Filme desvenda o mistério de Rodriguez, o astro desaparecido
22/01/13 07:05“Searching for Sugar Man” é um dos documentários musicais mais surpreendentes que vi em muito tempo.
Nessa era da informação imediata, é cada vez mais difícil se surpreender com uma história. Mas a saga de Sixto Rodriguez, pelo menos para mim, foi uma ótima novidade.
Rodriguez foi um cantor folk que surgiu nos anos 60, em Detroit, nos Estados Unidos. Chegou a ser chamado de “o Dylan urbano” por suas letras inspiradas, que falavam de pessoas e situações das ruas.
Rodriguez gravou alguns discos que não venderam nada. Nada mesmo. O dono da gravadora diz que um deles vendeu um total de seis cópias. Tão rápido quanto surgiu, Rodriguez desapareceu.
Quase 20 anos depois, um disco de Rodriguez chegou a uma rádio da África do Sul. A emissora começou a tocar algumas músicas, que viraram enorme sucesso no país, que então sofria com o regime racista do “Apartheid”.
Canções de Rodriguez viraram hinos dos sul-africanos que lutavam contra o “Apartheid”. Bandas tocavam suas músicas. Rodriguez, sem saber, virou um astro no país.
Dois sul-africanos, fãs do cantor, começam a pesquisar sobre ele. Mas esbarram na falta de informações.
Os boatos são muitos: Rodriguez teria sido um radical, que foi preso e morreu na cadeia; Rodriguez teria cometido suicídio no palco, botando fogo no próprio corpo; Rodriguez se matou com tiro na cabeça.
O filme vira uma investigação jornalística: dois fãs em busca de informações sobre seu ídolo.
Atenção: se você não quer saber como a história termina, pare de ler aqui.
Depois de anos de pistas falsas e caminhos tortuosos, os dois acham Rodriguez, ainda morando em sua casa num bairro pobre de Detroit.
Não vou contar mais para não entregar os detalhes, mas é difícil não se emocionar com a surpresa de Rodriguez ao descobrir que é ídolo num país longínquo.
“Searching for Sugar Man” foi indicado ao Oscar de melhor documentário. Tomara que lancem o filme no Brasil, junto com a trilha sonora. Porque a música de Rodriguez, assim como sua história, também é surpreendente.
P.S.: O Canal Brasil começa hoje, à 0h15 (de terça para quarta), uma retrospectiva com dez filmes de José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Toda terça será exibido um filme, em ordem cronológica. E o filme de estreia é “À Meia-Noite Levarei Sua Alma” (1963/64), primeira aparição de Zé do Caixão no cinema.
Assisti o documentário logo após ler seu post e é realmente muito bom. Agora, permito-me arriscar a responder porque Rodriguez não “estourou”: Porque é descendente de mexicanos, e com um discurso anti-american way of life bem direto. Jamais o imperialismo que levantou um muro da vergonha (a derrubada de muros é seletiva para eles) entre seu país e o dos descendentes de Rodriguez e que planejou e apoiou ditaduras na américa-latina iria deixar que um “chicano” virasse um Dylan. Não gosto de Oscar, mas vou torcer que esse documentário ganhe.
E olha só: o documentário ganhou ontem como melhor documentário pelo Sindicato do Produtores de Hollywood (PGA).
SE ganhar no Oscar, pode ser que passe nos cinemas. Se bem que o sensacional “The Cove” até hoje não foi lançado nos cinemas daqui…
Após assistir ao documentário fiz uma pesquisa sobre ele no IMDB, descobri que o filme é bem parcial, o assunto sobre o destino da grana é rapidamente esquecido e omite o fato que Rodriguez também era famoso na Austrália fazendo apresentações por lá na decada de 80, ou seja ele não foi assim tão esquecido e ignorado como o filme nos leva a crer.
No último disco do Pete Murray, um cantor de pop rock famosinho na Austrália, tem uma música também com a participação do Rodriguez!
E o filme foi quase todo gravado num iPhone. Tem um programa do 60 Minutes sobre o cara: http://www.youtube.com/watch?v=r0VI7TLLV3o
Putz, que legal que vc mencionou esse documentário! O diretor é sueco, e aqui na Suécia o filme bombou. É realmente muito bom, tomara que saia no Brasil, talvez a indicação ao Oscar ajude. O interessante foi que aqui na Suécia o filme foi indicado ao maior prêmio do cinema local por roteiro original, por ser mais um exemplo de como o documentário apesar da intenção de mostrar uma realidade tb acabo fazendo apenas um recorte.
Lindo documentário!
Lembrei-me de Richey Edwards, dos Manic Street Preachers, banda bastante politizada também, que desapareceu em 1995. Embora sempre apareça alguém que supostamente o tenha visto, em algum lugar da Ásia, é bem provável que tenha se matado e autoconsumido com o corpo.
André, como você tem acesso a esses documentários? Consegue a cópia em DVD? Baixa o filme pela internet? Acho importante dar uma dica para que os leitores também consigam vê-lo.
Esse eu baixei, tem fácil por aí. Não passou no Brasil e não sei se vai passar.
O massa é que o selo Light in the Attic – especializado em reedições de discos raros – está relançando os álbuns do Rodriguez. Outro dia, ele até foi no Jay Leno!
Verdade, a Light in The Attic tá relançando preciosidades… Rodriguez, Lee Hazlewood, Serge Gainsbourg…
Fala, xará…
Essa história me lembrou de outra parecida. No ano passado, numa das muitas matérias sobre os 70 anos do Tim Maia, alguém localizou um antigo parceiro dele lá em Terrytown, nos EUA. E o cara nunca mais tinha ouvido falar do Tim depois dos encontros lá no início dos anos 60. E assim, naturalmente, ficou maluco ao descobrir que o “Jim (com J mesmo), the Brazilian” virou uma mega estrela na terra natal.
PS: achei a matéria…
http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?id=1302521&tit=As-aventuras-de-um-jovem-Tim-Maia-na-America
Legal, acho que o Sergio Martins fez uma matéria sobre isso na Veja também. Bem lembrado.
Não custa lembrar da história do Baby Huey, apenas um disco póstumo, produzido por Curtis Mayfield… http://en.wikipedia.org/wiki/Baby_Huey_(singer)
André, mas será que ser ídolo e vender milhares de cópias num mercado como a África do Sul rende grana para um artista????
Vendeu muito, pelo que diz o filme. Coisa de um milhão de cópias.
Ando vendo muitos documentários ultimamente…acho que eles estão salvando o cinema de modo geral. Viva os docs!
Valeu pela dica!
É o Anvil do folk. Tomara que vire moda mesmo, essas histórias são bem interessantes.
Não entendi o “Dylan urbano”. Será que nos anos 60 o Dylan era considerado rural…? E o cara é puro Jose Feliciano, no visual e no som.
Cara, eu associei com o José Feliciano na hora. Até a voz é parecida.
P.S. do P.S. : Assisti ontem o Zé do Caixão, show de bola! Na espera para a próxima terça macabra…
Nunca ouvi falar desse cara! Mas pra suas letras serem comparadas com Dylan, ele deve mandar bem!
Impressionante como artistas da década de 60/70 hoje estão numa pindaíba da porra…. Não dá pra generalizar, muita gente se deu bem, mas muitos atores, esportistas, músicos desse período não conseguiram fazer dinheiro.
Vi o doc há algumas semanas e também achei a história bem curiosa. Mas uma coisa não entendi direito: pra onde foi a grana dos discos vendidos na África do Sul? Ele deve ter vendido meio milhão de cópias de discos, alguém embolsou esse dinheiro, mas quem?
Gravadora, claro.
Comentario sobre o PS: uma pena que o canal brasil nao colocou essa retrospectiva nas noites de sexta. Vou tentar ficar acordado…
Off Topic: Essa semana a Cinemateca está promovendo programação dedicada a toda a obra do Carlão Reichenbach.
O que eu não concordo na mídia musical em geral e no seu blog em particular é esta tendência em valorizar em excesso os artistas “sofridos”, aqueles que enfiam o pé na jaca pela arte. É por isto que Lennon, Richards e Bowie são mais endeusados que Maca, Jagger e Ferry, algo que pra mim não tem o mínimo sentido. Será que é pecado ser um artista com a vida bem resolvida e sem problemas com bebidas, drogas, neuroses, etc, etc, etc?
Quer dizer que o Jagger e McCartney não se drogavam e não tinham neuroses? É isso? E se vc acompanha o blog, viu vários textos sobre Bryan Ferry e Roxy Music.
Sem falar que o Barcinski, como já demonstrou aqui no blog, é fã do Jorge Ben, um cara que, até onde sei, é viciado em balas toffee rs
Barça, Jagger e Mc Cartney se drogaram sim, mas sempre foram mais “caretas” e nunca foram tão pé na jaca quanto Richards e Lennon. Que parte da mídia usa isso para diminuí-los é evidente. Quanto ao Bryan Ferry, ele é apenas a excessão que confirma a regra em seu blog…Quer um exemplo claro de artista bem resolvido que em virtude da falta de algo mais dramático em sua biografia sempre é ironizado pela mídia “cool” e por você: Dave Grohl.
Jagger não foi pé na jaca? Paro por aqui.
Antigamente, Jagger tinha tanta fama de doidão quanto o Richards, os dois foram em cana por isso. É que com o passar do tempo ele foi ficando mais um ar mais “gentleman” enquanto o Richards faz o papel de doidão de plantão. Já o Paul já foi preso até em aeroporto por posse de drogas.
Não foi mesmo! Pela necessidade de controle que o cara se obriga a ter sobre os Stones ele nunca se permitiria à isso como o Keith Richards, por exemplo…Agora, é evidente que o Jagger já se divertiu dando suas cheiradinhas, mas até aí não há nada demais.
O cara foi amante da Marianne Faithfull e amigo e seguidor do Kenneth Anger. Ele não “deu umas cheiradinhas”.
McCartney ficou eternamente grato à sua falecida mulher, Linda, por tê-lo salvo de uma overdose de heroína.
Apesar da chatice e das injustiças do Oscar, até que a indicação dos melhores documentários merece uma atenção de vez em quando.
Certa vez li uma entrevista de Pete Townshend do The Who dizendo q Jagger não tem o pau pequeno e que é delicioso. Se bobear Jagger é mais porra louca que Richards. Davi Grohl faz a linha bom mocinho que a meu ver não quer dizer nada.
Mas é justamente disto que eu estou falando, Fernanda…O fato de um artista ser bom moço ou pé na jaca não deve ser levado em conta na crítica de sua obra, não interessa, ou não deveria interessar, o que você acha do Grohl pessoalmente e sim o que você pensa de sua obra. A mídia, e consequentemente o público, tem uma preferência pelos ditos rebeldes, isto é algo tão óbvio que me impressiona o questionamento das pessoas.
As duas coisas, né Cleibsom? Sem regrinhas. Inclusive é possível gostar do artista e não gostar da obra e vice-versa. Cada um que escolha seus artistas de acordo com seus próprios critérios, subjetivos ou imparciais.
Cara, não tem regra nenhuma…Se para você decidir se gosta ou não de um artista coisas como ele se veste, se é feio ou bonito, se é de direita ou de esquerda, se é homo ou hetero, se apoia causas humanitárias ou não, se é rebelde ou comportado, etc, etc, têm importância, é um direto seu, mas isso para mim é esquizofrenia pura!
Ok, desde que você também se considere esquizofrênico. Afinal seus motivos, seja lá quais forem (desde identificação total até identificação nenhuma com o artista) não são superiores aos de ninguém, ao contrário do que você parece acreditar. Seus critérios “objetivos e puros” podem ser uma grande bobagem para outras pessoas.
Talvez eu seja mesmo esquizofrenico, mas estou seguindo os meus conceitos…Se uma pessoa está seguindo seus conceitos esquizofrenicos, não sou eu que vou condená-la, democracia é isto, mas este fato não me impede de criticá-la. E não sei aonde você viu superioridade em minhas palavras, hoje em dia parece que qualquer crítica ou opinião diferente fere sensibilidades e as pessoas ficam “magoadinhas” e “feridas”.
Ninguém tá magoadinho, cara. O que tô dizendo é que pelo seu raciocínio, o documentário acima, por exemplo, sequer existiria, afinal trata da relação de dois fãs que vão em busca de informações sobre seu ídolo. Pelo seu critério purista, devemos nos ater estritamente à música, pouco importando sua origem.
Cara, você entendeu tudo errado! Nenhum artista DEVE fazer coisa alguma ou tem OBRIGAÇÃO de fazer isso ou aquilo, deve sim seguir seu instinto e consciência, em outras palavras, fazer o que quiser…Eu nunca faria um documentário sobre este artista folk aí e posso criticar apenas o documentário em si, mas nunca a liberdade dos dois fãs em fazê-lo. Palavras como DEVER ou OBRIGAÇÃO não cabem na arte, se você entendeu isso em meus comentários está equivocado…
André, onde você descobre esses documentários? Parece interessante. Obrigado pela dica do Zé do Caixão, pena que seja tão tarde… E por falar em dicas e filmes, assisti sábado o Killer Joe, que filme sensacional. Obrigado por me fazer nunca mais conseguir comer uma coxa de frango sem lembrar daquela cena. Bom dia!
Estava na África do Sul no ano passado e consegui assisti-lo em tela grande. Até o meu retornou ao Brasil estava a mais de 3 meses em cartaz, com dvds/blurays em primeiro lugar nas vendas locais, além do relançamento de Cold Fact, disco do Rodriguez. Foi incrível.
No início da década de 70 um compacto do Rodriguez foi lançado aqui no Brasil e uma das músicas deste compacto, “I Think odf You” era bem executada nas rádios do Rio de Janeiro, acho que até o lado B deste compacto também tocava nas rádios.
Não sabia dessa informação, valeu.
Fala Barça! Depois da tempestade vem a bonanza como diz o ditado rs…Este documentário parece ser bem interessante mesmo. Gostaria de dar uma dica aos amigos do blog, a cinemateca de são paulo irá exibir uma retrospectiva com alguns filmes do Carlos Reicheinbach segue o link:
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1218334-reichenbach-ganha-retrospectiva-quase-completa-na-cinemateca.shtml
Finalmente estou conseguindo acessar seu blog sem aquele maldito bloqueio de acessos, aquilo me deixava puto. Abraço!
Ainda não vi o filme, mas ouvi a trilha com as músicas dele. Não esperava muita coisa e também me surpreendi como o cara é (ou pelo menos era) um músico de mão cheia.