Dave Grohl e a velha briga analógico vs. digital
19/02/13 07:05Podem falar o que for de Dave Grohl, mas o sujeito tem bom gosto e sabe usar os milhões de dólares que ganhou com o Nirvana e o Foo Fighters em projetos bacanas.
O último deles é “Sound City”, um documentário que Grohl dirigiu sobre o célebre estúdio de gravação Sound City, em Van Nuys, próximo a Los Angeles. O filme está disponível para venda pela Internet e uma versão legendada em espanhol está no Youtube.
O Sound City foi inaugurado em 1969 e rapidamente ganhou fama entre músicos por causa do preço baixo de sua locação e sua acústica impecável, mas, principalmente, por uma engenhoca muito especial: a mesa de mixagem Neve 8028, um console analógico fabricado no fim dos anos 60 pelo engenheiro eletrônico inglês Rupert Neve.
Segundo o filme, só foram fabricados quatro mesas iguais às do Sound City. Cada mesa leva vários meses sendo construída e custa uma fortuna. Para exemplificar, um dos donos do Sound City diz que pagou pela mesa, em 1969, 76 mil dólares. No mesmo ano, segundo ele, comprou uma bela casa por 38 mil.
Com a mesa Neve, o Sound City ganhou fama de ser um estúdio com uma qualidade de som maravilhosa, apesar de suas instalações serem “um lixo”, como diz Kevin Cronin, do REO Speedwagon. “Digamos que, se alguém mijasse num canto, ninguém ia perceber”, diz um técnico de som da casa.
Fleetwood Mac, Neil Young, Rick Springfield, Tom Petty, Grateful Dead, Elton John, Cheap Trick e Santana gravaram lá.
No filme, Grohl entrevista os donos, técnicos e funcionários do Sound City, além de muitos artistas que não abriam mão de gravar no estúdio, como John Fogerty, Neil Young, Lindsey Buckingham, Lee Ving (Fear), Tom Petty, Butch Vig, Stevie Nicks, Rick Springfield, Josh Homme, Rick Rubin e vários outros.
O documentário tem um tom nostálgico, fazendo a apologia do tipo de som analógico que o Sound City ajudou a popularizar e que foi arrasado pela chegada, a partir do fim dos anos 80, da tecnologia digital de gravação.
O filme é didático na descrição das técnicas de gravação e das diferenças entre os sons analógico e digital. Mesmo leigos conseguem entender os processos de produção de um disco e a preferência de muitos artistas pela sonoridade analógica.
Independentemente de sua opinião sobre o assunto (eu acho que o digital é uma arma sensacional, só que muitas vezes usada de forma preguiçosa), é interessante ver a opinião de tanta gente talentosa.
Grohl tem um papel importante na história do Sound City: no início dos anos 90, quando o estúdio estava à beira da falência e incapaz de concorrer com os modernos estúdios digitais, o Nirvana gravou “Nevermind” lá.
O disco causou uma corrida de bandas novas ao Sound City, todas atrás de um tipo de som mais “quente” e que não parecesse tão processado em computador. Rage Against the Machine, Queens of the Stone Age, Kyuss, Masters of Reality, Tool, Black Crowes, Red Hot Chili Peppers, todos se renderam à acústica do Sound City e a seu mitológico console Neve.
Uma história curiosa: em 2008, quando foi gravar o álbum “Death Magnetic”, do Metallica, o produtor Greg Fidelman gravou som de bateria em diversos estúdios e, sem dizer aos músicos onde haviam sido gravados, pediu que escolhessem o melhor som de bateria. E o Metallica escolheu o Sound City.
Sem estragar a surpresa do fim do filme, dá para dizer que Dave Grohl teve outra participação marcante na história do Sound City. Assista e confira. E Grohl, que além de ótimo músico é um homem de negócios oportunista (no bom sentido), montou uma banda, o Sound City Players, que está excursionando e toca hoje em Londres. Esperto esse Grohl.
P.S.: Estarei sem acesso à Internet por boa parte do dia e, portanto, impossibilitado de moderar comentários até o fim da tarde. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço um pouco de paciência. Obrigado.
Se som digital não é bom, como é que o Blu-ray do Return To Forever gravado ao vivo em Montrueux em 2008 tem um som fantástico?
Porquê foi bem captado, mixado e masterizado.
Parabéns, André. Vc é o símbolo do crítico contemporâneo… que compartilha e não julga apenas pelo sentimento próprio.
Só alertar, sem aprofundar, não é crítica; é vaidade!
Qto ao vídeo, adoro a sonoridade do RHCP em ”One Hot Minute” (gravado lá) – pra mim o melhor deles.
Legal para kct c falar sobre um tema q poucos levariam a sério (no próprio mundo musical roqueiro atual indie, discutir o que um estúdio significa é ser chamado de chato e atrasado).
Tá aí o Doc com legendas em portugûes
http://www.4shared.com/video/kjFzcCmp/2013-SoundCity_BP_720p.html
Aquela mesa de som merecia destino melhor.
Sim… de um indie q ia adorar tirar uma foto PB em cima dela mas q iria gravar seu som no Parque das Águas!
Eu não sei explicar, e nem me interessa, por que som analógico é superior. Não tenho conhecimento técnico suficiente e vou pelo que meus ouvidos sentem. Não sei se é um problema inerente ao processo digital, ou se é o canalha que está lá mexendo e não resiste a comprimir mais o som. De qualquer forma, não há comparação possível. Achei o Live Rust em vinil por 20 reais e não acreditei quando ouvi. Deu vontade de jogar todos meus cds fora.
Cassiano
Arrisco um palpite do tipo posso-me-estrepar-e-ser-sacaneado:
Acompanho essa coisa toda de som e música faz uns (35) anos.
Arrisco a dizer que o digital se intrometeu num processo natural totalmente ‘analógico’.
Colocaram bits tudo mais é ‘vibração’.
A corda do violão vibra, que vibra a membrana do microfone, que vibra a corrente elétrica até o gravador, que vibra o campo magnético da fita, que vibra o sulco do LP, daí pra diante o processo é ‘contramão’ até chegar no nosso ouvido. Colocar em bits uma fase desse processo é tirar a naturalidade ele.
É somente uma opinião de observador….
Legal o lance do Grohl, vou procurar! Trabalhei por um tempo com uma Neve e tb com uma SSL (Solid State Logic) 9000, tão lendária quanto. Na minha opinião, o que mata a maioria das gravações, sejam elas analógicas ou digitais, é a etapa da masterização. A regra atualmente é “bombar”, quanto maior o volume final, melhor. E dá-lhe compressores, compressores e mais compressores. Resultado: Chega-se ao limite pré-distorção, e lá se vão as dinâmicas das músicas. Estúdios gastam zilhões em microfones, pré-amplificadores e tudo mais, para no final tudo ser “achatado” na masterização. Quem trabalha com softwares digitais, como o Pro Tools, consegue visualizar isso facilmente, não há dinâmica nas faixas de áudio pós-masterização. Falta o que muitos chamam do tal som “orgânico”, especialmente no rock / pop…
Barça,
você tem algum seu e-mail de contato para leitores do blog?
abraço,
Só posso dizer o seguinte sobre o texto: Da hora!!!! Parabéns ao autor.
André, off topic,
Como bom fã dos Cramps e The Mummies, vc conhece a banda de garage rock de uns indianos malucos chamados The Great Munzini and The Astonishing Sotos que tocará em SP em março?
Segue o link:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=1mmCjLBNNBk
Nunca ouvi falar, mas o nome é ótimo.
Vlw pela dica. Essa era é uma banda boa que eu ia morrer sem saber que existiu.
Oi Barça!!!Ótimo texto e aproveitando sensácional o retorno do Garagem.Saindo do tema Barça gostaria de fazer uma pergunta para vc.Alguma chance de ver alguma entrevista sua com alguma banda ou músico nos próximos meses ou mesmo rever algumas entrevistas confesso que sinto falta,estava revendo uma entrevista do Massari com o Omar Rodriguez (At the Drive-In,Mars Volta)e apesar de durar uns 3 minutos foi melhor do que qualquer entrevista feita pelo pessoal do Multishow em toda história.É outra coisa ver uma entrevista com quem sabe do assunto e vc e o Massari sempre renderam boas histórias e entrevistas.Abs!!!
Olha, tô fazendo um monte de entrevistas, mas para um livro que sai mais pro fim do ano, depois conto mais detalhes.
Boa matéria.
A sua internet tem hora pra funcionar?!
Desculpe se eu tenho outras coisas pra fazer e não posso ficar na frente do computador o dia todo, ok? Perdoa?
Legal a dica, vou conferir. Aproveito pra perguntar: Quando vai pro ar o programa Garagem com o “canalha” da ESPN como convidado ? Hoje eles colocaram até uma foto do Nipo-Luso no telão do Bate Bola 1, quando o João falava sobre o momento Ana Maria Broca do programa, foi muito engraçado. Vocês escolheram muito bem o convidado.
Sério? Que legal isso. Vai ao ar sexta.
Sexta que vem, dia 1o de Março, certo?
Isso!
A mesma preguiça dos novos artistas com o digital pode ser percebida nos arranjos dos discos. Enquanto na década de 60 e 70 era de praxe você montar arranjos com orquestrar pra 8, 10 violinas, mais uns 6 metais e um coro com umas 5 pessoas, hoje ninguém mais abre o bolso pra pagar isso. Resultado? Tudo replicado com os plugins dos softwares de gravação com a desculpa de que “quase ninguém percebe”. Percebe sim, pelo menos ainda. Mas não sei se no futuro continuará assim, já que tenho a impressão que o ouvido humano está emburrecendo com essas novas tecnologias. De qualquer maneira, não sei se tem jeito de ter tudo ao mesmo tempo, às vezes você tem de abrir mão de um acabamento muito bom para conseguir terminar algo. O problema é isso virar “estética”.