Não acabem com a Javari!
14/01/13 07:05
Morei muito tempo em São Paulo, adoro a cidade, e me sinto à vontade para falar: alguns dos prédios mais feios do planeta ficam lá. Se o mundo fosse justo, boa parte daqueles espigões de metal e vidro seriam demolidos. Morei ao lado de um conhecido prédio roxo em Pinheiros, e ainda tenho pesadelos com os reflexos apavorantes que o monstrengo espalhava pelo bairro.
Mas nada poderia me preparar para o Hotel Juventus. Especialmente porque, como alerta o leitor Valdir Canado, o prédio faz parte de um “complexo” que tomaria o lugar do Palácio Grená, o salão de festas do Juventus, tradicional e amado clube da Moóca.
O projeto inclui também a transformação do Estádio Conde Rodolfo Crespi, construído em 1925 e popularmente conhecido por Rua Javari, em “Arena Juventus” (clique aqui para ver o projeto da nova Arena).
Para quem não é de São Paulo, vale explicar que a Rua Javari é um tempo do futebol “de antigamente”: a torcida do Juventus fica colada ao campo, tão perto do goleiro adversário que já virou tradição ficar ali só para atormentar o coitado.
Não sou freqüentador da Javari. Fui algumas vezes ver jogos do Juventus, e foram algumas das experiências mais divertidas que já tive num estádio de futebol. Nada de camarotes com wi-fi ou lojas de conveniência, o negócio ali é sentar no cimentão e comer cannoli, o tradicional doce italiano.
Sei que o progresso é inescapável, e que aquele terreno do Juventus deve valer uma fortuna. Mas torço muito para que deixem a Rua Javari como está. Ou melhor: poderiam melhorar o estádio, mas sem acabar com ele.
Alguém precisa dar o exemplo de que nem tudo na cidade está à venda. Existem tradições locais e décadas de história que não podem sumir só porque é um “bom negócio”. Bons negócios existem aos montes por aí. A Rua Javari, só tem uma.
Moro em Pinheiros e conheço bem o prédio roxo. Minha solidariedade pra vc, aquilo é muito feio.
Essa arena juventus eh igual ao estadio do corinthians antes do lula entrar em cena, vivia na promessa. O pro blema do juventus eh o deficit mensal, os socios pagantes sao pouquissimos e somente o aluguel do salao de festas eh que mantem o clube. Esses projetos de hotel e da arena surgem a cada eleicao, ja que cada chapa tem a sua “proposta milagrosa ou definitiva” para tirar o clube do buraco. Esses projetos sao falacia, pq na arena nao ha espaco entre as ruas javari e dos trilhos e do hotel, nao ha demanda. As pessoas de fora nao veem a mooca, somente o pessoal do bairro ou do entorno mais proximo frequenta o bairro. Sei disso pois sou morador e tenho comercio la. O problema da javari eh do clube perder o terreno pela quantidade de dividas fiscais e trabalhistas que tem.
André, graças à especulação imobiliária, a Mooca como era antigamente morreu, agora virou um bairro cheio de prédios pseudo neo-clássicos horrorosos, nascedouros de ilhas de calor, exatamente como aquele onde eu moro, o Tatuapé. Se o Juventus e a Rua Javari acabarem então, adus de vez Mooca…
Nesta mesma linha: a única casa de shows decente do país (Via Funchal) vai fechar pra dar lugar a um prédio e até agora não vi alguém protestando 1% do que fizeram em relação ao Belas Artes.
O Belas Artes era tradicional, o Via Funchal apesar de excelente, ainda não tinha criado tanta identidade com SP, como o cinema da Consolação.
Em tempos de “modernização” da economia brasileira, quem tem um terreninho é rei.
Ontem assisti àquele filme “O Som ao Redor”, que tem a ver com esse e vários posts que vc já escreveu aqui no blog.
Oi André, tinha ouvido o burburinho da Arena Javari e tinha achado que era gozação. Mas, não, É SÉRIO. O gozado é que eu tinha escrito sobre a Javari no meu blog dias antes de sair essa bizarrice. Se tiver tempo, dê uma olhada lá http://vouandar.wordpress.com/2013/01/10/campo-bola-tres-pontos/
Um abraço
A Rua Javari, é bom lembrar, foi o palco do gol mais incrível marcado por Pelé, num Juventus x Santos (três chapéus seguidos de cabeça e arremate para o gol).
Confraria de Tolos? Tolo é quem pensa que o “pogréssio” justifica qualquer barbaridade.
Longa vida à Rua Javari.
André,
Lamentável a memória esportiva no Brasil. Em Porto Alegre, botaram abaixo o Eucaliptos (do SC Internacional) e não restou nem uma faixada sequer in memoriam. No lugar? Mais carros em circulação.
Abç,
Ed.
A Rua Javari é mesmo um marco da cidade e da história o futebol, nunca fui, mas meu marido que é da Mooca já contou várias histórias. Na miha opnião a única coisa que deveriam fazer é colocar uma iluminação (que não tem) para jogos noturnos…só. Daria um charme a mais ao estádio.
Nao achei nada agressivo o projeto da “arena”. Mantem muito do estadio atual, com um pouco de conforto.
Acho q o charme seria nao colocar iluminacao artificial mantendo todos os jogos as 16h. Ai sim.
Não sei se vc percebeu, mas o prédio de 800 andares ficaria ao lado.
800 andares? vai ser 4 x o Burj Khalifa??
beleza mas ai tb e’ querer de mais ne’. a unica salvacao seria tombar toda a area e colocar dinheiro publico em algo como um parque.
sem isso a iniciativa privada vai assumir.
Se não me engano foi alí que Pelé fez o lendário gol que não foi filmado, aquele dos três chapéus e tal. O pai de uma amiga minha, da Mooca, jura que viu tudo de cima de uma árvore.
muito legal o texto. Mas eu tô com o pé atrás. Não quero ir pra imprensa e correr o risco de “gastar cartuchos”. Tipo, a gente divulga uma campanha contra o projeto. Aí o jornalista publica, e quando vai apurar, a diretoria desmente o projeto, dizendo que é só um desenho e tal. Fode a credibilidade do jornalista e fode a nossa credibilidade. Quando a coisa for séria mesmo, ninguém vai acreditar, entende?
O projeto foi exibido pelo site do clube.
Eu sei, André. Mas até aí…
Bom, Vinicius, se o PRÓPRIO CLUBE exibe o projeto em seu site, é porque já passou de uma especulação, concorda?
O “projeto” ainda não existe, é só um estudo de massa apresentado à diretoria.
Foi feito sexta feira de tarde, em 3hs.
Uma surpresa encontrá-lo no site do juventus, e ainda mais aqui.
Cara, mudei pro RJ = Buzios ha 07 anos. Adoro aqui, a história do Rj. Achar locias baratos em Buzios, onde todos acham “caro”. De caro hj só fama. Macaé é bem mais.
Porem, foi sempre a SAMPA e redescubro a cidade a cada ida. Seus teatros, peças gratuitas, o municipal, etc
Mas lembara da Javari foi bom. fui em muitas formaturas la no Juventus.
E tb adorava o uniforme do time, aquele vinho escuro
Tinha ate o Juventus em futebol de botão. Era o q eu sempre escolhia
valeu Barça
E o Nacional da Rua Comendador Souza, ainda existe?
Não existe nenhum projeto p/ transformar o Canindé numa Arena Lusa?
Provavelmente, em alguma gaveta ou hard disk, existe esse projeto, até porque o Canindé tem uma localização privilegiada e o terreno que inclui o clube é muito extenso. Mas ouvi um papo bizarro há um ano atrás, de que a prefeitura pretendia oferecer o Pacaembu para a Portuguesa -já que o Corinthians terá o Itaquerão em 2014 e o estádio ficará ocioso- e implodir o Canindé sabe-se lá pra fazer o quê no lugar. Felizmente, deve ser mesmo boato…
Existe sim Tadeu. Chama-se Nicolau Alayon (um dos poucos, se não o único estádio brasileiro com nome estrangeiro)
Já mudou diversas vezes o nome (Arena Kaiser, Arena Deca…) e é usado mais para disputa do jogos da Copa Kaiser…
Ao lado será construído um “novo” bairro – Jardim das Perdizes (lá é Barra Funda).
Não vai demorar e irão construir prédios por lá, a região tem enorme especulação imobiliária.
triste demais. eu fui sócio do juventus durante muitos anos, era uma diversão espetacular ver jogo ali com os mais velhos ensinando como se irrita um adversário (“vai lá e diz que a mãe dele é homem e tem pelo na teta”). rs
mas o pior é gente morando em prédio com colunas greco-romanas e achando normal.
É INACREDITAVEL que em uma cidade com os altos índices de violência (estrupos,assaltos e sequestros DÍARIOS) aja tempo de sobra para um assunto tão irrelevante quanto a beleza ou feíura dos prédios da cidade.Somos de fato um país de “CONTOS de FADAS”.
Pior é alguém “perder tempo” respondendo a um texto sobre algo que julga tão irrelevante.
André, sou frequentador da Javari e um grande defensor das tradições dos bairros paulistanos. A Mooca está sendo arrasada pela especulação imobiliária – por exemplo: a antiga fábrica da União foi demolida nada calada da noite, quando já havia um tombamento do Conpresp para a preservação do patrimônio industrial – só sobrou a chaminé, que hoje é um dos chamarizes do condomínio de alto padrão que está em fase de construção. A diretoria do Juventus deveria olhar para a torcida, e todos aqueles que fielmente acompanham o time e, ao invés de cair em tentação por dinheiro, querendo “alugar” o espaço para outros clubes e interesses, deveria investir na base do time, nos juniores e na propação da tradição, que atrai muita gente que nem sequer tinham pisado na Mooca.
É exatamente o que você disse, nem tudo precisa ser modernizado… Já fui várias vezes na Javari ver jogos, e acho o ambiente do estádio algo sensacional! Só acho que a estátua do Pelé tá errada…. não parece ele! acho que fizeram o rosto do Coutinho…rsrs Sou um puta morto de fome… toda vez que vou lá, arrebento nos sanduíches de mortadela com um copão de coca cola e uns 500 cannoli!! na última vez que fui ver jogo lá, o Juventus jogou contra a ponte, o jogo foi horroroso, brigado demais…. mas a verdadeira briga foi quando anunciaram que os cannoli estavam sendo vendidos… fila maior que os banheiros do SWU! E o lendário OOOOOO FDP pra cada tiro de meta do goleiro adversário!
Andre nasci do outro lado da Radial Leste,na Rua Frei Gaspar e antes de começar a torcer pelo Palestra era juventino,perdi as contas de quantos domingos atravessa a Radial para chegar na Rua Javari e ver o Juventus jogar,ficava atras do gol com meu irmão mais velho,como vc disse atormentavamos o goleiro adversario,o Juventus é segundo time de muita gente em São Paulo,aos sabados era obrigatorio comer pizza na Pizzaria do Cacau ou São Pedro como preferir,vale lembrar que no clube Juventus na Paes de Barro os Jackson’s Five se apresentaram no auge,tempos de uma São paulo mais humana.
Pizzaria São Pedro vale um post a parte, heim!? Nessa mesma área tem um hamburger caseiro que deve ser uns dos melhores de SP (a maionese do samduba também é feita lá, na hora de servir o lanchão).
Realmente triste acabarem com o estádio tradicional. Ao invés disso seria melhor investirem no time, que antigamente incomodava os grandes e ultimamente não tem dinheiro nem para uniformes novos!
infelizmente, tudo está à venda. mesmo porque, a impunidade garante o negócio.
http://www.meioambienteurgente.com.br/noticias/item/849-lagoa-localizada-na-av-paralela-foi-completamente-aterrada-por-construtora.html
Aquele quarteirão rende muito assunto sobre a ocupação da cidade. Atrás do gol que aparece na foto tinha uma creche que foi desativada. Na última vez que fui assistir jogo na Javari, havia gente morando no local, uma invasão. Mas São Paulo não tem um déficit de cheches ? Por que essa foi está abandonada ?
André !
Sou morador da Mooca, e minha casa fica muito próxima ao estádio. E o que ouvi falar que esse “projeto” (entre aspas mesmo, porque é bizarro) é puramente político. Outros “projetos” já foram apresentados e claro não foram para frente.
O Juventus é um time largado, nós moquenses gostamos do time, temos uma relação de amor com a Rua Javari, mas todos são cientes que a diretoria é fraquíssima e esse plano de construir uma arena é irreal para o próprio clube que vive no vermelho.
Outra bizarrice no “projeto” é que não existe espaço para tal construção, Rua Javari e Rua dos Trilhos são ruas estreitas para comportar um estádio do porte que apresentaram. Uma reforma sim, seria ideal, mas sem desconfigurar o prédio.
Como diz a famosa faixa da Ju-Jovem: “Morte ao futebol moderno”
Pelo que eu entendi, o tenso nesse caso é que haverá a construção de um prédio ao lado do estádio e a “reforma” dele é como se fosse um “atrativo”.
Se o time estará bem ou mal futuramente ou se a “arena” ficará entregue as moscas, não interessa.
Os prédios já foram vendidos mesmo e caso ocorram reclamações, a direção do prédio pode jogar a responsa a diretoria do Juventus.
Não quero defender o Rui Ohtake, porque também acho o prédio roxo feio demais. Da casa da minha avó também posso vê-lo, é feio sim.
Porém, ao menos,ele tem personalidade. Vi o arquiteto defendendo o prédio várias vezes.
Não é pior que os espigões residenciais com nome neo-italiano, fachada bege e arquitetos anônimos que pipocam pela cidade. Ou prédios de escritório que tentam emular Chicago. Esses sim estão matando a cidade.
Acho tão feio quanto todos esses. Um prédio feio é um prédio feio, mesmo que não seja “anônimo”.
Aquele prédio é a cara de São Paulo: de mau gosto e presunçoso.
Leia-se pretensioso no lugar de presunçoso.
A cor do predio remete `a cor dos propietarios, um famoso laboratorio com embalagens “magenta”.
Mas só compraram os escritórios depois, se não me engano.
Ele passou anos vazio. E na época da construção deu a maior briga com os desapropriados. Entre eles uma igreja anglicana (por isso tem aquela capela embaixo, que não tava na planta original).
Muito auê por nada.
Aqui em Campinas a Ponte Preta está querendo fazer essa besteira tbm, vender o tradicional Moisés Luccarelli, estádio construído com a colaboração dos torcedores em esquema de mutirão, para construir uma arena lá nos cafundós dos Judas.
Acho tristes esses empreendimentos imobiliários que tiram o charme dos bairros. Mas isso é opinião da minoria. Quando aparece alguma novidade de porte, o que eu mais vejo é gente aplaudindo.
O povo gosta mesmo é de ostentação, de estacionamento para 1.000.000 de carros e praça de alimentação. Céus, como eu ODEIO praças de alimentação! Cenário das cenas mais dantescas que o ser humano em sociedade é capaz de protagonizar!
Pode ter certeza que essa arena não sai do papel, só pode ser alguma jogada da diretoria. Primeiro por não ter espaço para esse “colosso”, o terreno é muito pequeno; e segundo pela verba, quem bancaria um time que tem apenas tradição e carece de expressão (principalmente na mídia)? Vamos torcer para que nenhum investidor russo ou algum Sheik destrua a Javari. Abraço!
O pior é que não existe um planejamento urbano do entorno. Não pensam no bairro como um todo – apenas em modificar o seu “terreno” em fazer a torre no seu “terreno”. O centro da cidade está cheio destes lamentáveis prédios com conceitos moderninhos – ocupados em terrenos onde ficam prédios históricos, mas rodeados da mesma precariedade de infraestrutura urbana de décadas. Outra exemplo na Mooca é um galpão histórico que deu lugar a um hipermercado Extra – descaracterizando totalmente sua arquitetura. Não tem volta, o Brasil é um país que não preza pela memória. Triste.
Olha, graças à associação de bairro da Mooca o prédio do Cotonifício Crespi foi razoavelmente respeitado. E já que nenhuma administração municipal teve interesse em aproveitar a estrutura do prédio pra fazer um museu ou qualquer outro espaço público respeitável, no final das contas o Extra foi o que menos pior poderia acontecer por lá. Com toda certeza está melhor do que a época em que era abandonado ao Deus dará.
A especulação imobiliária está matando São Paulo. Triste demais.
Acompanho o time do Juventus, já fui na Rua Javari e é realmente uma experiência única pra quem não gosta de “futebol de playstation”; espero que não consigam estragar um dos últimos estádios tradicionais de Sampa. De acordo com um Blog do Juva acho felizmente que o projeto não sai do papel. Como está escrito em uma das faixas da torcida: “Ódio ao futebol moderno”. Recomendo almoçar no “Bar do Giba” antes de assistir os jogos do Gigante da Moóca. E o cannoli é sensacional!