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André Barcinski

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Perfil André Barcinski é crítico da Folha.

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Já viu "O Mestre"?

Por Andre Barcinski
28/01/13 07:05

Difícil imaginar um personagem mais perdido que o Freddie Quell de Joaquin Phoenix em “O Mestre”. Nas primeiras cenas do filme, Freddie está numa praia com companheiros da Marinha americana, na época do fim da Segunda Guerra. Ele usa um machete para abrir uma lata de óleo de motor, que mistura dentro de um coco e bebe.

 


 

Solitários, os homens esculpem mulheres nuas na areia. Freddie deita em cima “dela” e faz sexo com o ser imaginário. Quando ouve a notícia do fim da Guerra, Freddie celebra esvaziando o combustível de um torpedo e bebendo o líquido negro.

A história pula até 1950. Vemos Freddie trabalhando de fotógrafo em uma loja de departamentos, depois colhendo vegetais numa plantação. Mas ele não se adapta: arma briga e bebe qualquer coisa que possa lhe tirar, espiritualmente, dali.

A imersão de Joaquin Phoenix na miséria de Freddie Quell é total. Suas expressões, tiques nervosos e postura corporal sugerem um homem sem nenhuma ambição a não ser sobreviver mais um pouco. Suas costas arqueadas e braços esticados lembram um macaco.

Freddie entra de clandestino num navio, onde acontece uma festa. A festa celebra o casamento da filha de Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), líder de uma seita chamada “A Causa”. Dodd está viajando para Nova York, aonde vai se encontrar com outros seguidores da “Causa”. Freddie logo se junta à seita.

O filme se torna então uma batalha entre dois personagens tão fascinantes quanto perdidos: o destroçado Freddie Quell e o messiânico e carismático Lancaster Dodd. O primeiro vê em Dodd uma figura paterna, capaz de lhe conceber um fiapo de luz na vida. Já Dodd enxerga o pupilo como um desafio, ao mesmo tempo em que precisa lutar contra acusações humilhantes de charlatanismo e divulgar suas crenças.

“O Mestre” é o sexto longa-metragem de Paul Thomas Anderson (“Boogie Nights”, “Sangue Negro”), na minha lista o melhor cineasta norte-americano da atualidade.

O filme é inspirado em três personagens reais: Dodd lembra L. Ron Hubbard, o escritor e fundador da Cientologia, religião preferida de astros de Hollywood como Tom Cruise e John Travolta. Já Freddie Quell  é inspirado não só na biografia do escritor John Steinbek, como em histórias de bebedeiras relatadas pelo ator e veterano da Segunda Guerra Jason Robards, que trabalhou com Anderson em “Magnólia” (1999).

“O Mestre” é o primeiro filme de ficção rodado em 65 mm – formato de alta definição – desde “Hamlet”, de Kenneth Brannagh, em 1997.  A fotografia do romeno Mihai Malamaire Jr. é linda, com cores marcantes e um tom retrô “Kodachrome”, bem típico dos anos 50. As imagens e a trilha sonora de Jonny Greenwood (guitarrista do Radiohead) imploram que o filme seja visto numa tela grande e com som de qualidade.

“O Mestre” foi rodado em película e custou 30 milhões de dólares, que hoje não pagam nem o cabeleireiro do Will Smith. Numa época em que o cinema se aproxima cada vez mais de uma linguagem televisiva, é bom saber que ainda tem gente como Paul Thomas Anderson para fazer cinema.  Comparado ao ritmo frenético de narrativa preferido por plateias modernas, “O Mestre” é lento e contemplativo. Mas quem embarcar na viagem não vai se arrepender.

P.S.: Estarei sem acesso à Internet por boa parte do dia e incapaz de moderar os comentários até, pelo menos, o fim da tarde.

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Comentários

  1. Joey Rambone comentou em 01/02/13 at 22:54

    Filme ruim, parado, pretensioso e que no fundo não diz nada. Tenta sempre chegar a algum lugar e nunca consegue. Gosto muito do Joaquim Phoenix, mas seu personagem não me agrada…”atormetado” pela guerra mas passa a impressão de ter problemas muito antes disso, ou seja…nada se salva nesse filme…

  2. Alexandre Borracha comentou em 31/01/13 at 17:43

    Tudo funciona em O Mestre. Saí boquiaberto ! Daqueles filmes que você precisa ter nas mãos.

  3. Felipe comentou em 30/01/13 at 16:50

    Achei que a postura de Freddie revela certa inadequação ao corpo, com se aquele corpo não lhe servisse perfeitamente e estivesse preso ali. O que parece ter a ver com o que prega “a causa”.

    • Andre Barcinski comentou em 30/01/13 at 17:10

      Sim, ótima observação.

  4. Jeferson comentou em 30/01/13 at 1:45

    É incrível como o Joaquin Phoenix “destrói” nesse filme.
    Sua interpretação é impecável.
    Aliás, o duelo de interpretações dele com o Philip Seymour Hoffman é algo fascinante.

    É como se um tivesse que superar o outro, mas sem baixezas e puxões de tapete.

    Interessante que no filme anterior do PTA, “Sangue Negro””, tivemos algo parecido (eu disse parecido, nem de longe o que encontramos em “O Mestre”) nas cenas entre o Daniel Day Lewis e o Paul Dano.

    Pena que a partir daí a carreira do cara meio q se perdeu. Ou ele não era o ator que achávamos que fosse…

  5. Alex Amorim comentou em 29/01/13 at 15:23

    Interessante o comentário deste outro blog: http://espinafrando.com/

    Viva a diversidade de opiniões.

    Ambas críticas (Barcinski e desse outro site) bem escritas e provocativas.

  6. livia comentou em 28/01/13 at 22:10

    andre, falando em kodachrome, você viu que interessante estas fotos de mulheres que construíam aviões na época da guerra, toda feita em kodachrome. Isso que era elegância.

    http://www.emptykingdom.com/main/featured/wwii-photos-in-color/

    • Ricardo comentou em 29/01/13 at 15:58

      Elegância e sobretudo beleza, diga-se de passagem.

      #megusta

      🙂

  7. Guilherme Braga comentou em 28/01/13 at 19:47

    Achei um pouco lento de mais. Assim como Django, meia hora a menos não faria falta.

    • Guilherme Braga comentou em 28/01/13 at 19:47

      “demais”

  8. Anderson comentou em 28/01/13 at 15:24

    Barcinski, de acordo com o wikipedia, são nove os filmes do Paul T Anderson. Não sei se está correto, não pesquisei a fundo.Segue a lista

    Longa-metragens
    The Master (2012)
    There Will Be Blood (2007)
    Couch (2003) (TV)
    Punch-Drunk Love (2002)
    Magnolia (1999)
    Boogie Nights (1997)
    Hard Eight (1996)
    Cigarettes & Coffee (1993)
    The Dirk Diggler Story (1988)

    Sabe dizer quais deles sairam no Brasil, além dos que você citou na crítica?

    • Anderson comentou em 28/01/13 at 15:27

      Esquece. O Wikipedia está errado.
      Os dois primeiros filmes são curtas.

      Assim, minha pergunta só vale para o “Punch Drunk Love”. Como “Couch” foi feito para TV, duvido que tenha saído aqui.

      • Rodrigo Goulart comentou em 28/01/13 at 18:59

        “Punch Drunk Love” é o Embriagado de Amor, com o Adam Sandler (no único papel decente de sua carreira) e a Emily Watson, mas é o mais fraquinho do PTA.

      • Gabriel comentou em 28/01/13 at 23:39

        Todos, menos o Couch, os curtas e o Hard Eight.

        Há quem diga que o Hard Eight já passou na TV por assinatura. Certeza zero.

        abs

      • Gabriel comentou em 28/01/13 at 23:40

        Para ver Punch Drunk Love é só procurar por Embriagado de amor.

        Eu diria que não vale a pena procurar porque o filme é muito ruim. É o pior filme do mestre na minha modesta opinião.

      • augusto comentou em 29/01/13 at 10:33

        SEGUE O LINK DO IMDB. ACHO MAIS CONFIÁVEL:
        http://www.imdb.com/name/nm0000759/?ref_=fn_al_nm_1

    • Denise B. comentou em 30/01/13 at 10:57

      Hard Eight, ou jogada de risco, passou esses dias na Tv a cabo. Tv não é mto dificil de achar em boas locadoras. Foi o primeiro longa dele, e não foi feito pra TV, como Couch.
      E Embriagado, pra quem não viu, vale mto a pena. Um romance singelo e sem os malabarismos típicos do gênero. É quase um desenho animado. Um bom desenho animado.

  9. ariovaldo comentou em 28/01/13 at 13:54

    faltou falar da atriz que faz o papel de esposa do mestre, que na minha opinião é o personagem mais marcante e aterrorizante do filme

  10. Carlos Campos comentou em 28/01/13 at 13:18

    Paul Thomas Anderson?! Vou ver, com certeza! Dentre os cineastas americanos, ele está em segundo na minha lista, atrás do Aronofsky.

    O Jonny Greenwood também fez a trilha “esquisitona” e brilhante de “Sangue Negro”. Outro grande atrativo.

  11. Leo PP comentou em 28/01/13 at 13:01

    A Ana Maria Bahiana traz no seu blog uma entrevista com o PTA…

    http://anamariabahiana.blogosfera.uol.com.br/2013/01/25/entre-o-fascismo-e-a-compaixao-o-mestre-por-paul-thomas-anderson/

  12. Pedro comentou em 28/01/13 at 12:34

    André, vc já viu o Lincoln? Não assisti ainda e confesso que estou com um pé atrás… E que tenho a impressão que o filme tende a retratar apenas aquele suposto lado humanista do presidente que lutava pelos direitos humanos e blábláblá…

  13. João Gilberto Monteiro comentou em 28/01/13 at 12:21

    André, ainda não vi O Mestre, mas pelo que eu li, o Joaquin Phoenix tá muito bem no filme, mas vc que viu, acha que ele tem alguma chance no Oscar contra o Daniel Day-Lewis????

    • Andre Barcinski comentou em 28/01/13 at 18:22

      Nenhuma, infelizmente.

      • Alex Melillo comentou em 30/01/13 at 12:13

        André,
        Infelizmente, mesmo. Assisti os dois filmes, sem ler previamente as críticas, hábito que cultivo para os filmes que sabidamente vou assistir no cinema.
        A interpretação do DayLewis é imersiva, perfeita, segundo li até retrata tons de voz, entonações, maneira de andar e gesticular. Coisa bem dele, mesmo, excelente ator que é.
        Mas o JPhoenix destrói. Algo que vai ser lembrado para sempre. Sua criação para o personagem torna a interpretação assombrosa, aflitiva, muito provavelmente inigualável. Aliás, o que ele apresenta é até difícil definir, por vezes até constrange, sei lá, causa náusea, é um caso a parte, para esses caras que estudam cinema se aprofundarem em teses e mais teses…. sem fim.
        E o SAG literalmente esqueceu o JPhoenix e o filme todo. Vai entender….

  14. André A. comentou em 28/01/13 at 11:46

    é um filme brilhante…põe Django no chinelo….!!!!

  15. Axel Terceiro comentou em 28/01/13 at 11:41

    André, pelo que você viu, quem é que você acha que deveria ganhar o Oscar de melhor ator este ano?

    • Andre Barcinski comentou em 28/01/13 at 18:25

      Joaquin Phoenix

  16. Beto comentou em 28/01/13 at 10:46

    “Amantes”, o filme anterior do Joaquin – antes dele pirar e virar o rapper barbudão -, é excelente também. E o PTA realmente é melhor cineasta americano da atualidade. O que ele fez em Sangue Negro não é brincadeira. Na minha opinião, é o papel da vida do Day Lewis.

  17. Pierre comentou em 28/01/13 at 10:36

    Amigo meu acabou de chegar dizendo que foi ver o filme ontem e detestou. Disse que o filme é muito parado e que é só terapia do começo ao fim. Recomendou para quem tem insônia, porque a mina que foi com el dormiu o filme todo. Certamente é filme somente para cinéfilos.

  18. Marcel Augusto Molinari comentou em 28/01/13 at 10:34

    Por ser do PTA, eu assistiria de qualquer jeito, agora fiquei mais animado ainda. Acho o Seymour Hoffman um puta ator, capaz de fazer qualquer papel. Acho o Joaquin Phoenix mais regular, gostei bastante dele no “Os Donos da Noite” e no “A Vila”.

    • augusto comentou em 28/01/13 at 10:49

      Concordo com você, só faltou concluir: “, o Seymour Hoffman um puta ator, capaz de fazer qualquer papel” do mesmo jeito….

      • Marcel Augusto Molinari comentou em 28/01/13 at 11:04

        Imagina… Assista Boogie Nights, Dúvida, Twister, Magnólia… O cara mandou bem demais em todos eles, com personagens totalmente diferentes!

  19. calenza comentou em 28/01/13 at 10:32

    saí do cinema com uma sensação elétrica como saí quando assisti ao anticristo. filmaço.

  20. Paula Cunha comentou em 28/01/13 at 9:17

    André, o filme é genial, bem à margem do cinema comercial norte-americano atual. As interpretações estão fantásticas. Os dois protagonistas não caem na armadilha fácil do antagonismo puro e simples. Os dois personagens são bastante complexos. Adorei a sua crítica e o diretor é realmente um dos melhores dos EUA atualmente. Abs.

  21. Adriano comentou em 28/01/13 at 9:10

    Ontem a noite saí de casa e fui ao cinema pra fugir das notícias da tragédia no sul. Escolhi “O Mestre” sem saber nada sobre ele, e o meu fim de semana foi salvo. Que filme!!

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