David Bowie está morrendo?
22/10/12 07:05
“Is David Bowie really dying?”, perguntou o Flaming Lips no título de uma canção lançada em 2011.
Assim como a banda, milhões de fãs de Bowie em todo o mundo têm feito a mesma pergunta: o que está acontecendo com ele?
Dias atrás, Bowie foi flagrado por um fotógrafo andando por Nova York, cidade que adotou há quase 20 anos. Mora num loft gigante no Soho, com a esposa, a ex-modelo Iman, e a filha, Alexandra (veja aqui um artigo do “Daily Mail”).
Bowie não compõe nada há nove anos e desde 2006 não canta uma de suas músicas num palco. Recusou até o convite para tocar no encerramento das Olimpíadas de Londres, onde “Heroes” foi usada como música-tema. Amigos e parceiros não falam com ele há anos.
Tudo culpa, dizem os chegados, de um ataque cardíaco que Bowie sofreu em 2004, no camarim após um show na Alemanha.
Depois disso, o camaleão mudou de vida: parou de fumar, trocou a dieta e sossegou. Bom para ele, ruim para nós.
Por coincidência, estou terminando de ler um livro sensacional sobre o artista: “The Man Who Sold the World – David Bowie and the 1970s”, de Peter Doggett.
Doggett, que já havia escrito o excelente “You Never Give Me Your Money”, sobre o fim dos Beatles, analisa toda a discografia de Bowie nos anos 70, música a música.
O livro é inspirado em “Revolution in the Head” (1994), volume fundamental de Ian MacDonald sobre os discos dos Beatles (MacDonald, um dos grandes críticos musicais ingleses, foi convidado a escrever um livro semelhante sobre Bowie, mas cometeu suicídio em 2003).
Doggett aceitou a missão. E fez um livro brilhante, em que contextualiza a obra de Bowie nos anos 70 e ajuda o leitor a entender aquela época tão conturbada. O autor chega a uma conclusão: ninguém, naquela década, foi tão ousado e genial quanto Bowie.
Sempre fui fascinado pelos anos 70. Acho a década mais interessante da música pop, quando os sonhos hippies se transformaram em pesadelo e a música “caiu na real”.
Doggett começa traçando um perfil de David Jones, um jovem tímido crescendo na cinzenta Londres do pós-Guerra. A parte materna da família tinha uma temerosa incidência de esquizofrenia, e vários parentes do menino foram internados em manicômios e até lobotomizados. David – ainda Jones – cresceu com a certeza de que, um dia, iria juntar-se a eles.
Talvez isso tenha moldado sua visão cínica do mundo, ou uma tendência a ver a realidade de uma forma pessimista e de nadar contra a maré.
Sua obsessão por Andy Warhol e a discussão sobre os limites entre arte e realidade o fizeram criar uma visão muito própria da cultura pop. Bowie estudou design e trabalhou por um tempo como publicitário. Sempre se interessou pela forma como a realidade absorvia e influenciava a arte.
A verdade é que Bowie estava sempre anos à frente de todo mundo. Enquanto seus contemporâneos na música sucumbiam ao imaginário hippie, Bowie fazia uma música pop que misturava o folk de Dylan a uma estética futurista e sexualmente ambígua.
Meses antes da chegada do homem à Lua, em 1969, Bowie gravou a cáustica “Space Oddity” – relançada depois, para coincidir com a missão Apollo 11 – em que zombava da obsessão pela conquista espacial e questionava o real significado deste “progresso”.
Depois, inovou ao inventar um personagem – Ziggy Stardust – com prazo de validade. Foi o primeiro herói pop que já nasceu morto, com data de extinção anunciada por seu criador. Era seu Frankenstein, uma grande trapaça, um comentário irônico sobre a criação de mitos no pop. Coisa de gênio.
Ainda estou no meio do livro. Já passei a fase “Diamond Dogs” (1974). Não posso esperar para ler o que Doggett diz sobre a fase americana de Bowie, com “Young Americans” (1975) e, principalmente, sobre a “Trilogia de Berlim”, com “Low” (1977), “Heroes” (1977) e “Lodger” (1979), o ápice da genialidade de Bowie.
Espero que alguém lance o livro de Doggett no Brasil. É daquelas leituras que abrem horizontes e nos fazem lembrar que música pop importa. De verdade.
Também estou no meio de um livro sobre o fantástico David. “Bowie – A Biografia” (editora Benvirá), de Marc Spitz. O autor é assumidamente fã de Bowie mas nem por isso deixa de contar os “podres”, as “contradições”. A leitura é muito mais apaixonante quando quem escreve é também um admirador confesso da pessoa retratada. Acho que qualquer pressão que Bowie sofra, seja por parte da mídia ou até de fãs, seria injusta. Ele tem uma obra incrível, ele se tornou muito maior do que seus próprios heróis, condensou referências de forma ímpar… enfim… todo descanso e toda paz que o senhor Bowie de hoje achar que mereça – e que precisa -, ele merece de fato e isso deve ser respeitado por todos que o admiram.
Ainda seria – hoje em dia – o velho Bowie capaz de coisas tão grandiosas quanto as que fez no melhor momento de sua carreira ?
Passada a era de ouro do camaleão, várias foram as demostrações – que o mesmo deu – de trabalhos pouco convincentes … Me pergunto se não seria arriscado esperar muita coisa do cara, hoje em dia … De qualquer forma, curto muito sua página, caro André. Parabéns ! Em coisas assim que procuro me inspirar … um dia ainda chego lá ! Rsrsrs … abraços !
parece ser sensasional! Bowie É muito grande mesmo. E sempre a frente, como bem disse.
E quem não está André??
Grande post… sobre um grande cara!