Folha de S.Paulo

Um jornal a serviço do Brasil

  • Assine a Folha
  • Atendimento
  • Versão Impressa
Seções
  • Opinião
  • Política
  • Mundo
  • Economia
  • Cotidiano
  • Esporte
  • Cultura
  • F5
  • Classificados
Últimas notícias
Busca
Publicidade

André Barcinski

Uma Confraria de Tolos

Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

Perfil completo

Sangue e caos: na estrada com o Ministry

Por Andre Barcinski
09/01/13 07:05

Em 22 de dezembro do ano passado, o guitarrista Mike Scaccia, do grupo industrial Ministry, participava de um show no Texas quando sofreu um colapso no palco e morreu.

A autópsia revelou que Scaccia, 47 anos, tinha sofrido um ataque cardíaco. Numa coincidência mórbida, a banda com que ele estava tocando se chamava Rigor Mortis.

A morte de Mike Scaccia me inspirou a rever o documentário “Fix – The Ministry Movie”, de Douglas Freel. O filme é um relato íntimo e sem censura da vida do Ministry na estrada. Periga ser o documento mais sombrio e pesado que já vi sobre qualquer banda.


Há muitas cenas de shows, mas a maior parte do filme traz entrevistas com amigos e colaboradores de Jourgensen e imagens da banda no ônibus e em hotéis, onde eles aparecem invariavelmente injetando heroína, cheirando pó ou quebrando alguma coisa. Nada parece armado para as câmeras. O dia a dia do Ministry era esse.

Algumas entrevistas são assustadoras. David Yow, grande vocalista do Jesus Lizard, diz que conheceu Al numa estação de ônibus, onde Yow e seu amigo, Gibby Haynes, do Butthole Surfers, ganhavam uns trocados fazendo boquetes nos banheiros. “Daí surgiu Al, e tomou nosso negócio”, lembra Yow. “Ninguém fazia boquete melhor que ele!”

Dave Navarro, do Jane’s Addiction, conta um episódio que rolou durante o primeiro festival Lollapalooza, em 1991, quando ele, Perry Farrell e Trent Reznor, do Nine Inch Nails, estavam injetando heroína no camarim e Al Jourgensen apareceu para dar um alô. “Al estava completamente insano”, lembra Navarro. “Perry, Trent e eu olhamos uns para os outros e dissemos: ‘Esse cara está fodido!’”

Jello Biafra, ex-Dead Kennedys, falou sobre a amizade de Al com dois papas da contracultura – e das drogas, Timothy Leary e William Burroughs. “Um dia, Leary chegou para mim e disse: ‘Jello, precisamos ajudar Al. Ele é tão talentoso, mas vive sempre tão chapado!’. Lembre-se: quem me disse isso foi o homem que ensinou o mundo a tomar ácido.”

Al Jourgensen não é entrevistado no filme. Quer dizer, ele aparece a toda hora falando mil coisas, enquanto injeta seringas no braço. Mas quase nada do que diz faz sentido. E Mike Scaccia também aparece, sempre com uma colher ou uma seringa na mão.

No palco, o Ministry foi uma das bandas mais poderosas do mundo. Nivek Ogre, vocalista do Skinny Puppy e um homem que não costuma se assustar facilmente, lembra da mitológica turnê do álbum “The Mind is a Terrible thing to Taste” (1989), em que a banda era separada do público por uma grade. Até hoje, ninguém sabe se para proteger a banda ou o público.

Assistir a “Fix” é uma experiência e tanto. O filme é triste e emocionante. Ali está um sujeito, Al Jourgensen, que tem conseguido expor a sua visão do mundo – um lugar sombrio e pavoroso – há mais de 30 anos. No caminho, acumulou inimigos, brigou com gravadoras e virou um farrapo humano. Mas nunca se curvou a ninguém e sempre fez as coisas à sua maneira.

Tive bastante contato com Al no início dos anos 90. Em 1992, ele deveria ter vindo ao Brasil para o lançamento do meu livro “Barulho”. No dia do embarque, não apareceu, deixando Jello Biafra e seu companheiro do Ministry, Paul Barker, esperando no aeroporto.

Paul depois contou que já esperava pelo sumiço de Al. Segundo Paul, Al estava em uma de suas “fases difíceis”, tentando largar a heroína. Al estava usando fraldas geriátricas por causa dos freqüentes “acidentes” que ocorrem devido à abstinência da droga. Teria sido uma experiência e tanto ver Al Jorgensen no Brasil…

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor
  • Comentários
  • Facebook

Comentários

  1. Luiz comentou em 16/01/13 at 23:13

    Pessoal só conheço o Ministry por nome, alguém poderia me informar o nome da música que toca no trailer do FIX? Valeu

  2. andre comentou em 16/01/13 at 12:27

    inacreditavel esse filme, sou fã do Ministry desde 90… assisti ele acho q no in-edit do ano passado/ou retrasado se nao me engano, no cine olido num domingo as 10h da noite, o centrao vazio e frio, eu e mais 7 pessoas na sessão… voltei a pé pra casa ate a vila mariana, pensando como pode uma banda com uma postura dessa, ser tao fudida ao vivo … (Mike Scaccia nao aguentou… RIP)

  3. Carlos Moller comentou em 15/01/13 at 13:02

    Estou vendo o doc em capítulos, pq de uma vez só é meio punk de aguentar… mas chego a uma conclusão interessante: a adição de química na música, como forma de produzir mais, melhor, só vale se o talento estiver presente… nunca tinha ouvido Ministry e, comparando com NiN, por exemplo, a música produzida é bem fraca. É mais curisosidade do que qualidade realmente…

    • Andre Barcinski comentou em 15/01/13 at 14:09

      Prefiro mil vezes o Ministry, gozado.

      • Dida Kelme comentou em 15/01/13 at 15:50

        Eu prefiro mil vezes ao quadrado Ministry ( e tem coisas do Lard que superaram o Ministry até). O Trent Reznor tb vive chapado, por sinal…

      • Carlos Moller comentou em 15/01/13 at 16:01

        Pois é… questão de gosto, acho… o NiN é mais sofisticado, musicalmente falando, em termos de arranjo, timbres, essas coisas… mas isso é ouvido de produtor falando 🙂 Como porrada, o Ministry vai bem…

  4. Lee Paul comentou em 13/01/13 at 11:48

    Não vi o documentário ainda. Mas o curioso é que é exatamente o oposto do assunto tratado no artigo do Contardo dessa semana (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/1212315-entao-era-so-isso.shtml), sobre a decepção com os rumos adiante na vida.

  5. Geneuronios comentou em 12/01/13 at 20:24

    Alguém sabe de algum DVD de um show do Ministry? Um Blu-ray então? Sonho meu …

    • Marcello comentou em 13/01/13 at 17:19

      A Sphinctour saiu em DVD, no you tube você pode vê-lo todo. São versões sensacionais.

  6. Geneuronios comentou em 12/01/13 at 20:23

    Just one fix, one fix, one fix !!!

  7. genivaldo comentou em 12/01/13 at 9:39

    Quando se trata de malucos no rock americano sempre achei e ainda acho que a primazia fica por conta do Iggy Pop e Al Jourgensen pois ambos foram gênios. Para o meu gosto o Ministry fecha um panorama na história do rock que em termos de importância e inovação começa com os Beatles. O Iggy Pop, como disse um daqueles entrevistados do Mate-me por favor, em suas performances era mesmerizante e tudo depois parece uma tentativa de superá-lo. O que dizer de Psalm 69 do Ministry e Fun House dos Stooges? Fudidíssimos. GG Allin não conhecia e nos vídeos que vi percebi que a barra era pesada beirando ao 100% patológico.

  8. Denis comentou em 11/01/13 at 23:50

    Não estava sabendo da morte do cara. Que pena o Al não veio para o lançamento do barulho no Aeroanta. Fico imaginando o que teria sido uma jam do Sepultura, Jello e o cara…

  9. Sandro comentou em 11/01/13 at 19:47

    “Mas nunca se curvou a ninguém e sempre fez as coisas à sua maneira.”

    Sinceramente, não acho que isso seja uma virtude, ainda mais em um adulto. Parece coisa de adolescente rebelde. Saber ouvir críticas e sugestões também faz parte das características de um grande artista.

    • Andre Barcinski comentou em 11/01/13 at 20:58

      Ah é? Então diga um grande artista que ficava perguntando pros amigos o que deveria fazer…

    • Cobainha comentou em 13/01/13 at 0:16

      tsc tsc tsc

  10. claudio comentou em 11/01/13 at 7:32

    André cresci ouvindo Ministry ! Lembro do lançamento do Psalm 69 e o impacto que aquele album teve na minha formação.Lembro do clip de N.W.O passando sem parar na MTV,do show no lollapalooza e toda a revolução da banda nos anos 90.Dai vejo a matéria do seu blog na quarta,curioso baixo o documentário,que merda ! Quem é aquele viciado patético,foi ele que concebeu clássicos como The Mind Is a Terrible Thing to Taste e Psalm 69 ? Minha vontade foi de apagar da memória aquele tudo que eu vi !

    • Jair Fonseca comentou em 13/01/13 at 20:49

      Devemos ter cuidado com o moralismo. As pessoas podem ser decepcionantes, e suas obras artísticas podem ser geniais.

  11. Banana Joe comentou em 11/01/13 at 0:25

    Grande post.
    Conheci Ministry na época da BIZZ, um privilégio naquela era pré internet.
    Mas em matéria de malucos não consigo ler nada sem pensar no GG Allin que colocava todos esses pirados no bolso ( se é que ele tinha um pois só andava pelado…).
    Na época da BIZZ se não me engano você entrevistou o cara.
    Lembra dessa Barcinski?

    • Andre Barcinski comentou em 11/01/13 at 8:32

      Lembro, claro. Acho que fiz um texto sobre o Allin no blog.

  12. Mariana comentou em 10/01/13 at 16:44

    Nenhum blog faz eu pensar tanto quanto o seu. Mesmo. Nunca tinha ouvido falar de Al Jorgensen e aqui estou eu pesquisando sobre o cara. Você escreve de uma maneira que faz eu querer saber do que você está falando. Parabéns mesmo. Mesmo.
    Mudando um pouco de assunto, o que você acha do Jon Ronson?
    Comprei o The Psycopath Test porque tinha achando o título interessante e li de uma vez só.

    • Andre Barcinski comentou em 10/01/13 at 16:57

      Bom, agora é você que está me inspirando a conhecer coisas novas. Nunca li nada do Ronson. Chequei na internet e fiquei imediatamente interessado. Obrigado.

  13. Daniel comentou em 10/01/13 at 13:15

    Está aí uma banda que me faria viajar milhares de quilometros para vê-los.

  14. Fernando comentou em 10/01/13 at 12:48

    “Work For Love”. Anos 80 total. Sonzeira. Minha favorita do Ministry.

  15. Jé comentou em 10/01/13 at 9:51

    Será que ainda podemos conceber, em termos efetivos de viabilidade, uma vinda do Ministry ao Brasil?! Lembro que desde a época da primeira edição do Monsters of Rock, em 1994, quando a banda foi cogitada inicialmente para integrar o cast do evento (e estava em sua melhor fase), já havia um grande clamor por uma apresentação de Jourgensen e seu clã em terras tupiniquins… quase 20 anos se passaram, e nada de shows ou tours pela América do Sul… Será que ninguém (leia-se produtores e afins) vê ainda o quão expressiva e emblemática seria uma apresentação dessa? E concordando com o leitor que escreveu abaixo, sem dúvida é um dos poucos shows que ainda tenho uma real vontade de presenciar em vida, ao lado do Killing Joke.

    • Carlos Morevi comentou em 10/01/13 at 10:33

      Sobre shows no Brasil, o Al Jourgensen comentou uma vez que era mais barato trazer o Revolting Cocks do que o Ministry, que era muito equipamento, etc. Mas isso foi vinte anos atrás, hoje já é outra tecnologia. A única esperança que vejo pra trazer o Ministry pro Brasil é através de um crowdsourcing, capitaneado pelo próprio André Barcinski \o/
      Sobre Killing Joke, ia ser um show fantástico, pena que o vocalista seja tão fio descascado quanto o Al. A última do Jaz Coleman foi aquela de desaparecer no deserto…

      • Jé comentou em 10/01/13 at 14:37

        De fato, naquela época, se levassemos em conta todas as toneladas de equipamento que o Ministry utilizava, o custo total pra trazer toda essa parafernália não deveria ser nada acessível. Mas como vc mesmo citou, a realidade hoje é outra. Creio que o NIN utilizou um aparato semelhante, e veio com toda essa bagagem para o show do fest “Claro que é Rock”… então deve ser mais viável atualmente, ainda mais se houver um grande patrocinador subsidiando o evento…

        Quanto ao Crowdsourcing, mais que uma idéia válida, já que deve haver miríades de pessoas que compartilham dessa mesma premissa como nós … Será que o Sr. Barcinski encararia uma empreitada destas?

        E a comparação com o Coleman também é oportuna, acho que no fundo os dois são dois misantropos, porém, cada um a sua maneira…

← Comentários anteriores
Publicidade
Publicidade
  • RSSAssinar o Feed do blog
  • Emailandrebarcinski.folha@uol.com.br

Buscar

Busca
  • Recent posts André Barcinski
  1. 1

    Até breve!

  2. 2

    Há meio século, um filme levou nossas almas

  3. 3

    O dia em que o Mudhoney trocou de nome

  4. 4

    Por que não implodir a rodoviária?

  5. 5

    O melhor filme do fim de semana

SEE PREVIOUS POSTS

Arquivo

  • ARQUIVO DE 04/07/2010 a 11/02/2012

Sites relacionados

  • UOL - O melhor conteúdo
  • BOL - E-mail grátis
Publicidade
Publicidade
Publicidade
  • Folha de S.Paulo
    • Folha de S.Paulo
    • Opinião
    • Assine a Folha
    • Atendimento
    • Versão Impressa
    • Política
    • Mundo
    • Economia
    • Painel do Leitor
    • Cotidiano
    • Esporte
    • Ciência
    • Saúde
    • Cultura
    • Tec
    • F5
    • + Seções
    • Especiais
    • TV Folha
    • Classificados
    • Redes Sociais
Acesso o aplicativo para tablets e smartphones

Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).