20 documentários para ver antes de morrer
27/11/12 07:05
Estarei fora até 3/12. Até lá, vou republicar alguns textos desses últimos dois anos e meio. Infelizmente, não poderei moderar os comentários, que só serão publicados em 3/12, quando o blog volta com textos inéditos.
O canal norte-americano Current TV exibiu o festival “50 documentários para ver antes de morrer”.
Os filmes foram selecionados por Morgan Spurlock, diretor de “A Dieta do Palhaço” (“Super Size Me”), filme em que relata sua experiência como cobaia numa dieta à base de sanduíches do McDonald’s.
A lista de Spurlock é, francamente, ridícula (veja aqui). Pra começar, ele inclui o próprio filme, que não passa de uma curiosidade, como o quinto melhor documentário dos últimos 25 anos.
Claro que há filmes interessantes na lista, mas boa parte são desses que mais parecem programas de TV ou “reality shows”. Como os documentários de Michael Moore, engenhosas peças de propaganda e cinema de quinta categoria.
Resolvi fazer uma lista de meus 20 documentários prediletos, para comparar com a lista de Spurlock. Só concordamos em seis títulos. Faça a sua lista e compare.
Aqui vai minha lista, em ordem cronológica:
Nanook, o Esquimó (Robert Flaherty, 1922)
Várias sequências foram reencenadas para as câmeras, mas isso não tira o brilho dessa obra-prima que conta um ano na vida de um esquimó. Flahrety fez também o extraordinário “Homem de Aran” (1935), sobre a vida em uma ilha remota da Irlanda.
O Homem com a Câmera (Dziga Vertov, 1925)
Até hoje é um choque ver esse mosaico da vida russa dos anos 20, em que Vertov praticamente inventa a linguagem cinematográfica moderna.
Olympia (Leni Riefensthal, 1938)
A cineasta predileta de Hitler revolucionou o cinema com técnicas surpreendentes para a época – closes, câmeras que filmavam de ângulos inusitados e com movimentos fluidos, câmera lenta – e copiadas até hoje. O filme é controverso, mas, a bem da verdade, Riefensthal dedica imagens lindas a Jesse Owens, o atleta negro que irritou Hitler com suas vitórias nas pistas.
Marjoe (Howard Smith e Sarah Kernochan, 1972)
Se você não viu ainda, ache esse filme de qualquer maneira. Conta a história de um evangelista, Marjoe Gortner, que depois de enganar milhares de fiéis por anos, tem uma crise de consciência e resolve mostrar para as câmeras suas técnicas de charlatanismo. O filme causou tanta revolta na época que nunca mais foi exibido, apesar de ter levado o Oscar. O negativo por pouco não foi perdido e o filme só foi lançado em DVD há pouco tempo.
Corações e Mentes (Peter Davis, 1974)
Obra-prima do cinema documental ou uma eficiente peça de propaganda contra a presença americana no Vietnã? De qualquer forma, vale a pena ver esse filme, que causou muita polêmica na época e continua impressionante.
Grey Gardens (Albert e David Maysles, 1975)
Filme arrasador sobre a vida de duas socialites decadentes, mãe e filha, vivendo numa mansão decrépita em Nova York e tentando manter as aparências.
Harlan County, USA (Barbara Kopple, 1976)
Clássico sobre a luta de mineradores do Kentucky contra as condições desumanas de trabalho impostas por uma grande empresa de carvão.
A Batalha do Chile (Patricio Guzman, 1975-1979)
Documentário em três partes que narra a ascensão e queda de Salvador Allende no Chile. O negativo foi doado pelo cineasta francês Chris Marker (“La Jetée”), e o cinegrafista sumiu, junto com milhares de outras vítimas de Pinochet. Cinema-verdade é isso aí.
Koyaaniskatsi (Godfrey Reggio, 1982)
Imagens delirantes, nenhum diálogo, e a música gélida de Phillip Glass fazem desse filme sobre os perigos da modernidade uma experiência aterradora.
Cabra Marcado para Morrer (Eduardo Coutinho, 1984)
Dois grandes filmes em um. Depois que os militares interrompem as filmagens de um documentário sobre lideranças camponesas, em 1964, Coutinho volta ao local, 18 anos depois, para retomar a história. Fascinante.
The Thin Blue Line (Errol Morris, 1988)
Errol Morris é o cara. Qualquer filme dele poderia figurar nessa lista: “Sob a Névoa da Guerra”, “Doctor Death” e “Fast, Cheap, and Out of Control”… Escolhi “The Thin Blue Line”, história real de um homem condenado à morte por um crime que não cometeu. Não vou estragar a surpresa do fim. É ver para crer.
Francis Ford Coppola – O Apocalypse de um Cineasta (Fax Bahr, George Hickenlooper, 1991)
Narrado pela mulher de Coppola, Eleanor, documenta a saga das filmagens de “Apocalypse Now”, marcada por acidentes, problemas gigantescos e egos maiores ainda.
Hoop Dreams (Steve James, 1994)
O esporte como único meio de ascensão social para famílias negras norte-americanas é o tema desse filme comovente. O diretor acompanhou anos da vida de dois meninos que sonham em jogar basquete profissional.
Crumb (Terry Zwigoff, 1994)
Fiquei estarrecido quando vi este filme pela primeira vez e descobri a história da vida de Crumb e seu relacionamento traumático com os irmãos. Revi o filme há pouco tempo. Continuei estarrecido.
Paradise Lost: The Child Murders at Robin Hood Hills (Joe Berlinger e Bruce Sinofsky, 1996)
Berlinger e Sinosfky fizeram também os ótimos “Brother’s Keeper” e “Some Kind of Monster”, o documentário sobre o Metallica. Aqui, eles contam a história de três adolescentes acusados de matar um colega em um ritual de magia negra. Apavorante.
Meu Melhor Inimigo (Werner Herzog, 1999)
Herzog tenta entender a demência do amigo/inimigo Klaus Kinski. Melhor momento: um índio se oferece a Herzog para matar Kinski, durante a filmagem de “Fitzcarraldo”.
Na Captura dos Friedmans (Andrew Jarecki, 2003)
Os Friedman eram uma típica família de classe média suburbana. Até que o pai e um dos filhos são acusados de molestar sexualmente crianças. Uma história marcante sobre linchamentos coletivos e o sensacionalismo da imprensa.
Santiago (João Moreira Salles, 1997-2007)
Adorei esse filme extremamente simples e pessoal sobre a vida do mordomo da família Salles, Santiago, um personagem obsessivo e fascinante.
The King of Kong (Seth Gordon, 2007)
Filme divertidíssimo sobre dois nerds que disputam o título de campeão mundial do videogame “Donkey Kong”.
Dear Zachary: a Letter to a Son About His Father (Kurt Kuenne, 2008)
Quando seu melhor amigo – cuja esposa está grávida – é assassinado, Kuenne resolve fazer um filme sobre ele, para mostrar ao filho que vai nascer. Já vou avisando: é uma das experiências mais arrasadoras do cinema nos últimos anos.
Publicado originalmente em 15/9/2011
Já assisti Grey Gardens e The Thin Blue Line depois de ver esta lista. Crumb eu já havia assistido, mas fiquei com vontade de rever.Obrigado pelas indicações. Esta coluna ainda vai ficar como um guia por algum tempo.
Atento à sua indicação, vi “Dear Zachary”. E acho que sua definição à produção de Michael Moore, ” engenhosas peças de propaganda e cinema de quinta categoria” cabe exatamente para esse filme. Tosquíssimo documentário que não consegue ir além de tentar montar um deus popular e um demônio insosso, à moda estadunidense. E o inconsciente, a solidão, a paixão e a loucura? E as dúvidas? Ah, sem contar a estratégia de se montar o suicídio (e o segundo assassinato) como argumento irrefutável da “tese” do filme é uma das maiores besteiras que eu já vi.
Porra, assistido tudo e o q posso da cena B do cinema e todos os coumentarios disponoveis (Moro na Regiao dos lagos – RJ, onde a cultura não tao disseminada)
e vendo sua lista me senti um “idiota”, pois só vi UM de toda essa lista
Será q é possivel encontar esses docs em sites tipo netflix, crackle, etc?
Me da uma luz
he he he
abs
Paradise Lost é fo… mesmo. Os 3 filmes, mas o primeiro é o mais impactante. O Dear Zachary: a Letter to a Son About His Father eu tinha gravado da GNT e assisti outro dia. Infelizmente o horario nao foi respeitado e perdi o finalzinho, mas não o FINAL (que soco no estomago, não esperava por aquilo). Outros que também merecem estar na lista “Como morrer em Oregon”, os dos caras das cadeiras de roda (esqueci o nome, acho que é Murderball), Projeto Nim (esse passe na HBO de vez em quando).
Boa lista, Barça. The thin blue line e Gray Gardens passaram no Cultura Documentários. O segundo é realmente punk, as duas (que se não me engano são parentes dos Kennedy) se degladiando no casarão e delirando em meio à decadência…dá a impressão de uma “bruxa de Blair” dentro do manicômio de “Um estranho no Ninho”. Sinistro.
olá! só queria registrar que, apesar de divertido, o “king of kong” é um pessimo trabalho jornalistico. Só pra começar, o record que Steve estava tentando bater nem era o do Billy Mitchell, como mostrado no filme!!! A edição, omissoes e confusoes propositais são terriveis… pra dizer o minimo. E como informação, após o lançamento do filme, Billy Mitchel jogou DK ao vivo, bateu o record de steve por 0.1% e parou o jogo no mesmo instante, abandonando a máquina! No ano passado, no entanto, um cirurgiao plastico chines/americano chamado Hank alcançou o novo record, o qual provavelmente o velho Billy terá que reconquistar 🙂
E Noite e Neblina, Barça? Achei estranho não estar em nenhuma das duas listas. Tenho certeza que você já viu, esqueceu ou achou que não merecia?
Obs: Se você aceitar uma indicação, proponho que procure Burden of Dreams, um documentário rodado durante a produção de Fitzcarraldo por um tal de Les Blank. É mais ou menos parecido com esse do Coppola, não chega a ser tão bom, mas é interessantíssimo.
http://www.imdb.com/title/tt0083702/
Vi o Burden of Dreams, é demais. Mas Noite e neblina? É The Fog of War?
Não, é o Night and Fog (Nuit et Brouillard) do Resnais.
http://www.imdb.com/title/tt0048434/
Ah, do Resnais, não vi, infelizmente.
É tanta coisa que vira e mexe aparece para que se veja antes de morrer que fico me perguntando se não vai ter nada pra se ver após.
acho que faltaram dois aí na lista:
– a série sobre o jazz, do Ken Burns, até hoje não superada no assunto.
– e “Quando éramos reis”
lost in la mancha sobre o desastre nas filmagens de terry gillian é bem foda tb.
É bem legal sim, e dá muita pena do Gilliam.