Salvem o frescobol!
27/03/13 07:05Dia desses, andando de táxi pela orla de Ipanema, vi uma coisa tão esdrúxula que quase pedi ao motorista para parar o carro só para me certificar de que não estava alucinando: um personal trainer de frescobol.
Na areia, o “personal” – é mais chique assim, em uma palavra só, certo? – batia bola com um adolescente. O aluno estava todo emperequetado, com boné, munhequeira e camiseta regata. Tinha o semblante sério e caprichava nas devoluções, com cuidado para posicionar o corpo de acordo com as instruções do mestre. O aluno, claro, empunhava uma raquete de última geração. Coisa fina.
Procurando na web mais informações sobre o “personal frescobolator”, achei vários links para o “beach tennis”, uma variação mais competitiva e moderna do frescobol. Mas na aula não havia nenhuma rede por perto, então suponho que a lição não era de “beach tennis”, mas do nosso bom e velho frescobol.
Criado nas areias da praia de Copacabana nos anos 1940, o frescobol não é um esporte, é um jogo. E um jogo sem vencedores ou vencidos, onde o que importa não é competir, mas brincar. Duas raquetes de madeira e uma bolinha bastam para passar horas agradáveis na praia, trocando raquetadas com os amigos. Um dos maiores praticantes era Millôr Fernandes.
Mas o frescobol anda por baixo. Nesses tempos ultracompetitivos, não há espaço para uma brincadeira onde não há contagem de pontos e onde o único uniforme é uma sunga ou um biquíni. A singeleza do frescobol não combina com nossos tempos.
Hoje, nada vale se não tiver todo um aparato por trás: uniformes, treinadores, clubes, rankings, analistas… Você não é um ciclista de verdade enquanto não usar todos os apetrechos dos corredores da Tour de France; não é um corredor enquanto não fizer parte de um grupo que se reúne, com hora marcada, para treinar e trocar informações sobre aquele novo isotônico diet, última moda na Finlândia.
Vejam o caso do novo hype da zona sul do Rio: o Stand Up Paddle.
Basicamente uma prancha de surfe com um remo, o “SUP” já tem até revista. Na capa, um famoso ator da Globo aparece no Havaí, mostrando seus músculos e seu equilíbrio.
Em revistas de boa forma, atrizinhas que acabaram de dar à luz mostram que já perderam os quilos indesejados que ganharam com os filhos e que estão aptas a voltar a seus papéis na novela. Obrigado, SUP!
Assim como a prancha com remo, que virou “SUP”, e o show de piadas, que virou “Stand Up Comedy”, analistas de hype prevêem que o frescobol será ressuscitado em breve. Mas de roupa nova, com a cara de nosso tempo.
Em primeiro lugar, precisa mudar de nome. Que tal “Freshball”? E as regras também precisam mudar. Que negócio é esse de jogar de sunga? Onde entram os logos dos patrocinadores? E esse negócio de não ter contagem de pontos? Nada a ver.
Assim que a Ju ou o Cauã redescobrirem as maravilhas do “Freshball”, todo o Brasil vai entrar na onda. Daí para um banco montar uma arena nas areias do Leme e a Oscar Freire fechar para o desafio das celebridades, é um pulo.
Na Vila Madalena ja e assim.
Os caras derrubam um boteco popular de 50 anos e erguem no lugar um bar que emula…um boteco popular de 50 anos.
A diferenca e que nao tem torresmo e a cachaça custa 18 reais a dose.
Sem falar dos trouxas que pagam mais de 30 contos por uma “pint” (ve bem, nao pode chamar de taça) de Guiness.
André a questão é até mais ampla: a própria areia da praia enquanto espaço público está precisando ser salva, da ocupação predatória dos guarda sois, vendedores e “personais qualquer coisa”
Bom com a “altinha” isso ainda não aconteceu. Pelo menos foi o que eu vi quando passei dois dias em Ipanema. No fim de tarde a praia estava lotada de rodinhas onde as pessoas ficavam levantando a bola umas para as outras. Confesso que não vi graça, principalmente quando não havia nenhuma garota brincando, mas para eles parecia divertido.
Tudo verdade. Outro dia saí com uns amigos de bicicleta e eu era o único sem os equipamentos obrigatórios: capacete, luvas, roupa de ciclista, sapatilha. No começo me senti uma aberração de um programa da National Geographic, mas depois o povo se acostumou.
Capacete tudo bem, é item de segurança. Mas o resto…
É bizarro ver os caras andando assim na ciclofaixa da avenida paulista.
Sim! Para andar de bicicleta as pessoas PRECISAM se equipar como na tour de france! E PRECISAM te ultrapassar. Dia desses eu estava na ciclofaixa. Quando paramos no sinal vermelho, o cara que segurava a bandeira perguntou pro casal do meu lado: “Gostando do passeio?”. O maridão respondeu outra coisa: “se te contar você não acredita. Já andamos 50 km. As bikes estão impecáveis” – Quão ridículo é isso?
Depois que li em uma revista que já existe até personal para sexo, que fica sentado na poltrona analisando o malabarismo alheio e dando dicas para melhora da performance, não duvido mais de nada nessa vida.
André, o que acha do famigerado Slackline? Que nada mais é do que ficar se equilibrando na corda bamba! Também é moda entre a turminha do beach tennis e SUP.
No meu tempo era corda bamba mesmo.
E Cool Paraty, Barça ? ai pode ?
Não entendi, qual o problema? É um site sem fins lucrativos, sem jabá e sem anúncios, com dicas de coisas legais – e baratas – pra fazer na região.
é pelo nome gringo, como beach soccer, stand up comedy etc.. mas foi só uma provocação barata, o site é maneiro, se eu fosse para parati utilizá-lo-ia (existe essa palavra?) mas poderia se chamar: bacanices de parati rerere
Pelo visto, o pobre do frescobol vai ser promovido a frescurabol, né?
Me divirto com a capacidade dessa gente de complicar o simples…
Na marquise do Ibirapuera tem personal de skate. “Skateboard Personal Trainer”, diz a camiseta
Muito bom post! É um alívio ver alguém escrevendo desta forma. Por exemplo, por que não dizem que o SUP, se não for pegando ondas (como disse o Adriano) é chato pra c…? E a prancha, então? Um trombolhaço…
Lá em Santos tem uma galera que joga “Beach Tennis”: jogo de duplas, rede um pouco alta, NA AREIA FOFA. A bola não quica, não sai jogo. É ridículo. Mas parece que já tem campeonato.
Esse de Santos não se chama Tamboréu? É tido como um esporte tipicamente Santista. Tem rede, contagem de pontos, mas a raquete é redonda e não pode deixar a bolinha cair no chão.
Não é tamboréu, que é clássico, Beach Tennis mesmo. É novo.
Para mim, nenhum jogo praticado na praia é esporte. É diversão. Beach Soccer é uma das coisas mais chatas de se assistir, assim como Volêi de Praia que chega a ser jogado em Olimpíada, o que é ridículo. Nunca fui chegado em Frescobol, mas gostava muito de jogar “Taco” ou “Bets” (não sei qual o nome dado aí no Rio ou SP.
PQP..quanta futilidade.
Bifaland?
Pelo menos no sentido literal, nunca o nome Frescobol fez tanto sentido.
Ahahahaha.
Um dos melhores posts do ano!
E me lembrou o “Admirável Mundo Novo”, onde toda atividade, tinha que ser praticada apoiada por uma dúzia de parafernálias. Afinal, o consumo em larga escala, é quem garante que as engrenagens do capitalismo sigam girando, girando, girando.
Muito bom o post!
O frescobol pode ser agradável para os dois, ou quatro jogadores, mas extremamente desagradável e perigoso para todos os outros frequentadores da praia perto onde jogam. Não existem locais próprios (pelo menos aqui em Floripa), eles se acham donos do pedaço onde estão jogando e desrespeitam todos com boladas, esbarradas e até raquetadas. Já vi o pau fechar por causa desse jogo que deveria ter local próprio para tal.
Cara, nunca vi ninguém se estapear, mas do jeito que vejo o pessoal jogando na beira da Lagoa, eu não duvido mesmo. O pessoal joga sentando o braço! Nenhuma preocupação com quem está passando por perto!
Não é só com frescobol, geralmente quem gosta de levar cachorro à praia (e soltá-lo para que corra à vontade), por exemplo, deve achar que todos tem obrigação de gostar do animal.
É a molecada do Higienópolis descendo para a praia. Freshball é o jogo e beach gourmet é a farofada na praia.
Gostei da ilustração. Allan Sieber é gênio!
Eu lembro o quão surpreso que eu fiquei certo dia quando a secretária aqui da empresa disse que tinha que sair mais cedo naquele dia para pegar o filho de 8 anos na aula de skate. Tá tudo sendo tucanado.
Fez lembrar de uma crônica do Rubem Alves em que ele faz um paralelo entre casamento, tênis e frescobol. Não sou muito fã dele, mas gostei desse texto.
Toda vez que eu vejo alguém jogando frescobol eu penso o quanto os jogos cooperativos são pouco praticados. Não que não deva existir espaço pra competição. Mas imagino que, especialmente pras crianças, é importante estimular valores cooperativos e tomar cuidado com o tom de algumas brincadeiras que podem estimular a exclusão.
Afiado. Gostei. Será o “taco” a próxima vítima?
Maldita Globo que lança essas modinhas medíocres.
És um visionário. Já posso ver na novela das 21:00 um casal de namorados gays, supermalhados, jogando frescobol. No intervalo da novela uma chamada para o esporte espetacular sobre o tema, com comentários de um reconhecido personal trainer falando de como é bom para o condicionamento aeróbico. Já posso ver logo ali no horizonte da praia…
André,
Se o pesonal do Frescobol te surpreendeu, o que achas de uma escola que oferece ao alunos de ensino médio (antigo colegial) aulas de skate?
Sou do tempo em que se aprendia – e quebrava o corpo – skate nas ruas…
Quais serão as próximas aulas complementares que irão propor? Pichação de muro? Bolinha de gude? Bambolê? Bafo?
Já viu as pipas profissionais coma varetas de fibra de carbono? E um jogo de bola de gude de sei lá que pedra que custava quase 200,00? E um jogo de taco (ou bats, bets, depende do estado) com tacos profissionais e casinhas prontas de madeira? Brigadeiro gourmet a 5,00 uma bolinha? SP tem muito destas coisas em questões de comida tbm. Que crime estas “hamburguerias”!
Por outro lado as aulas de frescobol, com raquetes de última geraçcão podem ter sido a única maneira de tirar o menino da frente dos wii, xbox, etc…nesse ponto sou até a favor.
Varetas de fibras de carbono não pode ser verdade! O que aconteceu com o bambu?
O que aconteceu com o Bambu? Dá uma olhada nesse link:
http://www.youtube.com/watch?v=7Nkvvo4RvGw
A pichacao ja foi alcada ao status de arte de rua. E hoje em dia qq maloqueiro sem talento com uma lata de spray na mao ja se considera apto `a receber uma verbinha estatal.
Realmente, Barcinski, essa história da falta de contagem de pontos é o calcanhar de aquiles do frescobol. O biribol tem mais futuro…rs…
muito bom Barça! o mundo de hoje é muito chato (ou deveria falar “boring”?), e pior, previsível…
é foda. eu quero uma bicicleta so pra ir do pto A ao pto B e me assustei qdo descobri q tem bicicleta de 4 a 40 mil reais. Fora todos os apetrechos.
Se o cara for comprar tudo do “bom” recomendado pelo vendedor, acaba gastando uns 50 mil.
Daí a cereja do bolo seria ser ultrapassado por um tiozão de chapéu numa caloi 10 sem marcha.
O lugar onde o frescobol é levado mais a sério é Israel. Há até um museu do frescobol lá.
Costumo pegar onda na região de Ubatuba e vejo crescer a quantidade de praticantes do famigerado SUP. Cocotas, tiazinhas em boa forma, rapagões bolados, todos remando sua pranchona. É uma febre. Mas não tem nada mais chato do que remar essa prancha a não ser que você pegue onda com ela, daí fica mais divertido. Mas acredito que essas modinhas passam rápido e só quem gosta do esporte mesmo e já pratica antes de ter aparecido na novela continua praticando. O mesmo vai acontecer com o Frescobol.