A tilápia morreu; viva o Saint Peter!
21/11/12 07:05
A gloriosa revista “Mad” tinha uma seção chamada “Cenas que gostaríamos de ver”. Sempre sonhei em presenciar a seguinte cena, entre um cliente e um garçom de um restaurante de luxo:
O cliente chega ao restaurante, abre o “menu” e vê lá: “Saint Peter”.
– Garçom, o Saint Peter está fresco?
– Sim, senhor, foi pescado hoje no pesque-pague ali na estrada.
– Como assim? Saint Peter não é um peixe importado? Com um nome desses?
– Não, otário, é uma tilápia. A gente chama de Saint Peter para poder cobrar o triplo de um mané que nem você.
É oficial: a tilápia morreu. Em seu lugar, surgiu o Saint Peter, sua versão Berrini.
O pobre peixe foi para a mesma cova onde estão “entrega em domicílio”, “tração nas quatro rodas” e “cafezinho”, mortos e substituídos por “delivery”, “four wheel drive” e “coffee break”.
Já está na hora de alguém fazer um dicionário da moderna semântica brasileira.
Por que continuar falando “churrasqueira na varanda”, quando se pode usar “Terraço Gourmet”? Ou “bolinho”, quando “cupcake” é tão mais bacana?
Por que morar na Barra Funda quando você pode comprar um apartamento em “Nova Higienópolis”? Ou deixar seus filhos brincarem no jardim do prédio, quando eles podem se esbaldar no “Play Day”?
E quem gosta de conhecer novidades lingüísticas tem um programão para hoje, em São Paulo, quando será aberta a segunda edição da Fastener Fair Brasil.
Conhecida entre especialistas como “Feira Internacional de Tecnologias de Fixação”, o evento briga para se isolar do nome pelo qual os detratores insistem em chamá-lo: “Feira do Parafuso”.
Eu sempre pensei que Saint Peter fosse a tilápia avermelhada. Pelo menos na feira onde compro é assim.
A tilápia avermelhada com olho vermelho é a saint peter mesmo… a com olho preto é chamada de vermelha… mas no geral, nas que servem por aí.
Muito obrigado pelo esclarecimento. De olho nos olhos.
Putz…”sale” é de matar. Sempre vem junto do “XX% OFF”. Nun guento…
E quando for a alguma conferência, aproveite a pausa para o Coffee Break e tome um café.
Que café que nada, você vai tomar um caffe latte ou latte macchiato ou qualquer frescura dessas. O bom e velho pingado em copo, só no boteco da esquina mesmo…
Aqui em Curitiba, tem o Batel Soho, que tem até uma associção de comerciantes, mas que na verdade fica no Bigorrilho. Já o Bigorrilho, coitado, sempre maltratado, de uns 25 anos pra cá também ganhou o “nickname” de Champagnat, que, dizem uns e outros, é mais chique. Mossunguê e Campo Comprido viraram Ecoville, Pinheirinho agora é Neoville.
O Bigorrilho ser chamado de Champagnat tem suas origens na década de 50, quando os Irmãos Marista lotearam parte de seu terreno onde funcionava o internato (nesse prédio hoje funciona um câmpus da Universidade Tuiuti) e essa região passou a ser chamada como Jardim Champagnat (para homenagear o fundador da ordem dos irmãos maristas, Marcelino Champagnat). Curiosamente, essa região fica no bairro das Mercês, divisa com o Bigorrilho. Com o tempo e o crescimento da cidade, regiões adjacentes ao Jardim Champagnat, localizadas principalmente no Bairro Bigorrilho, também passaram a ser conhecidas informalmente como Champagnat…Ou seja, isso faz mais de 25 anos, na verdade são mais de 50 anos, e nesse caso, creio eu, não foi frescura. Já o Batel Soho, de fato, fica no Bigorrilho, porém na divisa com o Batel (a Alameda Carlos de Carvalho delimita os dois bairros…). E Batel Soho, para mim é frescura…
é bem mais antigo do que 25 anos. E isso por causa do internato dos irmãos marista, que funcionava onde hoje é a Universidade Tuiuti (só que ali é Mercês, heheheh)…Daí para homenagear os irmãos marista a prefeitura nomeu uma das ruas DA REGIÃO como Marcelino Champagnat
Ups…reescrevi um parágrafo e esqueci de apagar…
Acho que deveríamos ter o Boqueirão Bronks e o Pilarzinho Queens.
Me lembrou este clipe (ou clip?):
https://www.youtube.com/watch?v=vaF0dcoI6B8
Fábrica agora virou planta.
Planta ainda é em português. Eu, como sou superchique, trabalho em uma facility….
Vou imprimir o post (se o André Permitir) e colocar no quadro de aviso da empresa onde trabalho, pra ver se um bocado de babaca lê, e cai na real.
Sure! Go ahead!
Detalhe: Sou de sp mas moro nos Estados Unidos e aqui eu compro Tilápia com o nome de… Tilapia!! É muito coisa de paulistano afetado da Vila Olímpia essa história de Saint Peter… E querer “sofisticar” os nomes pra cobrar mais caro. O problema é que tem gente que paga mais caro e acha o máximo!
Pior que paulistano afetado, é pobre que consegue ir para o exterior, se endividando, pagando em 400 vezes, mas fala de boca cheia que conheceu “New York”.
E são esses que falam que comem cupcake, Saint Peter de sexta feira, que smartphone, ao invés de celular, etc.
Lembram do macaco brás? Então…
Aquele famoso “smartphone for dumbass people”.
Putz, pensei exatamente nisso. Moro no Canadá e aqui a tilápia também chama tilapia.
Mas é muita frescura mesmo… Uma das que mais tem me aborrecido é chamar álcool de etanol. Há alguns meses pedi 30 reais de álcool e a frentista teve a moral de me corrigir: “de etanol, moço?” Não aguentei e respondi: “Não, prefiro álcool mesmo.” Poxa, este biocombustível existe desde os anos 70 com este nome e eu não vou entrar nessa modinha pra agradar o mercado externo.
Bem lembrado. E o bom e velho gás carbônico virou Cê ó dois
Ahaahahhahha mas tem até comercial agora com o maldito etanol …a primeira vez que vi pensei “o que é ETANOL caracoles ????”
Nada mais hilário do que uma programação de um evento (grande, importante !) que dizia, como primeira atividade: “Iniciaremos com um coffee break”.
Um muito usado aqui é o “Off Topic”.
Hehehehe. Verdade.
Hahahaha…..sensacional!
kkkkkk….. qual seria a melhor tradução para “off topic” no caso dos blogs?
Trocando de pato para ganso seria uma boa tradução, não?
Perfeito!
fora do assunto. ou fora do tópico.
Agora as barcetes vão ficar quietas…elas adoram usar”off topic,Barça”.Cool.
Já existe até abreviatura aqui: OT!
Barcetes, sensacional!!!! Kkkkkkkkk
Tem também as casas noturnas com chill-out, lounge, o line-up dos DJs e por aí vai.
De qualquer forma, acho que o esquisito é a febre por “desaportuguesar” termos que já existem em nosso idioma.
Antigamente, acho que o usual era importar termos para designar o que ainda não tinha nome aqui, como suíte, abajur, cinema, chofer, gol, basquete e vários outros.
Fico na expectativa de como serão rebatizados nomes tidos como não tão nobres, tais como garapa ou caldo de cana, linguiça, coxinha etc.
E, claro, sempre haverá espaço para rebatizar cômodos de imóveis visando aumento do preço de venda.
Por fim, carro “semi-novo” é o fim da picada, assim como “melhor idade” e “lindo de viver”!
Boa Luiz, um que acho péssimo é: beijo no coração!
E o que falar do uso de apóstrofo em nomes brasileiros em qualquer salão de cabeleireiro de periferia?
Maria’s Hair, Janete’s Hair…
Hair´s Tardados.
“Dar um up na carreira”, “Esquedular”/schedule-agendar, “bucar”/book-reservar uma sala de reunião, etc. Bizarro.
Nada é pior do que o Supla falando. Nada.
AB, fui comprar seu guia de restaurantes ogros. Ele estava ao lado de um livro chamado “Eu não consigo emagrecer”. Sério.
P.S.: Quanto à semântica, e a palavra agora maldita “experiência”? Tudo pode ser uma “experiência”, gastronômica, automotiva, musical…
Eu vi, os dois livros ficam sempre lado a lado nas estantes, acho engraçado demais.
André, seu livro é sensacional e já provei vários lugares ali. Tinha muita vontade de ir no Galinhada do Bahia e fui esse sábado. Pra meu espanto só estavam servindo rodízio a 50 paus por cabeça. Me decepcionei.
Verdade, agora é só rodízio. Fui há umas 3 semanas e também achei muito estranho.
Eu estranhei o preço, um pouco caro. Mas daí eu lembrei que me levaram num lugar chamado Wraps outro dia e eu paguei 50 reais pra comer uns pedaços de carne e queijo enrolados numa folha de pão. Fora que não é todo dia e não é todo lugar que serve galinha de cabidela (aliás, quem souber de mais algum lugar em SP que sirva isso, peço o grande favor de me dar a dica!)
PS.: Perdi meu livro de tanto apresentar para os amigos (aliás, eu perdi depois de conhecer o chi fu com uns amigos. Comam o bucho de peixe). Vou comprar outro hoje. Tem que estar sempre com ele para casos de emergência. Numa dessas eu fui parar na Caverna do Bugre pra bater um Filé Alpino e um kassler frito).
Hahahahahahhaha! Aposto que foi na Livraria Cultura! Vi isso também!
A frescura às vezes vai em sentido contrário. Ando percebendo que o surrado barman agora virou um mixologista.
Malditos publicitários e marqueteiros que têm que injetar um ar supostamente sofisticado nas coisas mais banais do cotidiano.
voucher!
Pois é, igual nas profissões… hoje todo mundo é analista de alguma coisa…
Analista de mídias sociais, o cara que passa o dia no Feicibuque.
Já me disseram que isso é “culpa” dos pisos salariais estabelecidos pelas entidades de classe. O CREA manda que engenheiro ganhe piso salarial? Sem problema, a gente contrata um analista de obras.
E as piores novidades linguisticas continuam vindo do ramo imobiliário. Uma pior que a outra para enganar trouxa e vender apartamento de 40 metros quadrados. Você André até escreveu um texto hilário sobre isso um tempo atrás.
Aqui em Curitiba convencionou-se chamar esses microapartamentos sem divisão dentro de “studio”. Muito mais fino que dizer que mora num studio do que numa kitinete!
A tilápia (“Sarotherodos niloticus”, a tilápia-do-nilo, ou “Tilapia sp”, as várias tilápias que ocorrem no continente africano) é peixe de água doce. O St. Peter ou John Dory (“Zeus faber”) é peixe marítimo amplamente disseminado. Uma boa pesquisa na internet confirma este fato, já bem conhecido.
Tilápia, conhecida em Angola por Cacusso[1] e no Brasil como Saint Peter[2], é o nome comum dado a várias espécies de peixes ciclídeos de água doce pertencentes à sub-família Pseudocrenilabrinae e em particular ao gênero Tilapia.
Barça, agora proponha para ela: “me mostra o seu dicionário que eu mostro o meu?”. Rárárá.
Ambas as definições abaixo são de artigos separados da wikipedia (em inglês):
“John Dory, also known as St Pierre or Peter’s Fish, refers to fish of the genus Zeus, especially Zeus faber, of widespread distribution.”
“Tilapia were one of the three main types of fish caught in Biblical times from the Sea of Galilee. At that time were called musht, or commonly now even “St. Peter’s fish”.[2] The name “St. Peter’s fish” comes from the story in the Gospel of Matthew about the apostle Peter catching a fish that carried a coin in its mouth, though the passage does not name the fish.”
Saint Peter é de lascar mesmo. Como trocar o equivalente brasileiro por esses nomes é prática antiga, nem ligo mais para isso. Agora, uma palavra que nunca saiu da minha cabeça desde que a vi aqui, e só aqui (então, Barça, muito obrigado por de tempos em tempos manter seus leitores atualizados sobre a moda da hora, assim não passamos vergonha por aí), é aquela mixologista, vulgo bartender. Toda vez que lembro dela, seja em casa ou na rua, eu tenho de segurar a risada para que as pessoas ao redor náo pensem que eu seja retardado. Impagável! Essa palavra merece destaque especial no dicionário da moderna semântica brasileira. Qdo se depara com essas criaturas, vc tende a querer dar nelas umas bifas ou a simplesmente dar risada, aquela do sarro mesmo?
André, na mesma revista MAD que você citou também tinha a clássica seção chamada “Simbolo de Status”, desenhada pelo Paul Coker. “Comer tilápia e pagar caro não é simbolo de status. Comer um ‘Saint Peter’ e pagar caro, é”
Abração !
Verdade, esqueci do “Símbolo de status”.
Vou estar forwardeando esse post p/ meus contacts
Não esqueça dar atachar aos favoritos!
Isso me lembra as derrapagens que os tradutores cometem nas legendas de filmes, série, programas estrangeiros em geral. Esses tempos eu estava vendo um filme na TV e o carinha lá falou assim: We need to increase our stock values. E na legenda: precisamos aumentar o valor dos nossos estoques. Só que nesse caso (filme norte-americano) stock é ação, logo, a legenda correta deveria ser: precisamos aumentar o valor de nossas ações. Estoques, em inglês técnico, é inventories…
E o filme “A Streetcar Named Desire” de 1951, cujo título foi traduzido em português para “Uma Rua Chamada Pecado”?
Foi seu melhor texto nesse ano. Muito pertinente. A academia do prédio da minha tia chama ”Espaço Fitness”.
Thanks!
Estava faltando um artigo desse… excelente.
Eu já não aguento (agüento?) mais essa invasão de palavras estrangeiras na linguagem do dia a dia.
O pessoal adora utilizar “aproach”, “customização” (essa é de doer) nas reuniões.
Pior é “softwares”…
E já recebi propaganda de apartamento com várias palavras em Alemão!!
Algumas mais para a lista: pet shop, laundry, room service, drive thru, call center.
E startar, performar, compartilhar um “case”? Dá para criar um dicionário.
Olha, eu até defendo o estrangeirismo, mas só em casos excepcionais. Por exemplo, toda vez que leio a palavra “estafe” eu chego a paralizar para tentar compreender o significado. Meu cérebro sempre faz uma conexão com Getafe e por alguns instantes eu fico boiando. Chama de staff logo. Ou equipe, pronto.
Não… vão chamar de “team”
Isso tudo nada mais é do que o famoso complexo de vira-latas.
Eita complexo de colônia. Depois de uma quase uma década fora, quando voltei (faz algum tempo) fui pedir uma pizza e vi que era ‘delivery’. O ‘mundo corporativo’ então era hilário. E vc já reparou nos repóteres da Globo quando tentam pronunciar nomes no idioma original?. Adoro o Waack falando AirbASS, uma outra que puxa pro Francês e fala Airbiss fazendo biquinho depois os dois falam Boengui. Vão ser pernósticos assim no inferno. E muita gente noticiou que furacão Sandy (pronunciado como os gringos, ‘sEndy’ com o ‘d’ bem leve) afetou muitas bitches em New JerSSey. Se ninguém vai pra Parri, então vamos falar festival de CaneS e pronto.
SALE – liquidação
Bem lembrado. Já vi lojas em Porto Alegre com as infames etiquetas “90% Off”. Pô, logo “vão estar traduzindo” o bombom como goodgood…