Ou acabam as organizadas ou acaba o futebol
22/02/13 10:23Não interessa de que time é o “torcedor” que disparou o sinalizador que matou o menino Kevin, de 14 anos, em Oruro.
O que aconteceu lá poderia ter acontecido no Engenhão, no Mineirão, nos Aflitos, ou em qualquer estádio do país.
Reduzir o crime a um incidente isolado, ou culpar apenas um torcedor de uma determinada torcida organizada de um determinado time, não só é injusto, como imoral. O problema é geral.
A verdade é que o futebol, como nós o conhecemos, acabou. E a culpa é da violência nos estádios.
Já nos acostumamos a clássicos com uma torcida só, ou com a torcida visitante reduzida e espremida em um canto. Virou a regra.
Se você mora em São Paulo e tem um filho que começou a gostar de futebol agora, nunca – repito, NUNCA – poderá levá-lo para ver um clássico estadual como deveria ser, com o estádio dividido em dois e a emoção que só o futebol pode proporcionar.
De quem é a culpa? Só das organizadas? Claro que não. Todos são culpados: as organizadas, os clubes que as apóiam, a polícia que não as reprime, políticos que lhes devem favores, as federações que não as punem, os jogadores que lhes puxam o saco, e até os torcedores comuns, que cantam as músicas grotescas de louvor à violência.
Acabar com o poder das organizadas é necessário. Mas há vontade de fazer isso? Os clubes vão conseguir viver sem o apoio bélico desses torcedores profissionais? Os políticos terão coragem de ir contra essa massa que lhes dá votos?
Enquanto isso não acontece, os torcedores de verdade, aqueles que pagam ingresso, que gostam de seus times e querem levar seus filhos ao estádio com segurança, ficam reféns desses profissionais.
E assim vamos vivendo, tendo nossas liberdades individuais tolhidas diariamente. Já não podemos ir aos estádios. Se um cretino invade a apuração das escolas de samba e rasga envelopes, proíbe-se a entrada de torcedores. Como sempre, é mais fácil proibir que remediar.
Como acabar com as organizadas? Isso é tarefa para especialistas. Na Inglaterra, onde o problema era tão ruim quanto o nosso, deram um jeito. Acho que um bom começo seria cortar os benefícios delas, fichar os diretores, responsabilizar os clubes por atos de suas “torcidas”. E todos sabem da penetração de facções criminosas em diversas torcidas organizadas.
Mas a principal mudança teria de partir da sociedade: parar de enxergar esses grupos como “torcedores” e vê-los como o que são: profissionais dos estádios, para quem o futebol é só uma desculpa. Se o esporte mais popular do país fosse o críquete, estaríamos aqui discutindo a violência nos estádios de críquete. As organizadas gostam de futebol porque é onde arregimentam mais mão-de-obra, mais sócios. É um esquema empresarial.
Para finalizar: eu tenho uma filha pequena que gosta de futebol. Eu gostaria de levá-la a um clássico sem medo de levar um rojão na cara ou de apanhar na entrada do estádio. É pedir demais?
P.S.: Hoje, sexta, estarei sem acesso a Internet até o fim da tarde. Se o seu comentário demorar a aparecer, não me xingue, aguarde que, no fim da tarde, volto a moderá-los. Obrigado.
Somente tive conhecimento do seu texto hoje.Primeiramente a comparacao na Inglaterra é um pouco complicado.Primeiro acabou-se a crise do governo Tachter,aumentaram substancialmente o valor dos ingressos e aumentaram as penas.Acabou as organizadas?Nao.A diferenca é que se antes ia 10k das organizadas hj vao 4k nos jogos.Os pubs ainda elas dominam principalmente os longes dos estadios e metro em dia de jogo,como ArsenalxSpurs,o classico de Londres ou LiverpoolxUnited o grande classico ingles se ha tensao do que pode ocorrer.Ha ainda gde violencia como West Ham vs Millwall que é historica e diversas vezes pra nao mostrar a incapacidade a TV inglesa nao transmite pra fora da ilha a pedido do governo.
Concordo com você Barcinski, quando diz que para encerrar as torcidas organizadas, as soluções partiriam da sociedade, mas isso nunca ocorrerá porque ela faz questão de não mudar seu ponto de vista em relação a isso, pois já está acostumada com a informação que tem sobre elas, infelizmente.
Abaixo o futebol! Vamos trabalhar, gente! Cansei de ver gente comentando jogos e escalações por horas a fio. Quando o futebol entra na conversa, saem a política, a crítica ao cotidiano, o debate sobre a arte, as análises econômicas. Ópio do povo é o futebol…
Futebol também é arte!
Raramente é arte. Na maior parte do tempo é negócio, que no Brasil é muito mal gerido, por sinal. Basta ver as dívidas multimilionárias dos clubes e o subaproveitamento de seus ativos de propriedade intelectual (licenciamentos, marcas, direitos autorais…). Sinto até pena quando vejo um pobre coitado, que se bobear nem salário-mínimo ganha, envergando uma camisa (pirata, naturalmente) de time com um nome “estelar” qualquer nas costas, como “Ronaldo”, “Messi” ou outro. Complicado ter esse tipo de herói como referência… Esquisito gastar tempo acompanhando cada pequeno detalhe dos jogos ou da vida desses “astros” miliardários se em casa há arroz e moela de frango para comer… Se dependerem de mim pra viver, jogadores, técnicos, jornalistas e comentaristas de futebol morrem todos de fome.
Arte também é negócio!
Se, como eu acredito, futebol tem pouquíssimo de arte e muitíssimo de negócio, não vale argumentar que o esporte é admirado por seu aspecto “artístico”. Isso parece ser de importância menor para quem aprecia o jogo. Não se vê lances geniais a toda hora, gols de placa nem dribles desconcertantes. O que se vê é uma sequência enorme de jogos bastante burocráticos e apagados ao longo do ano. Então não venha me dizer que esse enorme interesse que ainda há pelo futebol é por causa da “arte”. É, sim, um negócio em que muita gente lucra: TVs, cartolas, anunciantes, jogadores… Só o pobre se lasca, pois não ganha nada e ainda perde seu tempo com essa besteira. Acompanham a vida “glamurosa” de Neymar e Fred e se lascam no trem lotado a caminho de seus subempregos…
Brilhante! Caralho, nada como um cara talentoso para colocar no papel o que a gente pensa e deseja.
Excelente texto. Excelente análise, respaldada por argumentos. Parabéns, Barcinski!
Puxa… Que texto bom, Barcinski! Concordo plenamente com você, a violência nos estádios decorre de uma torcida organizada que é tudo, menos torcedora, de fato.
Ou reagimos, como a Inglaterra reagiu, coibindo essas ações truculentas nos estádios, ou o espetáculo futebolístico estará reservado apenas a criminosos.
1- Existe mesmo um problema com todas as organizadas. 2- Existe um problema maior com parte dos torcedores do Corinthians, mas todos na imprensa tem medo de colocar o dedo na ferida, de dizer que essa exaltacao ao estilo imperial do “bando de loucos” eh coisa irresponsavel. Recebem um milhaozinho do governo para o carnaval, para retornar o favor quebram o pau no anhembi, param a avenida marginal comemorando ou reclamando a base de chutes nos carros alheios e ai de quem enfrentar, termina linchado por esse bando. Soltam fogos, bombas,em plena madrugada de dia util nos bairros dormitorios, nao se importam com quem tem que trabalhar, com bebes ou animais de estimacao (em Osasco isso terminou em chacina, em 2012, pois nao adianta chamar a policia). Sao folgados, mexem com quem esta quieto, tomam as vias publicas e o metro e usam para provocacoes. Veja essa convocacao para a praca Charles Muller, isso nao eh festa, isso eh ameaca, nao existe estrutura ali para muita gente, querem usar o espaco que deveria ser de todos soh para eles, para tumultuar a vida de quem nem se importa com futebol. Quando alguem morrer vao alegar que o problema foi isolado, nao foi nao, o problema eh coletivo, trata-se de um comportamento coletivo de jovens buscando se impor aos outros pela forca, pela ameaca, pela violencia. Esse comportamento de gangue nao encontra paralelo em escala, eh coisa do Corinthians sim, a midia e o proprio clube alimentam esse monstro ao instruir o torcedor normal a se comportar como bando.
Texto perfeito. Assino embaixo. Queremos frequentar os estádios de futebol em paz.
Sou corintiano e estamos todos chocados – mais uma vez – com morte acontecida num jogo ou perto de um jogo de futebol. Tem de haver punição pesada para esses marginais.
As torcidas organizadas de todos os times têm de acabar.
Infelizmente chegamos no limite. Quantas mortes mais serão necessárias para que alguma providência seja tomada? Será necessária uma tragédia como da boate Kiss em Santa Maria para os legisladores acordarem? O problema tem uma solução muito simples: LEGISLAÇÃO DURÍSSIMA para as transgressões, com penalizações para o clube, proibição de participar de campeonatos por um longo período, proibições para as empresas efetuarem patrocínios das torcidas que causarem tumultos, etc. Somente desta forma haverá moralização do esporte, que como o próprio nome diz, trata-se somente de um jogo ou campeonato, e que após terminado os torcedores podem se confraternizar sem medo ou receio. Afinal o que muda para a população após o final de um jogo ou campeonato? NADA ABSOLUTAMENTE NADA. Ficam apenas as estatísticas…. Imbecil do povo que leva o futebol ao fanatismo. Culpa também da imprensa que pela audiência ressalta estas rivalidades “nação curintiana” “bando de loucos”, etc. Pão e circo para o povo não se atentar para os verdadeiros problemas que nos afetam.
Estou de acordo. Fiquei meses sem poder ver jogos do meu time, o Coritiba, por causa de problema envolvendo torcida organizada em dezembro de 2009. Você vai lembrar porque foi contra o Fluminense. Somos vítimas disso tudo aí. A punição foi jogar 10 mandos fora de Curitiba, umas 20 rodadas do campeonato. O presidente novo que assumiu depois dessa vergonha, Vilson Ribeiro de Andrade, com primeira providência, proibiu torcida organizada em jogo com mando do Coxa. Fechou a sede deles que ficava no Couto Pereira. Isso aí durou uns 2 anos e meio, mas depois ele, infelizmente, “reatou” com a organizada. O presidente da torcida encontrou Jesus e virou do bem, e o Presidente do clube perdoou. E estamos, agora, esperando a próxima desgraça.
André, concordo com você sobre a necessidade de extinção de torcidas organizadas. Vi uma cena surreal no monumental de Nunes em Buenos Aires. Torcedores do Boca foram apoiar a torcida do Corinthians contra o River Plate pela Libertadores de 2006. Um casal de portenhos dentre eles. A moça vestia um casaco no frio de 12º. Casaco verde. Os gaviões mandaram que ela tirasse o casaco. Expliquei ao atônito argentino que seria melhor obedecer e dar o casaco dele a ela ou saísse dali. Ele ficou e ela tirou o casaco. Essas organizadas são um bando. Quanto à punição exemplar, sumária, ao Corinthians, discordo. Não se sustenta legalmente, a não ser que se prove a ligação entre o clube e os torcedores que cometeram o crime. É ridícula a pressa de colunistas, comentaristas de futebol e pseudojornalistas para condenar. Discurso vazio e oportunista. Muitos deles se locupletam por ter relações próximas com os clubes e agora querem se tornar paladinos da moral. Abraço.
Muito bom o texto, com o enfoque de acabar com Organizadas, antes que elas acabem com o futebol. E André, veja bem, no caso da punição da Commenbol, creio que vai é satanizar o Corinthians e a imagem dos seus torcedores, prejudicando o clube: deveria é de cara ser proibido em todos os jogos de todos os clubes sinalizadores e fogos perigosos, o que ajudaria a diminuir a violência nos estádios.
“E André, veja bem, no caso da punição da Commenbol, creio que vai é satanizar o Corinthians e a imagem dos seus torcedores, prejudicando o clube”
Pois é….tem muita gente “comemorando” o evento trágico pela rivalidade. É lamentável e nos deixa séria dúvida se a punição surtirá efeito.
Vivemos um mundo com pessoas educadas
em creches e nas ruas ,pois as maes nao podem ficar em casa nos primeirosa anos.
Hoje em dia o casal precisa trabalhar mais que o homem dos anos 50 trabalhava !
A celula familiar esta cancerosa !!!
Parabens pelo texto Andre!
Finalmente um artigo decente sobre esse assunto. Parabéns André. Acredito que sem punir pesadamente e exemplarmente o clube, jamais os cartolas farão a sua parte.
Quase perfeito. Só faltou incluir no rol de culpados uma boa parte da mídia esportiva, com sua retórica irresponsável, do tipo “time pronto para a batalha da Bombonera”, “é o jogo da vida do clube X”…cronistas e repórteres parciais, metidos a engraçadinhos, que brincam com fogo e desrespeitam a paixão do torcedor, caçoando de clubes em má fase e incentivando a zoação entre torcedores rivais.
Pefeito! Os jornalistas e comentaristas sempre se acham isentos.
oi André, vc se esqueceu de mencionar algo sobre as escolas que não educam, ou ainda, a responsabilidade dos pais que não supervisionam seus filhos. Antigamente torcíamos pelo bom futebol. Hoje me parece que a vitória do time é uma conquista pessoal, de inenarrável felicidade… a derrota, por sua vez, é o fim, e a maior das amarguras. Descarregar a raiva parece ser a irracionalidade tomando conta do ser, quando deveria ser motivo de aprendizado e maior elo com o clube.
Concordo 100%. Chega de trogloditas uniformizados.
quem é que paga pra esses MARGINA viajarem para outros paises ou outros estados? Esses MARGINA nao trabalham? Tá naa hora de começar a responsabilizar que é que financia esses MARGINA e coloca-los na cadeia.
O que eu não entendo é essa força que as torcidas organizadas tem com os poderes públicos.Se fizessem uma pesquisa com os torcedores de todos os times não existiria a menor dúvida que a maioria esmagadora acharia que deveriam ser extintas.Quem não gostaria de ir ao estádio levando sua família para assistir ao jogo em paz? Não entendo como o direito (torto) de uma minoria se sobrepõe ao bem estar da grande maioria.Aliás, a lei prevê essa situação,não permite que uma minoria maléfica prejudique uma maioria,A lei existe, basta boa vontade (e decência) para aplica-la.
sou corinthiano e estou envergonhado. Acho que as torcidas devem ser penalizadas, e o time também. De forma exemplar. Foi-se o tempo que “esporte” era ver gente morrer. Chega. Cadeia para os irresponsáveis, suspensão para a (des)organizada e desclassificação sumária do time.
André, podem acabar com as organizadas, mas torcedores boçais continuarão indo aos jogos. Vou direto a estádio e já vi muito “torcedor normal”, com ingresso de numerada, querendo arranjar briga com gente que torce pelo mesmo clube que ele. Temos que acabar, sim, com a impunidade. Mas acho que é pedir muito em um país que tem Renan Calheiros como presidente de seu Senado…
Concordo muito bom você André, mas vejamos um ponto interessante disso tudo. A punição ao Corinthians, no caso que trouxe toda essa discussão à tona, diz que o clube terá que jogar sem torcida. As opiniões estão divididas acerca da punição e os torcedores parecem que ainda não entenderam a gravidade do que tem acontecido. Agora seria a hora da torcida do Corinthians, a torcida mesmo, a que gosta do clube, a que emociona, que chora, que sofre e, principalmente que é humana, levantar a voz e mostrar que não são todos iguais aos irresponsáveis que tiraram a vida de um garoto: deveriam, eles próprios, irem pra praça ao entorno do Pacaembu na proxima quarta feira e, durante o jogo todo, ficarem em silêncio, em respeito, em união com a dor da família do garoto e mostrar que a vida vale muito mais do que um jogo de futebol… aí sim, de alguma forma, mostraríamos que somos realmente diferentes.