"Nosferatu" no Ibirapuera foi show de horror
06/11/12 07:05
Sexta-feira, indiquei aqui no blog o filme “Nosferatu”, (1922), clássico do cinema Expressionista alemão, que seria exibido ao ar livre, no Parque Ibirapuera.
Gostaria de pedir desculpas pela indicação. Por favor, me perdoem se botei alguém numa roubada.
Segundo o relato de vários leitores e amigos que foram à exibição, “Nosferatu” foi um verdadeiro show de horror. Não o filme, claro, mas o comportamento do público.
Meu amigo Fred Botelho é um dos maiores cinéfilos que conheço. Poucas pessoas sabem tanto de cinema quanto ele. Fred levou a esposa, Lilian, e o filho adolescente, Léo, ao Ibirapuera. Aqui vai o relato dele:
“Chegamos meia hora antes do filme e conseguimos um lugar a cerca de 60 metros da tela. O parque estava muito iluminado. Havia luzes muito fortes que jogavam claridade na tela e prejudicaram muito a projeção. ‘Nosferatu’, como todos os filmes Expressionistas, tem um contraste muito acentuado na imagem, mas a projeção ficou ‘lavada’, o contraste não aparecia. Também havia poucas caixas de som. De onde estávamos, o som da orquestra estava muito baixo.
Mas o pior foi o público: nunca vi tanta gente batendo papo, twittando e tirando fotos. Tinha gente de costas para a tela, conversando em voz alta, sem a menor consideração pelas outras pessoas.
Ao nosso lado, havia um casal. O rapaz estava sentado e a menina, deitada, com a cabeça no colo dele. O rapaz ficava lendo as legendas em voz alta para a namorada.
Do outro lado, um grupinho de rapazes tomava vinho e conversava tão alto que a gente conseguia ouvir tudo. Um deles ficou contando o dia dele todo: as fofocas no trabalho, onde ele almoçou, etc. Dali a pouco, acenderam vários baseados. Não tenho nada contra, mas havia um monte de crianças ali. Mas foi bom, porque o sujeito fumou, ficou com sono e dormiu. Pelo menos assim ele parou de falar.
Minha conclusão: evento cultural gratuito ou com multidão no Brasil não dá mais, não vou. As pessoas não têm o menor respeito nem pela cultura, nem pelas outras pessoas. Parece que o filme era só uma desculpa para elas se comportarem mal.”
P.S.: Só para esclarecer: quando o Fred diz “nunca mais”, ele está dizendo que ele não vai mais a um evento desses, não que eventos gratuitos não devem mais acontecer.
Infelizmente não dá certo promover esse tipo de evento cultural. As pessoas vão lá só pra dar check in em lugar cult e mostrar pros colegas nas redes sociais. Fui assistir com meu pai a Orquestra Bachiana executando a 9ª sinfonia há uns meses atrás e tive que pedir pra que o grupo ao lado por favor parece de falar. Quando o Abujamra foi ler o testamento do Beethoven era um festival de cachorro latindo, criança chorando e celular tocando. Em São Paulo é assim: o que é de graça é ruim, o que é pago é caríssimo e nem sempre tão bom.
o pior é que nem evento pago garante mais que vc vai ter um lazer tranquilo. uma coisa que não entendo é porque alguém paga um preço geralmente exorbitante pra entrar num show, e lá dentro ela passa o tempo todo conversando ou filmando o palco… chegando em casa, a pessoa assiste o show no notebook né? tristes tempos esses, onde o importante não é viver a experiência e sim poder contar pros outros que viveu…
Desisti de eventos gratuitos cinco anos atrás, durante uma apresentação do Uakti que, sem exageros, foi obrigado a interromper o “show” quatro vezes devido à algazarra da plateia. Que eu saiba foram quatro interrupções, mas podem ter sido mais, pois a minha esposa e eu fomos embora após quarta. Impacientes e envergonhados. E nunca mais fomos a eventos gratuitos. Pelo menos não no Brasil.
Complementando – mas a falta de educação e civilidade não são “atributos” exclusivos do brasileiro. Já passei por problemas parecidos em Lisboa, Buenos Aires, Alicante, Berlin… A diferença muitas vezes é que aqui a coisa é generalizada, enquanto em apresentações na Europa, pode-se chamar de exceções, mas as gerações Ipod, Iphone, Twitter e Facebook, seu comportamento, deve ser estudado a fundo e é fenômeno mundial. Um dos meus maiores anseios era assistir a um show do Radiohead. E continua sendo, pois a única coisa que vi em 2010, durante uma apresentação da banda, foram as luzes dos milhares de celulares que gravavam o show para depois o arquivo ser postado no Youtube. Enquanto isto se conversava de tudo um pouco. Raros acompanhavam verdadeiramente o que acontecia em cima do palco. E foi acontecido em Berlin.
É uma decepção, né? Depois brasileiro reclama de sofrer “bullying” do resto do mundo…
Oi André!
Como comentei no outro post, não compartilhei da desgraça alheia – fui e gostei. Consegui ver o filme e ouvir o som. Apesar de chegar tarde e ficar longe, a estrutura foi suficiente para proporcionar uma experiência agradável. Cada um, cada um, suponho.
O problema não é evento gratuito, o problema é o tipo de povo que nos tornamos.
Não entendo porque as pessoas vão para o evento se não tem interesse no filme. Acho que ta sobrando tempo para essa turma. Quanto ao lado técnico da projeção, não me surpreende. A Mostra comete suas falhas ( imperdoáveis, na minha opinião).
Não tenho a menor dúvida que a maioria destas pessoas foram ao evento só pra fingir que são cultas e alardear o seu “feito” nos facebooks da vida.
Passei lá 5 e meia, após ver a maravilhosa expo da Adriana Varejão e a medonha Bienal onde só se salva o Bispo.
Estava bem frio e só de ver o gramado já com umas 40 pessoas acampadas, aquele tipo de gente que você percebe que não vai dar sossego, fui embora. A orquestra estava passando o som e dava pra imaginar as cenas. Pena mesmo não ter sido bom.
Eu fui…super empolgada tb. Mas o cheiro de maconha de embrulhar o estomago, o barulho e o frio me fizeram desistir. Foi minha última tentativa de evento gratuito.
Puxa, que pena!
Só o “de graça” é que exige um pouquinho de cuidado. Tem muito evento muito bem pago em que as pessoas preferem gritar que estão pedindo a bebida mais cara do cardápio que simplesmente ouvir a música que dizem terem ido curtir… talvez a gente avance mais se pensar em termos de educação mesmo.
Abs!
Lamento por quem foi, mas acho ótimo que esse tipo de coisa aconteça. É um excelente termômetro social e que expõe toda a fragilidade de uma política centrada exclusivamente em dados econômicos como forma de “progresso”. Nesta toada o máximo que conseguiremos é um vandalismo vip.
É André, compensa mais ficar no conforto do nosso lar se for para passar raiva desse jeito. E te digo outra coisa, não é só em evento ao ar livre e de graça que acontece esse tipo de situação, toda vez que vou ao cinema passo raiva, pois tem sempre um ou mais grupinhos que insistem em pagar ingresso só para poder conversar lá dentro, falta de educação é um comportamento padrão aqui, infelizmente.Abs
Não sei a razão da surpresa…A falta de educação é geral, seja o evento pago, independente do preço, ou grátis. Está na hora das pessoas acordarem, este tipo de comportamento não acontece apenas em eventos na faixa porque fica parecendo que a culpa é dos “intrusos” e “incultos”. Quem quer gentileza e educação que fique em casa! É triste, mas verdadeiro…
Não acho que o problema seja shows gratuítos ou não… Ultimamente eu não tenho tido paciência em qualquer evento que tenha um público em volta. Vai no cinema? Vai ter uma britadeira comendo pipoca do seu lado (fazendo questão de comer até o milho que não estorou)? Show? Não preciso nem falar né, a crítica do Planeta Terra feita aqui no blog no ano passado já diz tudo (tweets, bate-papo, indies querendo mais é serem vistos do que assistir os shows, etc). Museu? É um festival de gente encostando nas obras, tirando fotos com e sem flash, furando fila e por aí vai. Igreja (para aqueles que vão, seja lá qual for)? É um monte de gente batendo ponto lá, conversando, crianças gritando, sem absorver nada dos ensinamentos (volto a dizer, seja lá qual for a religião). Talvez eu seja muito chato, mas cada vez mais estou com vontade de comprar uma bolha e morar nela… O brasileiro, infelizmente, é muito sem educação, sem respeito, etc. E depois ficam reclamando do prefeito eleito, do que saiu, etc, quando grande parte das coisas que poderiam de fato melhorrar a cidade dependem unica e exclusivamente dos cidadãos.
Há algum tempo que o mais importante para as pessoas é mostrar que foi. Marcar presença. Assistir, prestar atenção, isso é desnecessário. Várias fotos no facebook, algumas twittadas e pronto. Depois é matar tempo até “aquilo” acabar.
Brasil-sil-sil…
O Brasil é o país dos privilégios. Quando alguém quer democratizar algo, só entrega ao povo “restos”, qualquer coisa – mesmo sendo uma obra clássica ou um bom músico.
E o público, formado nos Cinemarks – que são caríssimos – estão acostumados a ir ao cinema para fazer de tudo, menos ver o filme.
Enfim, espaços em que todos convivem como adolescentes, no que tem de pior.
André, meu sexto sentido já havia me avisado que seria uma roubada, justamente por causa do comportamento das pessoas. Nem considerei ir ao parque.
Além disso, infelizmente, não dá para esperar que os organizadores do evento pensem em coisas simples, como, por exemplo, que a iluminação excessiva do local atrapalharia a projeção. Tudo isso me irrita profundamente e fico sem palavras.
infelizmente esses eventos gratuitos tem vários problemas como infra precária e a falta de educação de nossa população.
Um bom exemplo disso é a virada cultural…no começo até que foi bacana, mas depois se tornou uma banguça e uma oportunidade para que as pessoas se droguem e roubem que está afim apenas de se divertir.
Uma pena mesmo…as pessoas não valorizam o que é bom e as oportunidades (muito poucas) que temos de ver bons filmes, teatro ou shows…lamentável.
Fiquei tudo, menos surpreso.
Até me animei a ir,mas na hora veio como numa visão,todos os percalços q vc contou na matéria;paulistano ta ficando cada vez mais jeca,e ainda com a tecnologia mal usada…
Se nos cinemas, pagando ingressos caros, as pessoas não se comportam, imagine numa exibição gratuita.
Já vi gente ligando tablet no meio de uma sessão, aquela luz fortíssima no meio da sala escura.
Enfim, as pessoas não tratam cinema como arte e nem se importam com isso. Infelizmente.
Bom apenas lamento, mas o Brasil, assim como em outros países tem pessoas de bem e que gostão e apreciam essa técnica cultural. Apenas essa cultura foi direcionada para pessoas sem noção, sem compromisso e Sem um pingo de respeito e vergonha na cara!
Pô, nunca tem nada que preste realmente nessa cidade e quando tem fazem de tudo para dar errado (lamento apena)
quando vc fez a propaganda, fiquei morrendo de vontade, mas passou e corri pra uma escura e segura sala de cinema (não pra mostra, mas prum filme não badalado, onde houvesse muitas cadeiras vazias)
Infelizmente, no Brasil, para as pessoas sentarem como seres civilizados e prestarem atenção à um espetáculo, é necessário que ele custe uma fortuna, assim elas sentem que precisam absorver tudo aquilo pelo que pagaram. Custo alto aqui serve para filtrar mau comportamento.
Será que 10 porcento daquelas pessoas sabem o que representa Nosferatu para o cinema mundial? Ou mesmo o impressionismo alemão?
É o mesmo tipo de pessoa que acha que ouvir música alta domingo de manhã no apartamento não tem nada demais, mesmo fazendo todas as paredes do prédio vibrarem; que se recusa a pagar R$ 10,00 a mais no condomínio para melhorar o sistema de segurança, mas reclama que foi assaltado na porta; que fuma na janela, mandando fumaça no apartamento alheio, mas denuncia o vizinho que esqueceu balde e vassoura na varanda, só pra ver o coitado tomar multa. Ou seja, gentinha que só se importa com o próprio umbigo, vive na bolha, e não olha pro lado. Não aprendeu a valorizar cultura e é massa de manobra.
Pois é, já esperava que seria essa roubada. Imagina aquele ano que passaram 2001 no vão do MASP. Isso sim deve ter sido o Horror.
educação não é um atributo historico de nossa cultura.
Concordo plenamente. O brasileiro é “cordial” e folgado.
Realmente a exibição do Nosferatu no Ibirapuera foi um horror. O planejamento do show estava medonho e, como o André escreveu, a iluminação estava tão intensa que a visualização da imagem virou um exercício de imaginação. Quanto à plateia, realmente ninguém estava nem aí para o filme, parecia que todo mundo estava lá para fazer um aquecimento antes da balada. Agora, pior mesmo foi minha enteada de doze anos que ficou o filme todo escutando One Direction no IPod dela (pelo menos ela estava de fone, pois havia gente no evento que estava escutando funk no celular para todo mundo ouvir) e perguntando que hora o filme iria acabar pq ela queria ir logo para casa assistir o super-filme “Starstruck” no Disney Channel. Decepção…
Domingo no parque é isso aí.
Felipe, vamos ser sinceros. Se você quer que uma criança de 12 anos se interesse por filmes antigos leve alguns pra casa e assista no conforto do sofá. Talvez ela preste atenção. Em um evento em um parque, sem enxergar direito, um filme preto e branco e mudo não é um programa pra crianças.
Andre, via de regra e isso mesmo evento de graça eu não vou nem me pagando.acho que foi vc que comentou um show do franz ferdinand de graça também foi um pega pra capar.o ultimo que eu fui foi do H.Hancock,extorsão de flanelinha,chuva ,som uma merda e por aí vai.
Pois é. Uma pena.