“Ensina-me a Viver” celebra o gênio de Ashby
06/12/12 07:05Anote na agenda: sábado, dia 8, às 22h, o Telecine Cult exibe “Ensina-me a Viver” (“Harold and Maude”), que Hal Ashby dirigiu em 1971.
É um dos grandes filmes dos anos 70, obra de um sujeito estranho demais até para os padrões da época.
“Ensina-me a Viver” é uma comédia de humor negro sobre um jovem de tendências suicidas, Harold (Bud Cort) e uma idosa bem humorada, Maude (Ruth Gordon). Os dois têm o hábito de visitar funerais de desconhecidos, e é num enterro que se conhecem e começam uma bizarra amizade. Contar mais da história seria estragar as surpresas, que são muitas.
O filme foi um fracasso absoluto na época. O cinema americano vivia um período de obsessão pelo realismo, com histórias inspiradas pela experiência do país no Vietnã e pelos conflitos sociais e raciais que afetavam o país.
O público não parecia preparado para os tons surrealistas do filme de Ashby e não captou a ironia de seu comentário sobre os abismos geracionais do período.
Filho de uma família de mórmons de Utah, Ashby teve uma infância traumática, marcada pelo suicídio do pai. Sofrendo de depressão e psicoses, conseguiu fugir de casa e foi para a Califórnia, onde se tornou um dos melhores montadores do cinema americano (ganhou até um Oscar em 1967, pelo drama racial “No Calor da Noite”).
Em 1970, Ashby dirigiu seu primeiro filme, o surpreendente “The Landlord” (passa de vez em quando na TV, sempre no meio da madrugada, fique de olho): Beau Bridges interpreta o dono de um prédio que pretende expulsar todos os moradores, na maioria negros, mas que acaba de afeiçoando às pessoas e choca a própria família ao iniciar um romance com duas inquilinas negras.
O filme já trazia a marca do cinema de Ashby: dramas urbanos sobre a dificuldade de relacionamento e o preconceito, mas sempre com um viés de humor negro e um tom ácido. Um cinema político sem chatice professoral e panfletária.
Ashby fez grandes filmes: “The Last Detail” (1973) é uma comédia negra e antimilitarista sobre dois marinheiros (um deles, Jack Nicholson) que precisam levar um prisioneiro, um jovem marinheiro interpretado por Randy Quaid, para a cadeia. O final é arrasador.
Depois, teve grande sucesso com ”Shampoo” (1975), comédia sobre as extravagâncias ególatras de Hollywood, “Amargo Regresso” (1978), um pesado drama sobre o Vietnã, e “Muito Além do Jardim” (1979), a melancólica comédia surrealista com Peter Sellers..
O gosto de Ashby por cocaína e heroína e sua incapacidade de jogar pelas regras de Hollywood, vivendo sempre às turras com produtores e estúdios, acabaram com sua carreira. Ainda fez vários filmes antes de morrer, em 1988, de câncer no pâncreas. Mas “Ensina-me a Viver” permanece como seu filme mais pessoal.
O Harold foi o primeiro e único suicida serial. nem a mãe ligava mais, é mole?
Obrigado por me fazer conhecer este filme! Assisti esse fime agora pouco no Netflix. Que filme incrível!
Esse filme é muito especial para mim. Sempre que o vejo me lembro do meu pai (que morreu em 92, quando eu tinha 16 anos), um grande fã do filme e da trilha sonora, do Cat Stevens. De vez em quando me pego escutando as músicas e lembrando do velho. Valeu pela lembrança, Barça.
Algum sucesso o filme teve no Brasil: assisti-o em 72, aos 15 anos, no Rio, por conta do boca-a-boca de que passava um filme legal com canções do Cat Stevens (era esse o chamariz). A sala estava cheia. Entre os jovens da época era só o que se comentava.
O filme é excelente e o seu texto muito bom, embora tenha esquecido o Cat Stevens.
Todo cinema americano dos anos 1970 é afetado pelo Vietnã?
“Todo” não, mas boa parte, sim, mesmo que indiretamente. “Taxi Driver” não é um filme sobre a guerra, mas o personagem, sim.
“Hi Mom!”, de Brian de Palma, ainda com um jovem Robert De Niro, além de ter “blaxploitation”, também tem o tema da Guerra do Vietnã. Eu assisti (e gravei) esse filme e “Last Detail (ou A Última Missão), do saudoso Telecine4.
Barcinski, dar dicas de filmes pelo título original em inglês é uma opção sua ou é porque você não se lembra? Automaticamente eu tendo a achar que não foram lançados no Brasil. “The last detais” = A última missão (tem em DVD). “The landlord” = amor sem barreiras” (não achei o DVD).
Bom, se vc faz algo “automaticamente”, é por sua própria opção, né?
Ficou engraçado: fazer algo automático por opção. E eu disse “eu tendo”. É que facilita para quem segue suas dicas de filmes e gosta de tê-los em DVD que haja o nome em português (facilita a procura).
André, se o Hal Ashby já era uma figura altamente esquisita nos anos 1970, tanto na arte quanto na vida, imagine nos 2000´s????
Nenhum comentário sobre a trilha sonora do filme, Barcinski?
Como alguns eu também fui um dos que assistiu num Corujão da Globo quando eu era criança.
Sempre gostei de cinema e fui notívago, então morando no interior, numa cidade sem cinema e que só pegava UM canal da TV (Globo) os Corujões eram obrigatórios nos fins de semana e durante as férias escolares.
Lembro de começar a ver o filme e já de isnício tem a cena em que a mãe do Harold entra em casa, vê o filho enforcado e passa por ele fleumática como se fosse a coisa mais normal do mundo. Passaram alguns segundos e daí eu fui entender que, sim, aquilo era comum na história !
Putz, já comecei a gostar da história… Depois tem uma cena em que tentam arrumar uma namorada para ele e após ser apresentado a ela ele pede licença para se ausentar um pouco e simula ser imolado por fogo no jardim.
Putz, é uma cena antológica atrás da outra…
E tudo isso passava na TV aberta, sem censura, mesmo que fosse nas madrugadas.
Se fosse hoje em dia, passariam todo cortado (sem trocadilhos) numa sessão de 1 hora e 10 com intervalos.
É… Pensando bem… Nem passaria na TV.
Bah!!!!!, Jeferson tive que comentar pois tambem vi nas madrugadas do corujão, tambem sou do interior e concordo com você, vi varios classicos naquelas madruhadas que hoje em dia nem passam perto da tv aberta
Aqui outro interiorano curtidor de Corujão! Pena que acabou essa sessão!
vale a pena lembrar que o hal ashby é um dos personagens principais do livro “como a geração sexo, drogas e rock’n’roll salvou hollywood”. pra se ter uma ideia da importância do cara, no livro, a morte dele simboliza o ocaso de uma época em que os diretores colocavam personalidade nos filmes.
Na minha opinião é um dos mais subestimados diretores de Hollywood. Da geração de 70, entraria no meu Top 3 (os outros seriam Scorcese e Lumet).
Dos filmes dele, acho que o melhor é The Last Detail (muito também em função do ótimo roteiro e da atuação do Jack Nicholson), mas The Landlord e Being There ficam muito próximos também.
Só pra reforçar o coro:
Um dos meus filmes preferidos de todos os tempos! Também assisti pela primeira vez num corujão quando pequena, a última foi no avião, faz uns 6 meses! É daqueles filmes que tem um efeito duradouro. E a trilha sonora do Cat Stevens é fantástica!
entre os melhores momentos do filme, estão os comentários do psiquiatra e do padre sobre a atração de harold por maude. outro filme legal do ashby, que você não citou, é “bound for glory”, com o david carradine no papel de woody guthrie. já o bud cort também foi protagonista de um filme estranhíssimo do robert altman: “brewster mcloud”.
Vc gosta de Bound for Glory? Nunca gostei desse filme.
assisti a esse filme só uma vez, muito tempo atrás, quando ainda era possível assistir a filmes de grandes diretores, nas madrugadas da tv aberta – não sei se foi na globo ou na rede manchete. me lembro de que, na época, gostei dele. gostaria de revê-lo.
Interessante, pensei que o filme tinha feito sucesso por retratar bem o espírito da época..
É um dos meus filmes favoritos!! Só faltou citar a ótima trilha de Cat Stevens que ajuda a criar o clima do filme…
Um dos filmes que acompanho desde criança e que envelheceu bem quando o vi recentemente. Adoro a trilha. É emocionante ouvir o velho Cat cantando Where do the children play.
Não assisti o filme, mas assisti no teatro com a Glória Menezes, no CEU próximo a minha casa. História encantadora, dá vontade de rever sempre, pena não ter TC cult, com certeza assistiria.
Filmaço. Já vi milhares de vezes e cada vez que assisto me sinto diferente.
Assisti esse filme no começo dos anos 80, ainda moleque, numa das madrugadas da globo e não consegui desligar a TV…foi um impacto e no dia seguinte contei para todos os meus amigos, que ficaram doidos para assistir, só que passava frequentemente…
Faz muito tempo que não vejo o filme…quem sabe consiga ligar no TC Cult
Valeu pela dica,.
Abs.
não sei nos EUA, mas lembro que aqui no Brasil o filme fez sim muito sucesso. boa parte do qual pode ser creditada também às músicas de Cat Stevens que permeiam o filme. além das excelentes interpretações dos protagonistas principais, é claro. na verdade, as mais significativas das carreiras de ambos.
Não fez sucesso em lugar nenhum. Passou muito na TV, mas nos cinemas foi um fracasso gigante.
“Muito além do jardim” é um grande filme. O personagem de Peter Sellers foi inspirado em Ronald Reagan que seria eleito presidente dos EUA.
É um dos 5 favoritos do Woddy Harrelson: http://www.rottentomatoes.com/m/the_hunger_games/news/1924805/five_favorite_films_with_woody_harrelson/
Bela lista, por sinal.
Será que tem no Netflix?
Tem sim, eu assisti lá.
Filmaço.
Já vi, faz um bom tempo. Pensei que fosse mais novo, tipo dos anos 80. É bom sim.
Boa dica!
E sábado é dia 08…rs
Mudado, valeu.
Esse filme é maravilhoso, um dos favoritos da casa. Tanto seu humor como seus drama e romance são feitos exímios de inteligência, sutileza e bom senso. Este filme é tão bom, tão marcante, tão simples, tão complexo, tão bem escrito, dirigido e interpretado, tão, resumindo, do caralho, que merece toda a admiração e culto que possui.
Essa sua frase diz muito: “um sujeito estranho demais até para os padrões da época.” A história de como o filme Shampoo foi feito é muito bem contada no livro do Biskind. É uma pena que tenha morrido cedo e só tenha sido celebrado depois de morto.
Quando vai passar o filme? No dia 7 ou no sábado ?
Desculpe, é sábado, dia 8.
a trilha sonora é muto bacana
Fala Barça.
Assisti este filme pela primeira vez quando ainda era criança acho que foi no corujão e deixou uma boa lembrança, revi ele mais umas três vezes a última foi a mais ou menos um ano atrás com a minha esposa e ela adorou a historia. Se não me engano este filme foi adaptado ao teatro e a Glória Menezes fazia o papel da Maude, só não sei se a peça era tão boa quanto ao filme, tentei ver mas acabei enrolando e a peça saiu de cartaz.
Abrs.