Será que veremos Leonard Cohen de novo?
15/10/12 07:05
O show já durava três horas e meia quando Leonard Cohen e banda terminaram a sequência matadora de “I’m Your Man”, “Hallelujah” e “Take This Waltz”.
As 15 mil e tantas pessoas que enchiam o Palacio de Deportes de Madri perderam o juízo: pais de família correram em direção ao palco, senhoras de aparência respeitável esqueceram os assentos marcados e partiram em direção ao homem. Muita gente chorava. Na nossa frente, três gerações – neta, mãe e avó – se abraçavam e gritava. Beatlemania.
Leonard Cohen, com as mãos unidas num tradicional gesto de agradecimento budista, recolhia os buquês de flores, as caixas de bombons e os bilhetes que os fãs haviam jogado no palco. A cena tinha uma beleza quase religiosa.
O público todo ficou de pé e assim permaneceu enquanto a banda saía do palco e retornava para o primeiro bis. Trinta minutos depois, quando Cohen terminou de cantar a sexta música do bis, todos continuavam de pé, gritando.
Quatro horas de show. Trinta e três músicas. Uma maratona de emoção, inspiração e virtuosismo musical, comandada por um popstar de 78 anos. Nunca vi nada igual.
O concerto teve uma comovente sensação de despedida. Assim que entrou no palco, Cohen, vestido impecavelmente de terno e chapéu, disse: “Amigos, não sei quando voltaremos a nos encontrar. Por isso, vamos fazer dessa noite um momento especial. Vamos dar a vocês tudo que temos.”
E deram mesmo. Ao final do show, Cohen estava esgotado. Sua voz falhava. Em algumas canções, como “The Gipsy’s Wife”, “Coming Back to You” e “Alexandra Leaving”, ele nem cantou, limitando-se a admirar as cantoras. A plateia, percebendo seu esforço, o aplaudia ainda mais.
A banda de Cohen tem nove músicos, incluindo três cantoras e o extraordinário violonista catalão Javier Mas, que, sozinho, já valeria o ingresso.
Pessoalmente, achei alguns arranjos melodramáticos demais. Na turnê anterior, me incomodou o saxofonista, dessa vez substituído por um violinista, igualmente perturbador. Prefiro os arranjos minimalistas dos discos. Me incomodei também com a overdose de vocais de apoio.
Mas é compreensível que Cohen apele para arranjos mais “grandiosos”: afinal, ele está tocando toda noite para 15, 20 mil pessoas, não numa cabaré enfumaçado. A Leonard, tudo se perdoa.
A devoção dos fãs é impressionante. E mais ainda por se tratar de um artista que nunca fez nada de forma simplória ou acessível.
Música pop sempre foi sobre simplicidade, sobre dizer as coisas da forma mais simples e direta: “Eu te amo”, “Eu te odeio”, “Vamos farrear a noite toda”.
Mas Cohen sempre foi mais interessado na palavra do que na mensagem. Ele é um esteta, para quem cada sílaba, cada vírgula, cada pausa, tem mil sentidos e mil interpretações. Na música pop, só consigo pensar em Bob Dylan e Joni Mitchell como seus pares.
A seu modo, Leonard Cohen é um popstar. E sabe disso. No show, ele tirava os chapéus para as cantoras e ajoelhava ao lado dos músicos a cada solo. Sua voz, embora não tenha mais a potência de outros tempos, ainda consegue emocionar. Seu fraseado é perfeito, e a maneira como canta, ora sussurrando, ora narrando, é única e inimitável.
Como ele próprio diz em “Tower of Song”: “Eu nasci assim, não tive escolha / Eu fui abençoado com uma voz de ouro”.
O repertório foi irretocável. Clássicos como “Dance Me To The End of Love”, “Bird on a Wire” e “Suzanne” se misturaram a canções do ultimo disco e a raridades como “The Guests”, que ele não havia tocado nessa turnê.
Ao final, Cohen disse: “Espero, de coração, que possamos nos encontrar novamente”, antes de liderar a banda numa linda versão de “Save the Last Dance for Me”, do The Drifters. E 15 mil pessoas saíram atordoadas de beleza pela noite de Madri, pensando se aquele teria sido, de fato, o último encontro com Leonard Cohen.
Vi a apresentação dêle em Lisboa, no dia 7 de outubro deste ano e foi perfeita!!!Êste jovem de 78 anos se apresentou por mais de
3 horas!!! Os músicos , as 3 vocalistas de apoio e êle foram maravilhosos. E o preço que paguei para ver o ¨mago¨é bem menor do que pagaria no Brasil.
Vou assistir no próximo mês esse show em San Francisco. Espero que seja bom quanto esse que você foi. Alguma dica de um lugar legal para comer em San Francisco Barça?
Cara, não vou a São Francisco há muito tempo, vou ficar te devendo. Mas Chinatown é sempre legal.
Valeu Barcinski!!
vc vai a praga e assiste melvis, vai a madri e assiste leonard cohen. ô vida ruim.
melvins
Chama-se “planejamento”. Só viajo pra coincidir com shows legais.
Conheci a música do Leonard Cohen em 1989, Curitiba, a música que tocava no rádio do meu irmão chamava mais atenção que a beleza da Serra do Mar, a partir daí comprei tudo do Cohen.
Quando o teremos no Brasil?
Assisti em Barcelona, fui até lá porque pensei que poderia ser sua ultima turnê. Ja o tinha visto em Boston em 92. Quando ele cantou Hallelujah acompanhado por 12 mil pessoas numa espécie de oração, realmente, foi de chorar!
Barcinski,
Assistiu Os Infratores (Lawless)?
Que filmaço!
Não vi ainda, dessa semana não passa.
Gosto muito dos três primeiros álbuns dele e, em menor intensidade, de outros posteriores. Agora, para mim, o legado dele é inferior ao de Dylan e ao de Mitchell, apesar dele ser um compositor acima da média. Tem, pelo menos, uns três de carreira que considero bombas inomináveis.
Sério? Quais?
Particularmente, detesto o “Death Of A Ladies’ Man”, o “Various Positions” e o “I’m Your Man” (esse acho o pior) e são irregulares o “The Future” e o “Ten New Songs”, mas devo admitir que ele no palco beira o sublime, como é caso do “Live in London”.
Cara, na boa, vc deve estar maluco. Até entendo não gostar da produção do Spector no “Death of a Ladie’s Man”, mas “Various Positions” tem só “Dance Me To The End of Love”, “Coming Back to You” e “Hallelujah”, e o LP “I’m Your Man tem, além da faixa-título, uma penca de clássicos do Cohen: “Ain’t No Cure for Love”, “Everybody Knows”, “Tower of Song”, “Tahe This Waltz”, “First We Take Manhattan”… É um dos 3 melhores discos dele.
Em linhas gerais, só para registro, o que me faz torcer o nariz nestas gravações são os arranjos um tanto quanto datados e as letras notoriamente sem imaginação, além do que não vejo de maneira nenhuma o “I’m Your Man” ser esse desfile de clássicos, pelo contrário, vejo-o como algo maçante.
Fábio, simplesmente o disco tem oito músicas e SEIS estão em qualquer coletânea do Cohen.
Para encerrar, pelo menos pra mim: exatamente pelo que tu falaste, a melhor coletânea dele é a “Greatest Hits” de 75.
Tá bom. Então acho melhor vc não ver essa turnê, porque ele toca pelo menos 10 músicas dos discos que vc diz serem os piores dele.
Pura verdade. Pena que só um pouco tardiamente vim conhecer Leonard Cohen.
André, boa volta das férias, seus textos estavam realmente fazendo falta, mas se o Leonard Cohen, deve-se agradecer a empresária que roubou a grana dele, senão ele estaria té hoje no templo budista e será que ele recuperou, pelo menos, em parte, com esta turnê, a grana que ele perdeu????
Mal conheço o cara, só as 2 músicas do assassinos por natureza, mas gosto mto. É um negócio diferente de tudo.
Andre, vc já escreveu alguma coisa sobre o Jeff Buckley? Para mim, totalmente genial. Parece que estão realizando um filme sobre sua curta existência, mas a família não está concordando com o roteiro…Ah, ele fez uma versão magistral de Hallelujah.