Em DVD, a agonia e glória do Maluco Beleza
21/09/12 07:05
Há seis meses, recomendei aqui no blog o documentário “Raul – O Início, o Fim e o Meio”, de Walter Carvalho, que acabava de estrear.
Se você não teve chance de assistir no cinema, agora não tem mais desculpa: o filme acaba de sair em DVD.
Tenho em mãos a “Edição de Colecionador”, uma caixa muito bonita, com quatro discos – um DVD com o filme, outro com extras, e dois CDs com 28 músicas da trilha sonora. Vale cada centavo.
Revi o filme em DVD e continuo gostando muito.
As cenas e imagens de arquivo são impressionantes e cobrem desde o nascimento até a morte de Raul.
É muito bonito ouvi-lo cantando, aos nove anos de idade, quando ainda sonhava em ser o Elvis Presley da Bahia.
As entrevistas são reveladoras: parentes falam da infância de Raul, amigos lembram sua obsessão pelo rock, companheiros da banda os Panteras lembram o início da carreira e parceiros como Claudio Roberto revelam detalhes do processo criativo do Maluco Beleza.
A entrevista de Paulo Coelho é um dos pontos altos, assim como os depoimentos de ex-mulheres e filhas. Você termina o filme sabendo mais sobre o homem e o artista.
Continuo achando corajosa a decisão de Walter Carvalho de não fazer um filme “chapa branca”. Em nenhum momento Raul é tratado como vítima ou coitadinho. E a descrição de sua decadência física é tão realista quanto dolorosa. Esconder para quê?
Me emocionei particularmente com a sequência que mostra o último show de Raul no Rio, com Marcelo Nova. Foi no Canecão. Eu estava lá e fotografei a participação surpresa de Paulo Coelho, que não via Raul há mais de uma década e aceitou o convite de Marcelo para subir ao palco e cantar “Sociedade Alternativa”.
Nessa noite, fiz, para o “Jornal do Brasil”, essa foto que está abaixo. Ela circula há anos por aí, sem crédito, inclusive no livro de Fernando Morais sobre Paulo Coelho. Se não me engano, é a última foto dos dois juntos.
Espero que muita gente assista ao filme e dê mais atenção à obra de Raul. Ele fez músicas geniais, assassinadas diariamente por incompetentes tocando em barzinhos e pela mitificação de sua figura, que só serve para diminuir sua importância artística.
Muito triste perceber que o gênio que cantou “Eu que não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar” fez justamente isso. E a morte pegou Raul sozinho, solitário e inchado pela bebida.
Até no fim, Raul foi um visionário.
Definição Perfeita: “Ele fez músicas geniais, assassinadas diariamente por incompetentes tocando em barzinhos e pela mitificação de sua figura, que só serve para diminuir sua importância artística.”
eu sou um fã de Raul a muitos, muitos anos. Adimro seu trabalho e o seu legado, basta dizer que meu filho recebeu o nome de Raul. Outro dia fui assistir a peça teatral de Tim Maia (gosto muito, mas não um dos maiores fãs…), e achei simplesmente sensacional. Eu vi o filme do Raul e achei muito pobre, extremamente amador e parece ser filmado por alguem que não conhece do tema, as pessoas imitando Elvis, etc… francamente esperava coisa muito melhor. Mas fui ver por acreditar que qualquer tributo para aquele que foi o maior icone do Rock Brasileiro vale a pena. Obrigado
Quando se é fã quase tudo que vem do idolo é bom,assistí e gostei,tambem compartilho de suas opiniões,a não ser o título, porque o direito de morrer quando se quer de viver como se gosta, não se pode chamar de agonia é simplesmente diferente.
Pô, Marco, claro que o filme mostra a agonia que foram os últimos anos de vida do Raul. Vc não acha que foi uma agonia? O cara morreu aos 44 anos e parecia ter 74.
raul foi um doido que procurou a morte
Barça, vc viu o último e eu vi um dos últimos, 2 meses antes dele morrer, em Junho. Infelizmente ele entrou no palco, errou o nome da cidade e cantou apenas umas 3 ou 4 músicas com o Marcelo Nova. Acabou o show e ele foi embora num Galaxy branco…sensacional e inesquecível!
Vou comprar a edição de colecionador…
Barcinski,
Desculpe por fugir do tópico, mas é o seguinte: sou jornalista, e acompanho seu trabalho faz tempo, há uns 15 anos, desde os tempos do Garagem na Brasil 2000. Sei que você é um cara ocupado, mas queria ver se podemos trocar uns e-mails. Estou tentando organizar um festival de música. Sei que durante muito tempo você se aventurou a trazer bandas e DJs para cá. Queria tirar umas dúvidas contigo. Pode ser um esquema meio “entrevista”, por e-mail mesmo, se você estiver sem tempo. Desculpa te pentelhar aqui pelo seu blog. Espero que você tenha um tempinho pra ajudar. Se não tiver, entendo totalmente.
Agradeço a atenção,
Rodrigo Turrer
Claro, me escreva no andrebarcinski.folha@uol.com.br
Para os que tem preconceito ao Raul Seixas e tiverem a mínima boa vontade em apreciar a obra dele, recomendo esse documentário e o melhor disco dele que é de 1976 “Eu nasci há 10 mil anos atrás”, que todas as músicas são maravilhosas. É uma pedrada emocionante atrás de outra.
Eu li diversas biografias de músicos, artistas e escritores, em nenhuma delas houve a menor evidência de que drogas e álcool tornaram estas pessoas mais criativas e/ou produtivas. O caminho do excesso levar às portas da sabedoria é um tremendo papo furado encampado pela indústria cultural, mas, infelizmente, uma morte decadente vale bons trocados para gravadoras e editoras.
André, vendo o documentário tenho a impressão, não sei se é verdade, de que a turma do BRock dos anos 80 meio que tirado virado as costas, tinha se esquecido do Raul, e se não fosse pela ajuda do Marcelo Nova, o fim dele seria muito pior, pelo menos deu um pouco de alegria ao seu fim…
Concordo 100% com vc. Encontrei Raul uma vez, devia ser 85, num boteco no fundo de uma galeria no Rio. O estado dele já era muito ruim.
“…músicas geniais, assassinadas diariamente por incompetentes tocando em barzinhos e pela mitificação de sua figura…”. Falou tudo, André. Assassinadas. E não tem volta. Não dá pra ressussitar. Não dá pra aguentar a chatice dessas músicas geniais devido a esses incompetentes que você citou e também das novelas da Globo que tocaram os maiores sucessos até ninguém aguentar mais…triste, mas muito verdade. Acho interessante assistir ao documentário, mas acho que vou colocar no mudo quando tocar alguma música…
ops, desculpe pelo português…RessuSCitar…
Não achei tão sensacional assim. Acho que se fosse um pouco mais focado na obra dele seria mais interessante. Pra mim ficou uma coisa muito focada em aspectos pessoais, estilo TV Fama. Poderiam ter abordado melhor o processo de criação dele, citado várias outras músicas, a importância da obra dele, etc.
Barça!
Sei que não é o melhor local – mas -, cara muito obrigado pela recepção de ontem!
Degustar uma tubaína e bolinho de milho com queijo, ter o privilégio de ler – é já terminei – seu livro, Nipo a tira-colo e ainda por cima conhecer vossa pessoa não tem preço!
Parabéns, o livro ficou fenomenal… o “chi fu” já é um clássico aqui no trabalho!
Um abração de Interlagos!
Que é isso, foi um prazer. Abraço.
Vi o filme e fiquei com a impressão que o Marcelo Nova ajudou bastante o Raul, uma relação de fã que cavou a oportunidade de cantar com seu ídolo. Pode ser uma visão ingênua minha, porque também é possível achar que o Marcelo usou o Raul pra levantar a própria carreira.
Acho que foi um momento em que um precisava do outro, ambos se deram bem com a parceria, apesar de muitos dizerem que o Marcelo ajudou a acabar com a saúde do Raul.
Qual sua opinião?
Acho que foi o último momento feliz de Raul enquanto artista e possibilitou a muita gente vê-lo em cima do palco. Ele estava completamente esuecido e teria morrido assim, se não fosse pelo Marcelo Nova.
Eu acho Paulo Coelho um dos melhores letristas da música brasileira. Não consigo desprezá-lo nem sentir a raiva que os intelectuais demonstram por ele. Nunca li um dos seus e acho que nem vou ter tempo de ler, já que a fila é grande e o tema central não é do meu interesse. Mas o respeito pelo letrista ficou. Sou grato pelo tanto que me diverti com aquelas sacadas bem humoradas e, va lá, místicas…
Eu entendo a importância do Raul para a música brasileira. Também entendo a quantidade gigante de fãs (apesar de alguns serem bem malas).
Provavelmente um dia até assistirei esse documentário.
Mas eu simplesmente não consigo ouvir sequer duas músicas seguidas dele. Acho muito chato. Minha opinião.
Tem muita gente que não gosta, normal.
Tranquilo Pablo, o legal é isso mesmo, cada um ter a sua preferência, tem espaço pra todos, mas eu particularmente acho Raul muito bom!!!
eu tb nao consigo ouvir as musicas mais famosas, mas provalvelmente, porque Gita, Tente outra vez, e Sociedade Alternativa, viraram musicas de cantores de churrascaria, uma pena mesmo…
olha tente ouvir mais as músicas lado B do Raul e nao só as mais conhecidas sao nessas cançoes que estao realmente o talento de Raul como : Coisas do coraçao,mais ilove you, nuit e por quem os sinos dobram essas 4 da pra ouvir facilmente um abraço….
pabloREM, só por curiosidade, você escuta que tipo de música ? Quais bandas ? Não quero polemizar, apenas entender. Obrigado.
Olá José, minha banda predileta está no meu nome: R.E.M., mas tem muito mais coisas que gosto e ouço com frequência. Não tenho estilo ou período predileto. Posso agora colocar um cd do John Coltrane, e daqui a pouco passar para um do Depeche Mode, The Cure, Mercury Rev ou Cracker, voltar para um Byrds ou Roxy Music ou Leonard Cohen. Esse ano por exemplo fui a São Paulo para ver uma banda chamada James e irei ao Planeta Terra somente para ver o Suede, tanto que vou e volto no mesmo dia, nem quero saber do resto que vai tocar por lá.
André, tenho um amigo que foi vizinho de apartamento do Raul. Ele não se esquece dos dois últimos meses que cruzava com o Maluco Beleza no elevador, disse que dava pena, o cara tava sempre cabisbaixo, mal se apoiava nas pernas…no dia que ele faleceu, meu amigo viu a movimentação de IML, polícia e acompanhou a retirada do corpo de Raul …morreu cedo demais.
44 anos. E tava muito ferrado, cheirando éter, triste demais.
Boa, André!
O bom e velho Raul. Maior nome do rock n’roll brasileiro.
É triste ver que outros artistas só regravaram Raul depois que ele faleceu.
Existe um show dele que eu recomendo, um que foi gravado ao vivo na Praia do Gonzaga. A galera ensandecida vai ao êxtase! \o
Essa foto é do Barça então!!!!
Não lembro quantas vezes já vi, mas lembro da primeira vez! Numa revistinha de cifras do Raul Seixas que comprei qdo tava aprendendo a tocar violão, aos 13 anos de idade, comemorativa do aniversário de 10 anos sem Raul!
E tbm nem fazia ideia de quem era esse tal de barça, rs.
Bom, parabéns pelo trabalho não reconhecido.
“Comemorar” um aniversário de morte é meio estranho, não?
Noite fim de feriado em algum camping serrano de MG, poucas barracas esparsas pelo bosque iniciam um desafio cover Raul sem contato visual no pequeno vale escuro. Hilaria homenagem ao rei das fogueiras.
Barça, você viu o documentário da Tropicália? O que você achou?
Vi sim e achei muito bom. O trabalho de pesquisa foi muito bem feito. Tem umas imagens do Festival da Ilha de Wight, em 70, que eu nunca tinha visto. Recomendo.
Também gostei… Mas sempre acho que tanto neste documentário do Raul, quando da Tropicália, falta um maior foco nos álbuns, na música em si, como nos documentários de rock de bandas americanas, inglesas…
Bom dia Barcinski.
Analisando o cenário que temos hoje, será que ainda existe espaço (e interesse do publico) para contestação inteligente como o Raul fazia? E o principal, da maneira como ele realizava, sempre direto ao ponto, sem empolação ou a aura cult que a nossa MPB persiste em manter?.. Acredito que daria um bom debate não?
Daria. Os “rebeldes” de hoje fazem shows patrocinados pelo governo. É a verdadeira Sociedade Alternativa.
Muito bom o texto hoje, parabéns!! Estava achando meio salgado o preço dessa edição especial, mas pelo seu comentário vou reconsiderar. Bom final de semana!
Sensacional André,vou encomendar o meu o quanto antes…abçs
Às sete horas hoje tava qui no meu trabalho, sem saber se isso é bom ou se é ruim, e troquei uma idéia com um camarada, começamos a falar do Raulzito, do filme, do álcool, etc. Bem louco ver a postagem de hoje.
Barça, conhece a tese “Vivendo a Sociedade Alternativa” do Luis Alberto Lima Boscato?
Link: http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=TESE_LUIS_ALBERTO_LIMA_BOSCATO&source=web&cd=1&ved=0CCIQFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.teses.usp.br%2Fteses%2Fdisponiveis%2F8%2F8138%2Ftde-06072007-110745%2Fpublico%2FTESE_LUIS_ALBERTO_LIMA_BOSCATO.pdf&ei=k15cUI3YDYP68gSt6ICYDA&usg=AFQjCNH7oNjFQIOwWdUkFLNhoHscDR_mGQ
Não conhecia, mas o tema é fantástico, lerei com certeza., Inclusive, vai me ajudar num trabalho que estou fazendo. Obrigado.
Falou, Barça!
Ah, antes de vir aqui e ver o post de hoje, tinha passado por aqui: http://zonabranca.blog.uol.com.br/arch2012-08-26_2012-09-01.html#2012_08-28_01_18_21-2503858-0
Já tava na fissura do Raulzito…
Putz, André!!!
A foto é famosa pacas!!
Ela rodou muito em várias publicações!!!
Eu sei, e nunca vi o crédito.
Gostei do documentário, mas o material extra foi muito escasso. Apenas 30 minutos!!!
Com a quantidade de material que eles tinham em mãos, poderiam ter feito um dvd com 3 horas de extras! : )
Não fiquei muito satisfeito. Poderiam ter incluído muito, mas muito mais!!!
Não sei que material eles tinham em mãos. Mas nunca país sem memória e sem arquivos como o nosso, achei as imagens do filme sensacionais.
Bravo!
Barça…eu adoro ler biografias e assistir documentários sobre a vida de grandes personalidades mas pra mim quase todas essas obras me incomodam pelo fato da grande maioria dessas celebridades terem morrido na decadência, outras sofrendo lentamente ou com doenças terríveis. São os casos do Heleno de Freitas, Garrincha, Henfil, Nelson Rodrigues, João Saldanha…enfim sempre nessas biografias quando chega a parte da decadencia e morte eu penso:
-Ih…começou a parte deprê do livro….e perco em parte, o prazer de assistir. Sempre ao terminar de ler ou assistir, acaba ficando mais marcante a maneira triste como terminaram nossos ídolos do que a fase gloriosa de suas vidas. Você não acha que os autores dessas obras deveriam utilizar mais recursos artísticos (licença poética ?) pra contar a vida das pessoas de uma forma diferente, invertendo a ordem para que não termine sempre com: decadência e morte?
Cara, é difícil, não dá pra mudar a verdade…
Grande maioria, não. Um monte de gente boa viveu uma velhice longa e feliz.
Andre,quando vc fez o primeiro post fui ver o filme escutei muita coisa do Raul, uma coisa que me impressionou muito foram os arranjos ora forra ora un naipe de metais, legal pacas.abraço.eden
Todos de um cara genial chamado Miguel Cidras.
André, o que eu achei muito revelador no filme foi o depoimento do parceiro Claudio Roberto quando ele mostra o lugar que eles gostavam de ficar para compor as músicas, num sítio e num espaço apertado dentro de uma casinha. Achei fantástico pois contrapõem aquela imagem do Raul: maluco, cheio de fantasias, loucuras, extravagâncias etc. e mostra que na hora de criar toda essa “loucura” ele curtia um lugar pequeno e simples.
Agora a banda que tocava com ele é fenomenal. Quem foi Miguel Cidras e outros grandes que tocaram com ele?
Uma outra coisa que eu achei foi que faltou falar mais da parceria dele com o Sérgio Sampaio, fez muita falta no filme. Vc sabe se seria por causa de direitos autorais?
Miguel Cidras foi um gênio, fez arranjos pra Raul, Tim Maia, um monte de gente boa.
Esse documentário é sensacional, e olha que eu nem sou tão fã assim do Raul.
Parabéns pelo livro André!!!!