da vida…
(Meu Deus que ressaca…)
Certo dia fui a BA e lá estava, bem na entrada: “Mr. Bungle – Mr. Bungle” em vinil!!! Cara que coisa mais linda!
Outro cara que admiro muito – dado o vasto conhecimento musical – é o Kid Vinil!
Certo dia em Araraquara, ficamos batendo papos sobre bandas bacanas… incluso Kula Shaker. Falei para o Kid que ele era nosso “John Peel tupiniquim”. Ele gostou muito!
Tenho 26 anos e quando se fala em vinil, lembro do meu pai com sua imensa coleção de discos sobre samba e música sertaneja. Infelizmente ele teve que vender para levantar uma grana em tempos difíceis que passamos.
Nunca cheguei a perguntar, mas acredito que ele tenha até hoje muita falta deles.
Hoje também tenho uma coleção mínima porque, convenhamos, vinil é algo muito caro (média de 70 a 100R$). Muita coisa compro na Baratos que aliás, é uma das poucas que ainda sobrevivem nesse ramo.
Putz, meus primeiros discos decentes comprei lá. Lembro quando os CDs começaram a se popularizar – o Calanca preferia vinil e me lembrava disso toda vez que eu comprava um CD…
Bom saber que ainda existe.
André, dentre as muitas bandas que o Calanca lançou gosto muito dos Voluntários da Pátria, grupo que já contou com Nasi e Gaspa. Acho o único disco deles maravilhoso. Não tenho cópia em vinil, só em CD. Eu ainda tenho o hábito de consumir música, não baixo nada, procuro comprar os discos. Minha última aquisição foi “Mirage Rock” do Band of Horses, comprei na Amazon. Vai chegar em 20 dias. É bom preservar este hábito de receber o disco, colocar no aparelho de som, abrir a cerveja e ficar curtindo a música. Isso faz bem pra vida.
sempre que vou a SP tento ir lá na galeria do rock (a última vez em março 2012). E sempre vou bater um papo com o figuraça Toninho do fã clube do Sepultura. Quando falo que sou de BH e de Santa Tereza o cara me trata como alguém da família real…bem legal aquele lugar..mas o entorno está cada vez mais “sinistro”
Na virada dos 80 para os 90 não saía de lá! Quase todos os meus vinis ou são da Baratos ou das outras lojinhas ao lado. Minhas “raridades”, meus importados, discos de metal, punk, hardcore!
O Calanca e o Fabião (Olho Seco e loja Punk Rock), deveriam ter suas estátuas bem na entrada da galeria.
Caramba! Graças à Baratos Afins eu conheci muitas bandas interessantes na minha adolescência! Parabéns, Barça, por resgatar nesse post uma lembrança tão marcante e um cara tão importante pra quem curte rock!
Já fui muito na Baratos Afins, comprei muitos clássicos lá, importados, nacionais e muita coisa que nunca tinha visto em lugar nenhum. O mais legal é quando procuramos por algum artista específico e eles tem praticamente tudo. Outro dia pedi Miles Davis e ele desceram uma pilha gigante de CDs do cara para eu escolher. A Baratos é o paraíso na terra para que gosta de música de verdade, nada se compara, nem sei se no exterior tem lojas tão completas, recomendo demais passar por lá.
Quem assiste o History Channel já conhece um pouquinho do Calanca tem tempo!
Tenho 27 anos e tive a sorte de ainda ter pegado um pouco do vinil por causa do meu pai. Ele tem uma coleção modesta. Considero o maior exemplar um da banda inglesa Renaissance – Ashes Are Burning. Nunca, nunca mesmo, vi qualquer lista de discos essenciais citando essa obra-prima. Outro vinil que me marcou muito é o Hall Of The Mountain King, do Savatage. Na minha opinião, o melhor disco de heavy metal de todos os tempos.
Outro disco maravilhoso do Renaissance é o Prologue. Gostas de rock progressivo? Ouça Mirage do Camel.
A Baratos Afins só comercializa vinis?
Tem CDs, DVDs, tudo.
Galeria do Rock é uma instituição de SP. Mas faz muito tempo que não vou lá……pelo visto não anda bem das pernas.
Lembro de ter achado meu PsychoCandy numa dessas lojinhas e quase sair de lá chorando.
Não deve ser nem um pouco fácil viver disso hoje em dia…ninguém se importa mais com isso. São abnegados mesmo.
Só tem loja de DVD a roupa, lojas de discos estão minguando. Pena.
Grande sujeito! Uma vez fui na Baratos Afins procurando LPs dos Replacements. Comecei a bater um papo com Calanca. “Replacements?” — foi lá na letra “R” e sacou dos discos do monte de vinil que cheirava a mofo. “Grande banda, as ninguém veio atrás desses LPs. Acho que estão aí desde que a Warner lançou isso no Brasil em 89!!”. E cada um me custou 10 ou 15 reais. Nada como ir a uma loja e sair de lá com vários discos na sacola. Álbuns que você queria, que encontrou por acaso, que descobriu no momento ou que arriscou comprar só por causa da capa. Pena que isso está se perdendo e que ninguém se interessa mais por essas coisas hoje em dia.
Os replacements tavam lá porque eu não apareci antes!