Comédia “stand up” é coisa séria
14/12/12 07:05Peço desculpas por voltar a um assunto abordado tão recentemente, mas é que estou obcecado com Steve Martin nos últimos dias (leia aqui meu texto sobre o lançamento da caixa de DVDs com o melhor de Martin na TV americana).
Acabei de ler a autobiografia de Martin, “Born Standing Up”. Saiu no Brasil pela editora Matrix, com o título de “Nascido para Matar… de Rir. É um livro curtinho (pouco mais de 200 páginas) e sensacional.
Na verdade, não é uma autobiografia completa, já que termina em 1981, ano em que Martin, no auge do sucesso como comediante de “stand up”, resolve abandonar os palcos e se dedicar ao cinema.
No livro, Martin conta a trajetória que o levou a ser o maior superstar do “stand up” mundial. Ele foi o primeiro comediante a ter fama de astro do rock, capaz de lotar ginásios e vender 30 mil ingressos para uma única apresentação.
Mas a época de fama e fortuna só aparece no fim do livro. O mais interessante é a descrição dos anos em que Martin penou para se estabelecer.
“Fiz ‘stand up’ por 18 anos”, escreve. “Os dez primeiros , passei aprendendo, os quatro seguintes aperfeiçoando meu número, e os quatro últimos, ficando rico.”
Filho de uma mãe amorosa e de um pai frio e ausente, Martin conseguiu um bico em 1955, aos dez anos de idade, vendendo programas na recém-inaugurada Disneylândia, na Califórnia. Sua carreira no teatro começou pouco depois, em um parque rival da Disney, chamado Knott’s Berry Farm.
De lá, chegou a São Francisco, no auge do movimento hippie, a tempo de mergulhar fundo nas drogas, que não curtiu.
Lendo o livro, a impressão é que Martin sempre foi um “outsider”. Assim que se sentia confortável em algum lugar ou estilo, tratava logo de bagunçar tudo.
Quando percebeu, no fim dos anos 60, que era moleza arrancar gargalhadas da platéia sacaneando políticos como Richard Nixon, abandonou a comédia política para tentar algo mais radical.
Seu desafio, mais que fazer rir, era subverter as fórmulas da comédia. Martin criou um estilo de “stand up” quase surrealista, que brincava com metalinguagem e onde enfrentava o público, não de uma forma agressiva, mas sem se dobrar às expectativas de sua audiência.
Para conseguir isso, Martin penou demais. Foram anos e anos de rejeição, desprezo e platéias pequenas.
Mas ele acabou triunfando, e sua “não-comédia”, como definiu o amigo Rick Moranis, virou o “stand up” de cabeça para baixo.
A explosão de Steve Martin aconteceu na época da criação do programa de TV “Saturday Night Live”, por volta de 1975/76, que revelou outros atores que também estavam tentando criar algo novo, como Bill Murray, Gilda Radner e Dan Aykroyd.
No livro, Martin conta casos engraçados envolvendo figuras como Elvis Presley, que o elogiou por seu “humor oblíquo”, Dalton Trumbo, roteirista de “Spartacus” e um dos artistas mais perseguidos pelo anticomunismo macartista, e até Linda Ronstadt, com quem Martin teve um romance.
Também deixa algumas frases antológicas: “Dizem que celebridades usam a fama quando precisam dela, e reclamam da fama e de paparazzi quando não precisam mais. E isso é absolutamente verdadeiro.”
Se você se interessa por comédia, recomendo demais o livro. Não só para conhecer os bastidores e história do “stand up”, mas também para confirmar como até um gênio do naipe de Steve Martin leva anos para polir e aperfeiçoar sua arte.
Eu entrevistei o Steve Martin quando ele lançou A Pantera Cor-de-Rosa 2 só por estar doido por uma oportunidade de conversar com o sujeito. Sua justificativa pra fazer o papel importalizado pelo Peter Sellers até me fez simpatizar mais com o filme. Mas ele é um sujeito inteligente e elegante.
Além de fazer questão de ter o DVD, tempos atrás comprei tb o CD com a trilha sonora de Os Safados. É divertidíssimo poder trabalhar ouvindo a charmosa trilha composta pelo Miles Goodman e ao mesmto tempo ficar relembrando as cenas que vc conhece de cor e salteado. E transar com a patroa ao som “Miracle Of Life” imitando o Steve Martin é algo surreal e divertido demais.