“Muito Além do Peso” e a tragédia da obesidade infantil
15/02/13 07:05Dia desses, vi um filme assustador: “Muito Além do Peso”, um documentário brasileiro sobre obesidade infantil.
Dirigido por Estela Renner, o filme está disponível para download gratuito, aqui.
Os números mostrados no filme são chocantes: 56% das crianças brasileiras com menos de um ano de idade tomam refrigerantes. Um terço das crianças está acima do peso ou obesa. Já temos uma geração de crianças condenadas a morrer cedo ou ter problemas de saúde por toda a vida.
Especialistas culpam a propaganda de refrigerantes, salgadinhos e “fast food” na TV, a falta de uma política de educação alimentar nas escolas e a ignorância de muitos pais.
Publicitários contra-atacam: no filme, um deles diz que é errado privar as crianças da propaganda a que elas, enquanto consumidoras, têm direito.
Não posso concordar com isso. É óbvio que uma criança não tem discernimento para saber se aquilo que está sendo anunciado na TV é bom ou ruim para a saúde. Pessoalmente, sou a favor da proibição de comerciais para o público infantil. Se as empresas querem vender produtos para crianças, que anunciem para os pais, e não para as crianças.
Mas acredito, também, que os pais têm muita culpa nesse cenário triste da obesidade infantil. Se os filhos não ficassem largados na frente da TV o dia todo, anestesiados, sem brincar ou fazer esportes, a realidade poderia ser outra.
E estou bem longe de seu um fanático por comida “saudável”. Adoro comida de boteco e frituras em geral. Mas é aí que entra o bom senso: se seus filhos quiserem comer uma coxinha de galinha de vez em quando, ótimo. O problema é quando frituras, refrigerantes e salgadinhos viram a regra, e não a exceção.
Que criança não gosta de refrigerante? De pipoca? De açúcar? Alguém vai levar o filho para o cinema e comer cenouras cozidas? Claro que não.
A questão é que o hábito alimentar de grande parte da população já inclui refrigerantes e salgadinhos. Em muitos lares, não se toma água, mas refrigerantes; crianças, como algumas mostradas no filme, são incapazes de distinguir entre um abacate e uma laranja.
Uma das cenas mais reveladoras do filme mostra um menino de quatro anos que pesa, se não me engano, mais de 40 quilos e já tem problemas de colesterol alto.
Na hora do almoço, o menino se joga no chão e esperneia, até os pais lhe darem um copo gigante de refrigerante e um saco de batatas fritas. Daí o pai diz: “Tá vendo? É só isso que ele come”, antes de virar-se para o filho e pedir: “Filho, dá uma batatinha pro papai, dá?”
P.S. Estarei sem acesso à Internet por boa parte do dia. Por isso, alguns comentários podem demorar a ser publicados.
Liberdade é uma só, André. Indivíduos devem ter o direito de expressar as suas opiniões, sejam essas de que refrigerante ou salgadinhos valem a pena ser consumidos ou não. A intenção comercial também tampouco importa. O limite da nossa ação não é usar da força e proibir, mas usar a nossa liberdade de expressão pra dizermos o quanto achamos ruim tais propagandas.
Por fim, criança não trabalha, não tem renda. Só vai comprar e consumir basicamente aquilo que os pais permitirem, e são eles, em última instância, os responsáveis por essa situação. Ninguém é obrigado a ter Coca-cola na geladeira e Baconzitos no armário.
Triste ver que a turma do “vamos proibir” e que não compreendem a liberdade não para de crescer. Tempos difíceis.
Ah, entendi. Quer dizer que você acha honesto dizer para uma criança que refrigerantes e salgadinhos fazem bem e vão deixá-la forte como o super-herói favorito?
País presentes nem deixam a criança ter acesso a propaganda.
André, como fazer para distinguir propaganda de criança de propaganda de adulto para comida? O apelo visual do junk food na telona é irresistível para todos, com ou sem bichinhos e super-heróis… não interessa quem esteja assistindo. Mas o adulto tem discernimento. Como fazer? Tirar as crianças da frente da TV? Não consigo imaginar uma forma de regulação objetiva pra isso. Outro dia vi num churrasco um moleque de uns 10 ou 11 anos tomando cerveja!!! E os comerciais de cerveja não são nada infantis. E aí?
é aí que você se engana… os comerciais de cerveja tem grande apelo ao publico infantil… quem não se lembra da propaganda do siri? que todas as crianças sabiam na ponta da lingua… como se não bastasse, ainda há aqueles comerciais de cerveja que relacionam o produto com o esporte ou gloria pessoal. O que uma criança de oito anos, que está chegando na pré adolescencia deve pensar disso?
o direcionamento faz toda a diferença, e é possível fazer propaganda de junk food sem apelos infantis. a comida, para os pequenos, acaba sendo o de menos quando estão diante de tantos brindes e apelos.
E a seleção brasileira sendo patrocinada por uma cerveja? Não apela ao público infantil também? Acho que sim.
Vi o documentário e as histórias são chocantes mas a responsabilidade final é das famílias. Por a culpa exclusivamente nas empresas de fast-food e na publicidade é uma forma de não assumir a responsabilidade do que se coloca na mesa. Colocar um pouco mais de frutas e verduras na dieta não pesa no orçamento, mas dá mais trabalho na hora de preparar a refeição. Cansei de ver mãe e pai pegar os filhos no colégio e levar para comer no fast-food. Agiram por influência da propaganda ou por comodismo? O que dá mais trabalho: espremer laranjas ou abrir uma latinha de “refri” e colocar na mamadeira?
Mas quem botou a culpa só nas empresas?
Barcinski,
Criança realmente não tem discernimento para dizer NÃO para a propaganda voltada à ela, mas os pais – supostamente – têm e eles podem dizer esse não, mesmo que a criança esperneie. Quando se fala em em proibição de propaganda infantil, eu leio: “vamos facilitar, ao máximo, a vida dos pais”. Bom, meus pais não tiveram vida fácil e eu não estou tendo vida fácil. Divertida sim, fácil não. Mas, isso não é paternidade?
Não, Luciano. Vivemos numa época em que pai e mãe trabalham fora e muitos não têm condições, infelizmente, de estar presentes na vida dos filhos como gostariam.
sem falar nos pais que infelizmente não tem a menor ideia dos malefícios que uma mamadeira com refrigerante pode causar a uma criança.
O mais triste foi o reforço da birra do menino pela recompensa ganha… ele se joga no chão, faz todo um teatro e os pais cedem e ele, depois de tanto drama ganha exatamente o que quer. Nessa situação específica é dos pais a culpa pela obesidade daquela criança!!! Deixa ele espernear!!! Deixa ele fazer drama! Duvido que ele não comeria um prato de arroz, feijão, carne e legumes se ficasse com fome!!! E a balsa de chocolate!!! Quando as consumidoras saem do barco respondem o que compraram: “O básico: 2 barras de chocolate, 3 caixas de bombom, etc etc… o “básico”!!!
Concordo. Na minha casa, meus pais trancavam chocolates e guloseimas, e só ganhávamos porções fracionadas em situações eventuais, após as refeições. Ninguém nunca tomou refrigerante, até hoje.
O problema maior é que os próprios pais estão tão neurotizados que eles mesmos não conseguem enxergar uma maneira mais saudável de viver.
A pessoa sai de casa às 6 da manhã para entrar às 8 no trabalho, passa o dia inteiro estressada, enfrenta mais 2h de trânsito e condução apertada para chegar em casa e ainda fazer comida, tomar banho, dar banho nos filhos, dar comida aos filhos, limpar a cozinha e o banheiro depois do banho e do jantar, chega no fim de semana exausta, morrendo de sono.
Essa pessoa dificilmente vai deixar de dar alguma guloseima aos filhos porque ela mesma pensa “Poxa, quando ele/ela crescer não vai poder comer essas coisas, do mesmo jeito que eu não posso, a vida vai ser puxada, estressante, difícil, então vou fazer as vontades agora, para ele/ela pelo menos lembrar da infância como um período legal da vida, já que eu não aguento levar pra passear, brincar, não tem parque perto ou amiguinhos com quem ele/ela brincar”.
Estamos vivendo numa época em que sinceramente ter filhos é um luxo ao qual a maioria das pessoas não pode se dar.
Não é justo colocar uma criança a mais no mundo para fazê-la se encaixar num estilo de vida que não permite tempo para criá-las decentemente.
Por isso mesmo não tive filhos, o mundo já está vomitando gente, a espécie humana não precisa mais se reproduzir tanto, hoje o que precisamos é de gente mais feliz, não de mais gente neurótica e triste.
Isso aí. Todo nosso modo de vida está erradíssimo: criou escravos do trabalho alienado e do “lazer” alienado, que é mais a continuação do primeiro, nas horas vagas…
Excelente comentário. “Infelizmente” você tem razão.
A realidade é que o problema é mais embaixo. É claro que para ter um filho é necessário que se tenha condição financeira e emocional para criá-lo; mas no Brasil (especialmente em São Paulo), é impossível os pais dedicarem a atenção aos filhos em tempo integral. Os pais acabam por trabalhar integralmente, enquanto os filhos ficam na escola e, infelizmente, a maior parte do tempo, em frente a tv.
Então enquanto a televisão bombardeia os filhos de publicidade todos os dias durante várias horas, os pais tem apenas uma hora no final do dia para colocá-los na cama e trocar meia dúzia de palavras.
Tendo isso em vista, é muito complicado colocar apenas sobre os pais a responsabilidade de criar filhos que saibam distinguir o consumo necessário do consumismo em excesso, uma vez que não é só esse mal que a publicidade dirigida às crianças causa, mas uma amplitude de valores tão distorcidos que vão na contramão de um mundo sustentável. O filme Muito Além do Peso é excelente e demonstra com clareza os males que a publicidade de alimentos não saudáveis dirigida ao público infantil pode causar.
Belo texto André. Sou obeso e sei bem como isso funciona. E concordo quando diz que a responsabilidade tem que ser dos pais. Parece que a maioria dos pais de hoje em dia só querem colocar os filhos no mundo e pronto, não fazer mais nada. Isso faz parte da educação, coisa que todos os pais deveríam dar aos filhos e não esperar que escola ou governo faça.
Excelente sugestão! Já vou baixar e assistir à noite com minha mulher.
Educar a alimentação de filho hoje em dia é difícil pra caramba.
Apesar de conseguirmos afastar minha filha de 3 anos dos refrigerantes e salgadinhos, e de vez em quando, se comer direito, vai um chocolate, que acho que de todas as porcarias essa é a menos nociva.
Mas a alimentação dela está longe de ser perfeita. Foge dos legumes e verduras, que vão escondidos no meio do arroz e feijão, ou do molho do macarrão. Sabemos que não é a melhor tática, mas é o que tem funcionado.
Mas sabemos que um dia, em alguma festinha, ela vai provar refrigerante, o que nestas ocasiões entendemos ser Ok.
Mas já vi muito pai colocar coca-cola em mamadeira de criança com menos de um ano… Aí é de f…., porque não é escolha da criança e sim dos idiotas dos pais.
Tinhamos suspeita de que nossa filha era celíaca. Então desde os 6 meses aos 4 anos não comia trigo, cevada, centeio, malte e seus derivados. Com isso, se habituou a uma alimentação a base de raizes e fibras. Cuzcuz, inhame, macacheira (aipim pra vocês) e frutas. Hoje prefere esses alimentos aos industrializados. Claro que a situação dela induziu a isso, mas tivemos esse cuidado. A escola onde ela estuda não tem cantina, e o cardápio é equilibrado com frutas todos os dias.
Esqueci de dizer: A publicidade para crianças é covarde e canalha. Beira a criminalidade.
Ótimo texto.
Realmente é necessário fazer um controle do que as crianças comem. E vale para os adolescentes e adultos também.
Durante a semana, comer coisas saudáveis e equilibradas. Mas no fim de semana, comer salgadinhos, tomar refrigerante não vai fazer mal a ninguém.
Basta fazer com moderação.
O que eu não entendo, e o porquê TEM QUE CONSUMIR algo quando se vai ao cinema, esporte, livraria e até em hospital?
É difícil ficar 2 horas sem comer???
Certa vez vi uma senhora brigar no hospital pq queria tomar um café e a máquina estava quebrada!!!
Esse era o propósito dela ao ir ao hospital?
Tinha um amigo que não ia ao Pacaembu se o pai não pagasse um lanche no intervalo e alguns biscoitos e pipoca doce durante o jogo… no dia seguinte perguntava a ele sobre o jogo, ele nem lembrava… mas o dog que mastigou sim, estava uma delícia…
Nessa sua linha, não dá para fazer uma refeição com lanche “natural” e frutas e suco antes e após o cinema? Tem que ser no cinema, já que lá não vende nada saudável (inclusive os filmes, por vezes são indigestos)? Não dá para ir só para ver o filme? É um programa tão chato assim?
Não é consumismo exagerado?
Vai ver a senhora tava com o marido internado às pressas e descontou na primeira incompetência que viu.Como vc sabe se ela teve um mau dia? Não sabe.
Há alguns anos li uma matéria na Folha jornal que não lembro de quem, mas que marquei pois seu autor definiu bem a propaganda hoje em dia: a sacerdotisa-mor da mentira; a deusa-mãe do engodo.
Ok, ok… Dá para concordar com quase tudo do seu texto. Só uma pequena observação: Será ignorância, ou omissão dos pais?
Falo por mim. Também não sou um exemplo de alimentação saudável. Mas só tomei meu primeiro refrigerante aos 6 anos de idade. Claro que eu esperneava, mas meus pais tinham algo chamado AUTORIDADE – sem precisar ser autoritários.
Hoje os pais parecem ter medo dos filhos. Não estou nem falando da chamada “palmada terapêutica” – aquela tão atacada pelos cânones da pedagogia moderna, e até pelo nosso ex-presidente – que seria, na verdade, o último recurso. Estou falando do primeiro dos recursos. Dizer NÃO. Hoje alguns pais consideram o ato de dizer não um crime. Pobres crianças. Viverão até certa idade achando que o mundo é um gigantesco SIM, até a idade que sairão de casa e descobrirão que , na realidade, o mundo é quase todo NÂO.
André, é claro que a alimentação junk contribui para a obesidade infantil, mas acho que o que mais agrava é a falta de esportes e atividades físicas. Hoje, a maioria da criançada passa a maior parte do tempo em computadores e games do que fora de casa nadando, correndo, jogando futebol etc. Me sinto um felizardo por ter 52 anos e não ter tido nada destas “maravilhas eletrônicas” na minha infância.
Eu, como pai, concordo que nós temos uma responsabilidade ENORME quanto a isso. Uma das piores coisas que presenciei a respeito de crianças obesas é negar doces a elas, algo que nunca imaginei ver. Eu também não sou nenhum exemplo para quem quer ter uma alimentação saudável, mas me preocupo muito com isso. Por enquanto, ainda bem que meu filho não tem nenhuma tendência a obesidade, mas o cuidado tem que ser constante.
Explicando minha pergunta, é que acho o Brasil um saco culturalmente. Interessante só dos anos 30 e até tempo que durou as pornochanchadas. De lá pra cá, um país criminoso e sem graça culturalmente.
O problema dos nutri-chatos é que eles têm mania de colocar a culpa pela obesidade nos alimentos. Não existem alimentos bons ou ruins, existem maneiras boas e ruins de consumi-los. Muitos pais modernos entendem que o conflito com os filhos é algo a ser evitado. O conflito faz parte da relação entre familiares, colegas de classe ou trabalho. O que se deve evitar é o conflito exagerado que resulta em falta de cooperação entre as partes.
Se três em cada dez adultos são obesos, então é fácil verificar a estatística. Se um terço das crianças está obesa também é fácil. Aqui em sampa cruzamos com centenas de pessoas todos os dias. Não verifico tantos obesos assim, nem crianças. Mais uma balela espalhada pela imprensa.
Minha filha tem 4 anos e nunca colocou um refrigerante da boca, bem como controlo doces e guloseimas. Ela adora frutas, praticamente todas, e as ofereço sem parcimônia. Também não sou exemplo de alimentação 100% saudável, mas apesar de não gostar de nada doce inclusive frutas, consumo folhas e legumes. Meu problema é a maldita cerveja e os acepipes de boteco. Acredito que nós pais mais jovens e mais esclarecidos não somos os grandes culpados, pelo menos num estrato social mais elevado, de entupir as crianças de bobagens, mas sim os avós que estão numa faixa superior aos 60 anos, pois além de serem avós no tempo dele eles achavam normal uma criança tomar coca-cola em uma mamadeira e que sorvete da Kibom de morango tem fruta de verdade……..
Além da estupidez de muitos pais, que culpam a tudo e a todos pelas dificuldades em criar os filhos, é chocante a postura da maioria dos publicitários. Esses advogados do diabo passam 4 anos na faculdade para aprenderem a fazer comerciais medíocres (como os de cerveja, os da Skol são os campeões do mau gosto) e a repetir argumentos como as “crianças têm direitos enquanto consumidores”. Isso me fez lembrar uma história de que o McDonald’s, há alguns anos, recorreu a estudos feitos por psicólogos sobre os sonhos mais comuns entre as crianças para criar os seus personagens e brindes do McLanche Feliz.
Assisti a metade do filme e não gostei por eles jogarem a maior parte da culpa disso tudo na propaganda direcionada às crianças. Aos pais, nenhuma culpa, quando acho que é exatamente o oposto. Uma çriança só tem acesso a Mcdonalds e a sua propaganda através dos pais. Se estes são ausentes e não sabem dizer não (essa palavra mágica), não vale empurrar a responsabilidade para cima de uma empresa.
Será, David, que só tem acesso através dos pais? Chegou a ver a parte em que crianças que comem frutas na hora do recreio são discriminadas pelos colegas que levam lanches mais legais e divertidos? Viu o Ronald McDonald fazendo visita nas escolas? E a “parceria” do McDonald’s e da Coca-Cola com o Ministério da Saúde?
Falo por mim, minhas filhas nunca comeram Mcdonalds, Burger King ou qualquer troço desses. Seus amigos na escola não sei como são. Só sei que marcamos colado e pronto. Não sabem nem que existe isso.
Barcinski,
No seu texto mesmo está um grande problema:
“Alguém vai levar o filho para o cinema e comer cenouras cozidas?”
Lógico que não! Eu vou levar a minha filha ao cinema para ver o FILME e não para comer!!!
Tá bom, Jean, e vc nunca deu pipoca pra ela no cinema?
Não André, ela tem uma semana de vida!!!
Parabéns, mas vc não planeja nunca comer pipoca com ela no cinema?
Obrigado!!!!
Lógico que sim André, o que me encana é esses “beliscos” terem que ser regra!!!
Não há uma lei natural que diga: “Se vais ao cinema com teu filho, compra-lhe pipoca”. Esse é apenas um dos inúmeros comportamentos automáticos das pessoas, que abriram mão completamente da reflexão autônoma e da individualidade para repetir atitudes sedimentadas nos costumes gerais.
Se os pais não conseguem educar e orientar uma criança de quatro, cinco, seis anos de idade, e ter autoridade para, entre outras coisas, dizer-lhes e reiterar-lhes um “não” peremptório de vez em quando – sem deixar de explicar o porquê do “não” – para que servem, então, essas bestas? O comodismo dos pais hoje em dia é um negócio fabuloso. Geralmente, os mais “ciosos” da criação de seus filhos acham que basta prover o alimento, os cuidados mais básicos com saúde e, depois, colocar na escola, que já crêem estar fazendo o máximo que podem por eles. Ora, bolas!, há muito mais que isso a ser feito, e, dentre essas coisas, está o educar o filho na contra-mão dos maus hábitos cultivados pelos demais e incentivados pelos mesmos e pela mídia. É difícil? Lógico que sim! Por isso mesmo é que os pais se entregam, “dá muito trabalho”. É mais fácil deixar a criança aos “cuidados” da TV, do computador, do celular, da rua, do que lhe dar educação. É mais fácil deixá-la assistindo os bizonhos filmes violentos que passam na Globo do que ir atrás de filmes educativos feitos para crianças. É mais fácil permitir que ela escute o sertanejo universitário ou funk que está a todo instante na TV e no rádio, do que separar umas horas por dia para escutar música decente com ela. É mais fácil deixá-la largada ao celular ou ao computador, exposta a qualquer tipo de coisa, do que ir brincar com ela. “Ah, mas coitadinhos dos pais, eles têm que trabalhar, não têm tempo pra isso”. Pobrezinhos, não? Eles não sabiam, antes de terem os filhos, que teriam que trabalhar, né? Vai ver, nem sabiam que deveriam educar os filhos… Daí, com a consciência tranqüila, essa gente deixa seus rebentos ao “deus-dará” no que se refere à educação, e, no fim das contas, a culpa pela falta de educação e de modos, pela delinqüência, pelos maus hábitos é, sempre, “do governo”, “da sociedade”, “da publicidade”, “do capitalismo”. É demais!
Repito a pergunta: se os pais não são capazes de educar uma criança na contra-mão dos maus hábitos sedimentados nos costumes das pessoas e propagandeados pela mídia não têm autoridade sobre elas, PRA QUE servem essas bestas?
P.S.: Falei no geral, hein? Sei que há pessoas que educam verdadeiramente os seus filhos, são raros, mas existem.
Sim, Carlos, mas qual o mal em comer pipoca no cinema? Se vc acha isso errado, ok, direito seu. Mas acho isso exagero. O problema, a meu ver, é quando alimentos ruins como refrigerantes, salgadinhos, etc., entram na alimentação do dia a dia da criança.
Sempre gostei de pipoca no cinema e sempre vou gostar. Uma vez que vou com minha mulher e filho ao cinema uma vez a cada tres meses, se um dia ele ficar obeso não vai ser por causa disso. Nem se fosse uma ou duas vezes por mês. O que a gente precisa é de parar com falso moralismo e saber que nosso papel como pais é fundamental para evitar esse tipo de problema.
Concordo. Não é porque come pipoca no cinema de vez em nunca que seu filho terá problemas, mas quando substitui água e sucos por refrigerantes e frutas por bolos industrializados.
O problema não é a pipoca no cinema André, é o conjunto das coisas que acompanham esses programas: Hambuguer no estádio, sorvete gigante na praça, cachorro quente no Zoo, algodão doce no parque de diversão…
Um tio mesmo para dar um cala boca no filho socava um pacote de fandangos….
Sim, mas pra isso que existem os pais, não? “Filho, chega disso, um tá bom”, etc. Comer pipoca não precisa significar comer um saco de 50 litros de pipoca.
Júnior,
Lógico que não. Não acredito que daqui há 20 anos minha filha tenha o peso de 1/2 hipopótamo e numa dessas entrevistas diga que tudo começou com uma “pipoca no cinema”.
O que eu quero dizer é se existe a necessidade de se tornar uma regra!!!
Ao lado do Palmeiras, aqui em SP, há uns anos tinha um lava rápido que ficou famoso pq o povo ia lá para deixar o carro para lavar e comer pastel!!!!
Não adianta fugir. A responsabilidade maior é dos pais. Não são passeios eventuais que vão ser decisivos, mas claro que se tem que ter cuidado em tudo. O problema maior é no dia-a-dia, a substiuição de alimentos realmente mecessários por fast food.
Nossa ficou bem confuso agora Jean. Parece que escrevi depois de voce (o seu texto do hipopotamo), mas escrevi antes (falando da responsa dos pais). Concordo, não precisa ser uma regra. Mas uma pipoquinha vai bem…
Pipoca não é porcaria!!!
É natural e um saquinho médio tem mais fibras que uma porção de alface.
O problema é o sal!Maneire no sal e ficará bem.
André, não vejo isso como algo errado. Eu não como, não vou ao cinema pra comer, e, além do mais, me recuso a pagar os preços extorsivos que se cobram por qualquer coisa ingerível nesses lugares. Agora, quem quiser comer, que coma, desde que não acredite que isso seja uma lei natural: “se vais ao cinema, TENS que comer pipoca”.
O caso da pipoca é um exemplo. A tese é a de que as pessoas precisariam parar de ter comportamentos automatizados. A cultura de rebanho e a conseqüente morte gradual da individualidade estão levando nossa sociedade ao caos. Não tenho filhos, mas já falei pro pai dos meus dois sobrinhos: “não há nada que te obrigue a levá-los ao McDonald’s para se entupirem com um lanche absurdamente caro e pegar o ridículo brinquedinho que, numa criminosa jogada de marketing, eles ‘dão de brinde'”. Ele os continua levando mesmo assim, porque pra ele, como para a grande maioria dos pais, é mais fácil ceder aos apelos das crianças deflagrados pela propaganda do que mostrar-lhes que há, sim, alternativas a isso. Há outros sobre quem nem se pode dizer que escolhem o caminho mais fácil: eles nem mesmo sabem que existem outros caminhos.
Carlos, não são todos os que comem pipoca no cinema que o fazem por serem como zumbis!!! É um “pequeno prazer” como diriam alguns..isso não vai ser decisivo pra ninguem ficar obeso. Apesar de toda essa discussão leventada pelo post do Barcinski, não podemos esquecer que crianças têm de ser CRIANÇAS!! E me desculpe, mas se voce não é pai ainda não faz idéia do que é ser. Não existe nada que seja tão diferente na pratica e na teoria.
O que eu não concordo com o seu texto Carlos, é sobre os bizonhos filmes violentos que passam na Globo.
A impressão é que só ela passa programação violenta ou bizonha…
Lembro do domingo de Santa Maria mesmo, dando aquela zapeada nos canais, enquanto todos repetiam as cenas da boate Kiss, com entrevistas e novidades, na “televisão do patrão” estava o Celso Portioli ao vivo fazendo piadinha com um fantoche…
Jean, citei a Globo apenas porque ela detém índices de audiência absurdos, mas foi mero exemplo. No caso da TV aberta, excetuando-se as emissoras educativas, o que se vê é um alucinante festival de burrice, frivolidade, sensualismo vulgar, violência e mentiras. Claro que isso não é 100% do tempo, mas são os tópicos que dão o tom da programação das redes, não só da Globo.
Barcinski,
Eu concordo com quase tudo do seu texto, vc é pai e sabe o que passa…
O que me irrita as vezes são algumas hipocrisias. Tenho uma conhecida que não permite a filha colocar uma gota de refrigerante na boca, mas a menina tem TODA a coleção de bonequinhos de uma faMosa rede de lanchonete…
Lá, ela come de tudo, mas refrigerante não pode! Aos 4 anos(!!!!!), a menina já tinha colesterol alto, mesmo sendo um palito em pessoa…
Mal sabe a mãe o dano que ela está fazendo a filha, que a gosto dela, odeia refrigerante.
Sobre pipoca e cinema, para alguns amigos, “pegar um cineminha” significa gastar no mínimo uns R$ 50/ R$ 60 (ingresso + big refrigerante + mega pipoca + um monte de bugigangas para mastigar). Tipo se vc diz: vamos só ver um filme, sem essas quinquilharias para mastigar, não rola. Nessa história, o filme é coadjuvante…
Abraço.
Mas Jean, com criança pequena, filme É coadjuvante. O programa vale mais que o filme em si, até porque a maior parte dos filmes são uma porcaria. Minha filha tem 5 anos e acho que o único filme que ela curtiu do início ao fim, sem dar sinais de cansaço ou desatenção, foi “Ponyo”.
São uma porcaria mesmo, dos cinco indicados a melhor filme, nenhum salva…
Adoro pipoca, mas o que acontece com sua filha se vai ao cinema e não tem pipoca?
Ué, não come, qual o problema? Mas as outras opções são piores: balas, pirulitos, etc.
Numa boa, nada contra pipoca, bala e pirulitos sazonais…
Só que conheço gente que deixou de frequentar o Marabá, na República, pq uma época antes da reforma não tinha pipoca para vender…
Bom, mas aí cada um é responsável pelas próprias escolhas, não?
Sim, é o que eu também acho…
Ah, totalmente off topic: provavelmente semana que vem tu manda os seus favoritos ao Oscar!
Assistiu o chileno “NO”? Vale a pena…
Pipoca no cinema é um crime. Não contra a saúde, mas contra as outras pessoas que pagaram pra assistir ao filme, e não para ouvir barulho de gente mastigando, amassando pacote de pipoca ou abrindo latinha de refrigerante. Tenha dó.
Tenha dó vc. Eu não faço barulho comendo pipoca ou amassando saquinho de papel. Questão de educação.
Deixar uma criança na frente de uma tv é um crime. Em pleno desenvolvimento da vontade, do sistema metabólico-motor, é imprescindível que desenvolva o movimento, a coordenação motora. A vivência do movimento proporciona a sensação de liberdade e tem efeito sobre a auto-estima e sobre a qualidade e agilidade dos pensamentos. O relato do pai ao fim do texto ilustra bem a tragédia pedagógica em que vivemos.
dentro do mesmo assunto, recomendo o documentario Food Inc http://www.imdb.com/title/tt1286537/
que fala sobre a industria do fast/junk food
O exemplo tem que vir de pai e mãe. Não adianta nada mandar a criança comer saudavelmente se os responsáveis diretos comem mal tempo inteiro.
Tenho uma filha de 4 anos que não toma refrigerante. Eu não dei no começo e depois ela não quis. É claro que ela adora chocolate e doces em geral, mas eu digo não na maioria das vezes. Educar é saber dizer não muitas vezes, sem peso na consciência. O que eu não quero pra mim também não quero pra ela.
Sobre publicidade voltada a crianças, vale a pena assistir também ao “Criança, a alma do negócio”, disponível em: http://youtu.be/dX-ND0G8PRU
Não sou exemplo de saúde, sou louco por hamburgueres, mas tenho alguns princípios quanto a educação alimentar do meu filho.
Em casa não entra refrigerante, somente em raras ocasiões, e talvez por isso ele mesmo já não se interesse pela bebida. Também tratamos de apresentar muitas verduras para ele desde pequeno, e assim, hoje, ele é um maniaco por pepino e folhas em geral (até salsinha e coentro). Em fins de semana é proibido passar o dia em casa (apartamento). A meu ver, esse hábito de ter o fim de semana para descansar dentro de casa é que acaba deixando a criança mais exposta à TV e seus comerciais. Chega um momento em que os pais não aguentam mais o pique deles e então ligam a babá eletrônica (TV). Realmente, não é fácil evitar o contato deles com alimentos não saudáveis, principalmente em buffets infantis, mas também cabe aos pais oferecer opções. Ao invés de Cheetos, ofereça amendoas, meu filho adora.
Excelente exemplo! Obrigada!
Nossa! Esse texto expressa muito bem o que penso! Não assisti ao filme ainda, mas certamente assistirei.
É lastimável o que está acontecendo com a população em relação a obesidade! Isso é um problema de saúde pública e deveria ser tratado com mais atenção. Concordo plenamente que as crianças, ao assistirem propagandas de todas essas guloseimas, não tem como discernir ainda se isso é bom ou ruim pra sua saúde e, mesmo com os pais tendo hábitos saudáveis em casa, não há como não ser ludibriado com os “encantos” das guloseimas. E quanto mais porcaria, parece que mais gostoso é… Não é problema tomar refrigerante, mas uma mãe ou pai que acostuma seu filho com essa porcaria, não tem como cobrar que ele tome água depois! Uma vez que a pessoa tem esses hábitos e desenvolveu a obesidade, mudar é MUITO MUITO mais difícil!
É uma lástima! Tomemos isso como exemplo para edurcarmos nossos filhos de forma mais saudável!o que importa realmente é que esses hábitos alimentares não sejam a regra e sim a exceção!!!
Obrigada.
Barça, bom dia.
Além de tudo isso que você comentou, hoje as crianças não brincam nas ruas, não andam de bicicleta pelo bairro e etc, o que era uma atividade comum na minha infância, por exemplo. Os motivos já conhecemos e os pais na grande maioria das vezes tem razão em não deixar seus filhos nas ruas, mas isso só aumenta o sedentarismo dessa geração. Uma pena.
Abc.
Claro que não é fácil criar filhos. Mas ninguém disse que seria moleza.
Mesmo crianças de familias ricas que vivem em condomínios de luxo, cercadadas de seguranças, nao tem o habito de sair de casa para brincar na rua. Tenho sobrinhos de 8 anos que moram no Rio em um condomínimo destes. Eles nao saem de casa e a pracinha infantil do lugar esta sempre às moscas.