Nick Cave, Eels, e a glória do pop sombrio
01/03/13 07:05Crise na música? Que crise? Pelo menos essa semana, o pop está em festa: temos discos novos de Nick Cave e de Mark Oliver Everett para ouvir.
Nick Cave retorna com seu grupo The Bad Seeds em “Push the Sky Away”, enquanto Everett, mais conhecido – ou melhor, desconhecido – simplesmente como E, lança “Wonderful, Glorious”, 10º álbum do Eels.
O que esses dois sujeitos têm em comum? Bom, além de terem lançado alguns dos discos mais bonitos dos últimos 20 anos – ou 30, no caso de Nick Cave – são artistas obcecados com o lado mais sombrio da vida. Não fazem exatamente música para alegrar seu dia, mas para embalar horas solitárias e reflexivas. São, cada um à sua maneira, bluesmen modernos, cavando fundo em lugares escuros para tentar fazer algum sentido de suas próprias vidas.
Mark Everett é filho de HughEverett III, um físico celebrado, que desenvolveu a interpretação de muitos mundos (IMM) da física quântica (ficou curioso? Leia mais aqui) . Mark fez um filme para a BBC sobre o relacionamento com o pai, chamado “Mundos Paralelos, Vidas Paralelas”. Veja só:
A vida de Mark Everett não foi das mais fáceis: sua irmã, Elizabeth, era esquizofrênica e inspirou muitas músicas de Mark. Elizabeth cometeu suicídio em 1996. Dois anos depois, a mãe deles, Nancy, morreu de câncer. Continuando a maré de sorte da família, a prima de Mark, Jennifer, era aeromoça do avião derrubado por terroristas em cima do Pentágono, em 2001.
A música do Eels, claro, é muito marcada por esse histórico familiar trágico, mas Everett usa humor negro e grande dose de ironia, e consegue transformar tanta dor em uma música surpreendentemente leve e bem humorada. Ele faz um pop minimalista e lo-fi que, para mim, é uma das grandes obras autorais da música pop das últimas duas décadas. Tenho todos os discos e cada dia gosto mais deles.
Já Nick Cave é o mais próximo que o rock criou de um Leonard Cohen desde… bem, desde Leonard Cohen.
Escritor, roteirista de cinema e líder de duas grandes bandas, o Grinderman e o Bad Seeds, Cave está em grande fase.
Seu disco novo com o Seeds, “Push the Sky Away”, é uma coleção de canções lentas e melancólicas, cada uma mais bonita que a outra. Parece que Cave deixou o barulho e a distorção com o Grinderman e resolveu deixar seu lado mais contemplativo e “tranquilo” para o Bad Seeds. Haja talento para balancear tanta música boa em dois projetos desses.
Enquanto ouço “Push The Sky Away” e “Wonderful, Glorious”, vou fazer o que já deveria ter feito há tempos: encomendar a autobiografia de Mark Everett, “Things the Grandchildren Should Know”.
Barça é verdade que você está deixando a barba crescer porque está ouvindo muito Los Hermanos ultimamente? O povo quer saber…
Homenagem ao Falcon.
kkkkkkkkkk
Alô, meio fora de assunto, mas esses dias soube que foi você quem deu aquela entrada no Ritchie Blackmore durante aquele mítico jogo presepada, nos anos 90.
Só queria deixar registrados os meus cumprimentos por tal atitude.
Valeu!
Velho não conheço esta história conte-nos a respeito, por favor.
A história é que o cara deve ter tomado uma entrada por trás e urrando de dor cantou o refrão de Child in time por uns 20 minutos, pedindo a maca.
Engraçado, acaba de me ocorrer: ambos, Nick Cave e Eels, têm faixas na trilha sonora da animação Shrek – o Nick Cave, com People Ain´t no Good, e o Eels, com My Beloved Monster. E o sorriso do Barcinski nessa foto nova deixou-o com a cara do ogrinho verde da Dreamworks… Sincronicidade não é tudo?
André, Nick Cave é um dos artistas mais talentosos que temos. E este talento não se restringe apenas a música. Ele é escritor e roteirista de primeira. O livro “A Morte de Bunny Munro” e o roteiro pra “Os Infratores”, filme dirigido pelo também australiano John Hillcoat, são os melhores exemplos. Lógico que ele se destaca mesmo é no pop sombrio, onde o sacro e profano caminham de mãos dadas.
Tenho algumas coisas gravadas do Nick Cave e do Eels. Gosto dos dois e de vez em quando pego para ouvir.
“…era aeromoça do avião derrubado por terroristas em cima do Pentágono, em 2001.”
Pô André !!!, como jornalista deverias estar melhor informado.
Não foi achado nenhum vestígio de avião no buraco aberto na parede do Pentágono, e todas as câmeras externas do Pentágono “falharam” em filmar o objeto que colidiu nas parede e abriu um rombo.
O 11/09/2001 ainda será desmascarado para o grande público que só vê TV.
Tá bom.
Barça, sou seu fã. Fale da possível aposentadoria do Clapton. Pra mim o maior nome da história do rock. O cara pagou até o enterro do Holin Wolf. Abs irmao.
Dois discaços! O Nick Cave está em 2º lugar na minha lista de grandes nomes da musica, atras apenas do Bowie, que alias colocou o disco novo dele em streaming no itunes, outra pedrada incrivel!
Quer escutar os pensamentos de Nick Cave? Assista o espetacular Asas do Desejo, do Wim Wenders
Barça,
Lendo esse seu texto, mais especificamente sobre o Eels, lembrei da Tori Amos.
Há 20 anos, quando as músicas da moçoila tocavam com mais frequência, lembro de TODOS os textos sobre ela – inclusive resenhas de discos – que citavam o estupro ao qual ela tinha sofrido.
Ano passado ela lançou um novo disco. E novamente li uma reportagem que dava mais enfoque ao trauma do que a carreira ou canções.
Acho repugnante o estupro e qualquer coisa feito contra a vontade, mas pq isso? Não se pode fazer nada legal sendo um “filho de papai” que teve tudo do bom e do melhor?
Isso parece algo que gruda como um rótulo “gostem desse coitado pq ele conseguiu apesar de todas as diversidades que sofreu na vida”.
Acho que isso vai muito de como o artista escolhe seguir sua carreira. Muitos usam “traumas pessoais” como muletas da carreira. Não sei se é o caso da Tori Amos, mas que ela fala DEMAIS sobre o episódio, é fato.
Essa semana mesmo eu vi uma lista de artistas que já tinham “comido o pão que o capeta amassou” e que hoje eram estrelas.
Entre eles tinha um sujeito que há um tempo tocava no Farofa Carioca e vcs, no Garagem, falaram que ele só fazia tipo de pobre coitado…
Nick Cave é um dos grandes poetas da canção, junto com Dylan e Cohen. Escreve muito bem. Aliás, se diferencia dos mestres, ao reinventar o punk blues. Todos os seus álbuns são ótimos. Aliás, no primeiro disco dos Bad Seeds, “From Her To Eternity”, de 80 e pouco, há uma versão terrificante de “Avalanche”, de Cohen. Só que este canta macio, tranquilo e minimalista como João Gilberto, enquanto que Cave é expressionista: exagerado e dramático às raias do grotesco. Desde que ouvi The Birthday Party, uma das bandas mais demenciais do planeta, sempre acompanho a carreira dele. Ao vivo, também é um performer excelente. Já o vi no Brasil, onde viveu, cantando com os Bad Seeds e o grupo alemão Die Haut.
Oi Barcinski, td bem? Desculpe mudar de assunto mas queria te fazer uma pergunta. Li seu texto sobre os restaurantes peruanos na folha e queria saber de qual deles vc gostou mais. Qual é o mais barato?
Obrigado
abs.
Começa pelo Rincocito Peruano.
É aquele que fica na Aurora? É show demais. Verdadeiro esconderijo gastronômico! Delicioso. Você acha que a Vigilância sabe da existência dele? Espero que nunca descubra!
Não passaria em nenhuma vistoria. Mas é delicioso.
No Riconcito eu já fui, queria saber se tem algum outro melhor. Qual é esse da Aurora?
abs
Ah,é o Riconcito q fica na Aurora.
Barça, admiro muito o seu trabalho desde a década de 90. Não concordo muito com os seus gostos musicais, mas te respeito como grande conhecedor de rock.
O que me deixa um pouco incomodado é que vc sempre faz resenhas sobre bandas, na minha opinião, muito chatas, como Nick Cave and Bad Seeds, Cramps, Nirvana…. e esquece de outras como o Rush. O Rush lançou o melhor CD de 2012 e vc não fez nenhuma resenha. Ai complica a situação….
Beleza, Fabio, o Rush, que não é chato, merece toda nossa atenção…
Ironia detected!
CHORANDO DE RIRR
Apoiado! Devia falar também do engenheiros do hawaii, do rpm…
Chega desse povo chato que é comentado aqui no blog!
hahaha cada comentário que aparece…
Fábio, bem se vê que você não conhece o Barcinski. Pedir pra ele resenhar o álbum do RUSH?!!!! Hahahahaha
Isso me lembra dos anos 90 quando comentei com um cara do trabalho que estava ouvindo uma banda chamada Lush
Ele disse Rush, eu respondi não Lush
Ele disse Bush aí eu desisti
André, vc escreve muito, muito bem… deveria lançar um livro com suas técnicas. Vc consegue dizer tudo em poucas linhas, essa é a grande sacada.
Valeu, Jader. Mas escrever é treino. E escrever bem, acho, é tentar dizer muito em pouco espaço. Especialmente numa época em que as pessoas lêem cada vez menos e mais rápido.
Acho o Boatman’s Call perfeito, maravilhoso, daqueles que dá pra escutar sem pular nenhuma. Prefiro o lado mais crooner dele, canções mais redondas. As canções que ele fez quando estava na pior por conta da PJ Harvey são de chorar junto com o cara. Já quando parte pro lado mais experimental-cavernoso, não dá pra mim.
Tô contigo Bruno, os discos mais melancólicos dele são os melhores. “Boatman’s Call” é de chorar. O “Murder’s Ballads” também é um dos meus prediletos apesar de uma ou outra faixa mais experimental.
Sou fan do Nick Cave, desde o ” Kicking against the pricks”, aquele album de covers que ele gravou, tenho em vinyl esse disco. Nick e um dos meus herois do Rock. Você ouviu a trilha sonora do filme ” Os infratores “, em parceria com o Warren Ellis, tem até uma versão folk da musica do Velvet Underground ” White Light/White Heat”
Barça, tenho até vergonha de falar mas juro que nunca tinha visto um show do Stone Temple Pilots…até o cabal BIS exibir ontem. Cara, demais. Não visto por puro preconceito com as bandas grunge (não gosto e pronto).
Uma pena eles ter anunciado que o Scott saiu, justamente o melhor no palco.
Corrigindo: “eles terem anunciado”
Stone temple pilots é do caralho! Tenho todos os discos deles e assisti os show deles em são paulo em 2010. Vi o show de ontem que é bem legal, mas tem shows bem melhores deles principalmente do início de carreira. Vale a pena vc ir atrás dos discos e acabar com seu preconceito com as bandas chamadas grunge que são sensacionais! Abraço!
O BIS tem passado um doc de 2009 com o Jimmy Page, The Edge e Jack White, (acho que se chama It Might Get Loud), onde os três ficam trocando idéias e tocando as músicas uns dos outros. Não tinha visto ainda e confesso minha ignorância sobre Jack White & White Stripes, mas tem momentos bem legais, como Page tocando bandolim e The Edge levando sua parafernália para tocar a beira mar. Bem legal.
“i believe in god, i believe in mermaids too”
sensacional o novo do nick cave.
Não conheço o trabalho do Eels. Com certeza vou correr atrás.
Também gosto demais do Cave. Depois de tanto tempo na estrada o cara ainda faz coisas legais, o que é admirável. Esse disco novo me lembra o Abattoir Blues em alguns momentos, que é bem bacana. Mas os preferidos ainda são Your funeral…my trial e Let Love In.
Você leu esse Bunny Munro dele? Recomenda?
Li sim. Achei meio formulaico, é exatamente o que se espera de Nick Cave, uma coisa meio junkie pervertida. Mas muita gente gostou.
Programão do bom na Sexta: Heineken, beliscão num gorgonzola, EEls e livros do André Dahmer.
Barça, destaque para a capa do disco do Nick Cave. É uma pena não conseguir comprar um vinil para ter essa capa em tamanho decente.
Verdade, é uma coisa linda, em todos os sentidos!
Pois é… Acontece que também queria saber sobre que fotografou a capa. Segundo consegui saber até aqui foi Dominique Issermann, uma francesa que fez 8 clipes para Leonard Cohen. Discutindo com uma amiga sobre o disco do N. Cave, disse, blasfemei, que pra mim Cave é maior que Cohen… Pelo bom gosto dos dois, talvez isso comprova que esse tipo de discussão sobre quem é melhor é irrelevante e só serve pra animar conversa de bar.
Ader, parece que foi a Issermann mesmo. O Cave conta que a esposa tava fazendo uma sessão de fotos pra uma revista francesa na casa deles. Segundo ele, a foto foi totalmente acidental. A história tá aqui:
http://www.express.co.uk/news/showbiz/377874/Nick-Cave-s-naked-wife-album-snap-was-accidental
Valeu, Gus.
Mas não acredito…
O mais próximo de Cohen desde Leonard Cohen? Preciso imediatamente escutar Nick Cave!
ôu, e tu ainda não tinhas escutado?!?:o)
Pior que não! 🙁
Minha filha de três anos adora “Novocaine for the soul” , do Eels. Dia desses a gente assistiu ao clip e ela dava gargalhadas com os caras flutuando.
Barcinski, qual o seu disco favorito do Nick Cave, curte aquele gravado em SP (“Foi na cruz…”)? Para mim o mais bacana eh o Abattoir/Orpheus, mesmo que seja pretensioso o lance todo de ser album duplo.
Abs.
Difícil pergunta, hein? Goto muito de Murder Ballads, The Boatman’s Call, Tender Prey, e dos três últimos, Abattoir , Lazarus e esse agora. E isso só com o Bad Seeds, sem contar The Birthday Party e Grinderman.
Eu li em algum lugar uma historia que quando eles foram gravar o Abattoir em Paris, chegaram no estudio e o Nick Cave mandou: “Esse estudio ta velho e largado, assim como nós”
Tem o show que o Nick Cave fez em Los Angeles, na semana passada no Youtube. No dia passou ao vivo no próprio Youtube! Sensacional! Espero que ele apareça aqui no Brasil esse ano! E o disco antecessor do Nick Cave, “Dig, Lazarous, Dig”, de 2008? Eu ouço esse disco sempre, até hoje!
Aparecer no Brasil? Dificil, ele começa a excursionar amanha e a agenda nao inclui Brasil ou America Latina por enquanto. Acho que ate’ daria um publico bom no Brasil.
http://www.nickcave.com/live/
Claro que daria! Duas noites no Cine Joia, pelo menos! Não estar incluído na turne, ainda, não quer dizer muito e, vamos admitir, hoje em dia está muito mais plausível achar que um artista assim venha ao Brasil.
O cachê do Nick Cave é alto demais, precisa de uns 5 mil ingressos vendidos pra pagar.
Tem disco novo do Johnny Marr também!
Nick Cave e Warren Ellis , lançaram coletanea de suas trilhas sonoras para o cinema… essa informação procede ?
Anderson eles fizeram a trilha sonora do filme ” Os infratores”
Valew Paulo ! parece que tem o Mark Lanegan, tambem… show de bola… abraço
Mark Lanegan e outro cara que eu acompanho, abração!!!!!!!
E o Lanegan vai abrir os shows do Nick Cave na turnê australiana! Imagine o que não vai ser isso…
Sei que não se encaixa muito, mas o Depeche Mode vai lançar disco novo também… Frustrante ficarmos felizes só com lançamentos de bandas “antigas” porque as bandas novas são uma porcaria.
toda música boa e me deixa feliz é atemporal! Banda antiga é um termo bem babaquinha forjado por algum critico de 50 anos usando piercing no umbigo. Existem muitas bandas boas por aí, infelizmente, com o mp3, as gravadoras arriscam cada vez menos em novos artistas. O lucro tem de ser imediato.
Concordo com você, mas confesso que estou atento aos novos trabalhos do The National e, principalmente, Midlake, que serão lançados nesse 2013.
André, e aquela história que o Nick Cave morou um tempo de São Paulo? É sério mesmo? Você sabe/lembra algo disso?
Claro que lembro, passou um bom tempo em SP e era casado com uma brasileira.
E tem um filho brasileiro.
Trazer o Nick Cave novamente à SP, depois de 30 anos, não deve ser uma coisa barata para os produtores, né? Pena.
Assim como o Paul Dianno
Paul Dianno morou na Bahia acho que mora ainda, tanto que apelidaram ele de Paul Baiano.
Hahahahahaha, Paul Baiano é bom DEMAIS!
Jimmy Tinha (ou ainda tem, não sei) casa em Lençois, na Bahia, aonde é chamado por alguns moradores de “Seu Jimmy”.
Complementando, estou falando aí do Jimmy Page.
Parece que ele vendeu há tempos porque ninguém o deixava em paz lá. Olha só uma matéria do Fantástico sobre o período em que o mítico guitarrista viveu lá: http://www.youtube.com/watch?v=NqR8HR9JX0E
Tenho um cd do Eels que achei num sebo por 10 reais chamado Beatiful Freak, até o nome do cd é muito interessante e mostra um pouco o humor negro dos caras e um som muito diferente que rolava na época em que foi lançado em 1996.
Não tenho muita coisa do Nick Cave, mas uma das coisas que gostei muito dele foi a versão que ele fez de “Let It Be” na trilha sonora do filme “I´m Sam” só com covers dos Beatles, é a minha favorita do disco.
Abrs.