México: o coração das trevas
27/09/12 07:05
Vilas poeirentas onde inocentes são metralhados às dúzias; uma terra sem lei em que cabeças de inimigos são expostas em rodovias como um sinal de trânsito macabro; meninos de 12 anos esperando a vez de matar para o tráfico; noites de terror e sangue em Ciudad Juárez, a cidade mais violenta do mundo.
Este é o cenário de “Amexica”, livro do jornalista investigativo britânico Ed Vulliamy, que acabei de ler. Não é para estômagos fracos.
“Amexica” relata as investigações de Vulliamy sobre os cartéis de drogas mexicanos e as viagens do repórter pela fronteira do México e dos Estados Unidos, uma área de 3400 quilômetros de extensão, onde mais de 38 mil pessoas morreram entre 2007 e 2010.
Imagine um “thriller” de espionagem à Graham Greene, só que escrito por Quentin Tarantino. E pior: onde todas as histórias são reais.
O livro não saiu no Brasil. Se você lê inglês, compre; se não lê, ligue para as editoras e peça que lancem por aqui. É bom demais.
Vulliamy é uma espécie de “gonzo”, um Hunter S. Thompson sem a loucura, mas com a mesma habilidade de se misturar a ela.
Ele bate papo com traficantes, joga conversa fora com mercenários, encontra prostitutas, troca idéia com matadores de aluguel e entrevista políticos. No processo, tenta extrair algum sentido de um país – o México – que já não parece ter nenhum.
A “Guerra às Drogas”, essa catástrofe que os Estados Unidos vêm impingindo ao mundo há quase um século – e piorada pela visão canhestra de Nixon nos anos 70 – só vem causando barbáries, promovendo a corrupção e enriquecendo traficantes. Mas em nenhum lugar com tanta intensidade quanto no México.
Se você achava que as histórias de Pablo Escobar, Carlos Lehder e outros mitológicos traficantes colombianos eram pesadas, espere até ler sobre os mexicanos. A Colômbia parece a Disney.
Como reportagem, o livro de Vulliamy é irretocável. Já como análise das causas e conseqüências da “Guerra às Drogas”, não chega perto de “Cocaine – An Unauthorized Biography”, de Dominic Streatfeild, o melhor que já li sobre o assunto.
Espero que alguma editora lance “Amexica” por aqui. É jornalismo investigativo de primeira, sobre um tema fascinante.
Esse eu ainda preciso pegar, muito obrigado pela recomendação, André.
Depois de ter visto o filme umas três ou quatro vezes, li “Gomorra” há duas semanas e fiquei muito impressionado com a qualidade do trabalho investigativo e com o texto, muito bom mesmo.
Vi a fita nova do Omar Rodriguez-Lopez (“Los Chidos”) no festival INDIE lá no CineSESC, é um baita de um humor negro escatológico e levado a extremos, típico de quem viveu nesse tipo de cenário que você descreve no post, e lhe recomendo, acho que vai curtir.
Grande abraço!
Focando o ‘combate às drogas’ fora de seu território, os EUA não caem no caos que fortaleceu as máfias durante a Lei Seca. O caos e as máfias ficam para abaixo do Rio Grande, ou seja, pra gente mesmo….
Esse post me lembrou aquele filme italiano “Gomorra”, sobre o submundo do crime no sul da Itália.
É baseado em um livro, e o autor foi ameaçado de morte por ter mexido em um vespeiro.
O filme é bem bom, te recomendo.
Já vi, é excelente mesmo. Mas não li o livro, que parece até melhor.
Triste realidade pq o povo mexicano eh um povo super boa praca,solidarios e de bom coracao.Mas infelizmente com a mentalidade muito tacanha e totalmente apaticos pra mudar essa ou qualquer outra realidade.Igualzinho a um povo q a gente conhece bem:o povo brasileiro.
Tem um filme pouco conhecido que é bem bacana, e dá uma leve ideia de como o tráfico se entranhou no governo. É “Conejo en la Luna”. Aqui saiu em vídeo, com o nome “Na Mira da Corrupção”. É uma produção anglomexicana, comecei a ver sem dar nada pro filme e dali a pouco fiquei grudado. Tem lá seus defeitos, mas se segura bem.
Excelente dica, André! Vou encomendar esse Amexica e o Waging Heavy Piece, de Neil Young, que tem relatos e fotos belíssimas da vida do cantor canadense.
Não gostei muito do livro do Neil Young não, escrevi na Ilustrada, acho que sai amanhã.
Beleza. Vou aguardar pra ler seu post.
Barcinski, conhece este blog: http://www.blogdelnarco.com/
Algumas imagens fortes.
Não conheço não, vou dar uma olhada, valeu.
Puxa…ontem fiz um comentário citando o “Nacho Libre” e no mesmo dia morre o Ted Boy Marino…
ótima dica, Barcinski. Mas acho que a foto que ilustra teu post é dos bandidos da MS13, de El Salvador, e não de traficantes mexicanos…
Já respondi sobre isso. A foto foi tirada de uma matéria que os identifica como mexicanos sim.
Adora o assunto, né? Todo mundo sabe que você faz carreira aí na Folha.
Hahahahaha, que pândego! Que mordaz! Que esperto! Que babaca!
Off topic – notícia mais assustadora do dia. Só por ter “Carlinhos Brown” e “vuvuzela” na mesma frase, a dica é: só clique no link se não for cardíaco.
http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2012/09/27/carlinhos-brown-ganha-apoio-do-governo-para-divulgar-vuvuzela-brasileira-na-copa-de-2014.htm
Eu vi, inacreditável mesmo.
Ontem eu vi uma reportagem no Jornal Nacional a respeito da “Cachirola”, a vuvuzela brasileira, e não botei fé tamanha cara de pau.
Lembrei de você na hora!
Impressionante o como valorizam tanto esse cara!
Assim como é inacreditável a leniência do governo e comite organizador.
“so clique no link se nao for cardiaco”
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Veja o lado bom dessa notícia: com o Carlinhos Brown envolvido no evento, as chances dele dar errado são de 100%.
A Guerra às drogas é uma idiotice eterna! Já foi a Colombia, já foi a Bolívia, os próprios EUA durante a lei seca, agora é o México, o Brasil… O foco se transfere e nunca se elimina a violência que envolve o tráfico e nem o tráfico.
o foco se transfere do quê?
Andre um tempo atrás aqui no blog voce indicou um livro sobre diversas máfias e quadrilhas que atuam pelo mundo feito po um jornalista. Qual o nome, não consigo achar no blog e nem lembrar de jeito nenhum. Caso lembre do que se trata, me indique por favor. abraços
Chama McMafia, de Misha Glenny. Muito bom.
Excelente esse livro, o autor lançou um outro chamado Mercado Negro, focado nos crimes via internet.
Não conheço, bela dica.
o descontrole da criminalidade em nosso país.
http://www.youtube.com/watch?v=6p3Sx3OAIGs&feature=relatedLuis
Assistam também “Plano de Fuga”, que apesar de ser um filme apenas razoável e estrelado pelo Mel Gibson mostra uma INACREDITÁVEL prisão mexicana. Só vendo para crer !!!
Geneo,
Traffic é um filme extraordinário, mas esse do Mel é ruim.
Certo, mas aquele presídio será que existe mesmo? Não duvido !!!
Enquanto houver consumo de drogas muitos POLÍTICOS, MILITARES, POLICIA, EMPRESÁRIOS, etc continuarão a ganhar muito dinheiro.
É muito simples.
Assistam o filme “TRAFFIC” com o Michael Douglas e o Benício del Toro.
Brasil tem a quarta maior população carceraria do mundo.Um pouco mais de 500 mil presos. Segundo a organização não-governamental Centro Internacional para Estudos Prisionais (ICPS, na sigla em inglês), o Brasil só fica atrás em número de presos para os Estados Unidos (2,2 milhões), China (1,6 milhão) e Rússia (740 mil). Trevas é verde e amarelo
500 mil tá pouco. Pro tanto de bandido que tem neste país, deveria ser uns 10 milhões.
a Colombia é a segunda economia da America do Sul
o Mexico é a Disney do lado do Brasil. A bandidagem aqui é muito maior que no Mexico. Cabeça jogada na rua tem no Rio de Janeiro faz tempo. E no indice de desenvolvimento humano o Mexico dá um baile no Brasil.
Vocês já escutaram o brujeria? È como se fosse outro documentario da desgraça mexicana de violência e drogas em forma de musica, mas com muito bom humor. Nem pergunto para o André porque sei que os criticos detestam o brujeria, é violência demais para os seus sensíveis ouvidos acostumados com belle & sebastian. Só não entendi o que os Estados unidos tem a ver com tudo isso que esta ocorrendo.
Não entedeu? De que planeta tu é, véi?
Gênio, o Brujeria foi entrevistado no meu programa de rádio. Eu ouvia os caras quando vc ainda curtia o Papai Papudo.
eu vi essa entrevista ! se não me engano foi em 2004 ! programa hisórico !
André, essa notícia é tão ruim quanto chacinas e tráfico de drogas:
http://esporte.ig.com.br/futebol/2012-09-27/carlinhos-brown-apresenta-a-caxirola-a-vuvuzela-do-brasil-para-a-copa-de-2014.html
Eu vi, uma tragédia.
Belíssimo ! “Parsifal” é uma maneira e tanto de fechar uma obra de vida , nao ? Já comprei as entradas para novembro da nova encenacao que a Deutsche Oper levará ou já está levando, nem sei mais. Klaus Florian Vogt irá cantar o papel título, ele é bastante festejado por aqui como sendo o novo tenor heróico wagneriano. Como “Lohengrin” sem dúvida ele faz a figura perfeita, seu tipo norte germânico cai bem no papel, mas alguns críticos apontam que a voz dele ainda é muito clara para outras partituras, como “Parsifal” por exemplo. Também pudera, o pessoal do meio musical, principalmente os cantores, nao engolem ele muito fácil. O cara comecou a cantar se nao me engano depois dos 28 anos, contudo até entao ele tocava trompa em alguma orquestra do norte alemao ou seja entendia de música, apenas mudou de funcao dentro da estrutura musical,o problema é que agora ele é o centro das atencoes. Eu como nao entendo nada e estou ali for fun tenho simpatia por ele, afinal ele é como dizem, um jovem tenor heróico em progresso. A atitude dele é bacana também está longe de ser uma estrela, o cara é bem pé no chao e pouco afeito ao mundo de celebridade de ópera. Gosto disso. No mais, Wagner em Berlim é o máximo, nao só ele, mas também o Bartók (um dia conto uma estória) e tantos outros. Faz três semanas rolou uma noite norte-americana na Filarmônica e eles levaram algumas obras do Charles Ives, entre elas a Sinfonia número 4 que é rarissimamente levada pelas dificuldades espaciais que apresenta na execucao. Enfim, viva Berlim, viva o Fluminense, viva o Wagner, viva Bartók e viva o México !
O canal nat geo passa sempre um documentário sobre isso.
Caríssimo André, perdoe se a pergunta pode parecer ofensiva, mas vc ainda acompanha os últimos do Slayer, Kreator, Anthrax, Soulfly e coisas do tipo ? As coisas que mais gosto de fazer por aqui é ir em óperas e em show de metal. Infelizmente nao é sempre que posso fazer ambos. Semana que vem verei o Soulfly, amanha rolará o Radiohead e eu serei um em meio a centenas daqueles que vao somente para tomar uma cerveja e ouvir o som sentado na grama, do lado de fora do show. A entrada custa 60 pilas e para mim isto é impensável. Eu é que sei quantos meses estou no limbo lá no banco por conta dos ingressos da nova encenacao do Ring na Staasoper. Imagine só, ano que vem será o jubileu dos 300 anos do Wagner, Berlim vai vibrar nas notas mais altas possíveis. E o clima já comecou, já rolam vários simpósios, congressos, novas encenacoes de “Lohengrin”, “Parsifal” e as outras do Ring, que também foi levado concertante na Berliner Philarmoniker. Nesta eu fui e paguei ridículos 27 contos – aí sim, mermao, aí sim. Um grande abraco e saudacoes tricolores de um eterno morador das Laranjeiras –
Não acompanho não. Fui ver o Slayer há uns anos em SP, foi divertido demais. E ouvir Wagner em Berlim deve ser mais pesado que cem shows do Slayer. Parsifal rola TODO fim de semana aqui em casa no volume 10. Essencial. Ele e O Mandarim Miraculoso, do Bela Bartok.
Sempre achei que o Heavy Metal ambiciona essa grandiosidade dos clássicos. E quer ser levado tão a sério quanto….
pra quem assina o netflix, há vários filmes e documentários mexicanos sobre o assunto (sugiro “el infierno”)…
Fala cara, tem como falar os títulos?
valeu
André, desculpe o off-topic, mas já que você comentou abaixo, o que achou dessa autobiografia do Neil Young? Vale a pena?
Olha, vou escrever sobre o livro pra Folha nos próximos dias, se vc puder esperar, agradeço.
Os mexicanos que me perdoem, mas o México está muito trash…
Chapolin forever !
…..e por falar em tiroteio….
By the way, tem algum filme novo legal que fale sobre o período da ditadura no Brasil ?
Com os neofascistas, defensores da moral, da censura e da vigilância, tá na hora do pessoal mostrar para a juventude o que era o Brasil nessa época.
Tem gente chamando o Cabo Bruno e Marighela de heróis, pior quando a mesma pessoa defende os dois….como se ordem e os direitos pudessem ser garantidos ou restabelecidos na bala dos justiceiros.
Tá faltando filme sobre o assunto ou eu estou por fora….?
Engraçado citarem a Colômbia como exemplo da falência da política de “guerra as drogas”. Justamente a Colômbia que nos últimos 15 anos desmantelou TODOS os grandes cartéis de drogas que operavam no país, e que desmantelou as FARCs, que de uma das milícias mais poderosas do mundo passou a ser um mero bando de narcomarxistas escondidos nas florestas. A prova de que a política de enfrentamento ao tráfico funciona é o exemplo Colombiano.
O que acontece no México é decorrência sim da corrupção e da falência institucional do MÉXICO. E também é culpa dos milhões de usuários de drogas que existem nos EUA, no México, no Brasil e em todo o mundo. Não é culpa do governo americano.
É culpa de uma política antidrogas falida, cujo modelo foi criado na era Nixon e serviu de base para muitos países. Recomendo dois livros sobre o assunto: o já citado Cocaine – An Unauthorized Biografpy, e Andean Coca – The Making of an International Drug.
Obrigado pelas dicas, irei atrás dos livros indicados. Apesar de não concordar com este post em particular, gosto muito deste blog e o leio sempre que possível. Parabéns pelo trabalho…
O azar do México é ser a ‘boca’ ou ‘biqueira’ mais próxima do maior consumidor de drogas do planeta.