O Maraca é nosso. Será mesmo?
11/12/12 07:05A cada notícia sobre o “novo” Maracanã, aumenta a angústia de quem conheceu o velho
Veja aqui a reportagem da TV Globo sobre o primeiro camarote montado do “novo” Maracanã. E responda: você gostaria, realmente, de ver um jogo ali?
Eu não gostaria. E acho que ninguém que goste, de verdade, de futebol, gostaria de ver um jogo dentro de um lugar que parece saguão de hotel.
A cada notícia sobre o “novo” Maracanã, fico mais deprimido. Cresce o medo – agora, quase uma certeza – de que o estádio vai virar um verdadeiro shopping center de mauricinhos.
Apesar de o repórter da Globo dizer, com ares ufanistas, que o “Maraca é nosso”, eu duvido.
Ou você acha que qualquer um vai chegar no dia do jogo e poder entrar nesse camarote? Só rindo. A essa hora, o local já deve estar sendo disputado por políticos, anunciantes, assessorias de imprensa, celebridades e um batalhão de ex-participantes do “BBB”.
Não se trata de negar o conforto. Claro que todo mundo espera um estádio bonito e ótimo para ver futebol. Mas isso, o Maraca já era. Não precisava de reforma.
O problema é que não parece mais existir, no Brasil, um meio-termo entre o confortável e o suntuoso. E nossos espaços públicos – sim, o bilhão de reais usados para a obra, que se somam a quase 500 milhões gastos em outras obras no estádio desde 2000 – foram todos pagos por nós – vão se tornando gigantescas áreas VIPs.
Ir ao estádio, no Brasil, está um saco. Não bastasse jogos de uma torcida só e partidas tarde da noite ou sob sol assassino, para agradar à TV, agora chega a moda das áreas exclusivas, entradas particulares e clubes de vantagens.
Alguns chamam a isso de progresso. Eu vejo mais como uma obsessão consumista originada em nosso profundo complexo de inferioridade. Nada dá mais prazer ao brasileiro que ficar do lado “certo” de uma corda de veludo.
Desde quando ser bem tratado é sinônimo de ser VIP? Só aqui, onde não-VIPs se acostumaram a ser maltratados.
Espero queimar a língua. Torço para que o “novo” Maracanã melhore ainda mais a visibilidade e a acústica do antigo. Torço para que mantenham pelo menos uma área semelhante às cadeiras azuis, onde crianças entravam de graça e torcedores rivais se misturavam.
Mas, no fundo, duvido que isso aconteça. Estamos na torcida.
preçinho popular:
“Para a final da Copa do Mundo de 2014 e mais dois jogos, o valor total, com espaço para 22 pessoas, deve ser cerca de 168 mil dólares, ou seja, 7.600 dólares por pessoa”.
É sério isso?
Oi André, é sério. Veja no site do maracanaonline no link camarote modelo. Definitivamente o Maracanã não é nosso
Cara, que absurdo.
Se derem uma googada em “fifa hospitality” e fuçarem um pouco vão achar o preço dos camarotes. Tem pacotinho pro Maraca por 2 milhas. E a melhor parte é que os mais caros já foram todos vendidos.
Cartolagem hipster, era o que me faltava!
O Maracanã vai virar o proximo Sambodromo, cheio de camarotes loteados para a Brahma, com gringos e globais fazendo matéria pra Caras enquanto um jogo que eles não estarão nem aí rola pra massa sem “parte coberta”.
Bem lembrado, o Sambódromo virou exatamente isso.
Barcinski, um outro assunto que me faz pensar é essa mercantilização de clubes no Brasil. Por exemplo, de uns anos pra cá, quando a Nike e o Corinthians se juntaram o time virou um outdoor ambulante para vender os produtos da empresa, com marketing baseados naquelas bobagens como os “anti pira” e “só o Corinthians é o time do povo”. Muito brega você nao acha?
Acho, como a maioria das ações de marketing.
Vender Plano de Saúde pode, né ?
Numa boa, pare de encher. Que diabos um plano de saúde (ah, uma citação à Unimed? Nossa, que pândego!) tem a ver com o Maracanã? Não quer discutir o tema do post, ótimo, mas não desvie o assunto para aplacar seu ressentimento ou raivinha.
Deixa eu ver se entendi: o sujeito vai pagar caro para ir ao estádio, num camarote, assistir o jogo pela televisão sentado num sofá???? Genial!
Espero que a tv seja só pra ver o tira-teima.
Hahaha! Kafka ficaria orgulhoso!
Há de se lembrar que um dos capítulos mais especiais da história do futebol brasileiro foi a saudosa “geral” do Maraca, de tantas cenas marcantes.
Fantasiam a Copa do Mundo, construindo estádios que definitivamente não refletem a realidade social do nosso país (que dizer então da realidade econômica?).
Esse é o novo retrato: o futebol, expressão da cultura popular brasileira, cada vez mais longe do povo… e da realidade.
Acho que esse seu parágrafo diz tudo: (…) Eu vejo mais como uma obsessão consumista originada em nosso profundo complexo de inferioridade (…). Perfeito.
Eu só queria poder voltar a ver um jogo no Maraca bebendo cerveja, juro que civilizadamente. Eu não ia brigar com ninguém, nunca briguei por causa de jogo – quem briga geralmente nem bebe, já sai de casa com a briga marcada. Será que o papai Estado deixa?
Faço o mesmo pedido, toda vez que vou ao estádio hoje em dia. Posso?
aqui em sp é pior, nem bandeira no estádio pode, há uns 10 anos já.
logo vão proibir até xingar a mãe do juiz, afinal é violência verbal né…
Uhhuuu…balada VIP e open Bar…a cara do torcedor de futebol brasileiro. Falta só o espaço cultural,…tudo vira espaço cultural…cadê o espaço cultural do Maracanã ?
É uma reforma para agradar a AAA em detrimento do povão, mas ainda sim o Maracanã pode ser considerado um estádio bem utilizado. Pior é construir um enorme elefante branco de 50.000 lugares em uma cidade como Brasília, que vai ficar às moscas. Custava o Comitê Organizador daqui ter feito que nem os coreanos em 2002, que fizeram estádios temporários para a Copa e que foram desmontados depois? Mas não… Os coreanos é são subdesenvolvidos e pensam pequeno…
PS: espero que não reformem o Maracanã DE NOVO para as Olimpíadas.
Terra chamando Thales. Amigo, estamos no país da maracutaia, da propina, do caixa dois, da licitação fraudada. Quanto mais complicado, melhor para os canalhas. Tem que ter muito trabalho, prazo vencido, comissões diversas. Quer um exemplo de modernidade no Brasil? Que tal as urnas eletrônicas? Dá uma olhada, será que em países desenvolvidos é assim? http://www.youtube.com/watch?v=dzodI_X9iMY
Suadades da cerveja em pé no bar das Cativas, vendo um jogo qualquer em um domingo de inverno ou outono, só pelo programa…….isso pelo visto é passado…
A elitização do futebol paulista começou faz um tempo. Vale lembrar que aqui em SP no campeonato paulista a FPF determina a todos os clubes os preços dos ingressos, valor mínimo 40 pratas. Aí fica complicado defender os estaduais, ainda mais com a forma bizarra que é o campeonato paulista.
(Calma André….já já vão começar a chamar de Arena Maracanã)
Minha concepção de conforto num estádio de futebol é ter mobilidade e banheiros descentes e o que se vende no estádio com preços acessíveis. Lógico que uma cobertura é importante, mas não primordial. Mas cadeiras, poltronas, etc….sei lá…não me lembro de assistir jogos sentados…..lógico que um ou outro setor tem que ter.
Assim como não sou contra esses camorotes. O que irrita é tratarem isso como se fosse a principal coisa do estádio…e pra essa gente com certeza tem tudo do bom e do melhor.
No 1o jogo, a mulambada já vai roubar tudo.
Caro André,
Quando fui ao Mineirão pela primeira vez,o publico era de mais de 90 mil pagantes isto em 1986,fora a turma da carteirada.Estão elitizando e a violência aumentando,porque só vai a estádio torcida organizada ou quem tem dinheiro,falando de maneira generalizada.
Pensar que em 1963 assisti ´`aquele Flaxflu) inesquecível. Brasil e Paraguai em ,em 69. Botafogo e Santos em 62. Flamengo perdendo em 63 de 3×0 pro Milan.Que delícia. kakakakak. Agora vai estar cheio de BBB, Caras, Narihulk e seu Banco fajuto.Ana Brega, Fausão, e aínda por cima olhar pro lado e ver o gavião dizendo besteiras. kikikiki
essas horas lembro do daniel piza quando ele escrevia “porque não me ufano” no estadão de domingo.
Gostei Senhor Barça, como dizem alguns. Quando minha filha morou em Londres com o marido (2003/07), ambos trabalhavam em dias de jogos nos Estádios por lá. Ela no camarote VIP das mulheres (esposa do T.Henry, do Diretor do Arsenl etc) Ele atendia aos famosos antes e após os jogos. Bebiam rios de Whisky, Cerveja e Runs ( clube do bolinha?).Como aqueles povos não tem programa ao ar-livre, nem praia,preverem reunir-se em camarotes como esses. Imitá-los? Seria puro sentimento de vira-latas como dizia o N.Rodrigues. No mais vamos aguardar e torcer como o senhor. Parabéns pela crônica.
já era… esses ambientes “revista caras” vão acabar refletindo no preço dos ingressos, mesmo os comuns. nos outros gastos também. aposto que até o espetinho de gato e o amendoinzinho vão inflacionar… claro que os vendidos fora do estádio, porque comida e bebida ali dentro vão inevitavelmente custar os olhos da cara. vai ficar inviável pro torcedor médio assistir um jogo de futebol, infelizmente. mas pros vips é só alegria, mais um ambiente pra ver e ser visto dentro do rio de janeiro.
Barcinski, procure conhecer melhor o projeto antes de criticar.
O camarote em questão (da foto) será destinado aos antigos “geraldinos”, que perderam seu espaço com a remodelação do estádio. Esses camarotes terão preços populares (em torno de 20 reais, no máximo), biscoito polvilho e mate Leão.
Alem disso, contam com elevadores exclusivos, com acesso direto ao ponto de ônibus da Radial Leste.
Vamos parar de pessimismo! Faremos uma grande festa popular nesta Copa, com shows de Carlinhos Brown, Preta Gil, Claudia Leitte, etc., apresentados por Luciano Huck e Regina Casé (com reportagens de Bruno de Luca). O hino nacional será cantado por Luan Santana e Fafá de Belém.
Tem razão, foi mal aí…
Cara… o horror… o horror!
O Luciano Huck, se for ,é bom que a Angélica vá dirigindo…
É capaz de a Angélica deixar o Huck no estádio mesmo e sair cantando ” Vou de taxi”…
Taxi Driver…
Você pergunta se alguém gostaria de ver um jogo ali.
Bem, aposto que a última coisa que vai preocupar algum frequentador desse camarote é o jogo.
Quando o brasileiro aprender a boicotar as coisas, talvez tudo melhore. Desde uma partida de futebol até a compra de um veículo zero quilômetro. Mas isso está bem distante. Basta ver o público na partida Brasil vs China.
O brasileiro tem orgasmos múltiplos com coisas VIPs, clubinhos de exclusivos e afins. O chato é que isso só aumenta o abismo entre o tal VIP e o convencional. Este será cada vez mais maltratado, como uma maneira de empurrar à força às categorias especiais. Em aeroportos, ser filiado a qualquer merda desses clubes de fidelidade de cartões de crédito e bancos é questão de sobrevivência. Eu, como viajante freqüente, acabei aderindo, senão chegaria no meu destino suada, estafada e sem condições de cumprir meus compromissos. Mas não me sinto VIP porra nenhuma, me sinto uma pateta, uma idiota, pagando uma grana preta só ter acesso a ar condicionado, café e filas humanamente aceitáveis.
E isso não vai mudar, vai piorar e se estender a todos os setores, como o André bem mostrou com o entretenimento esportivo.
E pensar que tudo começa por causa da cabecinha de bagre dessa elite de colônia.
Ah, Bia, mas não é só a “elite” que gosta de área VIP, não. Todo mundo gosta, independentemente de classe social.
Sim todo mundo gosta e isso é um reflexo do que predomina na sociedade. É um problema de valores, potencializado sim pela elite, que inventa privilégios em espaços que deveriam ser predominantemente populares.
Elite cabecinha de bagre com mentalidade de colônia, André. E discordo se você. Felizmente conheço gente da chamada “elite” (o que é elite mesmo? renda acima de 20 salários mínimos?) que compra roupa no Carrefour, pede média na padaria e, mesmo podendo trocar de carro, usa o mesmo há 20 anos. E não dá carteirada por aí, pega fila como todo mundo.
Sou da época que ia para o Maraca de ônibus, comprava os ingressos poucas horas antes dos jogos (mesmo em dia de final), comia um cachorro quente Geneal, chutava bola feita de papel no pavimento superior antes de iniciar a partida, assistia preliminar de qualidade, vibrava com os desfiles de bandeiras das torcidas, admirava Jonkel Schor (velhinho das embaixadas), tentava advinhar o público pagante (pelos menos 50 mil) e, por fim, torcia para o meu time de coração, independente se ia ganhar ou não.
Espero (acho difícil) que o novo Maraca renasça com a bela fama de “O maior do mundo”.
Fala Barcinski, tudo bem? O Maraca vai virar Hipster. E a torcida do Fluminense agredece!!! Viva nós!!
Creio que o fenômeno “padaria shopping center” também esteja chegando aos estádios.
Engraçado que com os ambientes distintos, cada vez mais igualando-se ou englobando tudo que podem visando o conforto de seus usuários, acabam perdendo a identidade. Logo quem os frequenta, também acaba perdendo…
… malditos pôneis… digo… hipsters!
Hipster… Napster… Gangster… Gagnan Style… merda de mundo chato da porra!
Por isso gosto de ver os jogos de várzea na Rede Vida.
Barça, gostei muito do texto.
O futebol está sendo elitizado. Não é só o Maracanã: os estádios “diminuem”, os setores populares são extintos, as novas “arenas” vão tornando o futebol mais asséptico e mercantilizado.
O esporte está em último lugar. Uma pena.
É verdade, esse camarote não está com nada. Pois bom mesmo é ficar empoleirado na arquibancada levando saco de mijo nas costas.
Obrigado por corroborar tudo que escrevi. Você mostra que muita gente não consegue entender que pode existir um meio-termo entre “levar um saco de mijo nas costas” e ficar num camarote ridículo desses. Obrigado, novamente.
Tem que haver o camarote, e quanto mais “exclusivo” melhor.
Já pensou se a gentalha que fica neste camarote resolve importunar na arquibancada ? Eles que chafurdem lá e deixem os torcedores de verdade em paz. Bando de coxinha.
Extremo mau gosto. Com certeza vai rolar uma mini-balada nessa área, onde os VIPs vão fazer de tudo, menos assistir ao jogo.
O politicamente correto superou o limite sadio, pois ele é sempre travestido do marketing e interesses escusos. Não há equilíbrio. É o Federer jogando com a camisa do Brasil para agradar torcida local e patrocinadores, Neymar entregando placa para o Mauro Betting no jogo com o rival para pousar do bom garoto e valorizar cada vez mais seu passe e por aí vai. Tudo é feito para vender a imagem e lucrar – a tradição e memória é sempre deixada de lado – tudo parece límpido, mas na verdade é hipócrita. O lúdico perdeu seu espaço, o “parquinho do prédio” virou o “party place” na vida do século XXI. E arquibancada então, é coisa do século passado. A nossa elite burra e nossa classe média pouco educada paga qualquer preço para parecer que foi convidada para o banquete do rei…
Barça, o que estão fazendo com o Maraca, será, muito provavelmente, o que pensam em fazer com o Conjunto Esportivo Constâncio Vaz Guimaraens.