LCD Soundsystem e a vergonha do sucesso
29/10/12 07:05
Gosto muito do LCD Soundsystem. James Murphy, o DJ, músico e produtor que inventou o grupo, conseguiu criar uma mistura empolgante de dance music e punk rock, atualizando o som de Tom Tom Club, Talking Heads e The Fall. É uma banda especial.
O que não quer dizer que os shows eram bons. Vi três, e foram todos chatíssimos. O próprio Murphy não é um “frontman” de impor respeito, com seu jeitão tímido e seu carisma zero.
No início de 2011, Murphy anunciou o fim do grupo. A notícia pegou muita gente de surpresa, já que a banda estava no auge: o álbum “This is Happening”, terceiro do grupo, chegou a ficar no topo da parada de música eletrônica da “Billboard”, desbancando Lady Gaga.
A despedida do LCD Soundsystem seria em um grande concerto no Madison Square Garden, em Nova York, cidade natal da banda. Foi anunciado que o show seria filmado e lançado em DVD.
O que pode ser mais emocionante que um show de despedida cercado de fãs e amigos? Quem viu “O Último Concerto de Rock”, a obra-prima que Martin Scorsese fez sobre o show de despedida da The Band, sabe o que estou falando.
Infelizmente, a emoção passa longe de “Shut Up and Play the Hits”, o filme-despedida do LCD Soundsystem. É um tédio só.
O filme sofre de uma síndrome cada vez mais comum entre essa casta de artistas sensíveis e que parece incomodada com o sucesso: a “síndrome indie”.
É um filme arrogante e excludente. Parece feito só para James Murphy ter alguma lembrança dos últimos dias da banda.
Para começar, não há a menor preocupação em ser informativo. O filme não entrevista ninguém, a não ser o próprio Murphy, que passa 90% do tempo andando pela rua com ar de intelectual francês e afagando seu buldogue na cama. Gracinha.
As pessoas que aparecem no filme sequer são identificadas, como se todos os espectadores tivessem a obrigação de conhecer a cara dos integrantes do Soulwax ou do Arcade Fire. Uma sequência longa mostra Murphy sendo entrevistado pelo autor Chuck Klosterman, mas também não o identifica.
O filme lembra um “Onde Está Wally?” indie.
Pior é o tratamento dado aos companheiros de banda, que entram mudos e saem calados. Nem os nomes dos coitados o filme informa.
Custava falar com eles e saber seus sentimentos em relação à morte abrupta da banda?
O show em si é outro exemplo de empáfia. É o maior concerto da carreira do grupo, com 18 mil pessoas lotando uma arena lendária. Mas a banda toca como se estivesse numa boate de 200 lugares, envergonhada de estar ali, sem a preocupação de adaptar o show ao local e ignorando os coitados que estão lá na última fileira (no fim, Murphy até se desculpa: “Obrigado a vocês, que não estão vendo nada aí de cima!”).
Como as câmeras estão dentro do palco e coladas à banda, não temos a noção do gigantismo da coisa. Mas dá para imaginar a chatice que deve ter sido ver esse show da 67ª fileira do Madison Square Garden.
O filme não conta a carreira da banda, não fala dos discos e não se preocupa em explicar quem é James Murphy ou de onde ele veio. Nem o nome das músicas é informado. Se você não conhece o LCD Soundsystem, vai continuar sem conhecer. Uma pena. Documentário indie é isso aí.
Olha, a crítica pode ser até pertinente sob o seu olhar e sob suas expectativas perante o documentário. Começa pelo nome, “Shut Up And Play The Hits”, os caras estão fazendo pouco do sucesso no NOME do documentário, não espere algo voltado aos novos fãs, ou algo feito para acrescentar números na “fan base” deles. Eles estão parando porque não se importam com isso, como eles mesmos disseram explicitamente no This Is Happening, “They wanted a hit, but maybe we don’t do hits.”. O documentário é pra fãs, nós sabemos os nomes das músicas, dos integrantes! E se você achou o show do Via Funchal e o Popload Gig chatos, você claramente não entende o som da banda… é tipo colocar meu primo de 10 anos num show da Dave Matthews Band, vai achar um saco. É isso, é como apreciar, acho que você não sabe apreciar a banda, nem a proposta do DVD.
Ah, saquei: eu não ENTENDI o som da banda. Tipo, é TÃO COMPLICADO… Olha, vc é mais blasé que a banda, parabéns, eles realmente têm os fãs que merecem.
Barcinski,
Concordo em número, gênero e grau.
Aliás, pegaria mais pesado, engocêntrico e caricato.
Reflete bem o momento em que vivemos: a eterna busca por ser original e único dentro de um clichê redundante.
Gostava da banda, mas fiquei fã de verdade quando vi eles no via funchal vazio numa terça feira (2008 eu acho… I was there). O James Murphy pode não ser um showman, mas dava pra ver que aquelas músicas eram tocadas com muito esmero e paixão. As partes percussivas e o som ao vivo dos sintetizadores antigos estão na minha cabeça até hoje.
All my friends é tipo um kraut rock com uma pegada mais emocional, não sei se alguém já fez isso com tanta propriedade quando o LCD. É uma banda especial mesmo.
Não vi o filme, mas realmente achei ridículo o trailer com o James Murphy num loft com seu cachorrinho.
off topic aqui… hoje fui na Saraiva e seu livro “ogro” está esgotado… parabéns!
Sério? Qual Saraiva?
Pegadinha do malandro!
Barcinski, vc já viu o documentário “Searching for Sugar Man”?
É sobre o músico Sixto Rodriguez. Eu não conhecia o cara. Aliás, o filme mostra q pouca gente conheceu. E isso que é uma vergonha. O filme é mt bom. O diretor é Malik Bendjelloul q fez “O Equilibrista”. Não costumo dar dicas pra jornalistas e tal, mas acho q a história do Rodriguez renderia um bom post. Veja o trailer do filme: http://www.youtube.com/watch?v=c2yWgKOwxGs&feature=fvst
Pode deixar tbm q eu não trabalho na divulgação do filme não. hahahah
Já sim, é ótimo, vou escrever sobre o filme aqui já já. A história é demais.
Nunca me interessei pelo LCD, mais pela postura que pela musica em si, que nao faz meu estilo. Mas por azar vi um ‘show’ do projeto/banda do guitarrista e achei bacana. Para a quem possa interessar: http://www.fallonyoursword.com
E pela simpatia e humor que vi no show – que teve outros ex membros do LCD como convidados – em comparaçao ao ‘filme’ citado na matéria, acho que boa parte dos musicos é que nao quiseram fazer parte.
Barça mudando de assunto gostaria de saber se você já ouviu Alabama Shakes…parece que os caras tem personalidade mesmo…não é só hype. http://www.youtube.com/watch?v=svZNjhsk2ys
Cara, ouvi sim, mas aquela gordinha imitando a Janis Joplin me deu uma preguiça danada.
É verdade dei uma ouvida em outras músicas e não é tudo isso mesmo…..
~mudou de opnião em 1 linha~
André, sua crítica faz sentido sim, especialmente se você analisar o documentário em si (independente da emoção de ser fã ou não da banda). É um filme sem muito ritmo, tão pessoal que só atinge quem é muito fã da banda. Como gosto muito do LCD já tinha lido algumas entrevistas que esclarecem mais o porque do fim da banda, e apesar da síndrome de culpa indie, acho louvável a intenção do James Murphy tirar o time de campo da sua “zona de conforto”, pois segundo ele o LCD podia soltar um disco mediano a cada 2 anos que eles continuariam a fazer shows no mundo todo e viver do establishment da fama adquirida. Ele não queria virar uma piada de si próprio através da repetição eterna como virou os Rolling Stones por exemplo. Acho uma postura interessante e rara numa época em que todo mundo faz tudo pra ser ou se manter famoso. (apesar de concordar que a postura dele no filme é meio piada em si já…hehehe)
Concordo. Acho louvável acabar com a banda se não quer mais excursionar. Mas o ponto é: por que fazer um filme tão chato e pernóstico sobre isso? Por que tocar no Madison Square Garden e ficar com vergonha disso?
Barça, sempre gostei do LCD, mas no último album tem horas que dá vergonha alheia. Uma chupação só de Talking Heads e Bowie do final dos 70. Influência é uma coisa, isso já é outra.
Tinha o primeiro álbum (uma ex- peguete malocou, tenho certeza…), até gostava, mas lembro que saiu na mesma época do muito bom primeiro álbum do Franz Ferdinand, que para mim tinha uma proposta musical parecida, mas com músicas mais diretas, divertidas e sem medo do sucesso. Em resumo: acho que é a banda mais indie- hypster esnobe de todos os tempos. O último show já era elogiado como lendário antes mesmo de acontecer, pelamor!!!
Barça…desculpa aí minha total ignorância em relação a essa banda…mas quando vc diz que ela atualiza o som de bandas como o Fall, T. Heads…vc quis dizer que ela usa trechos de suas músicas? faz covers ou apenas o som dela lembra o dessas bandas? E que discos vc indica do LCD com essa sonoridade?
Pega influências delas e junta com coisas mais novas.
Se o barcinski diz que é bom, só pode ser mesmo, não é?
Vou levar essa prosa para outro ponto: Será que uma banda de, sei lá (eu relamente não sei mesmo) com uns 8 anos no máximo de estrada, merece um show de despedida?
Isso parece mais uma aventura casual de uma pessoa pelo mundo da música do que uma banda.
Já é meio estranho shows de despedidas. Se quer acabar com algo, acaba e pronto. Não se faz festa para isso.
Tempos estranhos estes!
PS: que tal um post sobre o ótimo Tarkovski? Apesar de ser um diretor, dos grandes, mais obscuro, ele fez muita coisa boa em sua breve existência.
Boa, Tarkovsky sempre vale.
Só uma correção: o nome da banda citada é, na verdade, Tom Tom Club.
Obrigado, faltou um “Tom”.
O rock morreu em 2001, quando o último grande disco, “is this it”, foi lançado pela banda mais blasé da história, Strokes. Depois disso, não se salva nada, a começar pela banda blasé citada.
Radiohead gravou bons CD’s, QOTSA, Midlake, Get Well Soon, Grandaddy gravou os excelentes Sumday e Just Like Fambly Cat, etc., após 2001.
Excelente disco é diferente de grande disco. Excelentes discos existem às pencas, mas grandes discos são aqueles que influenciam outras bandas, que criam novos caminhos etc. Nenhuma das bandas citadas fez isso.
Grande disco? Strokes? HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!
“Nenhuma das bandas citadas fez isso” HAHAHAHAHAHAHHA
Já ouviu falar em In Rainbows?
o “melhor” dos strokes é o ep moder age.
já ouviu falar de buff medways?
solarflares?
kinh khan?
dead brothers?
holly golightly?
só pra ficar nesses…todos lançaram discos melhores pós 2001…
pra não falar que só citei “garage” tem o walkmen, thrills (o 1o), o andrew bird de 2005 (título gigante e com preguiça de escrever), o the guest do phantom planet…pra ficar nas bandas + “pops”.
Para todos interessados na sujeira que é o futebol brasileiro, nesse caso mais especificamente sobre o Fluminense, recomendo a leitura desse post:
http://josecruz.blogosfera.uol.com.br/2012/10/fluminense-e-o-pior-clube-do-pais-em-transparencia-financeira/
Olha, é o último comentário sobre um assunto totalmente fora do tema, ok? Quer chorar, se junta com os coleguinhas e chora. Aqui não.
O tema aqui não é choro, nem reclamações clubísticas de resultados, mesmo pq nao torço para o Atlético. Mas já que vc demonstrou preocupação com gastos públicos em recentes posts (especialmente sobre o estádio Corinthiano), achei que era relevante mostrar que todos os clubes brasileiros se beneficiam incorretamente disso. Qual o problema em discutir o tema educamente?
O post é sobre um DVD. Se todo mundo que quiser falar de um assunto começar a postar comentários sobre assuntos que não têm nada a ver com o post, a seção de comentários vira uma zona.
Beleza, desculpe entao.
Nunca vi nada demais no LCD Soundsystem, para mim tá no mesmo nível de outras bandas que apareceram no início da década passada que tentavam misturar dance e punk. Mas Someone Great eu acho fantástica, o cara tava realmente inspirado quando fez essa.
Tem boas músicas, acho. All My Friends é legal, o primeiro disco eu gosto muito. Daí a ficar vagando por Nova York com ar de poeta incompreendido é um pouco demais. Típica afetação slacker.
O hype em torno da banda também pode ter causado a afetação, não?
Pode, claro. Hype costuma fazer isso com as pessoas.
concordo em parte, achei a forma do documentario muito boa, é um registro para fas que conhecem a banda. o setlist esta impecavel!
Sim, é isso mesmo, um registro só para quem é obcecado pelo grupo e sabe até o nome do pai do baixista. Os outros 99,9% da humanidade ficam boiando.
Mas o filme não e um blockbuster do Spielberg. É um documentário de banda de indie. É feito para fãs.
Não é não. O filme é vendido em lojas do mundo todo. Não tem nenhum adesivo dizendo: “Exclusivo pra quem sabe tudo sobre o grupo”.
Colocar logo na abertura que foi selecionado para o Sundance é um tipo de propaganda que não visa só os fanáticos.
O DVD não está à venda em qualquer loja? Então é pra todo mundo.
Discodo quase que completamente dessa crítica. Assisti ao último show aqui no Rio, assisti ao último show em NYC em streaming e vi o o doc no cinema e falo que adorei tudo.
Não achei o doc nem um pouco chato. Pelo que jeito que você fala deixa a crer que queria um filme didático, tipo telecurso 2000. O filme é um pedaço do universo particular de James e seus questionamentos pessoais qto ao fim da banda mais seminal do início dos 2000.
A única parte que concordo é com relação a falta de legenda e apresentação das pessoas que vão aparecendo no filme. Como vc mesmo diz ng é obrigado a conhecer a cara de todo mundo.
O “universo particular” do James Murphy é ficar andando com o cãozinho por Nova York? Não se fala de música, de influências, de história da banda?
Concordo com o que você chama de “síndrome indie” mas também acho LCD Sounsystem muito chato.
André, hoje em dia tem muitas bandas ruins de palco e acho que a grande culpa disto vem da internet. Antigamente as bandas ralavam, ensaiavam um monte até ter a chance de fazer uma apresentação decente ao vivo. Hoje em dia, uma bandinha qualquer lança uma boa música e já colocam os caras para tocar em festivais, sem o menor traquejo.
André, será que os companheiros de banda não foram ouvidos e nem identificados por talvez não concordarem com o fim da banda ou por dizerem amém a tudo que decide o líder?????
Pode ser, mas nunca saberemos, não é mesmo? Um saco isso.
O que resume melhor a carreira do LCD Soundsystem é quando o James Murphy é perguntado sobre começar uma banda depois dos 30 anos e ele responde algo do tipo: “Não é que eu comecei uma banda, eu gravei um disco e começaram a me chamar pra tocar, daí eu formei a banda”. Isso explicaria, em partes, a ausência de entrevistas com outras pessoas. Achei o documentário arrastado e de uma falta de profissionalismo sem tamanho a não identificação das pessoas.
Explica mas não justifica. Porque, no fim, ele chora lembrando os bons momentos que passou com a banda, blábláblá…
O oposto de tudo que você falou está aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=OwqyyDD82Dc
Garra, tesão em tocar, fãs ensandecidos…
quem seria? onde eu to nao abre youtube…
Vamos trabalhar?
Assistir os videos das grandes bandas (e dos grandes tempos) do rock n’ roll no YouTube é uma experiência meio estranha. É como olhar pra um mundo que existia “antes do apocalipse”, um mundo que simplesmente acabou.
Vou mexer em vespeiro, mas isso me parece mais burocrático do que garra e tesão. “Agora eu vou lá caminhar na passarela, aí vc vem junto…”
o ac/dc era + legal quando “ninguém gostava”, era coisa de roqueiro doido de camisa preta e fora de moda…
na verdade com o Brian Johson eu acho o 1o legal…e algumas outras faixas soltas em outros discos…fora isso era legal mesmo na época do Bon Scott e o vocalista antes dele…
O filme é realmente muito chato. Fica a impressão que nem o Murphy sabe ao certo porque decidiu encerrar a banda.
As melhores partes do filme são as cenas do show, que não me pareceu tão ruim assim. Tá certo que eu não estive lá naquela noite, em pé por 3 horas e meia, muito menos tentei assistir ao show na íntegra pela TV.
Por outro lado me diverti bastante nos shows deles que assisti aqui em SP, não achei eles tão ruins assim de palco, pelo menos quando o show não passa de 60 minutos.
Putz, André. Você diz tudo o que eu penso sobre toda essa geração indie e seus fãs. O ar blasé, a empáfia disfarçam uma arrogância própria daqueles que tem noção da sua limitação. Nem Jimi Hendrix era assim.
Em suma, o DVD é uma m..*!
Esse desejo de ser independente a qualquer custo, tem um enorme custo: Nossa paciência.
O LCD foi uma “banda” muito legal e que merece uma homenagem decente e nada como o documentário descrito.
Não há nada que me deixe mais puto que um documentário que não identifica as pessoas na tela.
Esqueci de comentar. Falando sobre shows de bandas indie, realmente parece que elas se esforçam ao máximo para fazer um show chato…
Na época do Lollapalooza eu te perguntei pelo Twitter o que deveria esperar do Arctic Monkeys. E, pois é, você estava certo: o show não só seria como foi uma decepção enorme…
êta bandinha que faz show burocrático, viu?
Pelo menos no ano que vem o festival terá QotSA…
Não costumo assistir vídeo de shows,mas This is Happening é um baita disco,se fosse viníl tinha furado por aqui,ainda rola bastante.
Brilhante crítica, Barça!
E, aliás, fico muito feliz de você postar sobre música com mais frequência. Sua opinião é sempre interessante, independente de eu concordar com ela ou não.
Abraço!